A Morte e os seus
Mistérios
Ernesto
Bozzano
(Parte
12)
Damos sequência nesta edição
ao
estudo do livro A
Morte e os seus
Mistérios,
de Ernesto Bozzano,
conforme
tradução de Francisco
Klörs Werneck.
Questões preliminares
A. O Caso III menciona
três fenômenos bem
distintos. Quais são
eles?
Este caso está relacionado com as experiências feitas pelo Rev.
William Stainton Moses.
O primeiro fenômeno
consistiu nos golpes
muito fortes com que o
Espírito anunciou sua
presença. Em seguida,
ocorreu o fenômeno de
vidência mediúnica pela
qual a médium viu o
Espírito sentado em um
tamborete. O terceiro
foi o toque do Espírito
na mão da médium, o que
produziu uma queimadura
no lugar em que o
Espírito tocou. (A Morte e os seus Mistérios, 2ª
Monografia – Marcas e
impressões supranormais
de mãos de fogo, Caso
III.)
B. O Caso IV apresenta
também, além da
queimadura, outro tipo
de fenômeno. Qual é ele?
O fenômeno de
transporte. Os fatos
ocorreram em Leipzig, na
casa do engenheiro Paul
Horra, com a presença do
médium de transporte
Heinrich Melzer, de
Dresden. Obtiveram-se,
então, numerosos
transportes, entre os
quais duas plantas
inteiras, com os vasos
onde tinham sido
plantadas. Os ramos e os
botões foram achados
intactos, ainda que uma
das plantas fosse de uma
espécie extremamente
delicada. Elas foram
depositadas nas mãos de
dois experimentadores,
um dos quais sentiu, ao
mesmo tempo, a dor de
uma queimadura no dedo
polegar. Acendeu-se a
luz e viu-se que, nesse
lugar, se formara a
marca de uma queimadura
com uma bolha.
(Obra citada, 2ª Monografia – Caso IV.)
C. Se o Purgatório não
existe, por que em
alguns casos citados
nesta obra os Espíritos
disseram encontrar-se
nele?
Os Espíritos
comunicantes,
reconhecendo haver
pecado e cientes de que
mereciam receber de Deus
um justo castigo,
associavam a situação em
que se encontravam com
as dores da expiação da
forma como que lhes fora
ensinado na Terra.
Bozzano entende que isso
efetivamente acontece e
a análise comparada que
escreveu no livro “A
Crise da Morte” mostra
que o poder criador do
pensamento torna
transitoriamente reais e
espirituais ou
etericamente objetivas
as condições do meio
espiritual imaginado. O
Sr. Vicenzo Cavalli,
citado pelo Sr.
Zingaropoli, manifestara
também a mesma ideia,
nos seguintes termos:
"Na segunda vida,
sabemos que crer é
sentir e sentir equivale
a ser, por causa do
grande poder da
imaginação”.
(Obra citada, 2ª
Monografia – Caso IV.)
Texto para leitura
167. Casos III e IV - É chegado o momento de citar dois pequenos
incidentes que se
produziram
mediunicamente mais
recentemente. O primeiro
se produziu no decurso
das famosas experiências
do Rev. William Stainton
Moses.
168. Eis como a Sra. Speer dele fala em data de 18 de abril de
1873: "Nosso círculo
recomeçou suas sessões
depois de uma
interrupção de três
semanas. Obtiveram-se os
fenômenos físicos
habituais, mas, em
seguida, manifestou-se o
Espírito de uma pessoa
falecida há pouco, que a
médium conhecera muito
antes. Anunciou sua
presença com golpes
muito fortes e sua
influência logo apareceu
a todos repulsivo. A
médium via o Espírito
sentado no tamborete de
harmônio, olhando-o em
atitude zombeteira. Fez
com que se visse que se
tratava de um Espírito
muito atrasado; quis
infelizmente tocar a mão
da médium e esta se
queixou de uma
queimadura de carne no
lugar em que o Espírito
tocara. Com efeito, uma
bolha de uma cor
vermelha formara-se
nesse lugar." (Light
1892, pág. 627).
169. O segundo dos incidentes aconteceu em Leipzig, na casa do
engenheiro Paul Horra,
tendo sido registrado no
número de julho do Die
Uebersinnliche Welt. Foi
numa sessão com o famoso
médium de transportes
Heinrich Melzer, de
Dresden, que fora
encerrado num saco
guarnecido de mangas e
de uma abertura onde
introduziu a cabeça. As
mangas eram fixas e
seladas. Obtiveram-se
numerosos transportes,
entre os quais duas
plantas inteiras, com os
vasos onde tinham sido
plantadas. Os ramos e os
botões foram achados
intactos, ainda que uma
das plantas fosse de uma
espécie extremamente
delicada. Foram
depositadas nas mãos de
dois experimentadores,
um dos quais sentiu, ao
mesmo tempo, a dor de
uma queimadura no dedo
polegar. Acendeu-se a
luz e viu-se que, nesse
lugar, se formara a
marca de uma queimadura
com uma bolha.
170. Tais são os dois incidentes que se produziram mediunicamente.
Compreende-se facilmente
que constituem uma
confirmação eficaz dos
casos análogos que se
produziram há séculos.
Ora, esta confirmação
reveste-se de um valor
teórico notável. Com
efeito, os modestos
incidentes que acabo de
narrar, se autênticos,
bastam por si sós para
demonstrar a existência
real dos fenômenos das
impressões de mãos de
fogo. Por outro lado, os
dois casos de natureza
mediúnica servem,
também, para eliminar a
hipótese dos estigmas
por autossugestão,
considerando-se que é
necessário excluir deles
toda forma de crise
emotiva nos percipientes,
que não esperavam, de
modo algum, o que se ia
produzir. Ademais,
estando esses
experimentadores
familiarizados, de há
muito, com os fenômenos
mediúnicos, assistiam às
manifestações com
perfeita serenidade de
espírito.
171. Voltando ao caso em questão, vou resumir os fatos, observando
que nos encontramos em
face de cinco impressões
de fogo feitas em roupas
e objetos e uma gravada
na pele da percipiente.
É, pois, evidente que a
hipótese dos estigmas
por autossugestão não é
admissível,
considerando-se que só
serviria para explicar,
até certo ponto, um
único episódio dos seis
casos que se produziram.
172. Ainda uma observação: O Espírito comunicante afirmava estar no
Purgatório, ou melhor,
julgava ali estar. Ele
disse à percipiente que
"o Senhor, por
intermédio dela, lhe
abreviara o tempo que
deveria passar no
Purgatório". Em
numerosos casos
extraídos de crônicas
antigas, essas
afirmações concordam
entre si e o Sr.
Zingaropoli comenta suas
concordâncias, tendendo
para as mesmas
considerações que
constituiriam mais tarde
o fundamento teórico de
minha obra "A crise da
morte".
173. Com efeito, escreve ele: "Todas essas almas pecaram e temem
merecer de Deus um justo
castigo; para todas, o
fato de crerem
encontrar-se em punição
lhes faz experimentar as
dores da expiação, tal
como lhes foi ensinado
na Terra."
174. Isto efetivamente acontece e a análise comparada que escrevi a
respeito, na obra que
acabo de citar, faz
também sobressair que o
poder criador do
pensamento torna
transitoriamente reais e
espirituais ou
etericamente objetivas
as condições do meio
espiritual imaginado.
175. O Sr. Vicenzo Cavalli, citado pelo Sr. Zingaropoli, desde
então manifestara também
a mesma ideia, nos
seguintes termos: "Na
segunda vida, sabemos
que crer é sentir e
sentir equivale a ser,
por causa do grande
poder da imaginação”.
176. Essas intuições dos Srs. Zingaropoli e Cavalli são notáveis
para a época em que
foram feitas,
considerando que só mais
tarde cheguei às mesmas
conclusões, pelos
processos da análise
comparada e da
convergência das provas
aplicadas a grande
número de fatos. Nestas
condições e voltando às
afirmações dos Espíritos
que se comunicam,
apresso-me a notar que,
ainda que os teólogos
concordem em suas
interpretações sobre as
impressões das mãos de
fogo, explicadas pela
lenda do fogo e das
chamas do Purgatório e
do Inferno, nenhum dos
Espíritos comunicantes
jamais disse, de
qualquer modo,
encontrar-se no meio de
fogo e de chamas. Eles
afirmam unicamente estar
num plano espiritual de
expiação, que chamam de
Purgatório, conforme
lhes foi ensinado.
177. Caso V - Este caso, muito bem documentado, foi igualmente
tirado da monografia do
advogado Zingaropoli
(Luce e Ombra, 1910,
págs. 614-7). O Dr.
Zingaropoli reproduziu,
na íntegra, as passagens
mais emocionantes da
narração assinada pela
Madre Abadessa e as
Irmãs decanas do
Convento das Terciárias
Franciscanas de Santana
de Foligno, província de
Perúgia, a qual foi
confirmada por outras
testemunhas, como
adiante se verá.
178. A falecida que se
manifestou chamava-se
Irmã Teresa Margarida
Giesta. Nasceu em
Bástia, Córsega, a 15 de
março de 1797, e era
filha de um rico
negociante. Levada à
contemplação, renunciara
à facilidade da vida
profana e vestira o
hábito religioso a 24 de
outubro de 1836, no
Convento das Terciárias
Franciscanas de Foligno,
onde desencarnou a 4 de
novembro de 1853.
179. Eis o relato feito pela Madre Abadessa Maria Vitória
Constância Vichi: "No
dia 5 solenes exéquias
foram realizadas e a 6,
como se devia inumá-la,
pensou-se a princípio em
colocá-la num lugar
especial; mas se
decidiu, em seguida,
fazer-lhe um caixão de
tábuas, coisa que não se
fizera ainda, e
enterrá-la no túmulo
comum das religiosas.
Enquanto se esperava, o
confessor da comunidade,
Padre Lourenço, de
Solero, perto de
Alexandria, no Piemonte,
após ter escrito algumas
indicações sobre a
defunta, colocou o
escrito num frasco de
vidro que depositou ao
lado do corpo, no
esquife, e pronunciou as
seguintes palavras, na
presença das outras
religiosas: ‘Nada quero
dizer sobre os dons com
que ela foi favorecida
por Deus, porque, se ela
quiser alguma coisa,
far-se-á ouvir.’ O
caixão foi fechado e
descido ao túmulo. Três
dias apenas haviam
transcorrido após o
falecimento, quando uma
voz lúgubre e lastimosa
começou, de quando em
quando, a fazer-se ouvir
no quarto em que a Irmã
Teresa morrera ou nas
peças ao lado deste, mas
não se deu nenhuma
importância ao fato,
pensando-se que se
tratava de uma alteração
da fantasia de
religiosas tímidas e
crédulas”.
180. Prossegue o relato: “No dia 16 do mesmo mês de novembro, às 10
horas da manhã, a Irmã
do coro Ana Feliciana
Menghini, de Montefalco,
mais corajosa do que
suas companheiras, que
fora à grande sala de
roupas brancas para
cumprir alguma ordem que
lhe deram, quando subia
a escada, ouviu um
gemido abafado e creu
reconhecer, nesse som, a
voz da defunta
companheira de trabalho,
Irmã Teresa Margarida.
Todavia, armou-se de
coragem, pensando:
‘Trata-se, talvez, de um
gato fechado num dos
armários da parede.’
Abriu então um desses
armários, mas nada
encontrou. O queixume se
fez ouvir de novo. A
Irmã abriu outro
armário, e nada, porém,
tendo encontrado,
fechou-o assim como ao
primeiro, quando um
terceiro gemido se fez
escutar. Abriu ainda
outro armário sem nada
descobrir. Então, a
religiosa, espantada,
exclamou: ‘Jesus, Maria!
Que é que há?’ Havia,
apenas, acabado de
pronunciar estas
palavras, quando a voz
lúgubre da defunta, com
um suspiro penoso,
exclamou: ‘Meu Deus,
como eu sofro!’ Isto
ouvindo, a Irmã Ana
Feliciana tremeu e
empalideceu,
reconhecendo claramente
a voz da morta, Irmã
Teresa Margarida”.
181. Retomando a coragem, a irmã perguntou: "Por quê?" E a defunta
respondeu: "Pela
pobreza". "Como,
replicou a outra, você
era assim tão pobre?"
“Não é por mim,
retorquiu a morta, é
pelas religiosas! Se
basta um, por que dois
ou três? Agora, preste a
atenção.” Com estas
palavras, o quarto
encheu-se de densa
fumaça e a sombra da
defunta se dirigiu de um
dos armários para a
escada, continuando a
falar, sem que Ana
Feliciana, sempre tomada
de espanto, pudesse
compreender o que dizia.
Chegando à porta, a
defunta disse em alta
voz: "É uma
misericórdia, aqui não
mais voltarei e em sinal
disto...". Nesse
momento, deu na porta
uma pancada bem clara e
logo a fumaça se
dissipou e o grande
quarto tornou-se claro.
182. O relato refere, em seguida, a descrição da agitação que
produziu no convento a
notícia do que
acontecera, depois do
que a narrativa continua
assim: "As monjas
correram todas para o
aposento da Abadessa e
em torno da Irmã
Menghini se comprimiram
para ouvir de sua
própria boca a narração
do que se produzira. Ela
lhes contou o que
sucedera e as
religiosas, sabendo que
a defunta houvera dito:
Em sinal disto.... e que
dera uma pancada na
porta, exclamaram logo:
‘Ela deve então ter
deixado algum sinal!’. A
Irmã Menghini respondeu:
‘Nada sei a respeito.
Estava muito
aterrorizada para pensar
em examinar a porta.’
Então, as Irmãs em
conjunto foram examinar
a porta e acharam nela
gravada a mão da Irmã
Teresa Margarida, de
modo mais perfeito do
que teria feito o
artista mais competente,
por meio de uma mão de
ferro em brasa."
183. O relatório continua narrando um sonho que teve nessa noite a
Irmã Ana Feliciana. A
defunta apareceu-lhe
para agradecer às
companheiras o efeito
benéfico de suas preces.
E acrescentou: "Pensas
em apagar da porta a
impressão de minha mão.
Jamais o conseguirás,
mesmo com o auxílio de
outras pessoas. Trata-se
de uma misericórdia de
Deus, de um aviso, e sem
isto nunca seria eu
acreditada”.
184. Tendo sabido do que se passara, o arcediago de Foligno, no dia
23 do mesmo mês, fez
redigir uma ata do fato.
Abriu-se então o túmulo,
aplicou-se a própria mão
da morta a impressão que
deixara na porta e as
testemunhas que fizeram
vir atestaram que a mão
se adaptava
perfeitamente na
impressão. A impressão
foi em seguida coberta
com um véu que a
ocultava e a porta,
tirada dos gonzos, foi
guardada num lugar
reservado. Mais tarde,
sempre por ordem do
arcebispado, levantou-se
o véu e permitiu-se a
todos os pedintes vê-la
claramente. Depois, para
maior precaução, fez-se
uma cornija de cristal
com fechadura e a
impressão da mão ficou
assim bem guardada.
185. O relatório está assinado pela Madre Abadessa, Irmã Vitória
Vichi, pelas Irmãs
decanas Maria Eleta
Bertoccini, Ana Teresa
Giovagnoni, Maria
Conceta Folcri, Ana
Feliciana Menghini,
Maria Madalena Minelli e
pela Irmã vigária Maria
Angelina Torelli.
Seguem-se outros
testemunhos datados de 2
de julho de 1870: são os
do Padre Vicente
Amoressi, da Ordem dos
Pregadores, e do Padre
Joaquim Priore Medori,
pró-vigário Geral.
Enfim, o Padre José
Sensi, guardião dos
Menores Observadores de
São Bartholomeu,
certifica o que segue,
com data de 4 de abril
de 1871: “O relatório da
abadessa de Santana está
conforme os testemunhos
recolhidos por ela, que
podem ser considerados
como não duvidosos,
levando-se em conta as
circunstâncias
precedentes, posteriores
e concomitantes dos
tempos, lugares e
pessoas, segundo as
regras da sã moral
católica e da exatidão
crítica.”
186. Como se vê, o caso está confirmado por testemunhos
irrecusáveis, tendo sido
escrito logo após os
acontecimentos e deu
lugar a um inquérito
imediato, ordenado pelas
autoridades
eclesiásticas, no qual
se encontra o detalhe
muito notável do túmulo
aberto para se fazer a
confrontação da
impressão da porta com a
mão da morta. É preciso
notar que ainda esta vez
não se trata de um fato
com a Antiguidade de
alguns séculos, mas de
um que se passou em
1859, isto é, em uma
época relativamente
recente.
(Continua na próxima
edição.)