A. Qual é a melhor e
mais eficiente técnica
para nos libertarmos de
alguém?
A melhor e mais
eficiente técnica para
nos libertarmos de uma
pessoa é beneficiá-la,
porque o benfeitor
cresce e ascende,
enquanto o beneficiário
apenas necessita.
"Enquanto mantemos as
lutas de revides
contínuos, o processo de
desgraças recíprocas
prossegue, até o momento
em que a intervenção
divina se faz,
beneficiando aquele que
melhor tem sofrido,
embora a trama em que se
debate (...)".
(Tramas do Destino, cap.
20, págs. 187 e 188.)
B. Quem foi Rafael no
passado e que fez ele à
jovem Louise-Caroline e
seu esposo?
No passado,
Louise-Caroline e seu
esposo viviam nos
arredores de Dax, uma
das mais antigas cidades
balneárias do
Departamento de Landes,
na França. A casa
pertencia ao Sr.
Georges-Henri (o mesmo
Rafael de agora),
descendente de antigos
viscondes que dominaram
a região desde a Idade
Média. Embora a tradição
de nobreza, era ele
arbitrário e dominador,
criminoso e insano. A
época era má e,
como lhe houvesse mais
de uma vez recorrido a
empréstimos que não pôde
resgatar, o esposo de
Louise foi preso, a
mando de Georges-Henri,
que assim o impediu de
regularizar o débito. A
razão do seu
encarceramento obedecia,
porém, a outros
interesses mais escusos.
O credor ardia de desejo
por Louise-Caroline,
que, no entanto, lhe
desprezou a corte.
Depois da prisão do
marido, Louise-Caroline,
relegada então a uma
quase viuvez, por pouco
não foi seduzida por
Georges-Henri. Ela,
porém, resistiu e
rejeitou-o. Revoltado
com o insucesso de seu
plano, Georges
internou-a num convento
da Espanha, por vingança
à sua fidelidade,
enquanto o marido
apodrecia na prisão.
(Obra citada, cap. 20,
págs. 189 e 190.)
C. Com que finalidade o
benfeitor Natércio
procurou São Francisco
Xavier no plano
espiritual?
Antes que se
consolidassem os planos
para a edificação
material da Casa
Espírita em que os
Fergusons eram
assistidos, o benfeitor
Natércio providenciara
as primeiras diretrizes
sobre as quais
fundamentaria a Obra.
Profundo admirador e
discípulo de São
Francisco Xavier, que
foi na Terra incansável
propagandista da fé
cristã no século XVI,
recorreu então ao fiel
Apóstolo de Jesus,
suplicando seu
patrocínio espiritual
para a Casa que
pretendia erguer e cuja
finalidade seria a
divulgação do
Cristianismo na sua
pureza primitiva. Esse,
o motivo pelo qual
procurou o nobre
Apóstolo.
(Obra citada, cap. 21,
págs. 195 e 196.)
Texto para leitura
81. O verdugo de
Rafael comunica-se
- Comunicou-se na
sessão inditosa
personagem, agressiva e
agitada, por intermédio
de Epifânia. O
doutrinador conclamou-a
à paz, que somente o
perdão proporciona a
quem se considera
vítima, mas o indignado
Espírito, em explosão de
ódio, desabafou:
"Perdão?! Nunca!
Cobrarei até o
exaurimento os males e
as desditas que o
bandido me impôs.
Bandido, ladrão e
homicida, quem o diria?
As roupas caras que lhe
guarneciam o corpo
lascivo não lhe
ocultavam o espírito de
vândalo e criminoso..."
Depois de breve pausa,
continuou: "Tirou-me o
corpo, mas não me venceu
a vida. Destruiu-me a
carcaça, porém não me
consumiu a existência.
Perdi-o de vista por
anos e anos a fio, até
reencontrá-lo, numa
caçada obsessiva, que se
converteu na minha única
razão de ser. Tudo mais
esqueci para não o
esquecer.
Desarticulei-me num ódio
destrutivo, que me fixou
apenas nele. Nada mais
me interessa". Deixando
que a Entidade drenasse
o excesso de
desequilíbrio por algum
tempo, o Diretor dos
trabalhos indagou: "A
quem te referes?
Ignoramos o que ocorre
contigo, exceto que te
encontras enfermo e
careces da ajuda de
Jesus, o Médico Divino,
que te estende mãos
gentis e
misericordiosas". O
comunicante respondeu:
"Agradeço-as e recuso a
ajuda. Ninguém me
socorreu quando o abutre
voraz me triturou entre
as garras de ferro e me
penetrou o bico adunco
de aço nas carnes da
minha alma e dos meus
sentimentos de homem
pobre, todavia honrado,
que lhe padecia o jugo
infeliz... Ora,
refiro-me ao Sr.
Georges-Henri de... hoje
Rafael Ferguson, o
leproso, único epíteto
que lhe cai bem, por
ostentar no corpo venal,
em apodrecimento
paulatino, as flores do
lodo que fecundou na
alma odienta... A ele
refiro-me". O Diretor da
reunião perguntou-lhe se
não o comovia defrontar
o antigo perturbador
duplamente encarcerado,
isolado da família e da
sociedade. "Condoer-me?
Apenas acompanho o que
lhe ocorre, com
indiferença, porquanto
ainda não lhe cravei os
punhais certeiros do meu
desforço, que planejo,
demorado. A morfeia que
o deforma somente lhe
retira a máscara
externa, fazendo assumir
a expressão exterior da
sua personalidade
interna, real...
Há quase cem anos que o
busco... Alguém daí, da
Terra, pode imaginar o
que são cem anos de
procura, açulado por uma
implacável sede de
vingança? Tive
dificuldades em
identificá-lo, ignorava
o mecanismo da volta ao
corpo... Quando me
deparei sobrevivendo à
morte, atinei que o
encontraria... É certo
que muita coisa é
diferente cá, neste
estranho e imenso mundo
em que me encontro.
Pouca luz e muita
desgraça entre espessas
sombras. A preço
exorbitante, saí do
dédalo em que chafurdei,
até aprender a
identificar a dimensão
do tempo, as
ocorrências fora dos
nossos sítios... Não
faltam, aqui, porém,
aqueles que ministram
justiça, os que negociam
informações, os que
vendem identificações,
os que ensinam
cobrança... Somos uma
Sociedade de exterior
caótico, porém de
organização poderosa,
muito bem planejada..."
Dito isto, a entidade
indagou: "Afinal, por
que o diálogo? Que tem
você com isso, com a
minha e a vida dele?"
(Cap. 20, págs. 185 e
186)
82. O melhor meio
de nos libertarmos
- O Diretor da reunião
respondeu-lhe: "O
diálogo se explica por
sermos criaturas de
Deus, que sabemos
conversar. Aqui é um
Hospital-Escola de amor
onde cicatrizamos
feridas mediante o
unguento da fraternidade
e a injeção da esperança
na augusta bondade de
Deus. E, em
consequência, todos
sempre temos algo a ver,
uns com os outros,
porque somos irmãos,
procedentes do mesmo e
único Pai". O
comunicante replicou:
"Não eu. Não tenho
irmãos e sou órfão...
Desconheço qualquer
paternidade, em razão de
sempre haver lutado
contra a correnteza e
ser esmagado pelos
rápidos em fúria... Não
converso mais. Não o
vejo aqui e não há
razão para essa perda de
tempo desnecessária.
Planejo, hoje, levá-lo à
loucura... Amigos
diligentes, que também
lhe sofreram o azorrague
da impiedade,
aguardam-me e ajudam-me.
Não ficarei mais". O
Diretor disse-lhe então
que ele se enganava,
pois que se encontravam
numa reunião organizada
e não numa casa de
recreação, onde se
entra e sai a
bel-prazer. A morte,
como ele bem sabia,
liberta a vida, mas não
libera o homem, vez que
a consciência prossegue
escrava daquilo a que se
agarra. Se o amor
cintila no imo d'alma,
ela desvencilha-se dos
grilhões; do contrário,
o ódio a acorrenta às
contingências de penosa
retenção, impondo-lhe
cruel regime carcerário
na Terra e no Espaço. Se
é possível ser feliz,
por que preferir o
martírio à felicidade.
Georges-Henri (ou
Rafael) não devia a ele,
mas a si próprio; por
isso, expiava num
Leprosário. Seria justo
afligi-lo ainda mais,
expulsá-lo da vida? Era
isso que ele queria? O
Espírito disse que não:
o seu interesse era
supliciá-lo até à
exaustão. O Diretor
pediu-lhe então que
refletisse, considerando
que, se no passado
Rafael fora o seu algoz,
hoje ele é que assumira
esse papel, mostrando
que no futuro as
posições poderiam
novamente inverter-se,
voltando o leproso a
ser-lhe novamente o
verdugo. Por que não
deixá-lo, então,
entregue nas mãos de
Deus? A Entidade
justificou-se dizendo
que Deus não o
socorrera, quando, nas
garras do desalmado,
ele exauriu-se até à
morte dolorosa... O
Diretor mostrou-lhe que
ninguém destrói ninguém,
que a morte não é o fim.
Se ele padecera a
impiedade do verdugo é
porque já devia, e
a Lei o alcançou naquela
oportunidade, visto que
a sua vida não começou
no século passado. Além
disso, a melhor e mais
eficiente técnica de nos
libertarmos de alguém é
beneficiar essa
criatura, porque o
benfeitor cresce e
ascende, enquanto o
beneficiário apenas
necessita... "Enquanto
mantemos as lutas de
revides contínuos –
acentuou o esclarecedor
–, o processo de
desgraças recíprocas
prossegue, até o momento
em que a intervenção
divina se faz,
beneficiando aquele que
melhor tem sofrido,
embora a trama em que se
debate..." (Cap. 20,
págs. 187 e 188)
83. A
Entidade recorda o
passado
– O diretor dos
trabalhos falava à
Entidade sustentado por
Natércio, que ministrava
socorros providenciais
ao comunicante,
assistido por lúcida e
bela Entidade feminil.
Esta tocou a fronte do
Espírito, que nada
percebeu, mas, depois,
penetrado por energias
vigorosas, informou:
"Recordo-me... Volvem-me
ao pensamento, à
lembrança, as cenas e
os lances que culminaram
com a minha desgraça.
Vivíamos minha mulher e
eu, nos arredores da
inesquecível Dax, uma
das mais antigas cidades
balneárias do
Departamento de Landes,
na França... Nossa casa
pertencia ao hediondo
Sr. Georges-Henri,
descendente dos antigos
viscondes que dominaram
a região desde a Idade
Média, os desumanos B...
Embora a tradição de
nobreza, era ele um
abutre. Falava-se que
era arbitrário e
dominador, criminoso e
insano... A época era má
e, como lhe houvesse
mais de uma vez
recorrido a empréstimos
que não pude resgatar,
após intimar-me,
mandou-me prender, única
forma de impedir-me, em
definitivo, de
regularizar o débito.
Poderoso, fez-me
condenar a injusta
pena... A razão do meu
encarceramento obedecia
a outros interesses mais
escusos... O maldito
desejava minha esposa,
que lhe desprezara a
corte. Licencioso e
infame, procurou
persegui-la quanto pôde.
Após meu impedimento,
já que os desonestos não
confiam na integridade
dos outros, tramou
destruir-me para
apossar-se facilmente da
presa, logrando êxito,
em parte, no plano
astuto... Retido no
cárcere imundo e vindo a
descobrir qual o seu
objetivo, de horror e
ódio alimentei-me,
negando-me morrer, a fim
de um dia destruí-lo,
apesar de criminosamente
esquecido, para que a
vida me fosse roubada
pela inanição ou pelos
maus tratos..." A
Entidade disse, ainda,
que o Sr. Georges-Henri
fez-se passar por
benfeitor de sua
companheira, a jovem
Louise-Caroline,
relegada então a uma
quase viuvez, e por
pouco não a seduziu para
explorá-la
miseravelmente.
Revoltado, porém, com o
insucesso de seu plano,
Georges internou-a num
convento da Espanha, por
vingança à sua
fidelidade, enquanto ele
apodrecia, abjeto, na
prisão. Somente dois
anos depois de seu
encarceramento é que
fora informado de tudo
o que havia ocorrido,
através de outro
prisioneiro que chegara
dos campos e sabia de
seu infortúnio. A
Entidade fez, então, uma
pausa no seu relato de
dor e explodiu em
pranto, porque, além de
não suportar a carga do
desgosto, informou que
jamais pôde reencontrar
Louise, a querida esposa
a quem amava ainda mais,
depois de todos os
sofrimentos que ambos
padeceram. (Cap. 20,
págs. 189 e 190)
84. O caso caminha
para um desfecho feliz
- O Diretor da reunião
perguntou-lhe, então:
"E se a reencontrasses
agora?" A Entidade
respondeu: "Seria o
paraíso no meu inferno,
porém não perdoaria,
ainda, o desditoso
bandido que me roubou
por tantos anos a luz
dos meus olhos e é
culpado pela nossa
demorada aflição. Além
do mais, somos vários os
que se contam como suas
vítimas, por ele
desgraçadas. O pobre
Jules, que sou eu,
representa uma pequena
parte da sua imensa
dívida..." O Diretor dos
trabalhos insistiu,
porém, no ponto já
destacado antes:
"Conforme te falei, cada
um deve a si próprio e
ao equilíbrio divino o
crime perpetrado que
ninguém defrauda sem lhe
sofrer os resultados...
A vida é um patrimônio
sagrado que ninguém
desarticula, explora ou
interrompe impunemente.
Por isso, deixa
Georges-Henri entregue a
si próprio e pensa em
ti. Já
consideraste que ainda
não encontraste Louise,
porque, talvez, estejas
focilando no charco,
enquanto ela fulge,
vítima redimida, como
estrela, no alto, e se
esforça por ajudar-te,
ao tempo em que lhe
negas a oportunidade da
ascensão? A ela
constitui um martírio
tua distância – punição
que não merece – como se
ainda não lhe bastassem
os pensamentos de fogo
na jaula da clausura,
não obstante havendo
perdoado o seu
perseguidor e
responsável pelos
desaires de ambos". E,
inspirado por Natércio,
informou que o momento
do reencontro estava
próximo, porque o Senhor
não planeja a extinção
dos maus, porém a dos
males. Assim, se ele o
quisesse, poderia
reencontrar Louise
naquele momento,
bastando para isso
esquecer o ódio e
alçar-se no amor. Quanto
ao infeliz que destruiu
a sua vida, ele não
ficaria, como não
estava, impune. A
Entidade disse, então,
que daria tudo para
revê-la e ouvi-la... O
Diretor recomendou-lhe,
então, que pensasse em
Jesus e suplicasse ao
Mestre a concessão de
poder reencontrar
Louise. "Ainda sabes
orar?", indagou. Como o
Espírito dissesse de sua
dificuldade, ele propôs
que orassem juntos.
(Cap. 20, págs. 190 a
192)
(Continua no próximo
número.)