LEONARDO
MACHADO
leomachadot@gmail.com
Recife,
PE
(Brasil)
Mito de
Er,
sansara
e a
visão
espírita
Renascimento
A Alma
não fica
inteiramente
morta!
Vagas
Ressurreições
do
Sentimento
Abrem
já,
devagar,
porta
por
porta,
Os
palácios
reais do
Encantamento!
Morrer!
Findar!
Desfalecer!
que
importa
Para o
secreto
e fundo
movimento
Que a
alma
transporta,
sublimiza
e
exorta,
Ao
grande
Bem do
grande
Pensamento!
Chamas
novas e
belas
vão
raiando,
Vão se
acendendo
os
límpidos
altares
E as
almas
vão
sorrindo
e vão
orando...
E pela
curva
dos
longínquos
ares
Ei-las
que vêm,
como o
imprevisto
bando
Dos
albatrozes
dos
estranhos
mares...
Cruz e Sousa (1861 – 1898)
O
simbolismo
do poeta
nos
aponta
para a
mesma
direção
socrática
– a
alma
renasce,
preexistindo
ao
nascimento
biológico.
Para
explicar
esta
questão,
Platão
lança
mão do
chamado
Mito de
Er.
Segundo
a
história,
em certa
ocasião,
o pastor
Er foi
conduzido
por uma
deusa
até o
Hades, o
reino
dos
mortos.
E, em lá
chegando,
encontrou
as almas
contemplando,
de modo
sereno,
as
ideias.
No
momento,
porém,
em que
precisavam
voltar à
vida
física,
por meio
da
reencarnação,
eram
levadas
a
escolher
suas
novas
existências
na
Terra.
Tinham,
contudo,
liberdade
para
fazê-lo.
Em
seguida,
depois
da
escolha,
eram
conduzidas
por uma
planície
na qual
corriam
águas do
rio
Léthe –
o
esquecimento.
Umas
escolhiam
a vida
de
prazeres
fugazes
e, para
tanto,
bebiam
bastante
da água.
Outras,
no
entanto,
escolhiam
a
sabedoria
e,
assim,
quase
não
bebiam
da água.
Como
consequência,
as
primeiras
esqueciam
as
ideias
que
tinham
contemplado,
enquanto
que as
segundas
conseguiam
lembrar
as
verdades
vislumbradas.
Por
isto,
Sócrates
falava
que a
verdade
era uma
lembrança
e o
conhecimento,
uma
reminiscência.
Desse
modo, o
filósofo
com a
dialética,
da mesma
forma
que o
médico
com a
anamnese,
tinha a
função
de
favorecer
esta
reativação
de algo
latente.
E,
quando
se
recorda
de
alguma
ideia,
outras
correlatas
ressumam.
O
mito é,
no
mínimo,
interessante.
Mas o
fato é
que a
reencarnação
sempre
foi
levantada
como
hipótese
para
explicar
inúmeros
fatos no
bojo das
civilizações.
No
Bagavad
Gita,
por
exemplo,
Krishna
explica
a Arjuna
que, da
mesma
forma
que a
alma
experimenta
a
infância,
a
juventude
e a
velhice
no atual
corpo, e
do mesmo
modo que
o homem
se despe
de
roupas
usadas
para
vestir
outras
novas,
também a
alma
encarnada
abandona
os
corpos
gastos e
passa
para
outros
novos.
Nesse
sentido,
no
pensamento
hindu e
budista,
verifica-se
o
conceito
do
sansara
- o
ciclo de
nascimento
e de
morte do
qual os
seres
estão
presos,
pelos
seus
próprios
atos, e
do qual
devem
buscar
se
libertar,
igualmente
pelas
suas
ações.
Mais
recentemente,
o
Espiritismo
reaviva
no
Ocidente
estas
teorias
reencarnacionistas,
não
somente
para
explicar
o porquê
dos
diferentes
conhecimentos
nos
seres,
mas,
indo ao
encontro
das
tradições
orientais,
para
ponderar
acerca
da
justiça
divina.
A origem
das mais
variadas
diferenças
sociais,
sobretudo
quando
estas
vêm
desde o
berço –
intelectual,
saúde,
aptidões,
ideias
inatas,
prodígios
–
encontrariam
sua
explicação
também
na
teoria
das
múltiplas
vidas,
além das
outras
contribuições
estudadas
pelas
ciências
tradicionais.
Como
seja,
com o
mito das
reminiscências,
a obra
platônica
lança
mão no
pensamento
filosófico
ocidental
da
teoria
reencarnacionista.
E, de
certo
modo,
passeia
pelas
antigas
tradições
da Índia
e se
assemelha
aos
modernos
ensinamentos
espíritas
–
aqueles
que
muito
bebem
das
águas do
rio
Léthe
antes de
reencarnar
ficam
mais
facilmente
presos
na
ilusão
do
sansara.
*
“Havia,
entre os
fariseus,
um homem
chamado
Nicodemos,
um dos
principais
dos
judeus.
Este, de
noite,
foi ter
com
Jesus e
lhe
disse:
Rabi,
sabemos
que és
Mestre
vindo da
parte de
Deus;
porque
ninguém
pode
fazer
estes
sinais
que tu
fazes,
se Deus
não
estiver
com ele.
A isto,
respondeu
Jesus:
Em
verdade,
em
verdade
te digo
que, se
alguém
não
nascer
de novo,
não pode
ver o
reino de
Deus.
Perguntou-lhe
Nicodemos:
Como
pode um
homem
nascer,
sendo
velho?
Pode,
porventura,
voltar
ao
ventre
materno
e nascer
segunda
vez?
Respondeu
Jesus:
Em
verdade,
em
verdade
te digo:
quem não
nascer
da água
e do
Espírito
não pode
entrar
no reino
de Deus.
O que é
nascido
da carne
é carne;
e o que
é
nascido
do
Espírito
é
espírito.
Não te
admires
de eu te
dizer:
importa-vos
nascer
de novo.
O vento
sopra
onde
quer,
ouves a
sua voz,
mas não
sabes
donde
vem, nem
para
onde
vai;
assim é
todo o
que é
nascido
do
Espírito.”
Jesus.
Leonardo
Machado
é
médico,
residente
de
psiquiatria,
palestrante,
compositor
e
escritor.
Atua no
NEIL, na
Federação
Espírita
Pernambucana
e na
AME-EPE.