A Morte e os seus
Mistérios
Ernesto
Bozzano
(Parte
13)
Damos sequência nesta edição
ao
estudo do livro A
Morte e os seus
Mistérios,
de Ernesto Bozzano,
conforme
tradução de Francisco
Klörs Werneck.
Questões preliminares
A. O Caso V apresenta
dois pormenores
interessantes. Quais são
eles?
O primeiro é a impressão
feita a fogo, em que a
mão da entidade
desencarnada aparece
nitidamente gravada na
madeira, com o traço
característico das
falanges extremas de
cada dedo. O segundo é o
fato de a falecida
ter-se exprimido em "voz
direta" e com um timbre
vocal que foi
reconhecido pelas
pessoas.
(A Morte e os seus
Mistérios, 2ª Monografia
– Marcas e impressões
supranormais de mãos de
fogo, Caso V.)
B. Que características
apresentam as
manifestações que
compõem o Caso VI?
Segundo o Sr. Podmore,
que as investigou, as
manifestações se
reproduziram quatro
vezes, em intervalos de
duas ou três semanas. Na
primeira manifestação, a
Srta. P. nada viu. Na
segunda, as duas irmãs
tiveram a impressão
muito viva de uma
presença no quarto:
acordaram
sobressaltadas, presas
de um vivo terror, mas
nada perceberam. Na
terceira vez, a Srta. P.
viu uma forma vaga, uma
sombra toda envolta.
Finalmente, na quarta
vez, foi a Srta. E. P.
quem, por sua vez,
percebeu a sombra. As
impressões dos dedos no
rosto da Srta. P. eram
muito nítidas e, como se
achavam no lado sobre o
qual não dormira, não
era possível atribuí-las
à compressão do rosto
sobre o travesseiro da
cama.
(Obra citada, 2ª
Monografia – Caso VI.)
C. Um Espírito pode ir
pessoalmente comunicar a
uma pessoa amiga a
notícia do seu próprio
falecimento?
Sim. O Caso VII
apresenta exatamente um
fato assim segundo qual
o Espírito foi à casa da
percipiente, conversou
longamente com ela e
deixou, por fim, uma
impressão indelével no
seu pulso direito, como
prova de que ali
realmente estivera. Na
conversa, comunicou à
amiga que havia falecido
e avisou-a de que essa
notícia ela receberia no
dia seguinte, como de
fato ocorreu.
(Obra citada, 2ª
Monografia – Caso VII.)
Texto para leitura
187. Aludindo ainda ao
Caso V, diz Bozzano que
na magnífica fototipia
da impressão, publicada
pela revista Luce e
Ombra, a mão aparece
nitidamente gravada na
madeira com o traço
característico das
falanges extremas de
cada dedo, que ficaram
profundamente gravadas
na madeira queimada pelo
contato da mão da morta.
188. Esse detalhe
reveste um interesse
considerável, do ponto
de vista probatório,
porque não se poderia
obter um resultado
semelhante aplicando-se
contra o batente da
porta uma mão aberta, em
ferro em brasa. Em
outros termos, teria
sido preciso que a
suposta mão de ferro
fosse feita com as cinco
falanges extremas numa
posição dobrada; neste
caso não se teria podido
obter a impressão
inteira dos dedos e da
mão.
189. Notarei, além
disto, que, na produção
do fenômeno em questão,
mister se faz não só
considerar-se o fato de
a defunta ter-se
exprimido em "voz
direta" e com um timbre
vocal que foi
reconhecido, mas também
esta outra
circunstância: que o
fantasma se manifestou
no meio de uma nuvem de
ectoplasma, que a Irmã
tomou por uma "densa
fumaça".
190. Nas experiências de
materializações
mediúnicas tem-se
observado que uma
nuvenzinha de ectoplasma
precede sempre ou quase
sempre a manifestação do
fantasma objetivo. Ora,
como a vidente ignorava
inteiramente essas
coisas, resulta daí que
sua alusão a uma pequena
nuvem de "densa fumaça",
que precedeu a visão do
fantasma da morta,
reveste grande valor
probatório em favor da
realidade supranormal do
fenômeno.
191. Caso VI - Este
caso, no qual a mão de
um fantasma ficou
gravada na face da
percipiente, é
suscetível de ser
interpretado pela
hipótese dos "estigmas
por autossugestão
emotiva". O caso foi
recolhido e examinado
por Frank Podmore,
extraindo-o eu dos
Proceedings of Society
for Psychical Research
(vol. X, pág. 304).
192. A Srta. M. P., em
data de 16 de fevereiro
de 1890, escreveu nos
seguintes termos à
direção dessa Sociedade:
"Minha irmã e eu
dormíamos no mesmo
quarto do último andar
da casa, em pequenos
leitos que estavam a uma
distância de cerca de
três pés um do outro. Há
três anos (eu tinha
então 20 anos e minha
irmã 18), acordei em
sobressalto com a
horrível sensação de que
havia alguém no
aposento. Fiquei muda
por alguns instantes,
paralisada pelo terror,
até que encontrei a
força necessária para
chamar minha irmã. Esta,
num fio de voz que
exprimia um terror
intenso, perguntou:
‘Quem está no quarto? Há
bom tempo que estou
acordada, mas não tive
coragem de falar.’ Nesse
momento, uma mão gelada
pousou em minha face.
Louca de horror,
tremendo, chamei
desesperadamente por
minha irmã, todavia sem
dizer uma única palavra
do que estava me
acontecendo. Um segundo
depois, ela exclamou:
‘Uma mão pousou em cima
de mim.’ Presa de um
terror indescritível,
ocultamos ambas a cabeça
em baixo das cobertas,
pedindo socorro com
todas as forças dos
pulmões. Nosso irmão
acorreu logo e nós lhe
dissemos que alguém se
introduzira no quarto.
Ele rebuscou todos os
cantos, todos os móveis,
mas inutilmente.
Enquanto isto, minha
irmã se lastimava de
violenta queimadura no
rosto. Acendeu-se o gás
e vimos então que, num
lado do rosto, aparecia
um rubor vivo que tinha
a forma de uma impressão
de mão, com os dedos
abertos. Por duas vezes
ainda, em intervalos de
cerca de um mês,
acordamos, ambas, presas
do mesmo sentimento
horrível da presença de
um ser em nosso quarto:
esse sentimento nos
paralisou o uso da fala
durante certo tempo e
certa vez percebemos o
ente em questão no
espaço que separava os
dois leitos."
193. O Sr. Podmore foi
pessoalmente à casa das
duas percipientes para
interrogá-las a
respeito. Eis o que ele
narrou a respeito do
assunto: "As
manifestações se
reproduziram quatro
vezes, em intervalos de
duas ou três semanas. Na
primeira manifestação, a
Srta. P. nada viu. Na
segunda, as duas irmãs
tiveram a impressão
muito viva de uma
presença no quarto:
acordaram
sobressaltadas, presas
de um vivo terror, mas
nada perceberam. Na
terceira vez, a Srta. P.
viu uma forma vaga, uma
sombra toda envolta.
Finalmente, na quarta
vez, foi a Srta. E. P.
quem, por sua vez,
percebeu a sombra. As
impressões dos dedos no
rosto da Srta. P. eram
muito nítidas e, como se
achavam no lado sobre o
qual não dormira, não
era possível atribuí-las
à compressão do rosto
sobre o travesseiro da
cama."
194. Os membros da
"Comissão de
recenseamento das
alucinações", de cujo
Relatório extraio o caso
em questão, explicam o
incidente da impressão
de cada mão na face de
uma das percipientes
comparando-a a outras
impressões que ficaram
gravadas no corpo
humano, em consequência
de autossugestões
emotivas. Pode-se, sem
dúvida, admiti-la no
caso, considerando-se
que a percipiente se
achava presa de uma
crise de terror, embora
se possa opor, no caso,
outras impressões
semelhantes, obtidas
simultaneamente em
fazendas e outros
objetos, como nos casos
precedentes. Não se
deveria ainda esquecer a
existência dos quatro
casos análogos que
relatei, nos quais
nenhum dos percipientes
se encontrava com crises
emotivas predisponentes
a autossugestões dessa
espécie e nos quais
nenhum dos perceptivos
pensava na possibilidade
de fenômenos deste
gênero. Esta
consideração leva a
supor que, na realidade,
mesmo no caso de que nos
ocupamos, a hipótese dos
"estigmas" não serve
para explicar a
verdadeira causa do
fenômeno.
195. Em todo caso,
devemos assinalar uma
circunstância
verdadeiramente
embaraçosa, se se
afastar a hipótese da
autossugestão: é que a
primeira percipiente
fora, por sua vez,
tocada na face pela
mesma mão fantástica,
sem experimentar nenhuma
impressão de queimadura
de carne e sem que a mão
ficasse gravada no seu
rosto. Como explicar
que, um momento após, a
mesma mão, pousando no
rosto da irmã, tenha
provocado uma sensação
de queimadura, com o
fenômeno da impressão de
uma mão de fogo na face?
Que se acrescente que a
primeira percipiente
fala de uma mão gelada
que pousou no seu rosto,
o que explicaria por que
a mão fantástica não
provocou sensação de
queimadura e não deixou
impressão, mas se assim
é, como devemos
considerar o que
aconteceu, um momento
após, à outra irmã? É,
pois, evidente que a
hipótese dos "estigmas
por autossugestão
emotiva" retoma seu
lugar no caso em
questão.
196. Uma vez declarado
isto por um sentimento
de justiça científica na
pesquisa das causas,
repito que eu não acho,
entretanto, que não deva
buscar nesta explicação
a verdadeira causa do
fenômeno. É possível,
com efeito, que as
sensações opostas, que
as duas percipientes
experimentaram, possam
ser explicadas por uma
mudança rápida da
condensação ectoplásmica
da mão do fantasma, que
seria produzida em
consequência do
seguimento de uma brusca
modificação da
tonalidade vibratória de
ectoplasma nas duas
ocasiões em que a mão em
questão pousou nas
pessoas das percipientes.
Essa tonalidade
vibratória parece ser,
em certas
circunstâncias, muito
mais intensa que a da
substância viva ou da
matéria inanimada e por
consequência deve
destruir, como o faria o
fogo, os tecidos animais
e vegetais vivos, o que
daria lugar aos
fenômenos das
"impressões de mãos de
fogo". Aproveito a
oportunidade para fazer
notar que a hipótese,
que me reservo para
desenvolver nas
conclusões deste estudo,
está justamente baseada
nesta última
circunstância da
intensidade vibratória
indubitável da
substância ectoplásmica
e fluídica: é graças a
ela que se poderiam
explicar os fenômenos
das "impressões
supranormais de mão de
fogo".
197. Caso VII - Resumo a
narração de um caso
muito conhecido na
Inglaterra, ainda que
nele se encontrem
detalhes de natureza a
deixar-nos perplexos por
causa das modalidades
insólitas com que foi
produzido. O caso em
questão foi publicado,
pela primeira vez, pelo
Sr. T. M. Jarvis, na sua
obra Accredited Ghost
Stories (Estórias
verídicas de fantasmas),
em 1823, tendo a
percipiente protagonista
falecido pouco tempo
antes.
198. A Sra. Crow, na sua
obra The Nightsides
of Nature (Os lados
obscuros da natureza),
pág. 196 da nova edição,
a ele faz referência nos
seguintes termos: "No
que concerne ao caso de
Lady Beresford, estou em
condições de assegurar
que a família da morta
afirmou sempre a
autenticidade dos fatos.
Deve-se dizer outro
tanto da família de Lady
Cobb que, como se sabe,
quando Lady Beresford
expirou, foi quem cortou
do seu pulso a fita que
o envolvia, fita que a
morta sempre trouxera
desde o dia em que Lord
Tyrone lhe aparecera, e
isto com o fim de
ocultar a impressão
indelével que lhe
deixara no pulso direito
o contato da mão do
morto."
199. A narração dos
fatos foi ditada pela
própria Lady Beresford.
Mas vejamos primeiro as
premissas do caso: Lord
Tyrone e Lady Beresford
foram íntimos desde a
tenra idade e educados
na mais rígida ortodoxia
religiosa. Mais tarde,
sentiram influências
teológicas de natureza
diversa e, em
consequência disto,
concluíram entre si um
pacto solene: aquele que
morresse primeiro, se
Deus o permitisse,
deveria aparecer ao que
sobrevivesse, para
dizer-lhe da confissão
religiosa que ao Ser
Supremo agradasse mais.
Chegada à idade adulta,
Lady Beresford casou-se
e não teve mais ocasião
de encontrar-se com seu
amigo de infância. Ora,
certa noite, aconteceu
que ela se levantou
sobressaltada e percebeu
a seu lado Lord Tyrone
que a informou ter
falecido subitamente, na
véspera, às 4 horas.
Predisse em seguida
acontecimentos na vida
futura de Lady Beresford,
os quais se realizaram
totalmente.
200. Lady Beresford
assim narrou esses
fatos: "Eu lhe disse:
Amanhã de manhã, quando
me levantar, como
poderia ficar convencida
de não ter sonhado tudo
isto?" Ele respondeu:
"Receberás amanhã
notícia da minha morte.
Esta prova não te
basta?" - "Não, respondi
eu, há sonhos proféticos
e eu acabarei por
convencer-me de haver
tido um sonho dessa
natureza. Dá-me uma
prova material de tua
presença!" Ele disse:
"Tê-la-ás." Então
levantou a mão e logo as
pesadas cortinas do
leito, feitas de veludo
vermelho, foram
projetadas com força
através de um amplo
círculo de ferro que
fazia parte da abóbada
do leito. Logo em
seguida observou:
"Ficarás amanhã
convencida por esta
prova, porque nenhum
braço humano poderia
executar coisa
semelhante." - "Sim,
disse eu, no estado de
vigília não poderia
realizar esta prova de
força, mas dormindo
adquirem-se, às vezes,
poderes excepcionais.
Continuo a duvidar." -
Ele então disse: "Eis um
caderno: vou lançar nele
minha assinatura.
Conheces bem a minha
letra." Com efeito pegou
num lápis e fez no
caderno sua assinatura.
Eu ainda observei: "Na
estado de vigília não
poderia imitar tua
assinatura, mas no de
sonambulismo a coisa é
possível. É o que
concluirei sem dúvida
amanhã de manhã." - Ele
exclamou: "És difícil de
convencer! Que prova
mais poderia dar-te?
Poderia tocar-te, mas um
Espírito não tocaria uma
pessoa viva sem deixar
na sua pele uma marca
indelével." - "Se se
tratasse de uma marca
limitada, disse eu,
submeter-me-ia de boa
vontade a essa prova." -
"És uma mulher corajosa,
respondeu ele.
Estende-me a tua mão."
Eu o fiz e ele me
apertou o pulso. Sua mão
estava gelada, todavia a
pele se enrugou no
momento, as veias se
encheram e os nervos
ingurgitaram.''
201. Desde aquele dia
Lady Beresford foi
sempre vista com uma
fita preta em torno de
seu pulso direito, pois
o Espírito de Lord
Tyrone lhe dissera que o
sinal deveria ficar
oculto aos olhos dos
vivos. Quando Lady
Beresford expirou, Lady
Netty Cobb, sua amiga,
cortou de seu pulso a
misteriosa fita e
verificou a existência
de uma impressão de
queimadura, que a morta
descrevera na sua
narrativa. Tal é o caso
realmente notável que
aconteceu com Lady
Beresford.
202. Como disse, parece
bem autenticado; apenas
se encontra o episódio
da longa conversa entre
o Espírito do morto e a
percipiente, o que nos
deixa um tanto surpresos
relativamente à
autenticidade de toda a
narração, porque nas
manifestações habituais
de fantasmas que falam
observa-se que quase
sempre pronunciam apenas
algumas frases, nada
mais. De qualquer modo,
deve-se admitir que se
conhecem alguns
episódios raros, muitos
bem documentados, nos
quais se encontram
longas conversas entre
os Espíritos
desencarnados e os
percipientes, o que nos
leva a refletir antes de
resolvermos
circunscrever os limites
das manifestações
supranormais.
(Continua na próxima
edição.)