RODINEI MOURA
rodimoura@uol.com.br
Matão, São Paulo (Brasil)
Verdade:
eu passo
Tudo bem,
ela é sua. Não a quero.
Num mundo com tanta
diversidade, prefiro o
respeito, a tolerância.
Não a conivência com a
delinquência, não o
comodismo, não a
covardia de tudo aceitar
pelo medo, mas o
respeito por este
instrumento
imprescindível ao
crescimento humano: a
diversidade.
Não me refiro ao
crescimento vulgar, ao
crescimento puro e
simples financeiro,
embora eu louve e
agradeça ao dinheiro
pelas benesses que pode
oferecer a todos nós.
Digno propulsor do
progresso material, que
é parte do crescimento.
Mas não é todo o
crescimento em si.
Se você, bem-sucedido
Dono da Verdade, se
chateou com estas
palavras bobas de um
bobo aspirante a
escritor, está apenas
confirmando minha tese.
Pois quem cresceu,
tornou-se pleno, ou quem
ainda está na busca
incansável do infindável
crescimento da alma
humana, não se chateia,
não discute e não perde
tempo com um bobo
aspirante a alguma
coisa.
Nem mesmo ao crescimento
intelectual puro e
simples. Aliás, talvez,
não tão simples, já que,
devido à minha
ignorância, eu nem mesmo
saberia defini-lo.
Intelectual? Talvez
sinônimo de vaidade, de
leviandade, de ser tolo,
talvez. Talvez sinônimo
de ignorância, mas não
daquela a qual aspiro,
mas da ignorância de já
possuí-la, de já estar
farto dela. De tê-la em
demasia. Talvez, porque
afirmá-lo seria impor e
impor é tentar diminuir
quem nos lê, quem nos
ouve, pacientemente,
generosamente. Melhor
deixar no ar, para
reflexão.
Troco, aliás, a verdade
pelo nada saber, pela
ignorância e volto um
bom troco. Ignorância
que me permite começar
do zero, sem ideias
preconcebidas e tudo
analisar como um mero
aprendiz. Que me permite
olhar para tudo sem
duvidar de nada, mas
também me permite não
acreditar em tudo.
Que me permite a grande
ousadia de o questionar,
Senhor Dono da verdade,
embora ainda que com
muito respeito o faça.
Com o respeito dos que
nada sabem e por isto
mesmo não temem ter sua
opinião desrespeitada,
ignorada, por muitos
sendo debochada.
Mas que, igualmente, ou
com ainda mais ousadia,
me permite questionar-me
e duvidar de minhas
próprias certezas, de
minhas próprias
escolhas. E que me dá a
liberdade de refazer
estas escolhas. Ah,
liberdade, palavra esta
que neste contexto, mas
não necessariamente em
outro, é antônimo de
verdade.
Verdade que eu passo, é
sua, pode ficar. Verdade
que alimenta guerras,
separa famílias, destrói
amizades, que no mínimo
magoa e causa mal-estar
sem acrescentar nada.
Que deixa o belo feio, o
feio horrível, deixa o
sábio esnobe e cego a
respeito das grandezas
que o cercam. E que por
isto mesmo o impede de
saber mais, de saber de
fato, de saber o que
realmente importa, o que
o torna rico de tesouros
que a traça não corrói,
que é saber amar.