Tendo sido o Brasil
escolhido pela
espiritualidade maior, a
pedido de Jesus, para ser o
berço da Terceira Revelação,
uma situação muito
particular inevitavelmente
iria ocorrer.
Sendo o Brasil um país
católico por sua essência, e
tendo em seu seio
disseminado as igrejas
protestantes, mais cedo ou
mais tarde haveria o
encontro entre essas
diferentes expressões
religiosas. Não estou
dizendo confronto, estou
dizendo encontro mesmo.
Filhos de protestantes
ficando noivos de filhos de
católicos; filhos de
espíritas ficando noivos de
filhos de protestantes ou
católicos, e assim por
diante. A questão que surge:
Como fazer na hora do
casamento? O espírita deve
se submeter aos rituais dos
quais se afastou ou nem
conheceu, ou vice-versa?
Isso serve para todos. É um
assunto muito delicado e que
muita reflexão exige, uma
vez que daqui para frente
isso se tornará cada vez
mais comum. E, também,
porque o espírita tem o
compromisso com a
desvinculação do ser humano
de seus atavismos
religiosos, que mais dividem
que unificam. A Doutrina dos
Espíritos veio libertar o
homem de seus cultos
exteriores e ensiná-lo a
relacionar-se com o seu
Criador “em espírito e em
verdade”, como propunha
Jesus.
Isto é um assunto muito
importante para todos nós,
os espíritas nos dias de
hoje, e pede uma reflexão
acurada, consciente, lúcida,
sem fanatismos de qualquer
natureza. Afinal, quando se
trata de discutir temas sob
a bandeira do Espiritismo,
temos sempre de fazê-lo de
forma digna, conforme o
caráter de seu verdadeiro
criador: Jesus.
Hoje, nesta coluna, vamos
tratar de outro encontro.
Quando um parente ou amigo
muito querido, de outra
religião, nos pede para
batizarmos seu filho, isso
por nos querer muito bem,
como verdadeiros irmãos.
Mas, somos espíritas!...
Como fazer para não negarmos
nossas convicções e, ao
mesmo tempo, não magoarmos
uma pessoa querida.
Chico Xavier já passou por
isso. Vamos ver como ele se
saiu neste caso contado por
Cezar Carneiro de Souza, no
seu livro “Encontros com
Chico Xavier”, editado pela
Editora e Livraria do Centro
Espírita Aurélio Agostinho,
de Uberaba, Minas Gerais.
O assunto girava em torno de
cultos exteriores.
Um companheiro lembrava que
o Espiritismo nos
proporciona libertação das
fórmulas exteriores de
adoração.
Comentava-se se o espírita
devia ou não aceitar
convites para apadrinhamento
nos batizados de crianças,
quando Isaltino da Silveira,
conhecido espírita de Juiz
de Fora, jocosamente
asseverou:
– Deixem-me contar uma boa
saída “deste amigão
aqui!...” (assim falando,
referia-se ao Chico ali
presente).
– Algumas vezes – continuou
-, agradecidas pela
assistência recebida e pelo
carinho que devotam ao nosso
estimado amigo, várias mães
o procuram, pedindo que
aceite ser padrinho de
batismo de seus filhos.
Encontrava-me, certa feita,
ao seu lado, numa dessas
ocasiões. E sabem o que o
Chico lhe respondeu?
Ouvindo aquela evocação
calorosa do querido amigo e
lúcido orador espírita, o
Chico confirmava sorrindo.
Contou-nos, então, o
ocorrido, nosso prezado
confrade de Juiz de Fora.
– Quando foi procurado para
um batismo, ele explicou,
com muito respeito, que no
Espiritismo não existem tais
cerimônias. “Mas a senhora
me dá o nome da criança e
dos pais, que irei ao
cartório para registrá-la.
Ficarei, assim, sendo seu
padrinho espiritual...”.
Aí, então, Isaltino remata,
gracioso:
– Não foi uma boa saída essa
do Chico?!
E mirando-o, concluiu:
– Só você mesmo para se sair
com uma tirada destas!...
Só para concluir, lembramos
que um dia fomos convidados,
minha esposa e eu, para
sermos padrinhos de
casamento de uma jovem muito
próxima, a quem devotávamos
carinho especial. Ela era
católica e entraria na
Igreja de véu e grinalda,
como de costume. Disse que
gostaria muito que nós
estivéssemos entre seus
padrinhos. Então lhe
dissemos que sentíamo-nos
muito honrados com o
convite, mas que nossa
crença não adotava tais
ritualísticas, que no
entanto aprendemos a
respeitar, mas que
gostaríamos de participar
daquele feliz momento sendo
padrinhos no civil. Ela
ficou muito contente e nós
pudemos manter aquele feliz
laço de afetividade.