MARIA ENY
ROSSETINI PAIVA
menylins@terra.com.br
Lins, SP
(Brasil)
O reino de Deus,
na visão do
filósofo
Herculano
A tentativa
No livro O
Reino, objeto de
nosso estudo, o
escritor,
filósofo, mestre
e jornalista,
Herculano Pires,
fala-nos do
Reino sem Rei, o
Reino dos Céus.
“O meu Reino
ainda não é
deste mundo. No
meu Reino, os
que mandam são
os que servem.
Os grandes são
os que se
humilham, pois
os que se
exaltam são
humilhados. Meu
Reino é um Reino
de Servidores.”
O Exemplo do
Reino era tão
estranho como um
pesadelo. O
Mundo o via, mas
não entendia.
João, o
Evangelista,
escreveria mais
tarde: “A luz
resplandeceu nas
trevas, mas as
trevas não a
compreenderam”.
Apesar disso, o
Exemplo ali
estava. Era
possível viver
no Reino em
plena treva do
Mundo. Multidões
aflitas se
aproximavam do
Reino...
E os Grandes da
Terra, ao
ouvirem essas
notícias, davam
de ombro e riam
com desprezo.
Mas, quando viam
a realidade dos
fatos, tremiam
de indignação e
pavor. Então
era possível que
aquele Mestre
sonâmbulo
roubasse aos
homens o gosto
do poder, a
volúpia do
dinheiro, o
prazer dos
sentidos, esse
divino dom que
Jeová concedia
aos judeus e os
Deuses concediam
aos goyns? Não!
O Exemplo do
Reino era um mau
exemplo. (Final
do Cap. IV de O
Reino.)
No capítulo V,
Herculano trata
da Tentativa dos
discípulos de
viverem O Reino
na comunidade
evangélica de
Jerusalém, logo
depois que a
violência dos
religiosos e dos
romanos
submetera Jesus
à crucificação,
matando-o, pelo
suplício
reservado aos
que atentavam
contra o poder
de César.
A cruz não era
para ladrões e
outros delitos.
Era o suplício
público, para
aterrorizar os
rebeldes,
reservado aos
que tentavam
revoluções, aos
zelotes que
faziam
terrorismo
político. Por
isso, a ideia
antiga, mas
retomada
modernamente,
de que Barrabás,
Dimas e Cleófas
não eram
ladrões, mas
faziam parte da
tentativa de
expulsão dos
romanos por um
grupo de
galileus. O
Evangelho de
Lucas nos fala
da invasão do
Templo de
Jerusalém,
reprimida por
Pilatos, que
ocorreu
exatamente
quando Jesus
veio para
Jerusalém. Pelo
mesmo motivo, os
espíritas
adotaram pela
revelação de
alguns médiuns
confiáveis a
tese antiga de
que Judas não
era um traidor,
mas fazia parte
do movimento de
retomada do
poder, por
Israel, e
pretendia que
Jesus fosse o
Rei desse Reino
de Javé
restaurado.
A decepção da
morte na cruz do
Mestre libertara
os discípulos da
pretensão de que
Jesus iria
restaurar, de
imediato, o
poder de Israel
e expulsar os
goyns, impuros.
No entanto, a
visão do Senhor,
a sua aparição
entre eles, em
espírito, e o
fenômeno do
Pentecostes, em
que as línguas
de fogo os
iniciam na
divulgação do
Reino,
restauram-lhes a
força e isso os
faz retomar a
vivência
evangélica que
haviam
experimentado em
companhia de
Jesus. Mesmo
porque Jesus em
Espírito ficara
com eles 40
dias, segundo o
Evangelho,
“falando-lhes do
Reino”.
O poder judeu e
o de Roma
lançaram sobre
Jesus a
ignomínia da
cruz, mas o
Exemplo do
Reino, daquele
que o Mestre já
vivia com os
discípulos, em
sua pequena
comunidade dos
doze, que são
chamados
apóstolos, e
mais os
discípulos,
incentiva Pedro,
e especialmente
Tiago, o irmão
do Senhor, a
fundar a
comunidade de
Jerusalém. O
Evangelho relata
que se agregaram
aos apóstolos
três mil
pessoas.
Conforme o
ensino de Jesus
na ceia Pascal,
que ao dividir o
pão e o vinho
lhes pedira:
“Fazei isso em
memória de mim”,
dividiam o pão e
oravam em comum.
Herculano
ensina: “Para
esses Filhos do
Reino, o pão era
um só e todos
participavam
dele. Ninguém
guardava o seu
pãozinho
particular, para
secar e mirrar
no embornal
escondido. Todos
davam o que
tinham para
poderem receber
da abundância
geral. E se
alguém dava
mais, para
retirar menos,
era com alegria
que o fazia,
pois, é alegre
para os Filhos
do Reino poderem
dar da sua mesma
abundância”.
É bem verdade
que, da mesma
forma que a
comunidade de
Jesus formada
por ele e pelos
apóstolos e
discípulos, a
pequena
comunidade de
Jerusalém, onde
viviam o ideal
de fraternidade,
desapareceu. Os
primeiros
cristãos, nos
séculos
iniciais, não
foram mais viver
em comunidade,
Muitos séculos
ainda deviam
passar até que a
sociedade
buscasse seu
aperfeiçoamento,
e essa semente
do Reino pudesse
frutificar
começando a
produzir amor e
justiça para
todos.
Essa semente da
comunidade
apostólica
voltou ao seio
da Terra e dela
só restaram nos
tempos futuros
as ordens
religiosas
católicas
regulares (leia
congregações com
regras,
irmandades, onde
tudo se possui
em comum). Mas
vieram tisnadas
por uma visão
orientalista de
segregação
sexual, celibato
obrigatório que
pretende a
superação total
dos instintos,
além de regras
rígidas e
hierarquia
dominadora.
Até mesmo a
ideia do dízimo,
que era
obrigatório aos
cristãos no
início do
Cristianismo,
visando socorrer
os irmãos em
dificuldades e
amparar órfãos e
viúvas, foi
adulterada e
serve ainda hoje
para enriquecer
Igrejas e
dar-lhes o poder
do dinheiro.
Infelizmente as
Igrejas perdidas
em seus dogmas e
rituais
relegaram a
ideia da
vivência do
Reino ao
esquecimento.
Claro que as
estruturas
sociais não
tinham, como não
têm, nenhum
interesse em que
essa experiência
fosse divulgada.
Crianças são
evangelizadas
sem saber dessa
tentativa.
Gerações,
inclusive de
espíritas, vivem
e morrem, sem
nem suspeitar
que a
implantação de
um Reino de Amor
e Justiça foi
retomada
claramente pelos
Espíritos
Superiores que
nos trouxeram O
Livro dos
Espíritos. Os
Espíritos
consoladores
estabelecem que
O Reino,
nascendo em nós,
deve ser
implantado aqui
na Terra, pela
nossa ação, na
luta pela
Justiça e Amor.
As sementes do
Reino ficaram
durante milênios
enterradas.
Através dos
séculos, elas
tentaram
germinar, entre
os homens que se
diziam
espiritualizados.
Mas cresceram
essas poucas
sementes
desenterradas,
portando genes
estranhos,
implantados
nelas pelos
poderosos,
especialmente a
partir de
Constantino.
Cresceram como
sementes
transgênicas,
carregando um
sentido
espiritual que é
a morte do ser
humano para a
vida natural. A
vida natural
compreende
a utilização
equilibrada dos
instintos que
Deus nos
permitiu
adquirir em
séculos de
evolução, como
facilitadores de
nosso
aperfeiçoamento.
Adulterados
os genes
do espiritual,
estabeleceu-se o
cilício, o
jejum, a
castidade, se
possível a
virgindade, a
obediência, a
pobreza, como o
ideal dos
representantes
da
espiritualidade
superior. O
horror aos
instintos, à
ideia de culpa e
pecado, à
obrigação de
superar o
instinto, ao
invés de
utilizá-lo como
ensina a questão
n° 75 de O Livro
dos Espíritos. O
medo dos
castigos
terríveis que
aguardam o
“pecador” toma
conta da
literatura
religiosa,
inclusive
atualmente da
espírita, para
manter o homem
escravizado aos
poderes da
religião, de
seus
representantes,
seus santos,
médiuns ou
“homens de
Deus”.
As instituições
religiosas,
baseadas na
culpa e no medo
e não na Justiça
e no Amor,
enriquecem e
fazem conúbios
imorais com o
poder
constituído que
lhes enche os
cofres, para que
divulguem a
mentira e o que
lhes convém.
Fariseus
modernos, a
ressumar
hipocrisia!