ANGÉLICA
REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil) |
A Morte e os seus
Mistérios
Ernesto
Bozzano
(Parte
15)
Damos sequência nesta edição
ao
estudo do livro A
Morte e os seus
Mistérios,
de Ernesto Bozzano,
conforme
tradução de Francisco
Klörs Werneck.
Questões preliminares
A. O Caso IX refere-se a
vários fenômenos em que
atuou como médium
Elisabeth Eslinger,
conhecida como a vidente
de Prevorst. Quem foi na
Terra o Espírito que
produziu os fatos
mencionados?
O Espírito que produziu
os fenômenos pertinentes
ao Caso IX dizia ter
sido um padre católico
que tinha vivido em
Wimmenthal e se achava
há muito no mundo
espiritual em condições
inferiores de
existência, em
consequência de graves
faltas que cometera
quando encarnado. Seu
principal objetivo, com
as manifestações, era
pedir à vidente e a todo
o mundo que orassem por
sua alma.
(A Morte e os seus
Mistérios, 2ª Monografia
– Marcas e impressões
supranormais de mãos de
fogo, Caso IX.)
B. Elisabeth Eslinger
atendeu ao seu pedido?
Sim. Perto do dia em que
Elisabeth Eslinger
deveria ser solta, visto
que os fatos ocorreram
durante a permanência da
médium em um presídio, o
Espírito a exortou com
insistência para ir a
Wimmenthal, a fim de
orar por ele no lugar em
que nascera e vivera.
Ela partiu, então, para
esse lugar, a conselho
de pessoas amigas, que a
acompanharam em sua
piedosa peregrinação.
Logo que se ajoelhou ao
ar livre e começou as
orações, os presentes
viram o fantasma perto
dela, embora nem todos o
tivessem percebido com a
mesma nitidez.
(Obra citada, 2ª
Monografia – Caso IX.)
C. Nas manifestações do
ex-padre registrou-se
algum fato não usual
nesse tipo de fenômeno?
Sim. A presença do
Espírito era acompanhada
de um "fedor cadavérico"
característico. Segundo
Bozzano, esse fato é um
dos mais raros da
casuística mediúnica,
tão raro que nas suas
classificações ele havia
registrado somente três
casos.
(Obra citada, 2ª
Monografia – Caso IX.)
Texto para leitura
220. Caso IX – Este caso
ocorreu nas prisões de
Weinsberg, Alemanha, em
1835, e foi examinado
pelo Dr. Justino Kerner,
médico das prisões e
autor da famosa obra Die
Seherin von Prevorst (A
vidente de Prevorst).
Ele fez aparecer a
narração do caso em uma
brochura, na qual
reproduziu os numerosos
interrogatórios a que
submeteu os
prisioneiros, que
introduzia
sucessivamente na cela
da vidente, a fim de
vigiá-la. Essa vidente
era Elisabeth Eslinger,
que fora detida por
infrações às leis, por
ocasião da pesquisa de
um tesouro oculto. Era
uma grande "sensitiva"
ou antes um grande
médium, pois já antes da
sua prisão tivera
colóquios com o Espírito
que se manifestou, em
seguida, no seu cárcere.
221. De ordem do diretor
da prisão, o juiz Mayer,
prometeu-se recompensar
com a liberdade imediata
o prisioneiro que
conseguisse levar a
vidente a fraudar.
Compreende-se, porém,
que na cela de uma
prisão fraudes e
artimanhas eram
impossíveis, tanto assim
que todos tiveram que
reconhecer a
autenticidade dos fatos.
222. Além dos
testemunhos dos
prisioneiros, a brochura
contém as narrações de
vários sábios e artistas
que o Dr. Kerner, a
pedido dos magistrados
encarregados do
inquérito, convidou para
passar algumas noites no
cárcere da "mulher
assombrada por um
espírito". Notam-se,
entre outros, os nomes
dos Drs. Seyffer e
Sicherer, do Juiz Heyd,
do Barão von Hugel, do
Prof. Kapft, do advogado
Fraas, do pintor Wagner
e do gravador
Dettenhoffer.
223. No caso houve
numerosos incidentes de
impressões de mãos de
fogo, das quais a última
foi a mais importante,
pois os cinco dedos de
uma mão do Espírito
ficaram gravados no
lenço em que Elisabeth
Eslinger envolvera a mão
antes de estendê-la ao
Espírito. Além do
fenômeno das
"impressões",
verificaram-se
manifestações de todas
as espécies. Os fatos
foram extraídos do livro
da Sra. Crow: The
Nightsides of Nature (Os
lados obscuros da
Natureza), que reproduz
quase na íntegra o
opúsculo do Dr. Kerner.
224. Quase todas as
noites, Elisabeth
Eslinger, que era uma
mulher sã e robusta, com
cerca de 38 anos, era
visitada em seu cubículo
por um Espírito que
dizia ser um padre
católico que tinha
vivido em Wimmenthal e
se achava há muito no
mundo espiritual em
condições inferiores de
existência, em
consequência de graves
faltas que cometera
quando encarnado. Ele
era, evidentemente,
obsidiado por um
"monoteísmo post-mortem"
que concordava com o
fato de ter sido padre
católico, visto que esse
"monoteísmo" consistia
em pedir à vidente e a
todo o mundo que orassem
por sua alma.
225. O Espírito
manifestava-se entrando
pela porta ou pela
janela. Quando entrava
pela porta, abria-a e
fechava-a de modo muito
visível, pois que os
assistentes percebiam,
durante um momento, o
interior do corredor que
dava para a cela. Quando
entrava pela janela, que
se achava num lugar alto
e era fechada por
sólidas barras de ferro,
a sacudia violentamente.
Alguns magistrados,
querendo certificar-se a
que ponto podiam ser
sacudidas essas grades,
ordenaram a vários
homens robustos que o
fizessem e verificaram,
então, que era preciso o
concurso de seis homens
para sacudi-las
fracamente, ao passo que
o Espírito as sacudia
com violência.
226. Quando o Espírito
se aproximava de uma
pessoa, esta sentia,
invariavelmente, "golpes
de vento gelado"
acompanhados de uma
espécie de crepitar
elétrico e de ruídos
análogos a tiros de
pistola. Além disto, o
Espírito exalava um
fedor cadavérico
insuportável, que chegou
a causar desmaios a
alguns dos assistentes.
Sua cabeça estava
cercada de uma
luminosidade
fosforescente, e, ao
passo que alguns não a
percebiam, outros viam
uma sombra vaporosa, de
forma humana,
distinguindo os
sensitivos o aspecto
normal do Espírito, tal
qual o descrevia a
vidente.
227. Quando o fantasma
tocava uma pessoa, esta
sentia no lugar tocado a
sensação de uma
queimadura e aí se
formava logo uma mancha
avermelhada ou uma
bolha. Falava com um voz
penosa e profunda, que
vários assistentes
percebiam ao mesmo tempo
que a vidente. Todos,
indistintamente, ouviam
os ruídos diversos que
se produziam e sentiam
os golpes de vento
fresco e o terrível mau
cheiro cadavérico que
dele exalava. A
propósito da
objetividade indubitável
dos fenômenos, pode-se
salientar esta
circunstância.
228. Alguns membros da
comissão encarregada do
inquérito tiveram a
ideia de pôr na cela da
vidente um gato
pertencente aos guardas
da prisão. Logo que o
fantasma apareceu, o
gato se mostrou
terrivelmente
impressionado e, em suas
tentativas para fugir,
se atirou cegamente
contra as paredes da
prisão. Meteu-se a
seguir debaixo das
cobertas do leito e não
se mexeu mais. Outra
experiência se fez,
essa, porém, com
resultadas deploráveis
para o pobre felino que,
desde então, recusou
toda alimentação e não
tardou a morrer.
229. O Espírito se
manifestou, também, nas
casas dos membros da
comissão e nas do
diretor da prisão e do
Dr. Kerner,
anunciando-se aos
presentes com os seus
sinais habituais,
consistentes em jatos de
ar frio ou crepitação
elétrica, em tiros
semelhantes aos que são
produzidos com uma
pistola, tudo
acompanhado do terrível
fedor cadavérico e dos
contatos que deixavam
estigmas.
230. Um certo Sr. Dorr,
de Heilbronn, zombava
dos que acreditavam
nessas "baixas
superstições". O Dr.
Kerner pediu, então, à
vidente que conseguisse
que o Espírito fosse à
casa desse céptico para
o convencer. O Espírito
foi e manifestou-se no
seu quarto de dormir com
seus modos costumeiros.
O Sr. Dorr convenceu-se
dos fatos e contribuiu
com seu próprio
testemunho para o
inquérito do doutor
Kerner.
231. Eis, a seguir,
alguns incidentes
típicos de "mãos de
fogo" que se produziram
com Elisabeth Eslinger.
232. Falando da vidente,
observa o Dr. Kerner:
"Ela dizia muitas vezes
ao Espírito que as
preces de uma pecadora
como ela não podiam
servir para libertá-lo
do sofrimento; que ele
devia, ao contrário,
dirigir-se ao Redentor;
ele, porém, continuava
com suas súplicas.
Quando ela lhe falava
assim, ele se
entristecia e se chegava
para perto dela, de modo
tal que sua cabeça
ficava muito perto do
rosto de Elisabeth.
Parecia ter fome de
preces. Ela sentia,
muitas vezes, que
lágrimas do fantasma lhe
caíam sobre a face e o
pescoço; eram geladas e,
entretanto, a pobre
mulher experimentava uma
sensação de queimadura
no lugar em que elas
caíam e uma marca azul e
vermelha aí se formava."
233. Esse curioso
fenômeno se produziu por
várias vezes. Concebe-se
que lágrimas realmente
liquidas não teriam
podido escorrer do corpo
fluídico do fantasma,
podendo-se, todavia,
admitir que a vontade do
fantasma as tenha
materializado para a
circunstância, mas não
as consideraremos ainda
e suporemos que a
sensação das lágrimas,
que caíam sobre a pessoa
da vidente, era
puramente subjetiva.
Contudo, vale ressaltar
que essas lágrimas
deixaram no rosto da
vidente uma impressão
permanente.
234. Esse fenômeno
poderia ser interpretado
pela hipótese dos
"estigmas por
autossugestão emotiva",
mas isso se o
considerássemos
isoladamente e não
conjuntamente com os
outros fenômenos
semelhantes que se
produziram com a mesma
sensitiva. Com efeito,
neste último caso, seria
audácia sustentar esta
tese em face da produção
dos mesmos fatos com os
membros da comissão de
inquérito, os quais não
podiam todos se
sugestionar. Enfim,
semelhante tese não se
sustentaria se se a
considerasse juntamente
com o fenômeno da
impressão de mão de
fogo, que ficou gravada
num lenço.
235. O juiz Mayer,
diretor da prisão, não
quis acreditar que os
fatos tivessem origem
supranormal e, por isso,
disse a Elisabeth que,
se ela quisesse
convencê-lo nesse ponto,
pedisse então ao
Espírito que fosse a sua
casa. Eis o que o Sr.
Mayer relatou: "Na noite
seguinte ao dia em que
disse isto, deitei-me e
dormi, não esperando tal
visita; fui porém,
despertado cerca da
meia-noite por algo que
me tocava no cotovelo
esquerdo. Senti depois
uma dor e, de manhã,
quando olhei para essa
parte do braço, vi
várias manchas azuis.
Disse todavia a
Elisabeth que isto não
bastava e que era
preciso dizer ao
fantasma para me tocar
no outro cotovelo. Isto
se deu na noite
seguinte, na qual senti
o horrível fedor de
putrefação. As manchas
azuis apareceram.
Percebi, também, os
jatos de vento frio e os
ruídos habituais do
fantasma, mas não
consegui vislumbrar a
sua forma. Minha esposa,
ao contrário, viu o
fantasma e rezou todo o
tempo em que ele
permaneceu no nosso
quarto."
236. Como se aproximasse
o dia em que Elisabeth
Eslinger deveria ser
solta, o Espírito a
exortou com insistência
para ir a Wimmenthal, a
fim de orar por ele no
lugar em que nascera e
vivera. Ela partiu para
esse lugar, a conselho
de pessoas amigas, que a
acompanharam em sua
piedosa peregrinação.
Logo que Elisabeth se
ajoelhou ao ar livre e
começou as orações, os
presentes viram o
fantasma perto dela, mas
nem todos o perceberam
com a mesma nitidez,
sendo que uma das
testemunhas só divisou
nesse lugar uma nuvem
branca.
237. Elisabeth Eslinger
hesitou por muito tempo,
antes de partir para
Wimmenthal, como se
temesse que alguma
desgraça lhe sucedesse;
por isto, antes da sua
volta, quis orar por
seus filhos. Em dado
momento, os presentes
notaram que não rezava
mais e, aproximando-se
dela, encontraram-na
desmaiada. Voltando a
si, Elisabeth contou que
o fantasma, antes de
deixá-la
definitivamente, lhe
pedira para apertar-lhe
a mão. Após tê-la
enrolado num lenço, ela
lhe estendeu. Ao contato
da mão do fantasma, uma
chamazinha se desprendeu
do lenço e aí se
encontraram as marcas
dos dedos do fantasma,
sob a forma de
queimadura. Depois desse
incidente, o Espírito
não reapareceu mais, nem
na prisão, nem na casa
dos membros da comissão
de inquérito.
238. Registre-se que, na
época em que os fatos
descritos se produziram,
o movimento espírita não
havido nascido;
portanto, ninguém
poderia pensar que
manifestações de uma
entidade espiritual,
assim como fenômenos
mediúnicos de natureza
física, fossem
precedidos de "golpes de
ar fresco".
239. Quanto ao fenômeno
estranho e pouco
agradável do "fedor
cadavérico" que se
desprendia do espectro,
limito-me a notar que
esse fenômeno é um dos
mais raros da casuística
mediúnica, tão raro que
nas minhas
classificações apenas
encontro registrados
três casos.
240. A Sra. Florence
Marryat, em seu livro "There
is no death" (Não há
morte), descreve um
fenômeno semelhante, que
sempre se produzia no
decurso de uma longa
série de experiências
feitas com um médium de
materializações, mas era
apenas quando se
materializava certa
personalidade mediúnica
que tal fedor se
desprendia, de modo tal
que a própria Sra.
Marryat era atacada de
náuseas.
241. É preciso que se
concorde que, do ponto
de vista probatório,
esse detalhe pouco
agradável reveste uma
importância
considerável, porque não
se poderia explicá-lo
pela fraude. Ao
contrário, do ponto de
vista teórico, difícil é
interpretá-lo. Pode-se
supor que, em tais
casos, dissociações de
substâncias orgânicas se
produzissem no corpo do
médium, com uma emissão
de azoto e outros gases
que engendravam o
terrível fedor
cadavérico. Ficaria,
todavia, uma
circunstância embaraçosa
a explicar, no caso da
Sra. Marryat, porque uma
única personalidade
mediúnica apresentava
esse deplorável
inconveniente, no meio
de uma série de outras
personalidades
mediúnicas que se
materializavam com o
mesmo médium.
242. Do ponto de vista
espírita, essa
circunstância pode ser
explicada admitindo-se
as razões que dão a este
respeito os "espíritos
guias", isto é, que esse
traço característico é
próprio de uma "entidade
espiritual muito
inferior". Do ponto de
vista anímico, não se
poderia compreender
porque, numa série de
fantasmas materializados
com o auxílio do mesmo
médium, apenas um tinha
a prerrogativa de
subtrair azoto e outros
gases deletérios do
organismo do médium.
(Continua na próxima
edição.)