JOSÉ REIS CHAVES
jreischaves@gmail.com
Belo Horizonte,
MG
(Brasil)
Kardec de possível erro
foi consciente, mas nem
Jesus
é onisciente
Nos processos de
canonização de um santo,
a Igreja tem o conhecido
advogado do diabo, que
esmiúça a vida do santo,
para encontrar nele
algum erro grave que
impeça a sua
canonização. Mas defeito
simples é tolerável.
De fato, quem vem a esse
vale de lágrimas, como
diz a Salve Rainha, ou
mundo de provas e
expiações para o
Espiritismo, é quem
ainda é imperfeito. A
exceção é Jesus. É que
ainda não somos
purificados e, pois,
vitoriosos: “Aquele que
se tornar vitorioso, eu
o transformarei em
coluna no Reino dos
Céus, e dali ele não
sairá mais” (Apocalipse
3: 12). Mas o Espírito
já purificado, livre do
Purgatório ou da lei de
causa e efeito, não
precisa mais de
reencarnar. Diz o
apóstolo Paulo que
combateu o bom combate
(2 Timóteo 4: 7). Mas só
Jesus pode dizer: Eu
venci o mundo (João 16:
33).
Na época de Kardec, a
ciência antropológica,
ainda muito atrasada,
era racista. Para ela, a
raça branca era a mais
inteligente. E o
cientista Kardec recebeu
um pouco da influência
dessa ciência. Eu disse
um pouco, pois tal
influência não foi
suficiente para torná-lo
um racista. Já a Igreja
e as outras igrejas
cristãs eram racistas,
haja vista que elas
toleravam a escravidão
negra.
E Kardec não se sentia
bem diante daquela
situação. De certa
feita, ele disse meio
desconsertado esta
frase, que não era dele,
mas dos cientistas seus
contemporâneos: “Diz-se
que o negro é um ser
humano grosseiro, pouco
inteligente etc.”. Até
acreditamos que Kardec,
por causa da ciência e
das religiões ocidentais
a favor desse
preconceito, tenha
ficado um pouco tímido
em sua posição contra o
racismo. É que ele
estava, como se diz, de
mãos e pés amarrados
diante daquela situação.
É que como cientista e
respeitador, pois, da
ciência e também das
religiões, ele era
prudente em combater as
ideias delas. Mas seria
um grande equívoco
concluir disso que ele
era racista, como alguns
fanáticos
antikardecistas, dando
uma de advogados do
diabo, em vão, tentam
passar essa imagem dele.
Ademais, a doutrina
espírita, através das
entidades manifestantes
da Codificação Espírita,
já se mostrava, naquela
época, radicalmente
contrária à escravidão
negra. (“O Livro dos
Espíritos”, questões 54,
831 e 918; e “O
Evangelho segundo o
Espiritismo”, capítulo
17, item 3.) E Kardec a
condenou também
(“Revista Espírita” de
abril de l862).
Entretanto, Kardec muito
sensato e muito apegado
à evolução, era
consciente de que
poderia ter cometido
algum erro nas questões
doutrinárias espíritas.
Não tão grave para ser
derrotado por “um
advogado do diabo” e não
“poder ser canonizado”!
Era também de opinião
que um Espírito da
Codificação, apesar de
iluminado, poderia ter
cometido, igualmente,
algum equívoco. Por isso
disse que, se
futuramente, com a
evolução, houvesse
alguma discordância
entre um ensino
doutrinário e a ciência,
que os espíritas
seguissem a ciência. Ele
era, pois, consciente de
que tanto ele, como os
Espíritos, mesmo
iluminados, estavam
sujeitos a erros.
Aliás, nem Jesus era
onisciente.
Perguntaram-Lhe quando
seria o final dos tempos
(São Mateus 24: 36). Ele
respondeu que nem os
anjos nem Ele sabiam, e
que somente Deus, o Pai,
o sabia!