RICARDO ORESTES FORNI
iost@terra.com.br
Tupã, SP (Brasil)
Os ombros largos do
próximo
A revista VEJA,
edição 2269 de
16/05/2012, páginas 112
a 114, traz uma
interessante reportagem
sobre a arte de culpar
os outros ou, em termo
mais vulgar, a arte de
encontrar um bode
expiatório. Vamos a um
trecho: “Nada
paralisou mais a
inteligência do que a
busca por bodes
expiatórios”, escreveu o
historiador britânico
Theodore Zeldin no livro
Uma História Íntima da
Humanidade, de 1994.
Paralisou, e continua a
paralisar. A tentativa
de jogar a culpa por uma
situação indesejada – de
desastres naturais e
guerras, de crises
econômicas e epidemias –
nas costas de um único
indivíduo ou grupo quase
sempre inocente é uma
prática tão disseminada
que alguns estudiosos a
consideram essencial
para entender a vida em
sociedade. Se
observarmos à nossa
volta, encontraremos
muitos exemplos. Quando
um adulto interrompe a
briga de duas crianças,
uma aponta o dedo
inquisidor para a outra:
“Foi ela quem começou!”.
De maneira semelhante, a
campanha para as
eleições presidenciais
na França, encerradas na
semana passada com a
vitória do socialista
François Hollande, foi
pautada em parte pelas
retóricas anti-imigração
e antiunião europeia,
como se um fator
qualquer vindo de fora
fosse o bastante para
explicar o desemprego no
país. Nos Estados
Unidos, o culpado da vez
é o 1% mais rico da
população, que paga
proporcionalmente menos
impostos do que a classe
média. Na América
Latina, a tradição
populista não existiria
sem a invenção de
inimigos imaginários
internos (as
oligarquias, os bancos,
a imprensa) e externos
(o FMI, os Estados
Unidos). A ditadura
cubana sustenta-se há
mais de quatro décadas
sobre a fantasia de que
a miséria de sua
população se deve ao
embargo ameriacano à
ilha, e não ao fracasso
de seu sistema
comunista.
Continua a reportagem:
No livro intitulado
em português, traduzido
do inglês – (Bode
Expiatório – Uma
História da Prática de
Culpar Outras Pessoas),
publicado recentemente
nos Estados Unidos e na
Inglaterra, o autor,
Charlie Campbell,
defende a tese de que
cada ser humano tende a
se considerar melhor do
que realmente é, e por
isso tem dificuldade de
admitir os próprios
erros. “Adão culpou Eva,
Eva culpou a serpente, e
assim continuamos
assiduamente desde
então”, escreveu
Campbell.
Infelizmente, como isso
é frequente nos dias
atuais, não é verdade?
Muitas pessoas tidas
como possíveis
responsáveis em
falcatruas as mais
diversas procuram um
bode expiatório para
eximirem-se de culpa. Se
forem vários os “bodes”,
tanto melhor. No terreno
particular isso também
acontece. Ou será que
não? Por exemplo, quando
a paz no lar é
comprometida devido a
uma discussão
perfeitamente evitável
entre os seus
componentes, sempre foi
o outro lado quem deu
início à confusão.
Quando um filho é
envolvido pelas drogas
ilícitas, a culpa é só
do traficante. Quando um
velho vai parar no
asilo, a culpa é dele.
Quando uma criança é
abandonada, procura-se o
responsável cujo autor
da “proeza” é sempre o
outro, o tal de bode
expiatório. Quando um
casal se separa, os
motivos foram sempre
fornecidos pela outra
parte. O homem está
absolutamente correto e
a mulher também. Aliás,
nas brigas de casais, é
uma das raras ocasiões
em que podemos encontrar
um ser humano perfeito
porque nunca nenhum dos
dois está errado. Isso
quando não sobra culpa
para os filhos, as
maiores vítimas de uma
separação. Quando no
serviço alguma coisa dá
errado, a culpa é do
patrão que paga mal. Ou
será do funcionário que
não cumpre com suas
obrigações? E no
trânsito, você já viu
como só tem gente certa?
A culpa é sempre do
outro, do tal do bode
expiatório, que pode ser
até um sinaleiro que
funciona mal ou de uma
placa de sinalização
ausente ou mal colocada,
nunca do real culpado.
Agora, meu amigo e minha
amiga, embora os
Espíritos não tenham
ombros como entendemos
no sentido material do
termo, haja ombro neles
para aguentar a culpa
que a eles imputamos!
Falta paz no lar? Debite
na conta dos Espíritos.
Aconteceu um acidente?
Jogue nos ombros
perispirituais dos
Espíritos. É. Para jogar
no ombro do coitado do
Espírito, até ombro
perispiritual serve,
como não? Os filhos
estão indo mal na vida?
Não vacile, debita na
conta (ou nos ombros?)
dos Espíritos. Brigou
com a sogra? Espíritos
que se cuidem.
Desentendeu-se com a
esposa ou com o marido?
Ah! Não existem dúvidas.
Coloca nos ombros deles!
É. Dos Espíritos! É
correto que O Livro
Dos Espíritos nos
ensina que eles
participam intensamente
de nossas vidas até o
ponto de, se
permitirmos, sermos
dirigidos por eles, mas
gente, em nossos ombros
não vai culpa nenhuma?