Após o lançamento de seu
primeiro livro mediúnico,
Parnaso de Além-Túmulo,
Chico passou a ser visado
pelos críticos literários.
Alguns, sem nenhuma piedade
o criticando; outros,
analisando com mais justiça,
até tentando achar uma
justificativa para tantos
poetas já mortos trazerem
trabalhos inéditos com todos
os detalhes que os
caracterizavam quando entre
os encarnados. O fato é que
foram momentos muito
difíceis para o médium
mineiro que de Emmanuel, seu
guia espiritual, só recebia
exortação à confiança nos
amigos do invisível e a
lembrança de que sofrendo se
aprende.
Um desses críticos, não
menos severo, teve a
oportunidade de acompanhar
um trabalho psicográfico de
Chico. Ouçamos a história
narrada por Ubiratan Machado
em seu livro Chico
Xavier, uma vida de amor
(editado pelo IDE, de
Araras, SP).
A 30 de julho de 1937, Chico
teve a oportunidade de
exibir seus dons de
psicografia a Agripino
Grieco. Católico convicto,
admirador da Igreja e de
seus grandes santos, Grieco
era também um crítico
implacável, não deixando
passar ocasião para fazer
uma frase sarcástica, ou
apenas irônica. Temor de
certos escritores que só
ajeitavam o nó da gravata
diante daqueles espelhos de
aumento.
Naquela data, Chico
encontrava-se em casa do
professor Cícero Pereira, à
Rua Bonfim, 360, em Belo
Horizonte, quando foi
procurado por um amigo, Bady
Curi. Este disse que
Agripino Grieco estava à sua
espera, pois desejava vê-lo
em atividade psicográfica.
Chico ponderou que não se
devia forçar ninguém a
acreditar nos fenômenos
mediúnicos. Mas o amigo
insistiu tanto, que a recusa
se tornou impossível.
Com a mesma habilidade, os
amigos de Chico seduziram o
crítico e o encontro deu-se
num Centro na capital
mineira. Salão lotado.
Grieco sentou-se ao lado do
médium, que não lhe deu
impressão de inteligência
fora do comum. “Um mestiço
magro, meão de altura, com
os cabelos bastante crespos
e uma ligeira mancha
esbranquiçada num dos
olhos”, observou.
O orientador do trabalho
solicitou que Grieco
rubricasse vinte folhas de
papel destinadas à escrita
do médium. Logo, “com uma
celeridade vertiginosa”, o
lápis de Chico deslizou pelo
papel, “com uma agilidade
que não teria o mais
desenvolto dos escrivães de
cartório”.
À medida que as folhas iam
sendo preenchidas, sempre em
grafia legível, o crítico ia
verificando o conteúdo da
mensagem. Primeiro, surgiu
um soneto atribuído a
Augusto dos Anjos. Em
seguida, antes mesmo que o
médium concluísse a crônica
e apusesse a assinatura do
Espírito, Grieco já
percebera “que estavam em
jogo, bem patentes, a
linguagem e o meneio de
ideias peculiares a Humberto
de Campos”.
Entrevistado por jornais
mineiros, Grieco não
escondeu seu aturdimento,
respondendo com toda
honestidade: “Se é
mistificação, parece-me
muito bem conduzida. Tendo
lido as paródias de Albert
Sorel, Paul Reboux e Charles
Muller, julgo ser difícil
(isso o digo com a maior
lealdade) levar tão longe a
técnica de pastiche. Não sei
como elucidar o caso.
Fenômeno nervoso?
Intervenção extra-humana?
Faltam-me estudos
especializados para
concluir”.
A entrevista de Grieco teve
intensa repercussão, mas
crítico e médium nunca mais
se viram, cada um seguindo
seu rumo.