ANGÉLICA
REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil) |
A Morte e os seus
Mistérios
Ernesto
Bozzano
(Parte
17)
Damos sequência nesta edição
ao
estudo do livro A
Morte e os seus
Mistérios,
de Ernesto Bozzano,
conforme
tradução de Francisco
Klörs Werneck.
Questões preliminares
A. A “visão panorâmica”
dos episódios da vida,
durante a crise da
morte, é mencionada
também pelas escolas
ocultistas?
Sim. Ensinam elas que,
durante a crise de
separação do Espírito e
do organismo somático e,
algumas vezes, quando o
"laço fluídico", que une
o Espírito ao corpo, já
se rompeu, passam,
diante da visão
espiritual do
agonizante, como em
"visão panorâmica", isto
é, na sucessão mais
rápida e quase
instantânea, todos os
episódios da vida
terrestre do moribundo.
(A Morte e os seus
Mistérios, 3ª Monografia
– Visão panorâmica ou
memória sintética na
iminência da morte.)
B. A “visão panorâmica”
dos fatos ocorridos
provoca algum tipo de
sensações?
Segundo as escolas
ocultistas, raramente
essa primeira visão
recapitulativa provoca,
na pessoa, sensações
profundas de satisfação
ou de remorso, para
conter o risco de que
sentimentos emocionais
sejam obstáculos ao
desenrolamento regular
dos quadros figurativos
da vida decorrida.
(Obra citada, 3ª
Monografia.)
C. Que conclusão podemos
extrair das
manifestações
espontâneas da visão
panorâmica?
Tais fatos demonstram a
existência latente, na
subconsciência humana,
de uma memória integral
perfeita e indelével,
constatação de fato
absolutamente
inconciliável com
postulados da
morfologia, da
fisiologia, da
psicologia.
(Obra citada, 3ª
Monografia.)
Texto para leitura
259. A 3ª Monografia que
compõe esta obra tem
como título “Visão
panorâmica ou memória
sintética na iminência
da morte”.
260. Ensinam as escolas
ocultistas que, durante
a crise de separação do
espírito e do organismo
somático e, algumas
vezes, quando o "laço
fluídico", que une o
espírito ao corpo, já
rompeu, passam, diante
da visão espiritual do
agonizante, como em
"visão panorâmica", isto
é, na sucessão mais
rápida e quase
instantânea, todos os
episódios da vida
terrestre do moribundo.
261. Eles desfilam em
ordem regular, seja em
sentido inverso, seja em
sentido direto,
começando então na
primeira juventude e
chegando aos últimos
dias da vida, e se
apresentam
objetivamente, em forma
"pictográfica", de modo
que o percipiente
verifica enfim,
plenamente, o que foi,
em um conceito que lhe
falta, a sua vida
corrente.
262. Além disto, as
ditas escolas ocultistas
são acordes em afirmar
que, raramente, tal
"primeira visão
recapitulativa"
provoque, no vidente,
sensações profundas de
satisfação ou de
remorso, e acrescentam
que assim é para conter
o risco de que
sentimentos emocionais
sejam obstáculos ao
desenrolamento regular
dos quadros figurativos
da vida decorrida. E,
sempre a crer nos
ocultistas, todos os
acontecimentos da vida
escoada, emergindo
integralmente perante a
visão espiritual dos
moribundos, estão
gravados, em traços
indeléveis, no "corpo
astral" e aí constituem
um Grande Livro de
Créditos e Débitos
espirituais que ele
deverá liquidar,
inexoravelmente, numa
nova existência.
263. Assim, nos
primeiros tempos se
apresentará uma segunda
vez ao espírito, então
desencarnado, a mesma
visão panorâmica de suas
recordações. E, nesse
momento, ele os
considerará com um
critério de julgamento
penetrante, plenamente
capaz de apreciar, desde
que o espírito esteja em
estado conveniente para
fazer a avaliação dos
efeitos em relação às
causas, engendradas por
suas próprias ações,
durante a existência
terrestre.
264. Acontece, nesse
momento, que experimenta
satisfação muito pura em
todas as vezes que os
quadros pictográficos
lhe apresentam os
esforços que ele fez
para elevar-se. Ao
contrário, experimenta
remorso e diminuição
profunda à vista dos
símbolos objetivos que
lhe recordam suas
fraquezas e a sequência
das suas faltas.
265. Não existe mais,
nesse instante, para ele
nenhuma ilusão possível.
Quanto mais vivazes são
as imagens que ele
considera, tanto mais
eficaz e intensiva é a
reação do espírito e,
proporcionalmente, tanto
mais depressa são
dissipadas suas baixas
inclinações. O resultado
dessa revisão do passado
pode contribuir para
abreviar, na medida do
arrependimento, a
duração das sanções.
266. Tais são os
ensinamentos das escolas
ocultistas. Mas convém
notar que sua afirmativa
concernente ao
reaparecimento, em
"vista panorâmica", de
todos os aspectos da
vida, no momento da
morte, longe de ser
opinião estritamente
teórica e de ordem
fantástica, tem o
caráter de fato
cientificamente
reconhecido, apoiado que
está em grande número de
observações
incontestáveis.
267. Esta certeza, de
resto, tem sido aceita
sem reserva, mesmo pelos
representantes da
psicologia oficial.
Entretanto, concebe-se
que eles expliquem o
fenômeno de modo bem
diferente do que o fazem
os ocultistas. Suas
interpretações, de
natureza rigorosamente
psicológica, parecem
racionais e legítimas,
ainda que sejam
puramente formais e bem
pouco substanciais,
assim como ficam bem
longe de resolver o
problema, o que, aliás,
não afirmam os homens de
ciência.
268. Entre os primeiros
que se interessam pelas
manifestações deste
gênero, importa citar os
fisiologistas ingleses,
professores Forbes,
Winslow e Munk, assim
como o Dr. Feré e o
professor Th. Ribot, na
França.
269. Este último, na sua
monografia Les
maladies de la memoire
(As doenças da
memória), pág. 141,
exprime-se nestes
termos: "A excitação
geral da memória parece
depender exclusivamente
de causas fisiológicas
e, em particular, da
rapidez da circulação
cerebral... Existem
várias narrativas de
afogados, salvos de
morte iminente, que
concordam neste ponto
que, no instante em que
começava a asfixia, lhes
pareceu ver, em um
momento, a sua vida
inteira nos menores
incidentes. Um pretende
que lhe pareceu ver toda
a vida passada se
desenrolando em sucessão
retrógrada, não como
simples esboço, mas com
detalhes bem preciosos,
formando panorama de sua
existência inteira, de
que cada ato era
acompanhado de um
sentimento de bem e de
mal". Em circunstância
análoga, "um homem de
espírito notavelmente
lúcido atravessava uma
estrada de ferro no
momento em que o trem
chegava a toda
velocidade. Ele não teve
senão o tempo de
estender-se entre as
duas fileiras de
trilhos. Enquanto o trem
passava por cima dele, o
sentimento de perigo lhe
trouxe à memória todos
os incidentes de sua
vida, como se o Livro do
Juízo tivesse sido
aberto diante de seus
olhos".
270. Tal como se vê,
segundo o professor Th.
Ribot, o fenômeno da
"visão panorâmica" na
iminência da morte seria
determinado
"exclusivamente por
causas fisiológicas e,
em particular, pela
rapidez da circulação
cerebral". Teoricamente
falando, não há nada de
inverossímil em tal
interpretação dos fatos,
ainda que se conheçam
numerosos episódios
inconciliáveis com esta
hipótese.
271. O Dr. Feré
limita-se a apontar uma
analogia presumida entre
os fenômenos da "visão
panorâmica" e "certas
rememorações que se
produzem nos epilépticos
antes da crise e que
constituem uma forma de
aura intelectual". Nada
de mais inverossímil
nesta analogia, ainda
mais porque, na verdade,
nada explica nem
implica.
272. Já Victor Egger
escreveu: "Se a morte
sucede imprevista e
súbita, não se tem tempo
de se pensar, de
traduzir seu ‘eu’
em conceitos e
proposições; talvez
também o pensamento
propriamente dito fique
como que paralisado pela
rapidez do
acontecimento. Vê-se,
então, simplesmente sob
a forma concreta de uma
série de recordações
visuais, de que cada uma
tem um sentido profundo
e cujo conjunto resume a
vida que se viveu... O
afluxo das lembranças,
quaisquer que sejam a
ordem e o número,
significa o ‘eu’
que vai acabar e, se o
passado surge assim na
consciência, é que ele é
chamado pela ideia
subitamente concebida da
morte iminente." (Revue
Philosophique, 1896,
vol. 1, pág. 30.)
273. A hipótese de Egger
poderia ser uma
explicação
essencialmente
psicológica dos fatos.
Segundo ela, a ideia da
morte iminente faria
afluir, por contraste
autossugestivo,
recordações integrais da
existência percorrida,
mas, na verdade, não se
saberia adivinhar por
qual misterioso laço
causal o fato é
determinado, visto que
uma pessoa sã que, de
imprevisto, se ache em
perigo de morte, é
assaltada por bem outras
preocupações que as de
evocar recordações de
seu passado. Aqui falta,
em suma, todo o laço
lógico e plausível para
unir a causa em ação e o
efeito presumido.
274. O Dr. Sollier
declara por sua vez:
"Creio, então, que o
mecanismo da
rememoração, nos casos
de síncope por
esgotamento, podendo
terminar pela morte, é
idêntico ao da
rememoração, da
regressão da
personalidade, na
histeria, sob a
influência do despertar
cerebral. A única
diferença é que, no caso
de esgotamento cerebral,
o potencial é normal e
cai da normalidade a
zero, ao passo que, na
histeria, ele está
abaixo do normal e volta
para o seu máximo, mas o
resultado é o mesmo,
porque, em ambos os
casos, o cérebro
apresenta sucessivamente
todos os estados pelos
quais já passou, e é a
essa sucessão de estados
que é devida a sucessão
mesma das imagens dos
estados de personalidade
na ordem exata em que se
produziram; que essa
ordem seja a mesma ou a
inversa pouco importa,
aliás, ao ponto de vista
da fisiologia cerebral e
da compreensão das
relações entre o estado
cerebral e o estado
psicológico. Quanto à
questão da rapidez, ela
não tem absolutamente
qualquer valor, tal como
expliquei mais acima." (Bulletin
de l'Institut général
psychologique, 1903,
pág. 51.)
275. Estas explicações
dos fisiologistas e
psicólogos, encaradas em
seu conjunto, parecem
bem insuficientes e
baseadas em simples
presunções ou analogias,
muito provavelmente
errôneas. Fossem elas,
aliás, formuladas com
brilho, não forneceriam
ainda a solução do
problema, considerando
que tendem
exclusivamente em
afirmar a existência
presumida de um
paralelismo
psicofisiológico nos
fenômenos de visão
panorâmica, paralelismo
que ninguém, até hoje,
põe em dúvida.
276. A verdadeira
equação a resolver não
consiste nisto: ela
consiste no fato de que
as manifestações
espontâneas da visão
panorâmica concorrem -
de modo resolutivo -
para demonstrar a
existência latente, na
subconsciência humana,
de uma memória integral
perfeita e indelével,
constatação de fato
absolutamente
inconciliável com
postulados da
morfologia, da
fisiologia, da
psicologia. Na verdade,
tais postulados se
mostram inconciliáveis
com este outro fato
colateral: a existência
latente, na
subconsciência humana,
de faculdades
supranormais dos
sentidos, independentes
das leis da evolução
biológica.
277. O eminente filósofo
Bergson não deixou de se
preocupar com os
fenômenos aqui
considerados. Se a
explicação sugerida por
ele pode parecer pouco
clara e pouco
concludente, pelo menos
o desenvolvimento dos
argumentos que a
precedem é dos mais
notáveis. Vê-se destacar
dele o ponto de vista em
que se coloca Bergson
para penetrar o
mecanismo da memória,
ponto de vista em tudo
conforme ao que será
exposto no decorrer
destas páginas.
278. Diz ele: "Inúmeros
fatos parecem indicar
que o passado se
conserva até em seus
menores detalhes e que
não há esquecimento
real. Todos devem
lembrar-se de que os
afogados e os
enforcados, logo que
foram restituídos à
vida, declararam ter
tido, em alguns
segundos, a visão
panorâmica da totalidade
de sua vida passada.
Poderia citar outros
exemplos, porque a
asfixia não representa
nada no fenômeno, apesar
do que se tem dito. Um
alpinista jazendo no
fundo de um precipício,
um soldado em torno do
qual surge de repente
uma saraivada de balas,
terão, às vezes, a mesma
visão. A verdade é que o
nosso passado todo
inteiro existe
continuamente e que
basta virarmos para trás
para o perceber; apenas
não podemos nem devemos
voltar-nos. Não o
devemos porque o
mecanismo cerebral tem
precisamente o papel,
aqui, de nos ocultar o
passado, de não deixar
transparecer, em cada
instante, senão o que
pode esclarecer a
situação presente e
favorecer a nossa ação:
é mesmo obscurecendo a
totalidade de nossas
recordações, salvo o que
nos interessa e que o
nosso corpo já esboça
pela mímica, que ele faz
ressurgir essa lembrança
útil. Agora que a
atenção à vida vem a
enfraquecer um instante
- não falo da atenção
voluntária, da que
depende do indivíduo,
mas de uma atenção que
se impõe ao homem normal
e que se poderia chamar
"a atenção da espécie" -
então, o espírito, cujo
olhar era mantido
forçado para a frente,
se detém e, pela mesma
força, se volta para
trás: a totalidade de
seu passado lhe aparece.
A visão panorâmica do
passado é, pois, devida
a um brusco desinteresse
da vida, produzido, em
certos casos, pela
ameaça de uma morte
súbita. Era precisamente
em manter a atenção fixa
na vida, a retrair
utilmente o campo da
visão mental, que se
achava ocupado até então
o cérebro, tanto quanto
o órgão da memória." (Annales
dos Sciences psychiques,
1913. pág. 326.)
279. Assim se exprime
Bergson. Diante destas
considerações, deve-se
convir que elas são
filosoficamente muito
sutis para serem de
natureza a elucidar o
enigma do ponto de vista
das causas, psíquicas ou
psicofisiológicas,
determinantes do
fenômeno que é aqui
estudado. Estas
considerações, porém,
têm a mais alta
importância no sentido
de que salientam uma
grande verdade: saber
que nada some de nosso
passado, que nos
refolhos da
subconsciência humana
existe a memória
integral, perfeita e
indelével, e, mais, que
a verdadeira função do
mecanismo cerebral, nas
suas relações com as
funções de rememoração,
é de nos ocultar o
passado. São conclusões
inovadoras, onde está
contida, em gérmen, uma
profunda verdade de
ordem metapsíquica, que
tudo concorre para uma
demonstração
fundamentada.
280. Presentemente, há
necessidade de passar em
revista certo número de
episódios
circunstanciados, com
relação ao assunto. Nós
os observaremos com uma
ótica que não será
exclusivamente a da
psicologia oficial,
inteiramente
insuficiente. Para dizer
com mais precisão, nós
os consideraremos nas
suas relações com várias
categorias de
manifestações
supranormais, de ordem
similar, pois que também
é verdade que a
orientação da psicologia
do futuro não pode se
determinar senão nesta
nova direção.
(Continua na próxima
edição.)