CLÁUDIO BUENO DA SILVA
klardec@yahoo.com.br
Osasco, SP
(Brasil)
Mistérios ocultos
O que leva o incrédulo a
não aceitar as verdades
espirituais? O que o faz
manter-se impermeável a
certas doutrinas
espiritualistas? De onde
vem a dificuldade para
aceitar a doutrina
espírita, por exemplo,
já que os princípios
universais que esta
declara existem desde
sempre; não foram
conjecturados para
formar mais uma
filosofia, dentre
tantas, mas consolidar
ideias e práticas
aceitas milenarmente em
muitos lugares e por
várias civilizações.
Uma pessoa do meu
convívio, que não chega
a ser ateia, mas reluta
sistematicamente em
concordar com os
argumentos espíritas, me
disse que entende Deus
como uma grande
incógnita, um profundo
mistério, acima das
nossas pobres cogitações
humanas, por isso não
cuida Dele.
Com esse viés de
incredulidade, ela se
recusa a aceitar
explicações que não
sejam obtidas pela
metodologia da ciência
acadêmica que, como não
é difícil compreender, é
inadequada para aferir
resultados de causa
espiritual.
Em casos como este é
inútil se pensar no
argumento de Tomé: “É
preciso ver para crer”,
pois “ver”, para a
maioria dos incrédulos,
não muda suas
concepções. Também não é
possível se dizer o que
Deus deve fazer para
superar a sua
incredulidade, pois Deus
não se submete a
quaisquer exigências ou
imposições. Apenas “ouve
com bondade os que o
procuram humildemente, e
não os que se julgam
mais do que Ele”.
A compreensão das
questões transcendentais
que envolvem o problema
de Deus, do ser e das
leis divinas, parece não
depender só da
inteligência, pois
muitas pessoas
preparadas
intelectualmente
costumam rejeitar as
respostas obtidas com a
ajuda do conhecimento
espiritual.
Allan Kardec afirma que
essa compreensão é
bastante facilitada e
mais completa com o
desenvolvimento do senso
moral no indivíduo (1),
o que lhe permite
entender, sem esforço, a
preponderância do
elemento espiritual e
suas leis específicas
sobre o elemento
material, que lhe é
subalterno e
coadjuvante.
Sobre a questão de
muitas pessoas terem
dificuldade em aceitar
as verdades espirituais,
assimiladas tão
naturalmente por tantas
outras, há n’O Evangelho
segundo o Espiritismo um
comentário de Kardec
esclarecendo um texto do
evangelista Mateus (XI:
25): Mistérios
ocultos aos sábios e
prudentes.
Nele, o codificador
afirma que Deus jamais
oculta a luz da verdade
a nenhuma criatura, ao
contrário, a espalha
prodigamente por toda a
face da Terra. Explica
que a inteligência no
mundo, quase sempre,
está associada ao
orgulho e à vaidade que,
normalmente, levam o
homem a supor-se
autossuficiente,
satisfeito em buscar os
segredos da Terra, que
para ele bastam, pondo
assim, uma venda nos
próprios olhos.
Enquanto os vícios
morais impedem o
orgulhoso de “ver”, o
simples e humilde pode,
com as virtudes
conquistadas, desvendar
os segredos do Céu.
Portanto, são dois
sentimentos antagônicos
— orgulho e humildade —
que situam os seres em
níveis diferentes de
compreensão, e que os
colocam mais ou menos
próximos do ideal de
verdade, proposto por
Jesus de Nazaré e
ratificado pelo
Espiritismo.
Os que já detêm a
sabedoria do Céu
continuarão se
aprimorando, com a
amplitude de vistas que
esse conhecimento lhes
faculta. Os que se
contentam com as razões
do mundo precisarão
amadurecer para
compreender, e preparar
o coração para sentir.
Deus, que não quer abrir
os seus olhos à força,
os aguardará, enquanto
lutam contra o próprio
orgulho, até que passem
a reconhecer Nele a mão
que os governa.
(1) Allan Kardec, O
Evangelho segundo o
Espiritismo, capítulo
XVII, Os bons
espíritas.