ANGÉLICA
REIS
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
A Morte e os seus
Mistérios
Ernesto
Bozzano
(Parte
18)
Damos sequência nesta edição
ao
estudo do livro A
Morte e os seus
Mistérios,
de Ernesto Bozzano,
conforme
tradução de Francisco
Klörs Werneck.
Questões preliminares
A. Bozzano dividiu os
casos de visão
panorâmica dos episódios
da vida em três grupos.
Quais são eles?
No primeiro grupo, ele
classificou os casos de
visão panorâmica
sucedidas na iminência
da morte. No segundo,
estão os episódios, bem
pouco frequentes, em que
a visão panorâmica
acontece com pessoas
sãs, fora de qualquer
perigo mortal. O
terceiro reúne diversos
incidentes no decurso
dos quais a entidade,
que se comunica por meio
de um médium, revela,
sem lhe ter sido
perguntado, que
assistiu, no momento da
morte, a um espetáculo
panorâmico que retrata a
visão integral do
passado vivido.
(A Morte e os seus
Mistérios, 3ª
Monografia. Casos de
visão panorâmica dos
episódios da vida.)
B. No tocante ao
primeiro grupo, que
fatos mais ou menos
constantes foram
observados pelo
Professor Heim?
Segundo as observações
feitas pelo Professor
Heim, do conjunto de
casos que ele anotou
relativamente a pessoas
que sofreram quedas de
montanhas e viram a
morte de perto,
observaram-se os
seguintes fatos, mais ou
menos constantes: 1º -
um sentimento de
beatitude; 2º - a
anestesia do tato e do
sentido da dor, a vista
e o ouvido conservando a
sua acuidade normal; 3º
- extrema rapidez do
pensamento e da
imaginação; 4º - em
inúmeros casos, a alma
revê todo o curso de sua
vida passada.
(Obra citada, 3ª
Monografia. Casos de
"visão panorâmica"
acontecidos na iminência
da morte ou em perigo de
vida. Caso I.)
C. O caso ocorrido com o
Almirante inglês
Beaufort apresenta uma
circunstância pouco
comum. Que circunstância
é essa?
Nesse caso, o fenômeno
da "visão panorâmica",
experimentado pelo
Almirante Beaufort, foi
acompanhado da
consciência do valor
moral das visões que
diante dele se
desenrolaram, algo que,
segundo Bozzano, é bem
raro. Como se viu
anteriormente, as
escolas ocultistas
afirmam que a "visão
panorâmica" nos
moribundos raramente
desperta sentimentos
profundos de satisfação
ou de remorso "para
impedir o risco que os
sentimentos emocionais
possam impedir o
desenrolar regular dos
painéis figurativos da
vida transcorrida".
(Obra citada, 3ª
Monografia. Casos de
"visão panorâmica"
acontecidos na iminência
da morte ou em perigo de
vida. Caso V.)
Texto para leitura
281. Começando a
exposição de diversos
casos, declaro, antes do
mais, que os subdividi
em três grupos
distintos. No primeiro
grupo, estão
classificados os casos
de visão panorâmica
sucedidas na iminência
da morte. No segundo,
entram os episódios, bem
pouco frequentes, em que
a visão panorâmica
acontece com pessoas
sãs, fora de qualquer
perigo mortal. O
terceiro reúne diversos
incidentes no decurso
dos quais a entidade,
que se comunica por meio
de um médium, conta, sem
lhe ter sido perguntado,
que assistiu, no momento
da morte, a um
espetáculo panorâmico
que retrata a visão
integral do passado
vivido, afirmações bem
frequentemente feitas na
presença de pessoas que
ignoravam a existência
de tal fenômeno.
282. Previno que, a meu
pesar, não me será
possível relatar, neste
trabalho, mais que uma
parte mínima dos
numerosos casos
assinalados pelos
representantes da
ciência oficial - salvo
louváveis exceções -
porque estes autores têm
o desagradável e
deplorável hábito de
apresentar os casos sem
documentação, sem se
preocuparem de fazer
conhecer os nomes dos
protagonistas e em
resumos absolutamente
insuficientes para
servir de fundamentos a
uma teoria qualquer.
283. Caso I – Este é o
primeiro dentre os casos
de "visão panorâmica"
acontecidos na iminência
da morte ou em perigo de
vida. Eu o extraí de um
artigo de Victor Egger (Revue
Philosophique, 1896,
vol. I, pág. 27):
"Eis agora um caso bem
recente... o Sr. F., de
Wysewa, analisou,
recentemente, uma
conferência feita, no
Clube Alpinista de
Zurich, por um sábio
suíço, o Professor Heim,
sobre as impressões
experimentadas por
turistas que sofreram
quedas de montanhas e
viram a morte de perto.
O próprio Heim fora
vítima de uma queda
semelhante que lhe
forneceu uma observação
típica em torno da qual
agrupou casos iguais
colhidos da boca de
diversos viajantes.
Deste conjunto surgiram
os seguintes fatos mais
ou menos constantes
nesta espécie de
acidentes, desde o
momento em que se perdeu
o pé até ao em que se
produziu o choque na
queda física:
1º - um sentimento de
beatitude;
2º - a anestesia do tato
e do sentido da dor, a
vista e o ouvido
conservando a sua
acuidade normal;
3º - extrema rapidez do
pensamento e da
imaginação;
4º - em inúmeros casos,
a alma revê todo o curso
de sua vida passada.
Para narrar o que o que
experimentei durante os
breves instantes de
minha queda, agora me
exigiria uma hora
inteira, quando nela
todos os pensamentos e
todas as imagens me
apareciam com
extraordinária rapidez e
clareza. Em seguida,
vislumbrei todos os
fatos de minha vida
terrena que se
desenrolaram diante de
meus olhos em imagens
inumeráveis."
284. Caso II - Eis um
segundo exemplo de visão
panorâmica, em
consequência de queda.
Descobri-o no livro de
Camille Flammarion Avant
la mort (Antes da
morte):
"Conhece-se grande
número de observações
sobre a relatividade de
nossas impressões
referentes ao tempo, que
não tem nada de
absoluto. Meu saudoso
amigo Alphonse Bué me
contou muitas vezes, e
sempre nos mesmos
termos, a seguinte
observação sobre a
relatividade de nossas
impressões sobre o
tempo: Ele estava na
Argélia e seguia, a
cavalo, a margem de um
precipício bastante
profundo. Em
consequência de uma
causa qualquer, o cavalo
deu um passo em falso e
caiu no precipício,
arrastando, na sua
queda, o cavaleiro que,
durante alguns segundos,
esteve inconsciente.
Durante essa queda, que
não podia durar mais de
dois ou três segundos,
desenrolaram-se, clara e
lentamente, no seu
espírito, cenas,
brinquedos infantis, a
vida escolar, o curso na
escola militar em 1848,
a vida de soldado na
guerra da Itália, no
corpo de lanceiros da
guarda imperial, nos
carabineiros, no Castela
de Fontainebleau; os
bailes da Imperatriz,
nas Tulherias etc. Todo
esse lento panorama se
desenrolou a seus olhos
em menos de 4 segundos,
porque ele despertou
imediatamente."
285. Trata-se, aqui, de
um panorama que se
desenrola, clara e
lentamente, diante da
visão espiritual do
percipiente, mas
compreende-se bem que
semelhante modo de falar
é motivado pelas
impressões do próprio
perceptivo, impressão
que, por sua parte,
demonstra a relatividade
de nossa concepção de
tempo e, de outra parte,
não impede que a visão
tenha sido, na
realidade, assombrosa e
no espaço de alguns
segundos.
286. Caso III - Vou
citar alguns exemplos de
visão panorâmica,
acontecidos durante a
asfixia por submersão,
que são mais frequentes
na estatística do
assunto aqui estudado.
Escolho o seguinte caso
na obra do Dr. Binns
Sleeps, Sensation and
Memory (Sonhos, sensação
e memória):
"Um de meus amigos quis,
em certo dia,
aventurar-se ao mar
alto, ainda que não
fosse exímio nadador.
Pouco depois, sentiu-se
descontrolado e tomado
de pavor. Os movimentos
das braçadas não mais se
coordenavam, e o nadador
não sabia o que fazer.
Então, gritou por
socorro, embora não lhe
restasse qualquer
esperança de ser salvo.
Subitamente, viu, num
vasto panorama, toda a
sua existência terrena,
desde a primeira aurora
de suas recordações
infantis até o momento
em que nadou para o mar
alto. A história de sua
vida lhe apareceu
reunida em um todo no
qual os mínimos
incidentes estavam
dispostos na ordem de
sucessão em que se
produziram, de tal
maneira que com um só
olhar, viu todos os dias
de sua vida. Para ser
mais preciso, direi que
não se tratava de
leitura, mas de uma
visão total como se
houvesse sido
fotografada sob seus
olhos ou pintada em
relevo luminoso, sob as
aparências de
maravilhoso panorama
representativo de sua
existência inteira."
287. Tanto neste caso
como nos dois
anteriores, nota-se que
os perceptivos falam de
uma visão panorâmica que
se desenrola
sucessivamente e com a
maior rapidez perante
sua vista espiritual, e
também falam de
percepção completamente
simultânea, isto é,
efetivamente panorâmica.
Qualquer que seja a
circunstância e a forma
da visão, a sucessão
cronológica dos
acontecimentos é precisa
e infalível no quadro
visualizado.
288. Essas diferenças
nas impressões
experimentadas (sucessão
ou simultaneidade) são
facilmente explicáveis.
Podem ter por origem
ilusão consecutiva à
extrema rapidez dos
quadros que se
desenrolam à vista do
percipiente. Também
temos o direito de
pensar que elas podem
corresponder a uma
diferença na maneira de
perceber. Admitida esta
tese, é de crer que
essas maneiras de
registrar a visão provêm
de uma idiossincrasia
peculiar ao próprio
percipiente. Quer dizer
que, em uns, a "memória
sintética" conserva
ainda ligeira apreciação
do tempo, tal qual nós o
concebemos nas relações
com as nossas sensações,
ao passo que, em outros,
a "memória sintética"
funcionaria com esta
absoluta simultaneidade
que - como veremos - é a
das percepções
espirituais no ambiente
essencialmente
espiritual.
289. Caso IV - Hudson
Tuttle, em seu livro The
arcana of Spiritualism
(Os arcanos do
Espiritualismo) cita
exemplos semelhantes de
visão panorâmica, entre
os quais o seguinte,
relativo a um caso de
asfixia por submersão:
"A experiência de John
Lamont, que, durante 22
anos, foi presidente da
Liverpool Psychological
Society, é das mais
interessantes, e larga
foi a sua publicidade,
especialmente no jornal
Tino Worlds. Por três
vezes, esteve em perigo
de morte. Da primeira
vez, quase se afogou: da
segunda, foi num
acidente de estrada de
ferro e, da terceira,
durante uma congestão
pulmonar. No primeiro
caso, depois de certa
impressão de medo, não
experimentou sofrimento
algum e, ao contrário,
reconheceu possuir
extraordinárias
faculdades espirituais
ao mesmo tempo que,
diante de sua visão
espiritual, se sucedia,
com a maior rapidez,
todo o painel de sua
vida, em projeção
panorâmica. O fato mais
espantoso é que ele
podia analisar as
próprias sensações, das
quais a mais assombrosa
consistia no fato de
sentir-se viver em
estado de desdobramento.
Tudo se dissipou com a
maior rapidez, porque
salvaram-no a tempo e
foi restituído à vida.
Desse incidente, ele
conservou profunda
impressão, especialmente
por interesse, visto
que, nesse momento
supremo, pôde verificar
e analisar os poderes
supranormais do
espírito."
290. Neste caso, convém
salientar a observação,
altamente sugestiva, do
fenômeno do
desdobramento incipiente
com aparecimento de
faculdades supranormais
subconscientes, fenômeno
que se verificou
simultaneamente com a
visão panorâmica. O fato
de poderem se combinar
as faculdades e
sensações supranormais
com a manifestação
visual tenderia a
apontar a sua origem
comum.
291. Quer dizer que o
fenômeno da "visão
panorâmica" deveria ser
considerado como um
efeito do início de
separação entre a
"memória sintética" e o
organismo cerebral,
sendo esta desunião
provocada pelo começo de
separação do "corpo
astral" (sede da memória
sintética ou espiritual)
do organismo somático.
Em suma, isto fica dito,
no momento, a título de
parêntesis porque eu me
proponho a resolver esta
sugestão, em termos
úteis, nas minhas
conclusões.
292. Caso V - Tratemos
do seguinte exemplo,
extraído do volume da
Sra. De Morgan From
Matter to Spirit (Da
Matéria ao Espírito). O
Almirante inglês
Beaufort, em carta
dirigida ao Dr.
Wolloston, assim
descreve, e de maneira
bem típica, sua
experiência pessoal de
visão panorâmica
consecutiva a uma
asfixia por submersão:
"Muitos anos atrás,
quando eu era ainda
grumete a bordo de uma
fragata de Sua
Majestade, achava-me em
Portsmouth, de volta ao
meu navio, em minúsculo
bote, e me dispunha a
atracar, quando, com
esse estouvamento
peculiar à mocidade,
pisei na borda do bote,
que logo afundou. Caí na
água e, como não
soubesse nadar, inúteis
foram todos os meus
esforços para agarrar a
embarcação. Ninguém
percebera o acidente,
até que, finalmente, uma
corrente me arrastou
para perto da fragata.
Então fui descoberto por
uma sentinela que deu o
alarma e um tenente se
atirou no mar, seguido
de um sargento, que
saltou da ponte,
enquanto que um
barqueiro se aproximava
com a sua embarcação
para me socorrer. Quando
eles me arrancaram da
água, eu me achava
completamente exausto,
havia bebido muita água
e deixei que cuidassem
de mim, sem
dificuldades.”
293. Continua o relato
do Almirante:
“Lembrei-me de certa
parte dos detalhes que
vou fornecer, quando
recuperei os sentidos, e
a outra parte me foi
contada pelas
testemunhas.
Compreende-se bem que
uma pessoa, no momento
de afogar-se, está muito
absorvida pela trágica
situação em que se
debate e, portanto,
incapaz de anotar a
sucessão dos
acontecimentos. Não
direi o mesmo para as
circunstâncias que se
seguiram ao instante em
que eu desapareci na
água, porque se produziu
em minha mente
verdadeira revolução,
graças à qual as menores
particularidades de
minha vida terrena se
imprimiram em caracteres
profundos em minha
memória, de acordo com
as épocas em que as
vivi. Desde o momento em
que deixei de lutar pela
minha salvação – esse
abandono foi, assim o
suponho, a consequência
da asfixia – senti-me
como que tomado por uma
impressão de calma
absoluta, em contraste
com o tumulto de emoções
por que acabara de
passar. Poder-se-ia
chamar esse estado de
apatia, mas nunca de
resignação. Ainda que eu
estivesse consciente de
estar me afogando, o
acontecido não se me
afigurava uma desgraça.
Sem sombra de pesar, eu
renunciara a toda a
esperança de virem me
salvar e não
experimentei qualquer
espécie de sofrimento
físico. Bem ao
contrário, subitamente
as minhas impressões
haviam tomado um caráter
pacífico; elas
participavam do
sentimento confuso, mas
delicioso, que precede o
sono, quando o corpo
está relaxado. Se os
meus sentidos físicos,
porém, se achavam
inertes, já o mesmo não
acontecia com a mente,
cuja atividade era
centuplicada a ponto de
desafiar toda descrição.
Os pensamentos
sucediam-se com tão
vertiginosa rapidez que
nem ao menos posso dar
uma ideia aproximada
deles, mas também seriam
inconcebíveis a quem não
se tivesse encontrado em
circunstâncias
semelhantes. Ainda agora
revejo, bem claramente,
a sucessão desses
pensamentos em tal
momento. No começo, foi
a ideia do acidente em
si, depois, o ato
irrefletido que lhe dera
causa. A seguir, pensei
na emoção que a minha
infelicidade provocara a
bordo, pois tive de
observar que dois homens
haviam pulado no mar.
Depois, pensei na emoção
que a notícia fatal
causaria a meu pai e
calculei os rodeios que
empregariam para
predispor minha família
ao triste acontecimento.
Enfim, houve mil
circunstâncias
minuciosas associadas às
minhas relações
familiares. Foram estes
os primeiros pensamentos
que sucederam em tropel,
mas logo outros se lhes
juntaram, que eram
recordações: minha
última viagem, terminada
em naufrágio e, em
seguida, a escola, os
progressos que fiz nos
meus estudos, o tempo
malbaratado e todas
essas pequenas coisas da
mocidade. Em suma, cada
incidente de minha curta
vida se reanimava em
ordem contrária, não com
a brevidade da presente
enumeração, mas numa
representação vívida e
perfeita em seus mínimos
detalhes intrínsecos e
colaterais. Em resumo,
toda a visão de minha
existência terrena
desfilou diante de mim,
à maneira de uma
reconstituição
panorâmica, e cada
quadro parecia
acompanhado de uma
concepção do bem e do
mal que ele continha,
sem prejudicar as
reflexões que eu pudesse
fazer sobre as causas e
as consequências das
minhas ações. Também
apareceram muitos outros
incidentes
insignificantes, há
muito esquecidos e que
eu revi com o frescor
somente próprio aos
fatos vividos na
véspera.”
294. Concluindo seu
relato, diz o Almirante:
“Não será lícito deduzir
deste relato a
existência, em nós, de
uma memória integral com
a qual nós despertaremos
em uma outra vida e pela
qual seremos
constrangidos - quer
queiramos ou não - a
contemplar todos os atos
de nossa existência? E
não demonstraria tudo
isto a realidade da
hipótese segundo a qual
a morte nada mais é do
que uma modificação do
ser, a porta, em suma,
pela qual passaremos
para uma nova modalidade
de existência, sem
estacionamento nem
interrupção? Seja lá
como for, a experiência
por que passei me parece
uma circunstância bem
notável no sentido de
que as inúmeras ideias,
que se apresentaram à
minha visão, se referiam
todas a um espetáculo
retrospectivo. Além
disso, devo salientar
que fui criado
religiosamente e que as
minhas esperanças e meus
temores do Além nada
haviam perdido de
intensidade – quero
dizer que a ideia de me
encontrar no limiar da
eternidade poderia ter
provocado em mim um
tumulto de emoções de
ansiedade e terror –
mas, pelo contrário,
nada disto aconteceu.
Quando estava cônscio de
não mais pertencer a
este mundo, em nenhuma
só ocasião o meu
pensamento se orientou
pela sorte que me
aguardava. Eu estava
completamente mergulhado
no passado. Impossível
me é avaliar o tempo
preciso à sucessão dessa
multidão de ideias, mas,
indiscutivelmente, desde
o instante em que,
debaixo da água, a
asfixia começara a sua
obra até ao em que fui
salvo, não deveriam ter
passado senão dois
minutos."
295. Comentando o caso,
Bozzano diz que é
possível depreender
deste interessante
episódio que o fenômeno
da "visão panorâmica",
experimentado pelo
Almirante Beaufort, foi
acompanhado da
consciência do valor
moral das visões que
diante dele se
desenrolaram. Mas, como
a soma dos episódios
conhecidos atinge uma
centena, essa proporção
de "noção de
consciência" prova que
ela é bem rara.
296. Viu-se,
anteriormente, como as
escolas ocultistas
afirmam que a "visão
panorâmica" nos
moribundos raramente
desperta sentimentos
profundos de satisfação
ou de remorso "para
impedir o risco que os
sentimentos emocionais
possam impedir o
desenrolar regular dos
painéis figurativos da
vida transcorrida". O
caso do Almirante
Beaufort não contradiz
semelhante afirmativa no
sentido de poderem ser
considerados como
excepcionais os que
raramente se produzem em
percipientes cuja
existência – quer pela
sua mocidade, quer pelo
temperamento – não se
imunizou contra os
excessos de toda a
sorte.
(Continua na próxima
edição.)