A. Quantos anos se
haviam passado desde que
Artêmis saíra do lar
paterno?
Mais de trinta anos se
haviam passado desde
quando se afastara
daquelas terras, com a
alma repleta de
esperanças e sonhos.
(Tramas do Destino, cap.
25, pp. 243 e 244.)
B. Quem assistiu o pai
de Artêmis no seu
desprendimento?
Foi Adelaide, mãe de
Artêmis, a qual acolheu
com carinho de mãe o
recém-chegado. Contudo,
antes de conduzir o
amado a outra esfera de
vida, ela deteve-se,
contemplando o corpo já
em desagregação, e, num
ato de profundo
respeito, proferiu uma
prece de gratidão aos
despojos submissos, nos
quais seu companheiro
aprendera paciência e se
adestrara na humildade,
crescendo no rumo da
luz.
(Obra citada, cap. 25,
pp. 245 e 246.)
C. Comparada com a
complexidade da vida
espiritual, que é, em
essência, a vida na
Terra?
Ante a complexidade da
vida espiritual, a vida
na Terra nada mais é que
um simulacro, uma cópia
imperfeita daquela que
é, como sabemos, a
verdadeira vida.
(Obra citada, cap. 25,
pp. 248 e 249.)
Texto para leitura
107. Uma família
transformada -
Hermelinda e Artêmis,
dispondo agora de mais
tempo, passaram a atuar
mais decididamente no
ministério da caridade
material, acorrendo à
Casa Espírita, às
tardes, para o labor das
costuras, da cocção e
colaboração na sopa
refazente que era
servida aos mais
necessitados. Com o
passar do tempo, foram
convocadas ao ministério
do socorro pelo passe,
cooperando também, e
principalmente, na
prática da caridade
moral. O "Francisco
Xavier" mantinha um
serviço de atendimento
diurno, em que pessoas
credenciadas permaneciam
a postos para orientar
os necessitados que
buscavam apoio, diretriz
e amparo naquela Casa
de Jesus. Equipes de
passes, de
esclarecimento,
revezavam-se em horários
adrede estabelecidos.
Sempre havia, assim,
alguém capacitado aos
primeiros socorros
espirituais, anotando
problemas e dificuldades
que demandavam exames
posteriores, quando,
então, eram ouvidos os
Diretores da Casa ou os
Mentores Espirituais,
conforme a natureza e
procedência da
necessidade dos casos.
Artêmis e Hermelinda
engajaram-se de corpo e
alma no labor da
solidariedade caridosa.
Atendiam com
pontualidade
irrepreensível aos
compromissos novos,
espontaneamente buscados
e aceitos. Não escolhiam
tarefas, atendiam ao que
surgisse, requisitando
assistência. Sabiam
dispensar a palavra de
alento, o passe de
renovação, a ação de
socorro com ânimo
robusto e fé edificante,
que sensibilizavam os
seus beneficiários. Na
Colônia, o progresso de
Rafael em nada deixava a
desejar. Ele era um
homem novo em Jesus,
transformado em paciente
modelo e auxiliar
querido. Comprazia-se em
lidar com os enfermos
renitentes e
revoltados, experiência
que conhecia muito bem.
O seu calor humano e a
serenidade de que se
revestia, quando
agredido pelo pessimismo
ou pela suspeita,
atestavam os resultados
positivos da
evangelização realizada
por Cândido... O Dr.
Armando Passos nele
encontrou precioso
colaborador, verdadeiro
agente do bom ânimo
entre os desesperados,
ali em trânsito. E o
"Grupo do Otimismo"
crescia, constituindo a
conduta do Sr. Ferguson
incontestável lição viva
de bom humor e amizade
espontânea, que se
impunha esforço titânico
para autodominar-se,
acertar no bem e galgar
os degraus da ascensão,
em que o tempo lhe era o
grande aliado, e a fé,
estruturada na razão, a
abençoada dinamizadora
das suas forças. (Cap.
25, págs. 241 a 243)
108. De volta à
Fazenda natal -
O Sr. Ferguson havia
aprendido a lição da
dor, tal como acontecera
com sua família,
compreendendo ser o
auxílio ao próximo a
maneira eficaz de
esquecer-se de si mesmo
e de ser feliz. O bem,
distribuído
indistintamente, passava
a demorar-se nos
próprios doadores,
prodigalizando-lhes
grandes benefícios. Não
aspiravam a resolver os
conflitos alheios:
desejavam auxiliar de
alguma forma para que os
conflitados encontrassem
a luz do discernimento e
o alento da coragem,
para resolverem as
próprias dificuldades.
Tentavam retribuir ao
Senhor algo do muito que
haviam recebido e
prosseguiam recebendo. A
Doutrina Espírita
adentrara-se-lhes n'alma,
e, quando isso ocorre,
luze e esparze as
bênçãos da esperança
como decorrência natural
da renovação. O tempo
preenchido com sabedoria
avançava sem novas
sombras, nem dores mais
agudas. Gilberto e
Tamíris ficaram noivos,
acalentando o desejo de
terem uma prole a
serviço da fé, recebendo
em seu lar Espíritos
queridos e, quiçá,
necessitados,
colaborando na Obra de
amor de Nosso Pai. Pouco
depois do Natal,
Artêmis foi chamada a
visitar a Fazenda, onde
o velho pai, que não via
há vários anos,
preparava-se para
desencarnar. Na viagem,
acompanhada por
Hermelinda e por um mano
que a viera buscar,
Artêmis retornava à
infância, ante a
paisagem querida que se
renovava diante do
veículo apressado. Mais
de trinta anos se haviam
passado desde quando se
afastara daquelas
terras, com a alma
repleta de esperanças e
sonhos... Volvia então
com o espírito povoado
de experiências e prenhe
de resignação, com
infinito reconhecimento
a Jesus e à Mãe
Santíssima. Apesar de
todos os seus
sofrimentos, ela agora
sentia-se em paz, calma
e lúcida, confiando no
amor de Deus para o
futuro. Adelaide estava
a seu lado, e ela
percebeu a presença
materna, enchendo-se
seus olhos de mornas e
abundantes lágrimas.
"Artêmis – disse-lhe
Hermelinda –, vejo a
nossa amada Adelaide.
Tenho-a nítida, na visão
mental, a sorrir-me,
enquanto a acarinha.
Tão bela!" (Cap. 25, pp.
243 e 244)
109. Prece de
gratidão ao corpo físico
- Chegando ao lar
paterno, Artêmis e
Hermelinda logo
acorreram ao quarto em
que o ancião,
arquejante, debatia-se
no processo da
desencarnação. A filha
não sopitou a dor,
contemplando o corpo
encarquilhado, vencido
pelas sucessivas
enfermidades que
abateram o antigo e
austero senhor. Nenhum
traço mais restava da
pujança dos músculos e
da força, da jovial
aparência e da robustez
de atitudes. O
sofrimento subjugara a
forma, e a sombra da
morte, pairando sobre as
carnes sucumbidas,
tornara-o um despojo que
respirava. "Papai!...
Meu amado paizinho, aqui
estou – disse-lhe
Artêmis, com infinita
ternura. Perdoe-me a
demora... Quanta
saudade, meu querido
pai!" O enfermo, que já
se encontrava em
avançado processo de
desencarnação, ouvindo-a
em espírito, desenhou
na face um sorriso e
balbuciou, a custo:
"Minha... sofrida...
Artê... mis, filha...
adorada... Graças...
a... Deus!..." E caiu em
coma. A ansiedade em
rever a filha distante
sustentara os liames que
o mantinham preso até
aquele momento. O
desprendimento durou por
toda a noite. Ao
amanhecer, enquanto
Hermelinda orava a
"prece por um
agonizante", que
extraíra d' O Evangelho
segundo o Espiritismo,
cessou a respiração. Os
filhos, netos, demais
familiares e servos
foram trazidos para a
oração geral, conforme o
hábito local, enquanto
Adelaide acolhia com
carinho de mãe o
recém-chegado. As
lágrimas de dor, na
Terra, faziam-se
acompanhar de júbilos
além do corpo
transitório. A veneranda
Entidade, porém, antes
de conduzir o amado a
outra esfera de vida,
deteve-se, contemplando
o corpo já em
desagregação, e, num ato
de profundo respeito,
proferiu uma prece de
gratidão aos despojos
submissos, nos quais seu
companheiro aprendera
paciência e se adestrara
na humildade, crescendo
no rumo da luz, após
vencida a etapa de
provas e experiências
ora encerradas. (Cap.
25, pp. 245 e 246)
110. Evangelho na
zona rural - As
exéquias foram simples e
não deram margem a
cenas lamentáveis, como
costuma ocorrer mesmo em
ambientes ditos
cristãos. Em muitos
círculos sociais da
Terra vigem o anedotário
fescenino, os
comentários desairosos,
as recordações
vinagrosas com que as
pessoas relembram e
envolvem os
desencarnados, durante
os velórios. Isso, não
raro, lhes inflige
perturbações e
angústias, fazendo-os
experimentar selvagens
sensações condizentes
com a natureza das
referências pejorativas
que dizem respeito a
paixões de que ainda não
se libertaram, ou
amargurando-os com o que
prefeririam esquecer por
todo o sempre, se
possível. É preciso
dignificação ante os que
partiram. Nem o elogio
fúnebre mentiroso, nem
a indébita homenagem
bombástica e pomposa,
nem – ainda menos – a
santificação apressada e
incoerente, de que
passam a desfrutar
muitos espíritos, bem
como tampouco a
mordacidade, o humor
chulo, a impiedade
derramando lodo e lama
na suas lembranças. Sem
exceção, nenhum ser que
se encontre encarnado se
eximirá a esse
renascimento que a morte
biológica impõe,
incansável. Passados os
funerais, Artêmis e
Hermelinda conviveram
por alguns dias com os
familiares queridos e
não perderam
oportunidade de
referir-se ao
Espiritismo, lançando as
bases da oração no lar e
do estudo do Evangelho
que a previdência de
Hermelinda levara com
carinho, para não se
afastar dos seus
ensinos, fonte
inexaurível de consulta
e consolação. Num gesto
nobre, ela ofertou o
exemplar a Francisco,
irmão de Artêmis, que
geria a Fazenda e
permaneceria com outros
familiares na
propriedade. Toda noite,
enquanto ali estiveram,
promoveram o encontro
iluminativo, que se
alongava até tarde,
enquanto narravam as
esperanças e os consolos
que hauriam na fé
sublime. As irmãs
evitavam comentar os
próprios testemunhos,
mas expunham as
experiências de dor e
paz, desequilíbrio e
harmonia que haviam
presenciado ante a luz
meridiana do Consolador,
respondendo a perguntas,
elucidando as crendices
e superstições e
reportando-se à
mediunidade largamente
praticada em toda parte,
embora desconhecida nas
suas legítimas bases
cristãs e morais. Suas
palavras e os argumentos
inconfundíveis refundiam
o ânimo de todos e
colocavam bases para o
erguimento de singela
célula espírita
naqueles longínquos
sertões. Os familiares
próximos, que sabiam do
martírio de Artêmis e a
identificavam robusta e
confiante, ouviam-na com
atenção, respeito e
carinho. (Cap. 25, pp.
247 e 248)
111. Um novo
núcleo espírita
- Os postulados
espíritas traziam a
todos na Fazenda novas
dimensões sobre a vida,
alargando os horizontes
do entendimento humano
e produzindo felicidade
em cada criatura. Não se
encerrando a vida no
túmulo, conforme
preceituam todas as
religiões, é mister
compreender que uma
sociedade de
sobreviventes possui sua
própria estrutura, seus
códigos, seus
dispositivos
espirituais, sua forma
especial de existência.
Se se considerar, porém,
a preexistência do
espírito à concepção,
mais fácil se faz
compreender toda a
complexidade da vida
espiritual, tornando-se
a vida na Terra um
simulacro, uma cópia
imperfeita, sem dúvida,
daquela... Essas lições
e a evocação dos dias
apostólicos imantavam
os ouvintes e os
felicitavam. Estimuladas
pela inspiração de
Adelaide, passaram à
terapia do passe,
atendendo aos casos
graves de obsessão e
enfermidades múltiplas
que atavam inúmeros
sofredores aos catres
das dores. Natércio,
certa noite, a convite
de Adelaide, compareceu
aos trabalhos que ali se
realizavam, quando as
emoções atingiram alto
grau de sintonia
espiritual. Valendo-se
das forças das abnegadas
trabalhadoras, o
Benfeitor Espiritual
dispensou recursos
curativos entre alguns
dos enfermos que,
instantaneamente,
recuperaram a saúde,
entre sinceros júbilos
dos circunstantes
contritos. A luz do amor
rompia a treva do
desespero, em nome do
Senhor. Na data da
partida, ante o
compromisso de
Francisco de manter duas
vezes por semana o
trabalho iluminativo,
as servidoras do Cristo
despediram-se. As
pessoas lhes oscularam
as mãos abnegadas,
trazendo singelas
lembranças e mimos
humildes de carinho e
gratidão. Eram doces
simples, frutos colhidos
nos ramos da Natureza,
legumes, como nos dias
primeiros dos seguidores
do "Caminho" se fazia
entre os conversos e os
seus benfeitores...
Artêmis sabia n'alma que
eram as despedidas
terrenas e procurou
reter na lembrança os
postais vivos da terra
querida e os sentimentos
amorosos da afeição dos
humildes. Quando o
veículo partiu, ela e
Hermelinda agradeceram a
Deus, deixando acesa a
lâmpada da Fé Viva que
as conjugadas forças do
mal jamais apagariam,
porque colocada no
santuário das almas
sinceramente tocadas por
Jesus. (Cap. 25, pp. 248
e 249)(Continua no próximo
número.)