FABRÍCIO
PELIZER GREGÓRIO
fabriciopelizergregorio@gmail.com
Assaí, PR (Brasil)
“Nada é por acaso!”
“Nada é por acaso!”,
este é um jargão muito
comum no meio espírita,
assim como: “Deus não
joga dados!” (Albert
Einstein) ou “O telefone
só toca de lá para cá”
(Chico Xavier), entre
outros. Mas, quais são
as implicações de tal
afirmativa? Como devemos
entendê-la?
Primeiramente, devemos
analisar o que vem a ser
o acaso. O acaso, ao
contrário do que muitos
pensam, não vem a ser
uma exceção à lei de
causa e efeito, mas,
sim, mostra-se como seu
marco inicial. Antes de
sua ocorrência, há o
caos, ou seja, o império
da aleatoriedade, onde
as leis ou regras não
passam de simples
possibilidades
probabilísticas. Porém,
num determinado momento,
o caos, regido pela
aleatoriedade, encontra
uma configuração que
alcança o estado de
Ordem, permitindo assim
a manifestação de um
fato. A partir da
ocorrência desse fato
ordem, há o encadeamento
de outros fatos, que
serão guiados pelos
fatos que lhes são
pregressos, fazendo
surgir a corrente
infinita de causa e
efeito.
Essa mecanicidade impõe
uma total e completa
ausência de significado
aos fatos, bem como a
sua posterior corrente
de manifestação (causa e
efeito). Sob o ponto de
vista lógico, isso
justifica a concepção de
um universo amoral,
regido única e
exclusivamente por leis
desprovidas de intenção
e objetivo, pois estas,
assim como os fatos, têm
origem no caos, célula
mater de toda a
realidade.
Dessa forma, segundo
essa visão, toda
ocorrência que se dê em
qualquer dimensão da
realidade não terá
nenhum significado,
sendo apenas uma
manifestação do acaso. O
significado dos fatos
decorreria apenas da
interpretação do
observador atento, que o
faria de acordo com sua
perspectiva e
limitações. Portanto, a
significância dos fatos
seria uma adjetivação
dada pelo sujeito, não
configurando algo
substantivo aos fatos
per si.
Afirmar que “Nada é por
acaso!” implica
necessariamente rechaçar
o conceito de que o caos
figura como matriz da
infinita corrente
factual de causa e
efeito; também implica,
em substituí-lo por algo
provido de significado,
intenção e objetivo,
pois, somente assim, os
fatos provenientes dessa
fonte inicial não seriam
manifestações do acaso,
pois trariam em si uma
intenção, um objetivo e,
portanto, um
significado.
Para o Espiritismo, essa
fonte inicial é Deus,
como bem leciona a
primeira questão de O
Livro dos Espíritos.
Questão n° 01: Que é
Deus? Resposta: Deus é a
inteligência suprema,
causa primária de todas
as coisas. (grifo
nosso)
Assim, todo fato do
universo tem como origem
Deus, sendo que após sua
manifestação, este passa
a ser regido por leis,
leis estas também de
origem Divina. Dentre as
leis Divinas que
estruturam o universo,
se destaca a lei de
causa e efeito. Para
dimensionarmos sua
importância, basta que
compreendamos que ela é
a principal responsável
por gerar todo o
conhecimento científico
produzido pela
humanidade, além de ser
o elo entre o
conhecimento espírita e
o já mencionado
conhecimento
científico.
Entretanto, outro
importante elemento deve
ser incluído neste
sistema, afastando seu
cartesianismo e o
aproximando da dinâmica
do caos por meio de um
componente limitado de
indeterminação. Este
componente é o
livre-arbítrio.
O livre-arbítrio é um
componente limitado de
indeterminação, pois é
uma das características
do elemento espiritual
que atingiu o estado
razão, a qual permite a
esse o ato da escolha,
conforme nos ensina a
questão n° 75-a de O
Livro dos Espíritos.
Questão n°75-a: Por que
a razão não é sempre um
guia infalível?
Resposta: Ela seria
infalível se não fosse
falseada pela má
educação, pelo orgulho e
pelo egoísmo. O instinto
não raciocina; a
razão permite a escolha
e dá ao homem o
livre-arbítrio.
(grifo nosso)
Sendo o livre-arbítrio
individual e limitado,
como o Espírito que o dá
origem o é, este por sua
vez, pode ser
qualificado e sobretudo
quantificado por
Espíritos de nível
superior. Em outras
palavras, todos os
Espíritos detêm o
livre-arbítrio, no
entanto, esse
livre-arbítrio é
limitado às suas
capacidades (status
evolutivo) e tendências
(lei de causa e efeito).
Tomemos um exemplo para
melhor evidenciar isso.
O Espírito X atuou como
médico durante 3 (três)
reencarnações
consecutivas, dessa
forma, numa nova
reencarnação, a
probabilidade desse
Espírito X ser novamente
um médico é muito mais
alta do que a de ele ser
um advogado.
Visualizemos
graficamente.
reencarnação Y
reencarnação
Y+1 nova
reencarnação
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Por ele ser um Espírito,
e, portanto, um ser
finito e limitado em sua
essência, este pode ser
analisado por completo
por um Espírito
superior, podendo ter
todas as suas
características e
tendências catalogadas
e, mais importante,
quantificadas.
Visualizemos
graficamente:
Escala
evolutiva:
origem
estado atual
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Espírito
Z:
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Espírito
X:
Através da acumulação e
análise desses dados e
informações, os
Espíritos celestes são
capazes de prospectar e
prever as manifestações
(atos) dos Espíritos
inferiores, tanto
individual quanto
coletivamente. Dessa
forma, mesmo respeitando
o livre-arbítrio
coletivo e individual,
estes Espíritos
superiores são capazes
de ordenar e planejar
nosso avanço rumo aos
objetivos de progresso
traçados pela Divindade.
Esta previsibilidade se
deve ao fato de que à
medida que o Espírito
evoluciona, através do
exercício de seu
livre-arbítrio nas suas
diversas experiências
reencarnatórias,
paulatinamente ele se
afina às leis Divinas,
assimilando-as à sua
própria consciência e
vontade. Assim,
progressivamente, a
Vontade do Pai se torna
a vontade do filho, não
havendo mais espaço para
a contradição geradora
dos conflitos e reveses
impostos pela magna
lei de causa e efeito.
Neste caso, afirmar que
“Nada é por acaso!” é
reconhecer que tudo é
planejado, que nada que
ocorre é aleatório ou
imprevisto, tudo tem uma
razão de ser, e tudo que
se manifesta tem um
objetivo finalístico
traçado inicialmente
pela Divindade, a qual,
através de seus
prepostos críticos,
supervisiona e coordena
este avanço.
Enfim, tenhamos em mente
que, independentemente
da utilização usual dada
a essa expressão, ela
corresponde à aplicação
do princípio da
humildade, no que tange
ao reconhecimento da
Suprema Força Ordenadora
de Deus no universo.
Portanto, continuemos a
utilizá-la, mas detendo
o conhecimento de
algumas de suas
implicações.