Fascinante é a história de
Jésus Gonçalves, conhecido
no meio espírita como “O
Poeta das Chagas
Redentoras”. Tendo contraído
a hanseníase ainda muito
novo, já casado e com
filhos, foi retirado de seu
lar e confinado a um
Hospital Colônia de
Hansenianos, primeiro em
Bauru e, depois, transferido
para Pirapitingui.
O próprio Jésus relata que
por muito tempo foi
revoltado com o Criador. Não
conseguia compreender tanto
sofrimento, num mesmo lugar,
entre crianças, adultos e
idosos. Isso até que um dia
chega às suas mãos o livro
“O Céu e o Inferno – A
Justiça Divina segundo o
Espiritismo”, de Allan
Kardec.
Após estudá-lo, compreendeu
que não era o Pai maior o
responsável por seus
padecimentos, mas seu
próprio comportamento
errôneo em vidas anteriores.
Tornou-se, assim, um grande
divulgador da Doutrina e
passou a ser conhecido
nacionalmente por seu
trabalho e dedicação.
Passou, também, a
corresponder-se com Chico,
para quem enviava fotos suas
que revelavam o aumento das
lesões que se concentravam
mais em sua face e em uma
das pernas. Mas sempre que
isso fazia, com muito bom
humor dizia para Chico:
“Parece que eu mudei, mas
continuo o mesmo”.
Poucos dias após sua
desencarnação, sem que disso
soubesse, Chico recebe sua
visita espiritual que muito
o emociona. Quem narra esse
encontro é o próprio médium,
texto esse que pode ser
encontrado no livro “A
Extraordinária Vida de Jésus
Gonçalves”, escrito por
Eduardo Carvalho Monteiro
(Editora Espírita Correio
Fraterno do ABC). Vejamos o
relato:
“Terminada a mensagem do
nosso querido orientador,
quando me achava em profunda
concentração mental, vi a
porta de entrada iluminar-se
de suave clarão. Um
homem-espírito apareceu aos
meus olhos, mas em condições
admiráveis. Além da aura de
brilho pálido que o
circundava, trazia luz não
ofuscante, mas clara e bela,
a envolver-lhe certa parte
do rosto e da cabeça, ao
mesmo tempo em que uma das
pernas surgia vestida
igualmente de luz.
Profunda simpatia me ligou o
coração à entidade que nos
buscava, assim de improviso,
e indaguei, mentalmente, se
eu podia saber de quem se
tratava.
O visitante aproximou-se
mais de mim e disse – Chico,
eu sou Jésus Gonçalves!
Cumpro a minha promessa...
Vim ver você!
As lágrimas subiram-me do
coração aos olhos. Percebi
que o inolvidável amigo
mostrava mais intensa luz
nas regiões em que a
moléstia mais o supliciara
no corpo físico, e quis
dizer-lhe algo de minha
admiração e de minha
alegria. Entretanto, não
pude articular palavra
alguma nem mesmo em
pensamento.
Ele, porém, continuou:
- Se possível, Chico, quero
escrever por você... dar
minhas notícias aos irmãos
que deixei à distância e
agradecer a Deus as dádivas
que tenho recebido...
A custo, perguntei a ele,
ainda mentalmente, o que
pretendia escrever,
querendo, de minha parte,
falar alguma coisa, porque
eu ignorava que ele houvesse
desencarnado e não conseguia
esconder meu jubiloso
espanto.
Ele abraçou-me. Em seguida,
colocando-se no meio da
pequena sala, recitou um
poema que eu ouvia, mas não
guardava na memória... Ao
terminar, pareceu-me mais
belo, mais brilhante...
Tomei o lápis... Jésus
Gonçalves debruçou-se sobre
o meu braço e escreveu em
lágrimas os versos que ele
recitara para mim, momentos
antes, em voz alta:
Palavras do Companheiro
(Aos meus irmãos de
Pirapitingui)
I
Irmãos, cheguei contente ao
Novo Dia
E ainda em pleno assombro de
estrangeiro
Jubiloso, saltei de meu
veleiro
No porto da Verdade e da
Harmonia
Bendizei, com Jesus, a dor
sombria
Na romagem de pranto e
cativeiro,
Nele achareis o Doce
Companheiro
Para as rudes tormentas da
agonia...
Não desdenheis a chaga que
depura,
Nossas horas de amarga
desventura
São dádivas da Lei que nos
governa!...
As escuras feridas
torturantes
São adornos nas vestes
deslumbrantes
Que envergamos ao sol da
Vida Eterna!
II
Ave, maravilhosa madrugada
Que desdobras a luz no céu
aberto
Além das trevas, longe do
deserto
Onde a esperança geme
incontentada!
Salve, resplandecente e
excelsa estrada
Sobre o mundo brumoso,
estranho e incerto
Que acolhe, em paz, o
espírito liberto
Na vastidão da abóbada
estrelada!
Oh! Meu Jesus, que fiz na
noite densa,
Por merecer tamanha
recompensa
Se confundido e fraco me
demoro?
Recebe, ante a visão do
Espaço Eleito,
A alegria que vaza de meu
peito
Nas venturosas lágrimas que
choro...”