CHRISTINA NUNES
meridius@superig.com.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
Crônicas da vida
invisível – o
caso do violino
em pé
Antes de contar
este episódio
acontecido ontem
à noite em casa,
preciso explicar
que, dependendo
do tipo, a caixa
do violino é
como um ovo.
Absolutamente,
não fica em pé!
Você pode tentar
e tentar,
procurar o ponto
de equilíbrio,
mas, a menos que
a esteja
apoiando em uma
parede ou calço,
ela não se
manterá em pé.
Isto porque,
guardando, além
do violino,
objetos outros,
como o próprio
arco e a
espaleira na
pequena bolsa
fechada com
fecho éclair na
frente, pote com
breu, flanela e
alça, a caixa
possui contornos
disformes que
não a favorecem
com um ponto de
equilíbrio
definido.
Bem, vamos ao
caso. Ontem
estudei violino
conforme
instruiu meu
professor do
Conservatório.
Enquanto meus
filhos se
entretinham com
outras coisas,
ao final da
semana,
entusiasmada,
busquei-o no
armário e cumpri
meus quarenta
minutos
treinando
postura e
condução do arco
num vaivém sobre
as cordas mi e
lá que, para o
principiante, é
bastante
cansativo.
Todavia, nada
embora meu
pescoço
reclamasse com
veemência,
executei da
melhor forma a
atividade
apaixonante.
Demorei um
tempo, depois,
examinando-o e
experimentando
notas,
relembrando a
parte teórica.
Depois, limpei-o
e guardei-o na
caixa e, como de
costume, para
facilitar o uso
repetido no
sábado e
domingo,
encostei-a no
armário
embutido, num
ponto protegido
da passagem das
pessoas, bem no
ângulo de quina
entre o móvel e
a parede. Sempre
cuidadosa de
preservá-lo de
tombos ou
encontrões
eventuais.
Dirigi-me a
outros
movimentos por
dentro de casa.
Jantamos.
Assistimos TV.
Sei que, horas
depois, voltando
aos quartos para
me preparar para
dormir, após
acomodar minha
filha, entrei no
meu cômodo e
acendi a luz,
sem olhar para o
lugar onde punha
o violino. Puxei
os lençóis da
cama, e,
intrigada,
reparei nalguma
coisa indefinida
– algo branco,
amorfo –
resvalando com
um ruído
peculiar, como
se caísse no
chão. Dei a
volta no leito.
Examinei.
Procurei no
chão. Olhei
atrás da cama,
embaixo, dos
lados. Virei o
colchão do
avesso... Nada!
Nada caíra, ou
resvalara, ou
pendera para
trás da
cabeceira! Não
havia nada! E
aquilo, de
imediato, já me
deixou num
estado de
espírito
peculiar, que,
nos segundos
seguintes,
porém, se
justificou!
Enfim fiquei de
frente para o
ângulo
resguardado do
armário, do
outro lado do
quarto, onde
pusera a caixa
com o violino...
E, estática,
parei no meio do
quarto, de boca
aberta: a caixa
de violino se
pusera de pé!
Contornei a cama
às pressas, e
examinei a cena
insólita. De
acréscimo, a
caixa não estava
em pé por
simplesmente
resvalar,
talvez, para um
lado, apoiada na
parede ou noutro
objeto qualquer!
Estava de pé no
chão, como se em
posição de
sentido.
Desencostada do
armário e da
parede! E eu
tinha a mais
absoluta certeza
de tê-la
colocado apoiada
na quina do
armário. Isto
era fato! E a
minha
perplexidade era
maior porque, na
pressa em correr
até o quarto de
meu filho para
contar-lhe o que
acontecia (ele é
acostumado desde
criança a estes
episódios de
casa de
médium!), ainda
nem mesmo
experimentara o
ponto de
gravidade da
mesma, como fiz
de maneira
pertinaz e
inútil em
seguida, na
tentativa de
colocá-lo de
novo de pé, na
presença dele e
de minha filha,
que viera
curiosa com a
falação súbita.
– O violino
estava de pé! –
Insistia, entre
o assombro e o
encanto. – Não o
coloquei assim!
Era como se
estivesse em
posição de
sentido! –
Explicava eu,
agitada,
enquanto meu
filho,
observando minha
tentativa
insistente de
reproduzir a
posição na qual
a caixa "se
colocara", sem
sucesso,
advertia, na
maior calma:
– Desiste! Não
vai ficar e vai
acabar caindo!
Não pode ficar
em pé!
No fundo, a
velha tentativa
do racional –
prudente e mesmo
necessária,
admito, mas em
relação à qual
devemos impor
limites no caso
da convivência
mediúnica
habitual – de
explicar com
lógica o que, em
absoluto, não se
reveste de
lógica!
Mesmo ali, já
sabia da
explicação. E os
que vêm
acompanhando
meus últimos
artigos talvez
que já o
antecipem, antes
que lhes diga.
Desde o ano
passado, vinha
trabalhando a
próxima obra
psicografada com
Iohan, o
Espírito
adorável de um
músico. E, como
de praxe, sempre
nestes períodos
de convivência
mais próxima com
os autores do
invisível, que
intermedeio, se
estabelece um
campo de
influência
estreita entre
os mesmos e a
médium que, em
variadas vezes,
produz fenômenos
diversos e
sempre
surpreendentes!
Aconteceu assim
em inúmeras
ocasiões,
durante o
recebimento dos
livros de Caio
Quinto, meu
mentor
espiritual. E
agora, de
maneira
especial, os
episódios vêm se
repetindo e,
creio,
justificados
pela empatia de
ordem mediúnica
intensa entre
mim e o querido
amigo e maestro
de vidas
anteriores, que
teve a sua
última
reencarnação no
Brasil.
Já surpreenderia
o suficiente,
portanto, se o
caso findasse
aí. Mas
prosseguiu.
Meu filho
retornou a suas
coisas sem se
admirar muito
com mais aquela
mostra de
visitas
interdimensionais
em nossa casa, e
minha filha se
achava algo
eletrizada. Eu a
reconfortei,
recordando-lhe a
ocorrência de
outros fatos
parecidos em
tempos passados,
enquanto me
ouvia sentada na
minha cama com
um sorriso
perplexo parado
nos lábios. Eu,
de costas para a
quina do armário
onde encostara
de novo, e com
especial
cuidado, a caixa
do violino, e de
frente para ela,
que tinha a
visão para o
instrumento por
mim obstruída.
Quando me dispus
a encaminhá-la
novamente a seu
quarto, e me
virei outra vez
para o armário,
a caixa de
violino se
pusera de novo
de pé – para o
nosso
estarrecimento!
E outra celeuma!
Voltou meu
filho. Vira a
caixa pra lá e
pra cá! Tudo
inútil: a
explicação era
uma só: Iohan,
por ali, em
demonstração
objetiva e
reconfortadora
de sua presença,
talvez sorrindo
ante a nossa
reação!
Deitei-me,
quando tudo se
acalmou. E ainda
vi uma réstea
insólita de luz
brilhando a meu
lado, fugaz...