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Crônicas e Artigos

Ano 6 - N° 270 - 22 de Julho de 2012

GUARACI DE LIMA SILVEIRA
glimasil@hotmail.com
Juiz de Fora, MG (Brasil)

 

O que é ser manso e pacífico?


Muitos acreditam que ser manso e pacífico é estar predisposto a aceitações permanentes das intempéries naturais que a existência possa oferecer ao indivíduo. Acreditam ainda que ser manso e pacífico é ser subserviente a qualquer proposta, sem relutar, reclamar, propor, modificar.

Vejamos o exemplo de Jesus: Ele andou como um homem simples em meio a um povo cheio de lágrimas, opulências e maldades. Em momento algum deixou de ser o espírito altaneiro e virtuoso que é. Sua mansuetude encanta a todos que estuda Suas lições, comportamentos e propostas. A paz que Ele transmitiu referenda toda a Sua mensagem e ações. Assim sendo, ser manso e pacífico tem outros atributos que precisam ser pesquisados.

A mansidão, segundo os dicionários, é a brandura de índole, mas também é atributo do gênio. Um espírito genial não necessita sobrepor-se a nada ou a ninguém para mostrar suas qualidades. Elas são suas marcas, seus aparatos, seu espelho. A serenidade lhes é peculiar, pois sabem dar o passo certo para o local exato. Sabem esperar, sabem propor, sabem praticar seus misteres com tranquilidade porque conscientes de si mesmos. Os gênios são aqueles que já romperam as barreiras do ego inferior e buscam com permanência os status superiores do existir, permitindo igualmente que o irmão ou irmã ao lado faça o mesmo. Neles busca seus pares, semelhantes que lhe possa enriquecer numa espetacular projeção de crescimentos do self. Olha o mundo não como uma gaiola de loucos ou uma jaula para humanos e sim como uma feliz oportunidade de manipular todas as informações contidas na natureza e suas leis. O manso olha para a tempestade em fúria e vê nela a ação do puro se fazendo. Olha para o fogo abrasador de um incêndio e vê nele a restauração de um ouro perdido, presto a modificações salutares e revitalizadoras.

O manso não é aquele que deita numa rede de balanço e olha para o céu como um ser estático perante a grandiosidade cósmica. Se deita numa rede o faz para meditar enquanto se enriquece das presenças dos raios que emanam de Deus através da Sua Augusta e perene criação. O manso não é aquele que aceita propostas indecorosas para manter-se vivo perante as modalidades fétidas e passageiras de ações infelizes impetradas por espíritos belicosos que nada produzem de útil para a sociedade. Antes, sugam dela seus legítimos direitos, envolvendo-se em deveres atrozes que lhes cobrarão ações hercúleas num futuro. Muitas vezes em dores lancinantes da culpa, do arrependimento, através torturas físicas e morais difíceis de serem descritas.

O manso entende que o dinamismo próprio para as solturas espirituais demanda tolerância, indulgência e bondade. Assim ele se estabelece como um ser em busca da sua própria plenitude. Somente o ser pleno consegue atingir os atributos da reta consciência. Pela questão 615 de “O Livro dos Espíritos” somos informados de que a Lei de Deus é eterna e imutável. Enquanto não a praticamos sofremos as injunções das nossas rebeldias. Sabemos hoje que somente a prática do bem e a consciência reta podem nos garantir os avanços à plenitude espiritual. Sem mansuetude isto é impossível. Sem mansuetude nossos olhares continuarão travessos; nossas mãos, garras perigosas, nossos pés buscarão trilhas e escarpas ao invés de caminhos. A mansuetude é luz que guia que promove o indivíduo a patamares onde as observações podem ser feitas com maiores profundidades. Na mansuetude respiramos ares benfazejos porque nos é possível seleciona-los sem atropelos. Na mansuetude os esgares cedem espaços a tudo que é convicto porque pensado com parcimônia. Somente na mansuetude é possível buscar nos seres e propostas seus reais valores e credibilidades. Por isto o gênio é manso.

Na cadência mansa do cordeiro Jesus estabeleceu Seu aprisco. Na cadência mansa dos astros a rolarem peremptórios pelos espaços cósmicos, Deus estabeleceu a Casa para morada dos Seus filhos. Na cadência feliz dos espíritos que se auto descobrem a centelha divina vai se expandido, enriquecendo o indivíduo, tornando-o livre. O espírito livre vê mais distante, vê as entrelinhas, vê as essências – fundamentos primeiros das coisas e causas, tornando-se diferenciado, respeitado, um dínamo propulsor do progresso, genial! Sabe de antemão que o orgulho e o egoísmo representam o maior obstáculo ao progresso. E reunidos criam no ser um estado de inconstância e apreensões, medos e inseguranças que o fazem retrógrado, muitas vezes avançado intelectualmente e estirado num lamaçal no campo da moralidade. Isto não é plenitude que promove a mansuetude. São desvarios que promovem guerras internas e externas.

O manso sabe que o entrelaçamento dos valores intelectuais e morais promovem a corrente do bem e avança por ele e, através dele, atinge os cumes dos seus ideais para entendê-los além numa feliz sucessão de probidades espirituais. Sabe que os bens terrenos são apenas passageiros e não conduzem os seres aos próprios “vir-a-ser” de excelências. Ele estudou a questão 785 de “O Livro dos Espíritos” e aprendeu que a humanidade ainda não atingiu o apogeu da perfeição, mas que ela é perfectível, portanto, ele próprio é um ser perfectível por pertencer à raça humana.

E o ser pacífico, quem seria ele? Um pregador ermitão morando nas alturas do mundo, confortando almas em desalinho que de quando em vez o procura? Ou um intérmino dialogador silencioso conversando infinitamente com os vegetais numa atitude quase ante social? Seria um andarilho de cajado liso a andar pelas estradas à procura do seu “eu” superior? Seria ainda o mediador das contendas a promover as bondades em meias partes iguais? Afirmamos que o ser pacífico é maior e mais aparelhado dinamizador do progresso real da humanidade. Passividade não representa compassividade para com o erro ou o atraso moral e intelectual de quem quer que seja e em qual civilização for. Há um provérbio chinês que diz: “Em plena paz deves agir com intensa atividade e, em intensa atividade, deves agir com intensa paz”. Um é perfeito corolário do outro. Um complementa o outro. O pacífico é, pois aquele que vislumbra o belo e a perfeição, a face do bem em todas as moedas que encontra pelo caminho. Sabe das temporalidades dos eventos. Sabe das distorções promovidas pelos incautos, sabe das propostas promissoras ao surgimento de novas alianças com a luz. Somente o pacífico pode ver a luz. Somente o pacífico pode agir com justiça, solidariedade e amor pelas pessoas e circunstâncias. Porque somente naquele estado as intuições saudáveis podem penetrar-lhe o ser buscando suas profundidades de filho de Deus.

Por isso que Jesus disse: “Felizes são os mansos e os pacíficos porque eles herdarão a Terra”. Ver em Mateus Cap. 5 Vv.  4 e 9. E que Terra eles herdarão? Juntemos aqui outra palavra do Mestre Jesus: “Meu Reino ainda não é deste mundo”. Ver João Cap. 18 Vv. 33 a 37. Ora, Ele estava defronte Pilatos ali representando o poder temporal. O mesmo poder que todas as nações do mundo estabelecem ainda hoje como critérios de representatividades. Roma era o máximo. Isto, na pura concepção da transitoriedade. Jesus O representante do Poder Divino que rege toda a Criação através das suas leis imutáveis porque absolutamente justas. Roma e Jesus o mesmo que os reinos atuais e o Reino Futuro. No Reino de Jesus os brandos e os pacíficos aprendem com Ele, convivem com Ele, trabalham para Ele. Gradativamente a Terra vem sendo saneada pelas propostas da mansuetude e da paz. Cada gênio que aqui nasce ou renasce estabelece novas diretrizes, novos caminhos, criando pilares para que o projeto do Senhor desta humanidade possa, enfim, estabelecer-se nos sítios inferiores do planeta Seu reinado é de eficácia e luz, liberdade para todos e responsabilidade aliada. Assim, os murros, socos, pontapés, lixos orais ou grafados, atividades bélicas, corrupções, negociatas, infidelidades, drogas lícitas ou não, mentiras e um sem conta de propostas e comportamentos, filhos eficientes do orgulho e do egoísmo, estão com seus dias contados neste mundo. Como no futuro não haverá cidades fantasmas, esses agêneres infelizes terão que ser remanejados. Para onde? Para onde suas consciências indicarem, suportar e aninhar dentro dos seus propósitos de egos inflados ou subservientes.

Não se trata de amedrontamentos. De temores a Deus, de falácias próprias das religiões. Trata-se de buscas aparelhadas com a lógica Divina. Entendamos que tudo que pensamos já foi antes pensado. Tudo que não podemos por hora aprofundar, já foi antes estabelecido. É assim o universo. Ele não cresce ou se expande através das nossas descobertas. É uma casa repleta de aprendizados e apropriações que nos compete realizar. Não é a ciência que cria as coisas, ela apenas dá-lhe os sentidos e as formas, as possibilidades ou não. A filosofia não pode ser impregnada de “achismos”. Necessita estar isenta para melhor analisar e concluir. As religiões devem aliar-se à ciência e à filosofia para melhor encaminhar a Deus os Seus filhos em trânsito pelas vias da evolução. Não podem estar impregnadas de doutos, supostos condutores de almas, necessitando antes melhor conduzir-se. Os céus não são conquistados por gritos e tampouco são comprados por dinheiro terreno. A moeda que circula aqui, somente a este mundo pertence. A moeda dos céus é o amor a Deus e ao próximo como a si mesmo. Não se compra pedacinhos de felicidades. Felicidades são conquistadas com trabalho e orientação eficaz. Com persistência e avanços. Não há atropelos nas conquistas espirituais. Vejamos os exemplos dos embriões. Desenvolvem-se no tempo certo e nas condições adequadas.

Os mansos e pacíficos serão os governadores do mundo do futuro. Serão os leais e dignos representantes de Jesus entre as humanidades futuras. Por isso eles se preparam nos planos espirituais. Tornarão vivaz a árvore da família. E serão inúmeras aquelas árvores a acolher em seus galhos as folhas, vivificando-as para que cresçam, tornando-se sementes para novas árvores. No futuro as famílias estarão alinhadas entre si e com suas frondes direcionadas para Deus. As famílias abraçarão a proposta de criar e educar com realeza os seus membros. E pai não matará o filho e filho não matará a mãe e irmãos estarão de braços dados rumando para o justo. Naqueles tempos as infidelidades conjugais ou não, estarão banidas para sempre do mundo e marido e mulher entenderão seus reais valores no cômputo das sociedades. E juntos erguerão diariamente um brinde à vida por tê-los unidos. E será um brinde nas taças das virtudes, recheadas de luzes e cores provindas dos seios cósmicos que a tudo provê.

Os mansos e os pacíficos caminharão sobre a Terra em construção social maviosa. A cidadania avançará para as sociedades espirituais e a sabedoria será buscada avidamente por todos. Os salões de festas estarão repletos de convivas cônscios dos seus deveres uns para com os outros e saberão que os corpos físicos contêm em sua essência um espírito e que na essência de cada espírito pulsa a centelha de Deus. Assim se respeitarão e serão respeitados. E não se jogarão como dados num tabuleiro de aventuras. O sorriso sincero e leal será a marca da beleza pessoal. Também eles estarão nas grandes mesas dos negócios, não para enriquecerem-se de uma moeda de valor apenas nominal. E sim de valores reais que adquirirão pelo trabalho perfeito e em constante busca da perfeição. As escolas serão transformadas em templos e os templos em escolas. Os hospitais em laboratórios de pesquisas aprofundadas e os leitos cederão lugar aos equipamentos de alta precisão onde será possível estabelecer cada vez mais e maiores as metas da saúde física e espiritual.

A engenharia e a arquitetura desenharão e construirão no mundo as visões alcandoradas das mentes em plena liberdade para ver e sentir os planos sublimados do além. Os tribunais cederão lugar a refúgios onde a consciência possa buscar os parâmetros legítimos da justiça e aplica-la em suas lidas diárias. Por não haver violência, não haverá processos criminais. Por não haver culpabilidades individuais e coletivas, as varas judiciais encerrarão suas atividades no mundo, aliando-se ao contingente dos construtores eficazes das sociedades futuras, estabelecendo-lhes as regras a partir da Lei Maior em seus dez artigos.

Podemos concluir dizendo que ser mando e pacífico é ser inteligente, culto, perspicaz, futurista, empreendedor e representante em si do bem e do belo. Sem esses requisitos não se poderá habitar na Terra em pleno Reino de Jesus. E dizem que este futuro já bate às nossas portas. Que os encaminhamentos legais a ele devem ser protocolados desde já, que embainhemos nossas espadas, que sepultemos nossos vícios, que modifiquemos nossa maneira de ver e agir sexualmente, que... Enfim, que nos tornemos ovelhas mansas e pacíficas em pleno exercício da genialidade e do dinamismo que proporcione o progresso espiritual, individual e coletivo. É a proposta real porque vinda Daquele que é O Caminho, A Verdade e A Vida. Deixemos de lado as ideias de fim do mundo. Energia criada, energia perpetuada em contínuas transformações. Isto é o que somos. Isto é o que é. Entender assim a vida é ser de fato manso e pacífico, atuante eficaz a favor da vida em suas múltiplas dimensões e devidamente aparelhado para herdar o mundo em seu futuro glorioso.



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita