Concluímos hoje o
estudo do livro A
Morte e os seus
Mistérios,
de Ernesto Bozzano,
conforme
tradução de Francisco
Klörs Werneck.
Questões preliminares
A. Nas manifestações dos
chamados “calculadores
prodígios”, que
particularidade foi
assinalada por Bozzano?
Essas manifestações têm
como particularidade a
rapidez prodigiosa na
resolução de cálculos da
maior dificuldade e de
extrema complicação,
rapidez essa que
contrasta com a lentidão
da mente normal no
encaminhamento para a
solução dos mesmos
problemas. O fato lembra
a velocidade com que
Mozart compunha uma peça
de música inteira.
(A Morte e os seus
Mistérios. Conclusões.)
B. Com que palavras
Frederic Amiel definiu a
consciência humana?
Segundo Amiel, nossa
consciência é como um
livro cujas folhas,
viradas pela vida, se
cobrem e se ocultam
sucessivamente, a
despeito de sua
semitransparência, mas,
ainda que o livro esteja
aberto na página do
presente, o vento pode
voltar, durante alguns
segundos, as primeiras
páginas para leitura.
(Obra citada.
Conclusões.)
C. Finalizando este
livro, duas conclusões
importantes são
destacadas por seu
autor. Quais são elas?
A primeira diz respeito
à existência de um
"corpo etérico", sede
natural das faculdades
supranormais
subconscientes, cuja
existência já fora
anteriormente
demonstrada. Os fatos
observados levam a essa
mesma conclusão. A
segunda refere-se à
"memória sintética",
donde derivam os
fenômenos da "visão
panorâmica", a qual,
segundo Bozzano,
pertence ao grupo das
faculdades espirituais
inerentes à
subconsciência humana.
(Obra citada.
Conclusões.)
Texto para leitura
369. Uma outra categoria
de manifestações é a dos
"calculadores
prodígios", manifestação
cuja particularidade
consiste em resolver,
com uma rapidez
prodigiosa, cálculos da
maior dificuldade e de
uma extrema complicação,
rapidez que contrasta
com a lentidão da mente
normal no encaminhamento
para a solução dos
mesmos problemas.
370. No que diz respeito
às sonoridades,
recordemos o curioso
fenômeno habitual em
Mozart, que percebia
subjetivamente, e com
simultaneidade, a
sucessão e a coordenação
das notas compondo uma
peça de música inteira e
tirando dessa aptidão um
supremo deleite
estético. Partindo dessa
preciosa anomalia
verificada nesse músico,
observa-se uma analogia
com os fenômenos que
examinamos aqui: a
abolição, ou pouco que
falta dela, da sucessão,
no tempo, para a audição
subjetiva de uma
composição melódica e,
consequentemente, para
toda a coordenação de
sons em ordem sucessiva.
371. Consigno ainda que
a mesma característica
de "instantaneidade" do
desenrolar de uma ação
qualquer se encontra
entre as manifestações
da transmissão
telepática do pensamento
e da telestesia, que se
exteriorizam através do
espaço, numa duração de
tempo inapreciável.
Pode-se dizer outro
tanto nos casos de
clarividência do passado
e do futuro, que se
traduz, no sensitivo,
por uma visão panorâmica
no presente; do mesmo
modo, na circunstância
dos fenômenos, de "bilocação"
tendo relação com a
translação instantânea,
no espaço, do "fantasma
desdobrado".
372. Salientamos ainda
que se conhecem exemplos
tendentes a demonstrar
como esse mesmo
sentimento pode se
transmutar em uma
instituição sintética da
imanência em Deus,
conservando, portanto,
intacta a consciência do
ser, ainda que
desmesuradamente
enlanguescida.
373. Esta noção foi
pressentida, por
exemplo, nos momentos de
excepcional intuição
transcendental, pelo
ilustre poeta inglês
Alfred Tennyson.
Respondendo a um amigo,
que havia experimentado
impressão similar em
seguida a uma inalação
de "clorofórmio", assim
se exprimiu nestes
termos: "Jamais tive
revelações deste gênero
por meio de anestésicos,
mas experimentei
frequentemente uma
espécie de ‘êxtase no
estado de vigília’
(exprimo-me assim na
falta de um termo
apropriado), a começar
pela minha primeira
adolescência e em
momentos em que me
achava sozinho. Algumas
vezes eu conseguia
provocar este estado,
repetindo, mentalmente,
o meu próprio nome, até
o instante em que a
intensidade, com a qual
remontava em mim a
concepção de minha
individualidade pessoal,
atingia o seu limite
supremo. Então, esta
individualidade mesma
parecia se dissolver e
se esvanecer numa
sensação de
conhecimentos
ilimitados. Este estado
de consciência não era
um estado confuso, mas o
mais límpido entre os
mais límpidos, o mais
certo entre os mais
certos e, literalmente,
indescritível. Graças a
ele, a morte me parecia
uma impossibilidade
ridícula. Em suma, tal
extinção da
personalidade (se se
pode assim definir este
estado) não me parecia
uma extinção do ser, mas
a verdadeira e única
existência real.
Sinto-me humilhado pela
maneira tão
completamente imperfeita
com a qual vos descrevo
este sentimento, porém
já não vos disse que um
tal estado é
verdadeiramente
impossível de se
descrever?"
374. Tennyson voltou a
este assunto no seu
poema The Ancient Sage e
o desenvolve em
magníficos versos.
375. Outro sensitivo que
experimentou este mesmo
sentimento de imanência
em Deus foi Vincent
Turvey, autor do livro
The Beginnings of
Seership, no qual, já
enfermo e caminhando
para a tuberculose, quis
reunir, para o serviço
de futuros
investigadores o fruto
de suas experiências
pessoais, como
sensitivos
clarividentes. Em uma
carta ao Professor
Hyslop, dizia ele:
"Começo a me capacitar
de que todos nós, mais
ou menos, participamos
de um Oceano da
Consciência Universal e
que cada vórtice nesse
oceano, em que estamos
todos mergulhados, pode,
por vezes, ciente ou
inconscientemente, tomar
contato ou mesmo
misturar-se com outros
vórtices semelhantes a
ele. Em apoio do que
afirmo, declaro-vos que
tive, efetivamente, a
prova da realidade de
tal condição do ser
humano. Eu havia, então,
perdido todo sentimento
de individualidade e não
somente tinha a sensação
de ser um vórtice no
grande Oceano da
Consciência Universal
como ainda sentia que eu
estava em outros
vórtices (ou
individualidades
humanas) passadas,
presentes e futuras, que
tinham existido ou que
existiram nesse Oceano."
376. Para quem que não
tenha passado pela
experiência acima
descrita, é bem difícil
conceber no que consiste
este sentido da
imanência em Deus, ou,
de outra forma, da
"Consciência Cósmica". A
teologia mais antiga na
civilização dos povos -
a do Budismo - o ensina
sempre pela doutrina do
Nirvana, doutrina que,
para muitos, significa,
de uma forma errada, a
extinção da consciência
individual, quando ela,
na realidade, prescreve
que a meta final do ser
é a assimilação em Deus,
ainda que a consciência
do ser aí fique
intangível, mas aí seja
somente elevada a
proporções
incomensuráveis.
377. É bem o que haviam
intuitivamente percebido
Tennyson e Turvey.
Resulta daí que, pela
lei da analogia,
dever-se-ia concluir que
o Microcosmo Homem,
reintegrando-se no
Macrocosmo-Deus,
concorreria, por uma
medida infinitesimal,
para constituir o Ser
Infinito e participaria,
de modo não menos
infinitesimal, de Sua
natureza, ainda que seja
conservada a consciência
do ser. Assim, e da
mesma maneira, milhares
de células compõem o
organismo humano e
concorrem, a título
infinitesimal, para
constituir a
personalidade
físico-psíquica,
participando de sua
natureza, pela mesma
infinitesimal proporção,
permanecendo intacta a
individualidade que lhe
é própria.
378. Ainda que possa ser
assim, não insistiremos
sobre estas especulações
filosóficas. Queremos,
no entanto, observar
como os exemplos acima
ratificam o que se disse
a respeito do assunto: a
saber, que a
característica da
"simultaneidade", em
oposição à da "sucessão"
- nas rememorações
pictográficas da "visão
panorâmica" - é também a
característica de todas
as faculdades
supranormais existentes
na subconsciência. Assim
sendo, é lícito deduzir
daí que esta mesma
característica - tanto
para as funções da
memória quanto para o
processo da ideação, a
transmissão à distância
do pensamento, a
translação no espaço,
ou, ainda, para o
sentimento da imanência
em Deus - constitui a
modalidade pela qual se
exercem as faculdades
espirituais no ambiente
espiritual.
379. Essa maravilhosa
perspectiva sobre a
existência de
além-túmulo foi como que
esclarecida no espírito
profundamente filosófico
de Frederic Amiel por
ocasião da revivescência
de uma recordação de sua
infância, que ele
esquecera havia mais de
quarenta anos.
380. Disse Amiel: "Nossa
consciência é, pois,
como um livro cujas
folhas, viradas pela
vida, se cobrem e se
ocultam sucessivamente,
a despeito de sua
semitransparência, mas,
ainda que o livro esteja
aberto na página do
presente, o vento pode
voltar, durante alguns
segundos, as primeiras
páginas para leitura. E,
por ocasião da morte,
essas folhas deixariam
de sobrepor e veríamos
todo o nosso passado ao
mesmo tempo? Seria a
passagem do sucessivo à
simultaneidade, isto é,
do tempo à eternidade?
Compreenderemos, então,
em sua unidade, o poema
ou o episódio misterioso
de nossa existência,
soletrada, até então,
frase por frase? Seria
essa a causa de glória
que envolve tantas vezes
a fronte e a face
daqueles que acabam de
morrer? Haveria, neste
caso, analogia com a
chegada do viajante ao
cimo de uma montanha, de
onde se desdobra, diante
dele, a configuração de
uma região percebida
antes por relances?
Pairar sobre a própria
história, adivinhar o
sentido dela no concerto
universal e no plano
divino seria o começo da
felicidade. Até então se
tinha sacrificado à lei;
agora se saboreava a
beleza da lei. Tinha-se
penado sob o chefe da
orquestra; torna-se
agora ouvinte surpreso e
encantado. Só havia
divisado o seu pequeno
caminho na neblina;
agora um panorama
maravilhoso de
perspectivas imensas se
desdobra de repente
diante de sua visão
extasiada. Por quê?". (Henri-Frederic
Amiel, Fragments d'un
journal intime, vol. II,
pás. 172.)
381. Desejando resumir,
em um parágrafo final, o
que acabou de ser
exposto, diremos que, no
tocante às manifestações
da "visão panorâmica",
se os fisiólogos e
psicólogos se tinham
limitado a afirmar a
correlação
incontestável, pelas
leis da equivalência,
entre as atividades
opostas, morfológica e
psíquica (no significado
de uma correspondência
paralela, e não de uma
conversão absoluta),
ninguém teria pensado em
contradizê-los. Eles,
porém, pretenderam que
as suas induções "sobre
a rapidez da circulação
cerebral" ou "sobre a
regressão da memória na
histeria" se mostravam
suficientes para
explicar, fisiológica e
psicologicamente, os
fatos, sem que
restassem, na
expectativa de uma
solução, questões de
outra natureza. Tem-se o
dever de reconhecer que,
assim apresentadas, as
suas presunções foram
parcialmente
justificáveis, porquanto
eles não conheciam ainda
a existência da
fenomenologia
metapsíquica, única
capaz de esclarecer os
enigmas da
psicofisiologia.
382. Isto não impede que
o seu ponto de vista,
nos dias presentes,
pareça bastante acanhado
e deficiente para que se
espere inverossimilmente
que alguém se satisfaça
com ele. Ainda que se
pense nele, é fato que,
quando se estudam os
fenômenos em questão em
suas multiformes
modalidades de
manifestação, quando se
os considera em suas
relações com o grupo das
faculdades supranormais
existentes na
subconsciência, e se
verifica que a
característica essencial
da "visão panorâmica",
isto é, a
"simultaneidade", em
oposição à "sucessão" na
percepção dos estados de
consciência, é, também,
sob formas diversas, a
característica de todas
as modalidades de
manifestação das
faculdades supranormais
subconscientes, então,
é-se levado,
inevitavelmente, a
concluir que a "visão
panorâmica", embora
reveladora da existência
subconsciente de uma
"memória sintética",
pertence, por sua vez,
ao grupo das
manifestações
supranormais
subconscientes.
383. Tais conclusões,
combinadas com o fato de
que a "memória
sintética" é de natureza
permanente, indicam que
a sua sede não pode ser
achada na substância,
cambiante por
excelência, dos centros
corticais, mas que se
deve buscar os seus
traços em "algo" que é
permanente e exterior a
esses centros mesmos,
ainda que intimamente
ligados a eles por
natureza.
384. Ora, esta indução,
logicamente necessária,
leva a admitir a
existência de um "corpo
etérico", sede natural
das faculdades
supranormais
subconscientes, cuja
existência já fora
demonstrada, baseando-se
nos fenômenos da
"exteriorização da
sensibilidade", da "autoscopia
interna", da "bilocação"
e do "desdobramento
fluídico" no leito de
morte. Já vimos como
estas conclusões se
tornaram susceptíveis de
se acharem validadas
dedutivamente, assim
como o demonstraram o
Professor Bergson e o
Dr. Geley.
385. Resta, portanto,
estabelecer que a
"memória sintética",
donde derivam os
fenômenos da "visão
panorâmica", pertence ao
grupo das faculdades
espirituais inerentes à
subconsciência humana,
faculdades que
existiriam lá
pré-formadas, em estado
latente, na expectativa
do momento em que
surgirão e começarão a
se exercer no meio
espiritual, da mesma
maneira que no embrião
existem, pré-formadas e
em estado latente, as
faculdades de sentido
terrestre, na
expectativa do instante
em que surgirão e
começarão a se exercer
no meio terrestre.
- Fim -