CLÁUDIO BUENO DA SILVA
klardec@yahoo.com.br
Osasco, SP
(Brasil)
O jeito de perdoar
Há duas maneiras de
perdoar: pelos lábios e
pelo coração. A primeira
é superficial, e quase
sempre impõe condições.
A segunda é profunda,
vem de dentro e, bem
naturalmente, brota
acompanhada de reflexões
já amadurecidas pelo
Espírito, sobre a
indulgência e o
altruísmo. Num processo
espontâneo, o ofendido
pensa assim: “não vou
apenas esquecer a falta,
mas juntar ao perdão o
amor que eu for capaz de
acionar”.
Mais que um sentimento,
propriamente, o perdão é
um ato da vontade, é a
caridade ativa.
Quando o indivíduo
perdoa com o coração,
ele se mostra
indulgente, ou seja,
compreende as
imperfeições do outro,
como precisa do mesmo
tratamento em relação às
suas próprias
imperfeições. O
indulgente sabe que
aquele que errou
aprenderá com o próprio
erro, e amanhã se
tornará melhor.
Portanto, entende a
falta como
circunstancial,
momentânea e, se
relevada, não
persistirá, não
produzirá mais
desassossego nem emoções
desequilibrantes.
O perdão rompe os elos
da desafeição, da
antipatia, do ódio, e
tece os fios da
tolerância, da
compreensão, da amizade,
podendo promover a
reaproximação das
partes, se não hoje,
mais tarde...
Enquanto não perdoarmos,
estaremos ligados ao
outro pelo fogo vivo do
desentendimento. A
manutenção da
animosidade gera culpa
em quem ofendeu e
ressentimento no
ofendido, e a
alimentação de
sentimentos negativos
recíprocos faz surgir a
obsessão, que estabelece
a cobrança daquele que
se julga credor.
Portanto, a sugestão
evangélica é altamente
preventiva:
“reconcilia-te com o teu
adversário” agora, antes
da morte, não deixe para
depois. Com essa medida,
evitam-se muitos
sofrimentos, dores e
tormentos de ambas as
partes conflitantes.
Evitam-se as
perseguições de
além-túmulo, tão comuns,
como mostram as reuniões
de desobsessão nos
centros espíritas. Quem
morre primeiro,
passa a obsidiar o
outro, e o assédio pode
se inverter, com o
tempo, se a vida
colocá-los em posições
contrárias. É assim que
muitos julgam fazer
justiça através da
vingança.
Então, para ser
agradável a Deus,
cumprindo Suas leis e
vivendo em paz, será bom
não termos inimigos,
perdoando se formos
ofendidos e, se
ofendermos, reparando a
falta. Nos dois casos,
o sacrifício moral que o
evangelho recomenda é:
esquecer-se a si mesmo,
abater o próprio
orgulho, desistir da
mágoa, do melindre.
Procurar fazer do
inimigo, um amigo. E, se
de todo, isso não for
possível, é já um bom
começo desfazer a
antipatia, perdoando ao
menos em pensamento.