JOSÉ PASSINI
passinijose@yahoo.com.br
Juiz de Fora, MG
(Brasil)
Intervenção dos
Espíritos
no
Mundo Corporal
Os Espíritos
influem em
nossos
pensamentos e em
nossos atos?
–
Muito mais do
que imaginais,
pois
frequentemente
são eles que vos
dirigem. (O
Livro dos
Espíritos, item
459.)
O Espiritismo
nos traz
informações
seguras sobre a
intervenção dos
Espíritos no
mundo material.
Entretanto, não
se trata de uma
nova revelação,
pois essa
interferência é
constatada em
várias situações
relatadas na
Bíblia, em ambos
os Testamentos.
A mais
conhecida, no
Velho
Testamento, é a
intervenção de
Samuel que,
através da
pitonisa de
Endor, adverte o
rei Saul,
aconselhando-o a
não entrar em
luta contra os
filisteus,
dizendo-lhe que
ele, com seus
dois filhos,
poderiam
desencarnar. O
rei não deu
ouvidos à
admoestação,
entrou na
batalha e
desencarnou com
seus dois
filhos. Nesse
caso, a
intervenção se
deu a pedido do
próprio rei
Saul. (I Sam,
28)
A intervenção de
Espíritos
através dos
profetas está
presente em toda
a Bíblia. Uma
verdadeira
interação do
plano espiritual
com o plano
material é
facilmente
constatável a
todo aquele que
se debruce sobre
os textos sem
ideias
preconcebidas.
Ao longo dos
séculos, a vinda
do Messias foi
proclamada
através dos
profetas, que
anunciavam
também a volta
do Profeta
Elias, a fim de
preparar-lhe o
caminho. Essa
volta de Elias
foi diretamente
anunciada por um
Espírito, ao seu
futuro pai: E
um anjo do
Senhor lhe
apareceu, posto
em pé, à direita
do altar de
incenso. E
Zacarias,
vendo-o,
turbou-se, e
caiu temor sobre
ele. Mas o anjo
lhe disse:
“Zacarias, não
temas, porque
tua oração foi
ouvida, e
Isabel, tua
mulher, dará à
luz um filho, e
lhe porás o nome
de João. (...) E
irá adiante dele
no espírito e
virtude de
Elias”. (Jo,
1: 11 a 13)
Em Atos dos
Apóstolos, há o
relato do
conselho
recebido de um
anjo, pelo
centurião
Cornélio, no
sentido de que
mandasse chamar
Pedro,
certamente para
que lhe
transmitisse o
que aprendera
com Jesus:
“Agora, pois,
envia homens a
Jope, e manda
chamar a Simão
que tem por
sobrenome Pedro.
Este está com um
certo Simão, o
curtidor, que
tem casa junto
do mar. Ele te
dirá o que deves
fazer”. (At,
10: 5 e 6). É de
tal objetividade
a mensagem, que
chega a conter o
endereço de onde
se encontrava
Pedro.
Quando a pequena
comitiva chegou,
Pedro
encontrava-se no
terraço da casa
de Simão, o
curtidor. Ele
por certo não
atenderia o
convite – pelo
fato de os
discípulos de
Jesus não
pregarem a Boa
Nova a quem não
fosse judeu –,
mas recebeu uma
ordem
espiritual:
“... disse-lhe o
Espírito: Eis
que três varões
te buscam.
Levanta-te,
pois, e desce, e
vai com eles,
não duvidando;
porque eu os
enviei”.
(At, 10, 20 e
21)
Pedro atendeu e
foi ao encontro
de Cornélio. Ao
chegar à casa do
centurião, é
recebido
pessoalmente por
ele, que reunira
parentes e
amigos.
Pedro pergunta a
Cornélio por que
o mandara
chamar, obtendo
dele a seguinte
resposta: “Há
quatro dias
estava eu em
jejum até esta
hora, orando em
minha casa à
hora nona. E eis
que diante de
mim se
apresentou um
varão com vestes
resplandecentes,
e disse:
Cornélio, a tua
oração foi
ouvida (...).
Envia, pois, a
Jope e manda
chamar Simão, o
que tem por
sobrenome Pedro;
este está na
casa de Simão o
curtidor, junto
do mar, e ele,
vindo, te
falará”. (At,
10: 30 a 32)
Note-se que
Cornélio, ao
descrever a
aparição, disse
que lhe
aparecera “um
varão com vestes
resplandecentes”.
Daí pode-se
deduzir que o
Espírito tinha a
forma perfeita
de um homem, que
fez
resplandeceram
suas vestes
talvez para não
ser confundido
com um
encarnado.
Deve-se notar
que a palavra
anjo,
encontrada
frequentemente
no Novo
Testamento,
significa,
segundo sua
origem,
mensageiro.
Mas, graças à
criatividade de
artistas, esses
seres
espirituais, ao
serem
representados em
pinturas e
esculturas foram
dotados de asas,
talvez
inspirados no
Velho
Testamento, onde
se encontram
algumas
descrições de
seres
espirituais até
com seis asas
(Is, 6: 2).
Entretanto, no
Novo Testamento,
nada há que
justifique tais
figuras.
Infelizmente, os
estudiosos nada
fizeram no
sentido de
impedir tal
prática, que
passou a criar
imagens mentais
fantasiosas e
irreais na mente
das pessoas.
Outra
intervenção
espiritual foi a
libertação de
Pedro, que se
deu graças à
ação de um
Espírito que fez
caírem as
correntes que o
prendiam: E
eis que
sobreveio o anjo
do Senhor, e
resplandeceu uma
luz na prisão;
e, tocando a
Pedro na
ilharga, o
despertou,
dizendo:
“Levanta-te
depressa”. E
caíram-lhe das
mãos as cadeias.
E disse-lhe o
anjo: Cinge-te e
ata tuas
alparcas. E ele
o fez assim.
Disse-lhe mais:
Lança às tuas
costas a tua
capa, e
segue-me.
(At, 12: 7 e 8)
O evangelista
Marcos é claro
ao relatar a
intervenção de
um Espírito que
se dirige às
mulheres que
foram ao
sepulcro a fim
de preparar o
corpo de Jesus:
E, entrando
no sepulcro,
viram um mancebo
assentado à
direita, vestido
de uma roupa
comprida,
branca, e
ficaram
espantadas.
Porém, ele
disse-lhes: Não
vos assusteis;
buscai a Jesus
Nazareno, que
foi crucificado;
já ressuscitou,
não está aqui;
eis o lugar onde
o puseram.
(Mc, 16:5 e 6)
Em “O Livro dos
Espíritos”,
encontra-se não
mais a simples
informação da
existência de
intervenções dos
Espíritos no
mundo corpóreo,
mas um estudo
pormenorizado de
situações em que
isso ocorre, bem
como as causas e
consequências
dessas
intervenções.
A obra mediúnica
subsidiária é
tão rica em
exemplos desse
inter-relacionamento,
que nos leva à
conscientização
de que
convivemos, na
Terra, com outra
humanidade
desencarnada,
constituída de
Espíritos bons e
maus, que buscam
influenciar
nossas ações.
Em “Os
Mensageiros”,
constata-se a
existência de um
serviço de
amparo a
Espíritos
desencarnados
que perambulam
pelas ruas, no
sentido de
conduzi-los a um
centro espírita
a fim de serem
encaminhados.
Esse trabalho
conta com
servidores que
têm
responsabilidade
definida, de que
devem prestar
contas, conforme
se vê, na
reprimenda que
sofreram dois
trabalhadores
que não se
ativeram ao
cuidado
requerido no
desempenho da
tarefa, tendo
favorecido
parentes
desencarnados,
que não se
apresentavam em
condições de
serem ajudados:
“Vieira,
recomendo a você
e ao Hildegardo
a melhor
observância do
nosso critério
doutrinário.
(...) Não
podemos perder
tempo com
Espíritos
escarninhos e
ociosos, nem com
aqueles que se
aproximam de
nossa tenda
alimentando
certas intenções
de natureza
inferior”. (Cap.
39)
Ainda nessa
mesma obra,
André Luiz
relata que ele,
Vicente e o
Instrutor
Aniceto, depois
de repousarem
durante o dia
num campo, em
plena zona
rural, próximo
ao Rio de
Janeiro, já
estavam
retornando,
quando
surpreendeu-se
ele com a
quantidade de
trabalhadores
espirituais que
via nos
arredores.
Esclarecendo,
Aniceto
disse-lhe: “O
reino vegetal
possui
colaboradores
numerosos”.
Prosseguindo seu
relato, diz que
nas proximidades
(...) um
homem jazia por
terra numa poça
de sangue, ao
lado de uma
carroça
sustentada por
um muar
impaciente,
dando mostras de
grande
inquietação.
Dois
companheiros
encarnados
prestavam
socorro ao
ferido,
apressadamente.
(...) O número
de desencarnados
que auxiliava o
pequeno grupo,
todavia, era
grande. Um amigo
espiritual que
me pareceu o
chefe, naquela
aglomeração,
recebeu Aniceto
e a nós com
deferência e
simpatia,
explicou
rapidamente a
ocorrência. O
carroceiro havia
recebido a
patada de um
burro e era
necessário
socorrer o
ferido.
Serenada a
situação, vi o
referido
superior
hierárquico
chamar um guarda
do caminho,
interpelando:
– Glicério, como
permitiu
semelhante
acontecimento?
Este trecho da
estrada está sob
sua
responsabilidade
direta.
O subordinado,
respeitoso,
considerou
sensatamente:
– Fiz o que pude
para salvar este
homem, que,
aliás, é um
pobre pai de
família. Meus
esforços foram
improfícuos pela
imprudência
dele. Há muito
procuro cercá-lo
de cuidados
sempre que passa
por aqui;
entretanto, o
infeliz não tem
o mínimo
respeito pelos
dons naturais de
Deus. É de uma
grosseria
inominável para
com os animais
que o auxiliam a
ganhar o pão.
Não sabe senão
gritar,
encolerizar-se,
surrar e ferir.
Tem a mente
fechada às
sugestões de
agradecimento.
Não estima senão
a praga e o
chicote. Hoje,
tanto perturbou
o pobre muar que
o ajuda, tanto o
castigou, que
pareceu mais
animalizado...
Quando se tornou
quase irracional
pelo excesso de
fúria e
ingratidão, meu
auxílio
espiritual se
tornou
ineficiente.
Atormentado
pelas descargas
de cólera do
condutor, o
burro humilde o
atacou com a
pata. Minha
obrigação foi
cumprida. (cap.
41)
Como se vê, num
local distante,
numa estrada
transitada por
carroças, havia
Espíritos, com
responsabilidade
definida,
encarregados da
manutenção da
ordem.
Imaginemos nas
estradas
movimentadas,
nas cidades...
Na obra
“Missionários da
Luz”, há um
exemplo da
existência de
vigilante,
responsável por
determinada área
na cidade: O
instrutor
Alexandre,
acompanhado de
André Luiz,
procurava
informações
sobre um homem
que supunha ter
sido assassinado
em determinado
local, quando
encontrou-se com
um Espírito, a
quem se dirigiu,
nestes termos:
Meu amigo, é
visitador em
função ativa?.
Recebendo
resposta
afirmativa,
procurou obter
os informes
sobre a
desencarnação
que ocorrera
naquele local,
ficando sabendo
que não se
tratava de
assassinato, mas
de suicídio
friamente
preparado. O
vigilante disse
que tentara
ajudá-lo, com o
concurso de
outros
trabalhadores,
mas que a sua
deliberação em
matar-se era
muito forte. Tão
logo
desencarnara,
fora arrebatado
por um bando de
Espíritos em
função do seu
baixo padrão
vibratório.
Alexandre
consegue
localizá-lo,
socorre-o e, em
noite
subsequente,
propicia um
encontro com sua
esposa. Durante
o sono físico, a
viúva é
conduzida por
uma irmã
desencarnada ao
encontro do
marido, asilado
que estava em
posto de socorro
próximo à
Crosta. Essa
mesma
acompanhante foi
designada a
permanecer na
casa da viúva, a
fim de
auxiliá-la a
conseguir
ocupação que lhe
permitisse
sustentar a
família, face à
situação de
desamparo a que
fora lançada.
(cap. 11)
André Luiz, ao
visitar na
Terra, seu
antigo lar, após
vários anos de
ausência, vê-se
compelido a
auxiliar no
tratamento
daquele que lhe
ocupara o lugar,
na condição de
marido de sua
viúva. Depois de
alguma
hesitação,
solicita o
concurso de
Narcisa, a
notável
enfermeira com
quem trabalhava
na colônia
espiritual. Tão
logo chega,
Narcisa convoca
Espíritos que
lhe possam
indicar onde
encontrar
mangueiras e
eucaliptos, a
fim de retirar
substâncias
medicamentosas
para o socorro
ao doente. Ante
o espanto de
André Luiz, ela
explica que as
oito entidades
que se
apresentaram
eram servidores
comuns do reino
vegetal. (Nosso
Lar, cap. 50)
No livro “No
Mundo Maior”
(cap. 13), há
uma intervenção
direta de
Calderaro,
impedindo o
suicídio da
jovem Antonina.
A obra
“Libertação”
mostra como
agiram os
Espíritos
encarregados de
solucionar um
caso de atuação
obsessiva, cujo
objetivo era o
de levar uma
jovem senhora à
desencarnação.
Durante o
desempenho de
sua tarefa, o
benfeitor Gúbio
atua no sentido
de proteger uma
jovem encarnada,
que estava sendo
assediada por um
rapaz, filho do
proprietário da
casa onde ela
trabalhava.
André Luiz, em
sua obra
mediúnica, é o
Espírito que
mais esclarece
essa atuação de
Espíritos
desencarnados
entre nós. “Sexo
e Destino” é,
seguramente, a
obra em que mais
aparece essa
interferência de
Espíritos
desencarnados na
esfera física.
Ali pode-se ver
com clareza o
respeito com que
os trabalhadores
do bem observam
o limite de suas
ações, e o
quanto Espíritos
voltados ao mal
buscam atuar, no
sentido de terem
satisfeitos os
seus desejos. No
Cap. 6, é
descrita a
atuação de dois
obsessores, no
sentido de
obterem o prazer
da ingestão de
bebida
alcoólica,
através de um
encarnado,
embora seu
protetor
espiritual
estivesse
presente.
Diante do
quadro, muitos
perguntarão como
o guarda do
caminho – que é
um Espírito
esclarecido,
trabalhador da
seara do Bem –
não conseguiu
evitar o
acidente com o
muar (Os
Mensageiros,
cap. 41), e os
dois obsessores
conseguiram
repartir os
goles de bebida
alcoólica com o
protegido de
Félix. A
explicação
prende-se à
questão de
sintonia. O
guarda do
caminho não
conseguiu
atingir o campo
mental do
carroceiro, que
estava em faixa
vibratória de
cólera, de
violência. No
caso de Cláudio,
havia perfeita
sintonia entre
ele e os dois
Espíritos que o
acompanhavam,
participantes de
suas libações
alcoólicas e de
suas aventuras
sexuais. Quanto
à não
intervenção de
Felix, seu
protetor
espiritual, fica
esclarecida na
resposta dada a
Neves:
– Mas... e
Cláudio? –
insistiu Neves.
– Não merecerá,
porventura,
fraterna
demonstração de
caridade, a fim
de livrar-se de
tão temíveis
obsessores?
Félix sorriu
francamente
bem-humorado e
explicou:
– “Temíveis
obsessores” é a
definição que
você dá. – E
avançou: –
Cláudio desfruta
excelente saúde
física. Cérebro
claro,
raciocínio
seguro. É
inteligente,
maduro,
experimentado.
(...) Se elege
para comensais
da própria casa
os companheiros
que acabamos de
ver, é assunto
dele.
(Sexo e Destino,
cap. 6)
Àqueles que
argumentarem que
Cláudio estaria
sendo violentado
no seu
livre-arbítrio
pelos dois
Espíritos que o
acompanhavam,
deve ser
lembrado de que
não houve
desrespeito ao
seu direito de
escolha. Ele
recebia a
influência
daqueles, cuja
presença – no
uso do seu
livre-arbítrio –
escolhera como
companheiros.
Daí a
necessidade do
cultivo da
oração, da
reflexão, a fim
de termos
consciência de
que categoria de
Espíritos
estamos elegendo
para nossa
companhia, tanto
na vigília,
quanto durante o
sono. É só
observarmos o
tipo de
conversação que
entretemos, de
leitura que
fazemos, de
filmes que
vemos, de
programas
televisivos a
que assistimos,
que saberemos
que classe de
Espíritos
influem em
nossos
pensamentos e
ações.
Dessa presença
de Espíritos, já
advertia Paulo:
Portanto, nós
também, pois que
estamos rodeados
de uma tão
grande nuvem de
testemunhas
(...). (Hb,
12: 1)
O Espiritismo
nos mostra que
tudo começa no
pensamento, por
isso vai além do
conhecido
adágio: “Dize-me
com quem andas
que direi quem
tu és”,
ensinando:
“Dize-me em que
pensas, que
direi com quem
andas”. Daí a
necessidade da
observância da
recomendação do
Mestre:
Vigiai e orai
para que não
entreis em
tentação.
(Mt, 26: 41)