ANSELMO FERREIRA
VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
Investigando o
teor do
nosso
olhar
Como parte do
amplo processo
de
autoconhecimento
a que devemos
nos dedicar com
vistas à nossa
plenitude
espiritual, não
podemos abdicar
do dever de
examinar o teor
do nosso olhar,
isto é, a
maneira como
percebemos e
captamos as
coisas e os
eventos da vida.
Afinal de
contas, o teor
do olhar de uma
pessoa revela
e/ou sinaliza o
que, de fato,
reside nas
profundezas do
seu ser. Em
outras palavras,
o nosso olhar é
reflexo de nossa
essência.
Aliás, há
menções
recorrentes na
literatura
Espírita
relativas ao
magnetismo do
olhar de Jesus.
Com efeito, o
Espírito
Humberto de
Campos -
excepcional
historiador do
além-túmulo -,
na obra Boa
Nova
psicografada
pelo médium
Francisco
Cândido Xavier,
sugeriu que o
olhar do Mestre
dos Mestres era
“lúcido e
profundo”, pois
devassava o seu
interlocutor
detectando-lhe
as tendências d’alma
e antevia
acontecimentos
futuros, mas
também “enérgico
e carinhoso” com
os que lhe
desfrutavam a
sublime
companhia.
Esclarece, a
propósito, o
referido mentor
na citada obra,
que Maria de
Magdala, no
final de sua
vida, já
duramente
atingida pela
moléstia da
hanseníase
contraída no
Vale dos
Leprosos onde
passara a viver
após a
crucificação do
inolvidável
Mestre,
teve o mérito de
receber uma
dádiva
extraordinária –
ou seja:
“Em dado
instante,
observou-se que
seu peito não
mais arfava.
Maria, no
entanto,
experimentava
consoladora
sensação de
alívio.
Sentia-se sob as
árvores de
Cafarnaum e
esperava o
Messias. As aves
cantavam nos
ramos próximos e
as ondas
sussurrantes
vinham
beijar-lhe os
pés. Foi quando
viu Jesus
aproximar-se,
mais belo que
nunca. Seu
olhar tinha o
reflexo do céu e
o semblante
trazia um júbilo
indefinível.
O Mestre
estendeu-lhe as
mãos e ela se
prosternou,
exclamando, como
antigamente:
– Senhor!...
Jesus recolheu-a
brandamente nos
braços e
murmurou:
– Maria, já
passaste a porta
estreita!...
Amaste muito!
Vem! Eu te
espero aqui!”.
(ênfase nossa)
Mas também
identificamos
com certa
facilidade o
oposto em
determinados
personagens. Por
exemplo, é muito
conhecido o
olhar iracundo e
a postura
autocrática de
Adolf Hitler,
assim como o
modo frio de
observar e o
indevassável
sorriso de Josef
Stalin... De
modo geral,
trata-se de
assunto
extremamente
delicado dado
que no Evangelho
somos orientados
a realizar a
enérgico e
implacável
autoexame, ou
seja: “Se o
teu olho direito
te faz tropeçar,
arranca-o e
lança-o fora de
ti...”
(Matheus, 5:
30). Ainda
dentro dessa
perspectiva,
Jesus também nos
recomendou: “Vê,
com clareza, se
a pretensa
claridade que há
em ti não é
sombra de
cegueira
espiritual”
(Lucas, 11: 35).
Por sua vez, o
Espírito Irmão
José, no livro
Se Teus Olhes
Forem Bons...
(psicografia
de Carlos A.
Baccelli),
afirma
que: “A bondade
em teus olhos e
em tuas mãos se
constitui em
tudo o que
sabes,
traduzindo na
prática,
dimensionando o
aproveitamento
das lições que,
até o teu
presente
evolutivo, foste
capaz de
assimilar”. O
olhar, num
sentido mais
amplo, nos
convida a
observar o que
acontece à nossa
volta
igualmente.
Nesse sentido, o
Espírito Irmão
José, na obra
Senhor e Mestre
(psicografia
de Carlos A.
Baccelli),
analisa que as
lições que
necessitamos
assimilar
desenrolam-se ao
nosso redor.
Como observa o
mentor, a vida
em si é o melhor
livro que temos
diante dos
próprios olhos.
E tal convite
nos remete a
sairmos da nossa
própria órbita e
a examinarmos os
quadros e
paisagens do
cotidiano com
mais atenção e
profundidade e
sermos mais
críticos conosco
e com o que
fazemos.
Pesquisadores
lembram que
certas
circunstâncias
favorecem a
execução de
tarefas e
rotinas que
podem ferir
sagrados
princípios
morais,
eventualmente,
sem nos darmos
conta. Posto
isto, é
emblemático o
caso de Adolf
Eichman, que
contribuiu
decisivamente
para a
viabilização da
logística da
chamada “solução
final” que
culminou com
extermínio de
milhões de
judeus na 2ª
Guerra Mundial
e, mesmo assim,
negou qualquer
responsabilidade
pelos sombrios
eventos.
Surpreende saber
que as suas
providências
para a evacuação
dos judeus de
Bratislava, na
Eslováquia,
foram por ele
vistas quase
como se fossem
outro dia
rotineiro de
trabalho.
Mas se o nosso
olhar refletir
compreensão,
bondade e
paciência, entre
outros atributos
positivos, é
sinal que
estamos
avançando na
senda do
progresso
espiritual. Como
nos alertou
Jesus: "A
candeia do corpo
são os olhos; de
sorte que, se os
teus olhos forem
bons, todo o teu
corpo terá luz"
(Mateus, 6:
22). Contudo, o
Espírito
Emmanuel na obra
Palavras da
Vida Eterna
(psicografia de
Francisco
Cândido Xavier)
nos recorda que:
“Olhos...
Patrimônio de
todos.
Encontramos,
porém, olhos
diferentes em
todos os
lugares.
Olhos de
malícia...
Olhos de
crueldade...
Olhos de
ciúme...
Olhos de
ferir...
Olhos de
desespero...
Olhos de
desconfiança...
Olhos de atrair
a viciação...
Olhos de
perturbar...
Olhos de
registrar males
alheios...
Olhos de
desencorajar as
boas obras...
Olhos de
frieza...
Olhos de
irritação...”
Mas se
aspiramos, no
entanto, “a
enobrecer os
recursos da
visão” devemos
amar e ajudar,
aprender e
perdoar sempre.
Desse modo,
consoante o
benfeitor
citado,
conservaremos
conosco os
"olhos bons" a
que se referia
Jesus, pois
instalaremos no
próprio espírito
a indispensável
compreensão que
nos permitirá um
dia alcançar a
glória Divina.
Por fim, pondera
o Espírito
Emmanuel, no
livro Vinha
de Luz
(psicografia de
Francisco
Cândido Xavier):
“É óbvio que
o mundo inteiro
reclama visão
com o Cristo,
mas não basta
ver
simplesmente; os
que se
circunscrevem ao
ato de enxergar
podem ser bons
narradores,
excelentes
estatísticos,
entretanto, para
ver e glorificar
o Senhor é
indispensável
marchar nas
pegadas do
Cristo,
escalando, com
Ele, a montanha
do trabalho e do
testemunho”
(ênfase nossa).
BIBLIOGRAFIA:
BACCELLI, C.A.
(Pelo Espírito
Irmão José).
Se Teus Olhos
Forem Bons...
3ª edição.
Votuporanga:
Casa Editora
Espírita
“Pierre-Paul
Didier”, 2008,
p. 10.
BACCELLI, C.A.
(Pelo Espírito
Irmão José).
Senhor e Mestre.
Uberaba:
Livraria
Espírita Edições
“Pedro e Paulo”,
2008, p.
163-164.
LOWELL, J.
Managers and
Moral
Dissonance: Self
Justification as
a Big Threat to
Ethical
Management?
Journal of
Business Ethics,
105(1), p.
20.
XAVIER,
F. C. Boa
Nova. 11ª
edição. Pelo
Humberto de
Campos. Rio de
Janeiro: FEB,
1977, Cap. 3 –
Primeiras
Pregações; Cap.
4 - A Família
Zebedeu; e Cap.
20 – Maria de
Magdala.
XAVIER, F.C.
(Pelo Espírito
Emmanuel).
Vinha de Luz.
4ª edição.
Rio de Janeiro:
FEB, 1977, p.
80.
XAVIER, F.C.
(Pelo Espírito
Emmanuel).
Palavras da Vida
Eterna.
Versão digital,
p. 78, n. d.