ANGÉLICA
REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil) |
A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 5)
Damos
sequência ao estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. A tendência herdada
aos terrores e aos medos
pertencem ao passado
pré-histórico?
Parece que sim. O medo
do escuro, da solidão,
do trovão, a amnésia
direcional, são tantos
testemunhos da
impotência do homem
primitivo, da mesma
forma que o medo dos
animais ou dos estranhos
é prova de sua vida
selvagem e entregue ao
acaso.
(A Personalidade Humana.
Capítulo II – As
desintegrações da
personalidade.)
B. Como explicar a
agorafobia?
Quando esse medo mórbido
e angustiante de lugares
públicos e grandes
espaços descobertos, que
chamamos de agorafobia,
surge em nosso espírito,
isso provavelmente se
deve a que o poder de
controle e de
coordenação do nosso
pensamento, que deveria
ser capaz de exercitar a
vontade, caiu num nível
em que escapa à ação da
vontade. Não somos,
então, por assim dizer,
capazes de nos
convencer, mediante o
raciocínio, de que não
há para nós perigo algum
em atravessar uma praça.
A culpa disso é devida
ao nosso eu subliminar,
encarregado de ter
sempre ao seu alcance as
ideias de que
necessitamos na vida
cotidiana e que, como
consequência de sua
fraqueza ao agir sobre o
organismo, não soube
cumprir sua tarefa.
(Obra citada. Capítulo
II – As desintegrações
da personalidade.)
C. Que é que
caracteriza a anestesia
histérica?
A anestesia histérica é
caracterizada pelo fato
de que a porção da
faculdade de percepção
sobre a qual o indivíduo
perdeu todo o poder de
controle, na realidade,
não desaparece, mas é
imediatamente deslocada
para baixo do limiar da
consciência, sob a
guarda, por assim dizer,
de um estado hipnótico
do eu subliminar que se
apropriou dessa
categoria de percepções,
seja por razões de fácil
discernimento, em
virtude, por exemplo, de
sugestões sofridas ou
por razões que nos são
desconhecidas.
(Obra citada. Capítulo
II – As desintegrações
da personalidade.)
Texto para leitura
98.
É possível que exista
realmente uma ruptura no
ponto em que se mostra à
nossa observação externa
quando, em particular, a
personalidade entra em
sua nova fase, passando
pelo sono ou pela
possessão. E vejo que
existe outra solução de
continuidade num ponto
muito mais avançado,
quando alguma
inteligência externa se
apodera, de algum modo,
do organismo e substitui
por algum tempo a
atividade intelectual
comum por sua própria
atividade.
99. Deixaremos de lado,
por enquanto, os casos
desse gênero.
Iniciaremos pelas
hipertrofias e
excrescências psíquicas
localizadas, para em
seguida passarmos às
instabilidades de
natureza histérica (com
ou sem períodos de
êxtase intermediários) e
concluiremos pelos
estados mais avançados
de semivigília e de
dimorfismos (1) que
sempre parecem separados
da corrente comum da
vida consciente pela
barreira do êxtase.
100. O processo começa
por algo que é, com
relação ao organismo
psíquico, o que é um
furúnculo ou um calo
para um organismo
físico. Consequência de
alguma sugestão vinda do
exterior ou de alguma
tendência ancestral, um
pequeno grupo de
unidades psíquicas sofre
um exagerado crescimento
que se opõe desde logo
às comunicações e às
mudanças livres e
normais entre esse grupo
e o resto da
personalidade.
101. Assim, a ideia fixa
constitui o primeiro
sintoma da desagregação
que consiste na
persistência de um grupo
de ideias e de emoções
que escapam ao controle,
sendo insuscetíveis de
modificações. Graças ao
seu isolamento, à
ausência de toda
comunicação entre elas e
a corrente geral do
pensamento, tornam-se
estranhas e intrusas, de
modo que alguma imagem
ou ideia especial invada
a consciência com uma
frequência inusitada e
penosa. Podemos supor
que a ideia fixa
representa aqui o
aspecto psicológico de
alguma lesão cerebral
definida,
ultramicroscópica. Ou se
pode, talvez, pensar por
analogia, quer num
furúnculo, quer numa
calosidade, quer num
tumor enquistado, quer
num câncer.
102. A ideia fixa pode
se assemelhar a um
abscesso endurecido que
se arrebenta quando o
apertamos. Ou também
pode ser considerada
como um centro
inflamatório
hipertrofiado que dá
origem a dores que se
espalham por todo o
organismo. Certas ideias
fixas de natureza
histérica podem ser
comparadas aos tumores
que resultam do
crescimento isolado e
exagerado de um
fragmento de tecido
embrionário que
acidentalmente se
encontra excluído do
desenvolvimento regular
do embrião. Esses
tumores podem estar
enquistados, de modo que
por pressão ocasionem
danos aos tecidos que os
rodeiam, enquanto que
seu próprio conteúdo só
pode surgir mediante
incisão.
103. Exemplo disso são
os terrores esquecidos,
descritos por Janet como
responsáveis por ataques
de histeria. Esses
tumores do Espírito são,
às vezes, suscetíveis de
serem operados
psicologicamente, de
serem eliminados
mediante a discussão. Os
casos mais graves são os
dos cancriformes nos
quais a degeneração,
iniciada num ponto
qualquer, invade
rapidamente todo o
domínio do espírito,
produzindo ali as mais
profundas perturbações.
104. A ideia fixa,
provocada por causas
provavelmente muito
diferentes, pode
desenvolver-se em
múltiplas direções.
Pode, em particular,
converter-se num centro
de explosão ou num
núcleo de separação ou
ser ainda o início da
morte. Pode determinar o
acesso de convulsões
histéricas, atuando por
sua vez como um corpo
estranho que comprime
uma região sensível do
organismo. Ou pode então
atrair para o seu centro
parasitário tantos
elementos psíquicos que
acabe por formar uma
espécie de personalidade
secundária, que existe,
junto à personalidade
primitiva, às vezes em
estado latente, mas
também capaz de
apoderar-se dela,
mediante um verdadeiro
golpe de mão. Em outros
casos, os novos centros,
quase independentes,
apresentam tendências
anárquicas, cada célula
se revolta e se levanta
em permanente guerra
contra o organismo, que
não tarda em se
dissolver e sucumbir.
105. As ideias fixas
constituem uma simples
expressão de algo que,
num grau atenuado, não
nos é totalmente
desconhecido. Suponho
que poucos espíritos
estejam completamente
livres da tendência a
certas formas de
pensamento e de emoção
sobre os quais não
possuímos domínio
suficiente, retornos
permanentes e inúteis ao
passado, ansiedades
sobre o futuro, diversos
vestígios, talvez, de
nossa experiência
infantil, fixadas com
demasiada solidez para
que desapareçam
completamente. Dessas
observações, algumas
devem remontar ainda
mais distantes do que a
infância. As tendências
herdadas aos terrores
parecem pertencer,
especialmente, ao
passado pré-histórico.
106. O medo do escuro,
da solidão, do trovão, a
amnésia direcional, são
tantos testemunhos da
impotência do homem
primitivo, da mesma
forma que o medo dos
animais ou dos estranhos
é prova de sua vida
selvagem e entregue ao
acaso. Todos esses
sentimentos instintivos
podem, com a maior
facilidade, sofrer um
desenvolvimento mórbido,
e a melhor prova de que
esse desenvolvimento
mórbido nem sempre está
unido a uma lesão
cerebral nos é dada
pelos casos em que as
ideias fixas foram
suprimidas por um
tratamento unicamente
psicológico. Sabemos,
por outro lado, que os
casos em que o
tratamento psicológico
fracassou, se mostraram
da mesma forma rebeldes
a qualquer outro
tratamento. Pode-se
dizer, pois, que as
perturbações cerebrais
que foram curadas dessa
forma eram de natureza
funcional, enquanto as
que levaram à demência
eram orgânicas, ainda
que a distinção entre o
funcional e o orgânico
nem sempre seja fácil de
captar nesse domínio
ultramicroscópico.
107. Seja como for,
conhecemos um número
enorme de casos em que
as ideias fixas, mais ou
menos intensas, foram
guiadas pela sugestão,
isto é, por intermédio
da ação, com a ajuda de
comportamentos
subliminares, de
movimentos nervosos
apenas perceptíveis, que
escapam ao controle e à
direção de nossa
consciência
supraliminar. Mas se a
consciência subliminar é
capaz de exercer uma
função de controle sobre
esses elementos, deve-se
igualmente a ela que os
distúrbios em questão se
manifestem com
frequência cada vez
maior.
108. Quando uma ideia
fixa, por exemplo a
agorafobia (2), surge em
meu espírito, deve-se
provavelmente a que o
poder de controle e de
coordenação de meu
pensamento, que deveria
ser capaz de exercitar a
vontade, caiu num nível
em que escapa à ação da
vontade. Não sou, por
assim dizer, agora,
capaz de me convencer,
mediante o raciocínio,
de que não há para mim
perigo algum em
atravessar uma praça. E
a culpa disso é devida
ao meu eu subliminar,
encarregado de ter
sempre ao meu alcance as
ideias de que necessito
na vida cotidiana e que,
como consequência de sua
fraqueza ao agir sobre o
organismo, não soube
cumprir sua tarefa.
109. Não é difícil, de
acordo com o que
acabamos de dizer,
estabelecer uma relação
entre as ideias fixas e
as manifestações mais
profundas da histeria.
Vimos que as primeiras
resultaram
especificamente do
deslocamento do nível
comum da consciência.
Dir-se-ia que fragmentos
de conteúdo subliminar
escaparam através das
fendas que se formaram
no espírito consciente e
caíram em um nível do
qual só os pode tirar a
sugestão hipnótica.
110. Em outros casos
podemos dar um passo
adiante e dizer que
essas ideias fixas não
nos mostram só um
instinto supraliminar
que funciona sem
controle, senão que se
trata, melhor dizendo,
de um instinto
primitivamente oculto
que surge de modo
inconsciente, alcançando
rapidamente proporções
exageradas e
funcionamento
desordenado. Em outras
palavras, encontramo-nos
na presença de uma
instabilidade do umbral
da consciência que, com
frequência, implica ou
constitui a manifestação
de uma perturbação ou de
um distúrbio da camada
hipnótica, isto é, da
região da nossa
personalidade que só
conhecemos quando
podemos atingi-la
mediante a sugestão
hipnótica.
111. No que concerne à
histeria, podemos dizer
inicialmente que os
sintomas formam, de um
modo geral, caricaturas
fantasmagóricas de
doenças reais do sistema
nervoso, uma série de
ficções realizadas sob o
sistema nervoso, doenças
irreais, como as que
nenhum mecanismo
fisiológico nos parece
capaz de produzir. Como
veremos mais adiante,
essas doenças se devem,
com efeito, na maioria
das vezes, a causas
intelectuais, mais do
que puramente
fisiológicas, e
constituem outras formas
de autossugestão.
112. Passemos
rapidamente em revista
alguns dos tipos mais
frequentes de
incapacidade histérica,
tomando por guia a
admirável obra do Dr.
Pierre Janet, L’état
mental des hystériques
(Paris, 1893): “Na
expressão eu sinto – diz
ele (pág. 39) – temos
dois elementos: um
pequeno fato psicológico
novo, sentir, e uma
enorme quantidade de
pensamentos que formam
um sistema, o eu. Esses
dois elementos se
encontram misturados e
combinados, e dizer eu
sinto equivale a dizer
que a personalidade,
então desenvolvida,
captou e absorveu essa
nova e pequena
sensação... como se o eu
fosse um ser ameboide
estendendo os seus
tentáculos que se
apoderariam dessa
pequena sensação nascida
fora dele.”
113. Ora, o que
caracteriza a histeria
adiantada, segundo Janet,
é precisamente a falta
de assimilação dessas
sensações elementares ou
estados afetivos pelo
que Janet chama a
percepção pessoal. O
campo consciente do
histérico está tão
limitado que não pode
conter um mínimo de
sensações necessárias
para sobreviver: “Aquele
que necessita
especialmente de suas
sensações visuais e
auditivas descuida de
suas sensações táteis e
musculares, das quais
acredita poder
prescindir. No começo
ainda é capaz de fixar
sua atenção nas últimas
e de fazê-las entrar,
pelo menos durante um
certo tempo, no campo de
sua percepção pessoal.
Mas a ocasião pode não
se apresentar com
frequência e o vício
psicológico torna-se
adquirido. Um dia, o
paciente – porque agora
se trata realmente de um
verdadeiro paciente – é
examinado pelo médico.
Belisca-se-lhe o braço
esquerdo, perguntando se
sentiu alguma coisa.
Para grande surpresa
sua, apercebe-se o
paciente de que já não
experimenta sensações
conscientes, de que já
não é capaz de
introduzir na sua
percepção pessoal
sensações que descuidara
durante muito tempo, de
que se tornou
anestesiado... A
anestesia histérica
constitui, portanto, uma
distração fixa e
contínua que torna aos
que dela padecem
incapazes de incorporar
à sua personalidade
certas sensações; é o
resultado de um
estrangulamento do campo
da consciência...”
114. A prova dessas
afirmações se baseia no
elevado número de
observações concordes
entre si, revelando que
a anestesia histérica
afeta com menor
profundidade a
personalidade do que a
verdadeira anestesia,
consequente de uma
perturbação nervosa ou
do seccionamento do
nervo. O histérico é
quase sempre
inconsciente de sua
anestesia, que só o
médico descobre e que em
nada se parece à
verdadeira anestesia, à
máscara tabética, por
exemplo, isto é, à
insensibilidade da
metade do rosto que com
frequência se observa na
tabes dorsalis. (3)
115. Um incidente
relatado pelo Dr. Janet
serve para ilustrar essa
particularidade: Uma
jovem feriu gravemente a
mão direita com pedaços
de vidro e queixou-se de
insensibilidade palmar.
O médico que a examinou
achou que a
sensibilidade da palma
da mão direita diminuíra
como consequência do
seccionamento de certos
nervos. Mas, ao mesmo
tempo, descobriu uma
insensibilidade
histérica na metade
esquerda do corpo.
Jamais a mulher dera-se
conta de tal
peculiaridade.
Assombrou-se o médico ao
vê-la queixar-se de
insensibilidade numa
parte tão
insignificante, como a
palma da mão, enquanto
que a da metade esquerda
do corpo não parecia
preocupá-la de nenhum
modo. Todavia, como
Pierre Janet observa, a
mulher poderia ter
resolvido que os fatos
eram assim e que o
médico era quem deveria
encontrar aquela
diferença.
116. Outra
particularidade: as
zonas e as placas
anestésicas da histeria
nem sempre estão, nem
ocasionalmente,
relacionadas com zonas
anatômicas definidas,
como sucede nos casos de
lesões nervosas. Com
maior frequência
acham-se dispostas de
forma arbitrária,
caprichosa, e as
indicações dadas pelos
pacientes poderiam ser
facilmente consideradas
como fantásticas e
imaginárias, se o médico
não fosse logo
constrangido a
convencer-se, pelo fato
de encontrar-se na
presença de efeitos
objetivos, mensuráveis,
suscetíveis de produzir
com frequência
perturbações mais
profundas, de certa
gravidade e duradouras.
117. Isso está de
acordo, por outro lado,
com a minha opinião, no
que diz respeito ao que
chamei de camada
hipnótica da
personalidade.
Considero, com efeito,
que a região acessível à
sugestão hipnótica
apresenta uma estranha
mistura de força e
debilidade, que possui
faculdades cada vez mais
potentes e menos
coerentes que as do
nosso estado de vigília.
Creio que nesses casos o
eu subliminar se
comporta aproximadamente
do mesmo modo que o eu
supraliminar, quando os
centros de nível
superior permanecem
inativos durante algum
tempo (por exemplo no
sonho) e os centros de
nível médio operam sem
inibição nem
coordenação.
118. Vejo aí a
explicação dos estranhos
contrastes que
observamos durante a
hipnose, a de profundo
domínio sobre o
organismo e a assombrosa
facilidade com que o
sujeito obedece
passivamente às menores
indicações do
hipnotizador. A
inteligência que reage
desse modo não é, para
mim, mais do que uma
inteligência
fragmentária; é um
pedaço do eu subliminar
funcionando como num
estado de sonho, fora do
controle do eu central e
profundo.
119. Da mesma forma que
o sujeito hipnotizado
obedece aos caprichos do
hipnotizador, o sujeito
histérico obedece aos da
camada hipnótica. Algum
centro de nível médio do
eu subliminar (para
expressar uma ideia
difícil, com a primeira
frase que me vem à
memória) sugere a noção
de que existe, por
exemplo, um bracelete
anestésico em torno do
punho esquerdo, e eis
que o fato parece
realizado e o sujeito
perde a consciência de
todas as sensações que
se produzem no nível
dessa zona fantástica.
Esses fatos adquirem
maior interesse por
estabelecer uma divisão
do corpo humano baseada
não sobre a zona nervosa
local, mas sobre a
ideação, que de resto
nem sempre é coerente.
120. A anestesia
histérica é
caracterizada, portanto,
pelo fato de que a
porção da faculdade de
percepção sobre a qual o
indivíduo perdeu todo o
poder de controle, na
realidade, não
desaparece, mas é
imediatamente deslocada
para baixo do limiar da
consciência, sob a
guarda, por assim dizer,
de um estado hipnótico
do eu subliminar que se
apropriou dessa
categoria de percepções,
seja por razões de fácil
discernimento, em
virtude, por exemplo, de
sugestões sofridas ou
por razões que nos são
desconhecidas. Se assim
é, podemos esperar que
as mesmas sugestões que
começaram por separar
tal grupo de percepções
da massa total, possam
também favorecer a
aparição delas, seja
sobre ou sob o limiar da
consciência.
121. O estudo do estado
do campo visual dos
histéricos mostra, com
efeito, que as
percepções submersas não
cessam de manifestar sua
atividade.
Frequentemente sucede
que o campo visual
diminui até o ponto em
que o sujeito não mais é
capaz de distinguir os
objetos colocados
diretamente diante dos
olhos. Mas, quando um
objeto suscetível de
particularmente excitar
a camada hipnótica, como
por exemplo o dedo do
hipnotizador, que,
geralmente, serve de
sinal para a aparição da
hipnose, coloca-se na
parte do campo visual
que parece ter escapado
ao controle da
consciência, produz-se
de imediato uma
percepção subliminar
provada pelo fato de que
o sujeito não tarda em
cair num sono hipnótico.
122. Igualmente, pela
persistência da ação das
percepções submersas,
explica-se o fato de
que, apesar da anestesia
com frequência muito
pronunciada, senão
total, de seus membros,
os indivíduos histéricos
poucas vezes estão
expostos aos acidentes,
às queimaduras, etc.,
que são, ao contrário,
muito frequentes entre
os siringomiélicos. (4)
123. Basta, por outro
lado, atrair mediante um
estímulo qualquer a
atenção do histérico
sobre o seu membro
anestesiado para que as
sensações submersas
subam novamente à
consciência
supraliminar. Exemplo
disso é a enferma de
Pitres, afetada por
cegueira histérica no
olho esquerdo. Sobre um
lençol colocado diante
dela escrevia-se uma
palavra ou uma frase,
mas de modo que o seu
olho direito, que estava
são, não pudesse ler
mais do que a metade.
Forçando sua atenção,
conseguia valer-se de
seu olho esquerdo cego e
ler a frase inteira.
(Continua no próximo
número.)
Notas:
(1) Dimorfismo:
aparecimento de duas
formas diferentes de uma
determinada
característica, dentro
de um mesmo grupo.
(2) Agorafobia: medo
mórbido e angustiante de
lugares públicos e
grandes espaços
descobertos.
(3) Tabes dorsalis:
neuropatia crônica
devida a infecção pelo
Treponema pallidum, e em
que se observam lesões
degenerativas na medula
espinhal e em troncos
nervosos sensitivos;
clinicamente,
observam-se fortes
crises dolorosas,
distúrbios sensitivos,
distúrbios funcionais de
vários órgãos, como, p.
ex., estômago e laringe,
e ataxia locomotora
progressiva.
(4) Siringomiélico:
pertencente ou relativo
à siringomielia, doença
do sistema nervoso na
qual a destruição da
substância cinzenta da
medula espinhal ocasiona
perda de sensibilidade à
dor e à temperatura; (Med.)
moléstia caracterizada
pela existência de
lacunas na substância
cinzenta da medula.