Pluralidade
As manchetes de
todo o globo
estampam a
fotografia
tirada por uma
sonda lançada à
Titã, lua de
Saturno repleta
de gás metano,
mostrando a um
mundo
estarrecido a
imagem de
animais
estranhos,
similares a
águas-vivas,
flutuando e se
alimentando
diante das
lentes curiosas
do engenho
terráqueo.
Não havendo o
que contestar,
as imagens caem
como uma bomba
nos países,
mesclando
comemorações com
protestos,
alguns
violentos,
insuflados por
comentários de
especialistas de
toda natureza.
Religiões
aparecem
tentando dar
explicações
estapafúrdias;
cogitam-se
suspeitas de
fraudes
conspiratórias;
as bolsas
quebram;
suicídios e
histerias
coletivas
ocorrem em
várias partes do
planeta.
Seres pacatos
flutuando nas
nuvens de metano
causam o caos em
mundo
egocêntrico,
localizado a
milhões de
quilômetros,
diante de uma
verdade sabida e
negada, que pela
sua força causa
a quebra de
paradigmas e
desequilibra os
jogos de poder e
dominação
habituais, onde
a ciência mais
uma vez muda as
relações entre
os povos sem
pedir licença,
dessa vez sem a
mordaça da
fogueira.
A narrativa
desses três
parágrafos,
apesar do seu
fundamento
científico sobre
a lua de Saturno
e sua
composição, é
uma obra de pura
ficção, fruto da
imaginação do
autor desse
texto. Em uma
predição de como
reagiria nosso
mundo à questão
patente da
pluralidade dos
mundos
habitados, nesse
universo de
tamanho
insondável, só
resta ao autor
um cenário
pessimista, de
caos e confusão.
Enquanto escrevo
essas linhas
proféticas, a
sonda
estadunidense
“Curiosity”
pousa no solo
marciano com
sucesso, com um
diferencial de
que esse
artefato busca
estudar o mesmo
metano, presente
também em Marte,
na busca de
desvendar as
hipóteses de
vida no planeta
vermelho,
hipótese que
anima
pesquisadores e
investimentos
estatais.
Mas, onde
encontrará a
vida? A vida se
faz presente em
nosso planeta em
várias
condições,
formas e
tamanhos. Mesmo
no calor intenso
e no frio
extremo, na
falta do
oxigênio ou de
luz, diversos
estudos
demonstram
organismos vivos
que se adaptaram
e sobreviveram
nas condições
mais adversas.
Ainda que
negados, os
estudos de
Darwin explicam
o sem-número de
fósseis de seres
que aqui já
viveram,
reforçando a
pluralidade de
formas de vida
que abriga a
crosta de nosso
orbe, hoje e no
passado.
Da mesma forma,
a cada dia
descobrimos uma
nova fronteira
de nosso
universo, nos
relembrando que
estamos
distantes de
sermos os
maiores, os mais
brilhantes ou
mais centrais na
miríade de
galáxias que
pululam na lente
de cada novo
telescópio
desenvolvido.
Passamos agora a
descobrir
planetas,
encontrando em
cada estrela um
conjunto de
globos que
mostram que o
nosso sistema
solar não é uma
aberração e sim
mais um sistema
entre tantos
outros.
Tudo isso
demonstra que
estamos cada vez
mais perto da
confirmação do
que já sabemos:
que não estamos
sozinhos no
universo! Não
adentrarei a
casuística dos
estudos
ufológicos e dos
seus sem-número
de casos
inexplicados, no
presente e no
passado.
Deter-me-ei
apenas na
constatação de
que a vida é um
fenômeno
surpreendente e
que não pode
ficar restrita a
esse pequenino
planetinha azul,
por uma simples
questão de
lógica, diante
do tamanho do
universo e da
existência de
Deus.
Apesar da grande
quantidade de
filmes que
tratam desse
assunto no campo
da ficção,
percebo ainda
que o mundo está
distante de um
amadurecimento
que permita
receber a
notícia do “dia
em que faremos
contato” com
mansidão. Não é
uma questão de
medo de uma
invasão,
enxergando mais
uma vez o homem
no alienígena.
Trata-se de uma
verdade incômoda
para as
concepções
religiosas
predominantes,
muitas delas
ligadas ao poder
político, pois
estas se
fundamentam em
deuses
encarnados em
nosso planeta e
povos eleitos do
universo, na
visão estreita
que nos rememora
a Idade Média.
O Espiritismo,
vanguardista em
muitas de suas
concepções,
incorporou em
seu cabedal de
ideias básicas a
pluralidade dos
mundos
habitados,
consoante com a
sua construção
doutrinária de
um Deus amoroso,
e a concepção de
progresso e da
reencarnação.
Conforme dito em
O Evangelho
segundo o
Espiritismo: “A
casa do Pai é o
Universo. As
diferentes
moradas são os
mundos que
circulam no
espaço infinito
e oferecem, aos
Espíritos que
neles encarnam,
moradas
correspondentes
ao adiantamento
dos mesmos
Espíritos”,
rompendo de vez
a nossa visão
etnocêntrica de
se achar o
centro do
Universo, ainda
que isso não
diminua o amor
de Deus por nós.
Refletir sobre o
universo em uma
noite
estrelada... Ver
no firmamento a
nossa grandeza e
a nossa
pequenez.
Sentir-nos como
um viajante
nessa jornada
entre vidas e
planetas, na
busca de
conquistar a
angelitude. Em
cada mundo, uma
comunidade,
crescendo rumo à
perfeição. Não
sabemos se nessa
encarnação
veremos o dia da
consagração da
pluralidade dos
mundos
habitados, pelo
contato com
outros seres,
mas esperamos
que as
descobertas que
já vieram e
ainda estão por
vir contribuam
não só para a
nossa
curiosidade, mas
para o
entendimento da
nossa natureza
como Espíritos
imortais, no
universo a
caminho da luz.