Quem poderia, em sã
consciência, dizer: “No meu
lar não existem Espíritos
inferiores a
influenciar-nos”. Quem, em
sã consciência, poderia
dizer: “Em meu lar, todos
que ali vivemos já quitamos
nossas dívidas com as
sombras de nosso passado,
não havendo condições para
obsessões ali”.
O momento por que passa
nosso mundo, ao contrário
desses raciocínios, mais nos
leva a crer que dificilmente
haverá uma só família neste
planeta que esteja isenta da
influência de Espíritos
inferiores.
No livro “Árdua Ascensão”,
psicografado por Divaldo
Pereira Franco, o célebre
Victor Hugo conta um trecho
da história de Chico Xavier,
com o pseudônimo de Armindo,
que assiste, dentro de sua
casa, uma de suas irmãs
grávida do Espírito
Robespierre (um dos vultos
da Revolução Francesa), ser
muitas vezes atacada por
mais de uma centena de
entidades desejosas de
vingança. Chico, com o
auxílio de Emmanuel, seu
guia espiritual, Dr. Bezerra
de Menezes e outros
benfeitores, passou anos num
trabalho árduo de
desobsessão.
É dever de todo espírita
responsável, com os
conhecimentos da Doutrina
que abraça, proporcionar o
ambiente e as condições
favoráveis, dentro da
Instituição da qual
participe, para auxiliar,
com o amor e a caridade
preconizada pelo Evangelho
de Jesus, e exemplificada
pelo próprio Mestre quando
diante dos atormentados
dessa natureza, no auxílio
dessas pessoas, sejam elas
os obsessores ou os
obsidiados.
Há pessoas que preconizam a
extinção dessas reuniões de
auxílio, conhecidas em nosso
meio por reuniões mediúnicas
de desobsessão, alegando que
o dever maior da Casa
Espírita é o estudo da
Doutrina, quando Allan
Kardec, no conjunto de sua
obra, nos mostrou que a
Doutrina Espírita deve ser
estudada para ser praticada,
com base nos seus
fundamentos, não mais nas
superstições ou crenças que
ignoram as leis divinas.
Reservamos, na coluna desta
semana, o início dos
trabalhos de Chico Xavier,
na cidade de Pedro Leopoldo,
Minas Gerais. E, como não
poderia deixar de ser, com a
mediunidade em serviço de
auxílio aos obsidiados.
Ouçamos a história contada
por Ramiro Gama, em seu
livro “Lindos Casos de Chico
Xavier” (Editora LAKE):
– Em fins de 1927, o Centro
Espírita Luiz Gonzaga, então
sediado na residência de
José Cândido Xavier, que se
fez presidente da
Instituição, estava bem
frequentado.
Muita gente.
Muitos candidatos ao serviço
da mediunidade.
Muitas promessas.
José era irmão do Chico e na
residência dele
realizavam-se as sessões
públicas nas noites de
segundas e sextas-feiras.
Em cada reunião, ouviam-se
exclamações como esta:
– Quero ser médium
psicógrafo!...
– Quero desenvolver-me na
incorporação!...
– Precisamos trabalhar
muito...
– Não será interessante
fundar um abrigo ou um
hospital?
O entusiasmo era grande
quando, em outubro do mesmo
ano, chegou a Pedro Leopoldo
Dona Rita Silva, sofredora
mãe com quatro filhas
obsidiadas. Vinham, ela e o
irmão Saul, tio das doentes,
da região de Pirapora, zona
do Rio São Francisco, no
norte mineiro.
As moças, em plena alienação
mental, inspiravam
compaixão. Tinham crises de
loucura completa, Mordiam-se
umas às outras. Gritavam
blasfêmias. Uma delas
chegara acorrentada, tal a
violência da perturbação de
que era vítima.
O Espírito de Dona Maria
João de Deus explicou pela
mão de Chico:
– Meus amigos, temos
desejado o trabalho e o
trabalho nos foi enviado por
Jesus. Nossas irmãs doentes
devem ser amparadas aqui no
Centro. A fraternidade é a
luz do Espiritismo.
Procuremos servir com Jesus.
Isso aconteceu numa noite de
segunda-feira.
Quando chegou a reunião da
sexta, José e Chico Xavier
estavam em companhia das
obsidiadas sem mais
ninguém...