ANDRES GUSTAVO
ARRUDA
andres.gustavo57@hotmail.com
Caxias do Sul,
RS (Brasil) |
|
Espiritismo
ou Kardecismo?
“Diremos,
portanto, que a
Doutrina
Espírita – ou o
Espiritismo –
tem por
princípio as
relações do
mundo material
com os Espíritos
ou seres do
mundo invisível.
Os adeptos do
Espiritismo
serão os
espíritas, ou,
se o quiserem,
os
espiritistas.”
(Allan Kardec,
“O Livro dos
Espíritos”,
Introdução ao
estudo da
Doutrina
Espírita.)
Para se fazer
alusão à
Doutrina
Espírita, não
raro, utiliza-se
o termo
Kardecismo, fato
este que acaba
tisnando, de
alguma sorte, o
verdadeiro
sentido da
Doutrina dos
Espíritos,
gerando alguns
inconvenientes
que, conquanto
alguns
considerem de
pouca monta,
obnubilam, de
certo modo, o
entendimento
real e profundo
dessa doutrina
que tanto
esclarece e
consola a
Humanidade.
Anotemos, desde
logo, que não
nos move o
desígnio de
ofender –
tampouco de
menosprezar – as
pessoas que se
utilizam do
termo em
questão, mas
tão-somente de
esclarecer o
equívoco dessa
denominação e,
ao demais, de
demonstrar que o
Espiritismo é
uma coisa só.
Disso resulta
que são
injustificáveis
as adjetivações
que alguns
espíritas e
espiritualistas
fornecem para
designar a
Doutrina
Espírita. Eis
alguns exemplos:
“Espiritismo
científico”,
“Espiritismo
laico”,
“Espiritismo de
mesa branca”,
“Espiritismo de
Umbanda” etc.
Por outro lado,
é verdade que
Kardec
utilizou-se dos
termos
Espiritismo
Experimental e
Espiritismo
Prático, com o
fito de aludir à
práxis
mediúnica, e,
igualmente, ao
laboratório do
mundo invisível.
Todavia, essas
duas
denominações
usadas por
Kardec não
maculam, de
forma alguma, o
conceito de
Espiritismo, ao
contrário das
outras citadas
anteriormente,
que trazem
consigo celeumas
terminológicas
desnecessárias,
além de
confundir os
neófitos no
estudo da
doutrina,
incapazes de
discernir o que
é ou não
Espiritismo, por
não possuírem o
que se denomina
de “consciência
doutrinária”, e
que, em
decorrência
disso, entendem
a Doutrina dos
Espíritos como
sendo mais uma
seita carregada
de misticismo e
práticas de
culto exterior.
Ressaltemos, por
oportuno, que o
termo
Espiritismo
constitui-se
em neologismo
criado pelo
Codificador para
denominar a nova
ciência,
dando-lhe uma
significação bem
definida,
“deixando
para
espiritualismo
sua
significação
própria”
(grifamos). Um
dos
inconvenientes
da utilização do
termo Kardecismo
é o fato de se
compreender a
Doutrina
Espírita como
sendo obra de um
homem – Allan
Kardec –
conforme leciona
Herculano Pires:
Todos podem dar
a sua
contribuição à
obra de
divulgação do
Espiritismo em
nosso tempo,
dentro de suas
possibilidades
de experiência e
conhecimento.
Todos podem
ajudar as novas
gerações a
encontrar as
relações das
novas conquistas
da cultura com
os princípios
espíritas ou, de
outro lado, a
encontrar as
antecipações
dessas
conquistas no
Espiritismo. Mas
ninguém tem
condições
intelectuais e
espirituais para
superar Kardec –
simplesmente
pelo fato de que
Kardec não é um
autor isolado,
um solitário do
pensamento, mas
o Codificador,
assessorado na
Terra pelos
companheiros de
missão e
assistido do
além pelos
Espíritos do
Senhor. A
obra que nos
deixou não é
dele, como ele
mesmo sempre o
afirmou, mas dos
seus mestres
espirituais. A
Doutrina que nos
legou não é o
kardecismo, mas
o Espiritismo,
ou seja, a
Doutrina dos
Espíritos.
(grifamos)
Como bem se vê,
não se pretende
aqui diminuir a
estatura
espiritual do
Codificador,
conhecida de
sobejo por
todos; pelo
contrário,
busca-se
enaltecer sua
condição de
missionário do
Alto. Nessa
linha,
transcrevemos as
palavras do
próprio Kardec:
O erro de todos
está na crença
comum de que a
origem do
Espiritismo é
uma só; tudo
se origina da
opinião
individual de um
homem. Daí a
ideia de que,
destruindo a
opinião do
homem,
aniquilariam o
Espiritismo.
Assim, pois,
buscam a ideia
na Terra, quando
ela está no
espaço; num
ponto
determinado,
quando se
encontra em toda
parte, uma vez
que os Espíritos
se manifestam em
todas as terras,
em todos os
países, nos
palácios e nas
choupanas.
A verdadeira
causa
determinante
está, por
conseguinte,
na natureza
íntima do
Espiritismo,
cujo impulso
progressista não
parte de um
homem único.
(grifamos).
Além do mais,
cabe aqui uma
pergunta: se
Kardec, quando
da definição,
não denominou a
nova doutrina de
Kardecismo, por
qual motivo os
espíritas,
atualmente, o
fariam? Alguns
confrades
argumentam que a
utilização do
termo Kardecismo
nos daria uma
ideia do que
seria a doutrina
“pura” (?!).
Deste nosso
olhar, os termos
Espiritismo,
Doutrina
Espírita ou
Doutrina dos
Espíritos
definem
claramente a
doutrina
codificada por
Allan Kardec.
Kardecismo é,
pois, uma
deturpação
conceitual.
Dissemos alhures
que o
Espiritismo é
uma coisa só. A
par disso,
compreende-se
que não se podem
separar os
aspectos da
Doutrina
Espírita. O
Espiritismo é,
concomitantemente,
Ciência,
Filosofia e
Religião. Daí o
inconveniente do
uso dos termos
‘’Espiritismo
científico’’ e
‘’Espiritismo
laico’’, haja
vista que o
Espiritismo, por
si só, é uma
ciência. Ao
demais, é
inverossímil não
reconhecer que o
Espiritismo é
uma doutrina que
possui
consequências
morais e
religiosas. Por
isso, o
Espiritismo é,
sim, uma
religião, mas
uma religião em
sentido amplo –
do ponto vista
filosófico – e
não uma religião
convencional, ou
seja, não é o
que o senso
comum define
como religião.
Em suma, não é
uma religião do
ponto de vista
usual.
No que concerne
à utilização dos
termos
“Espiritismo de
mesa branca” e
“Espiritismo de
Umbanda”, estes
podem levar as
pessoas que não
conhecem em
profundidade a
Doutrina
Espírita a
confundi-la com
a Umbanda e
outras seitas
que adotam
práticas
exteriores.
Necessários são
três
esclarecimentos:
1-) Espiritismo
e Umbanda não
são a mesma
coisa; 2-) A
Umbanda não é
corrente do
Espiritismo; 3-)
A Umbanda surgiu
no Brasil no
início do século
XX. O
Espiritismo –
como doutrina
filosófica e
moral, visto que
os fenômenos
espíritas sempre
existiram, e o
Espiritismo não
inventou os
Espíritos,
tampouco a
mediunidade –
surgiu na
França, em
meados do século
XIX. Portanto,
inexiste
“Espiritismo de
Umbanda”. Da
mesma forma, não
existe
“Espiritismo de
mesa branca”,
pois a chamada
mesa mediúnica
pode ser de
qualquer cor;
não é preciso
que se coloque
uma toalha
branca por sobre
a mesa. Ademais,
nos Centros
Espíritas não há
o uso de
paramentos ou
roupas
especiais.
Por derradeiro,
cumpre acentuar
que é dever de
todo espírita
sincero
preservar de
deturpações –
inclusive
conceituais – a
Doutrina
Espírita, cujos
postulados
iluminativos nos
conclamam a
viver, no mundo,
em espírito e
verdade, o
Evangelho do
Mestre Jesus.
Bibliografia:
KARDEC, Allan. O
Que é o
Espiritismo:
noções
elementares do
mundo invisível
pelas
manifestações
dos Espíritos;
tradução direta
do original
francês por
Wallace Leal V.
Rodrigues;
introdução de J.
Herculano Pires
– 28ª edição –
São Paulo: LAKE,
2011.
O Livro dos
Espíritos:
filosofia
espiritualista;
tradução de J.
Herculano Pires,
revista e
anotada pelo
tradutor para
esclarecimento e
atualização dos
problemas do
texto. – 67ª
edição – São
Paulo: LAKE,
2010.