EUGÊNIA PICKINA
eugeniapickina@gmail.com
Londrina, PR
(Brasil) |
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Caminhos e
sintonias
“A antiga
história de amor
entre a alma e o
coração regressa
sempre em vestes
renovadas.”
– Jalal ud-Din
Rumi
Estamos, na
condição de
passantes,
sujeitos ao
sofrimento, que
parece ser o
requisito
epifenomenal
para o
amadurecimento
psicológico e
espiritual. Esse
“decreto”
radical atinge o
ser humano
sempre que as
verdades
essenciais ao
seu crescimento
se tornam
fugidias...
Assim,
atravessar as
savanas do
sofrimento
talvez tenha
como objetivo
abrir o acesso
àquele interior
negligenciado
para o encontro
e a escuta, para
o florescer da
sabedoria, que
carrega consigo,
e de forma
espontânea, o
amor.
No entanto, se
as feridas
existenciais
amiúde nos
afetam de forma
profunda, apenas
a consciência
cada vez maior
nos dará
recursos para
nos percebemos
num contexto
mais amplo e,
consequentemente,
menos sujeitos
às ilusões e aos
apegos do
caminho.
Com isso, ainda
que de um modo
particular,
naturalmente
passamos a
encarar que,
além do nosso
círculo estreito
de interesses, o
real significado
do viver se liga
à decisão de
servir a uma
vida com
significado,
fecunda ao que é
essencial.
Como Zoran
Music, o pintor,
cuja história
mais expressiva
nasceu num campo
de morte, em
Dachau.
Deportado para
esse campo de
concentração aos
trinta e cinco
anos, por causa
de sua amizade
com homens de
resistência ao
nazismo e da sua
suspeita de
colaboração com
eles, nele
permaneceu
durante um ano.
Libertado, Music
se estabeleceu
em Veneza,
voltou a pintar
e encontrou Ida,
sua companheira.
Nos seus
relatos, Music
fala bem pouco
de si, mas
contou uma vez
numa entrevista:
"Foi lá que
encontrei a
minha verdade.
Antes da
deportação eu
não tinha a
mínima
personalidade,
deixava-me
influenciar por
isso ou aquilo".
Dachau ensinou a
Music a ver sua
solidão e a
deter-se nas
coisas
essenciais,
embora a visão
de horror e
morte guardada
para sempre em
seu inconsciente
– mas, através
de sua arte, sua
memória exerce
um testemunho de
amor e
compaixão.
Logo, querer uma
existência
tecida de
significado
tanto reforça
nosso
livre-arbítrio
quanto faz
ressoar um fato
singelo: somos
responsáveis por
tudo o que
criamos – por
meio do que
pensamos,
proferimos e
fazemos.
Logicamente,
quanto mais
disponíveis
somos ao
trabalho
interno, mais
cientes nos
tornamos sobre a
realidade de
nossa
experiência
presente,
sobretudo no que
se refere aos
relacionamentos
e às metas nas
quais estamos
envolvidos.
Ademais,
conscientizar-se
sobre "quem sou
realmente"
permite um
contato mais
honesto com as
intenções e as
motivações
(reais) que
mobilizam
tomadas de
decisão
cotidianas a fim
de sondar-se se
elas estão
alinhadas (ou
não) com "minha
verdadeira
natureza", o que
pode iluminar o
itinerário,
evitando
consequências
infelizes no
futuro.
Como medida de
apoio, podemos
incorporar que
temos um suporte
espiritual
oferecido a cada
um de nós
incondicionalmente.
E no lugar de
negar, resistir,
podemos, por um
ato inteligente,
abrir nosso
coração às
inspirações
construtivas
para recebê-las
agradecidos,
rompendo com a
crença de que o
caminho com
significado,
como também o
crescimento em
espiral, é
tecido apenas a
muito custo ou
como resultado
de um trabalho
expiatório ou
solitário.
Em verdade,
quando
resistimos ou
negamos a
presença
(invisível)
desse suporte
espiritual,
crises são
geradas e a
relação
interna/externa
adquire uma
paisagem
sombria, porque
orientado o
sujeito por uma
visão circular,
isto é,
encapsulada no
autocentramento.
Fechados à
dimensão
espiritual – e à
experiência
íntima do "religamento"
–, de formas
diversas nos
tornamos
impermeáveis ao
fluxo
eu-tu-nós.
Desperdiçamos a
oportunidade de
realizar nosso
potencial divino
como cocriadores
deste planeta,
pois não
encarnamos
plenamente
nossos
potenciais
serviços e nossa
cota
(indispensável)
de amor e
compaixão.
De forma
simples, o que
nos cabe? Buscar
realizar uma
existência com
significado e,
desse modo,
contribuir de
forma ética e
afetiva com a
experiência
comunitária, que
abarca destinos
e sintonias, que
se cruzam a cada
instante.