RICARDO ORESTES FORNI
iost@terra.com.br
Tupã, SP (Brasil) |
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Vingança
“A sede de vingança é
lamentável conduta
espiritual que termina
por afligir aquele que a
vitaliza (dá força)
interiormente.” – Joanna
de Ângelis.
A revista VEJA,
em sua edição 2281, de 8
de agosto de 2012,
páginas 152 a 158, traz
uma abordagem sobre o
sentimento de vingança
utilizado em muitas
telenovelas que atingem
um alto índice de
audiência. Inclusive um
desses teledramas que
está sendo exibido por
uma determinada
emissora, atinge oito de
dez lares pesquisados no
horário, por estabelecer
sintonia com os
sentimentos que
abrigamos dentro de nós,
apesar de mais de dois
mil anos de Cristianismo
que nos orienta, através
da figura excelsa de
Jesus, que devemos nos
reconciliar o mais cedo
possível com os nossos
adversários. A
manutenção dessas
desavenças e da busca
pela vingança atravessa
séculos e séculos,
impondo ao vingador e à
sua vítima a mesma
quantidade de tempo de
sofrimentos
indescritíveis através
do fenômeno descrito e
documentado pela
Doutrina Espírita, que é
a obsessão em seus mais
variados níveis de
envolvimento.
Segundo dados contidos
nessa reportagem da
revista, uma experiência
conduzida em 2004 pela
Universidade de Zurique,
na Suíça, demonstrou que
a vingança desencadeia
um efeito concreto no
organismo. Com o uso de
exames de ressonância
magnética, constatou-se
que a satisfação desse
desejo ativa a área do
córtex cerebral
relacionada à sensação
de recompensa, aliás,
uma das regiões mais
primitivas e ancestrais
do cérebro humano. Assim
como ocorre quando se
ingerem doces, se faz
sexo ou se usam drogas,
a vingança provocaria
uma descarga de um
hormônio ligado ao
bem-estar, a dopamina. A
vingança, continua a
mesma reportagem, é a
justiça em estado bruto
– como resume o filósofo
Denis Rosenfield. Já o
filósofo inglês Francis
Bacon, no século XVI,
classificava a vingança
como a justiça selvagem.
Quando a impunidade
ocorre, por exemplo, ela
exacerba o sentimento de
vingança como ocorre em
muitos crimes,
infelizmente, ainda hoje
em dia, embora os
maiores recursos
técnicos na busca de
provas que incriminem o
culpado. Entretanto,
graças ao código penal
vigente, os advogados
habilidosos conseguem
uma interpretação,
dentro da própria lei,
para livrar ou atenuar a
pena dos seus clientes.
A mais antiga tentativa
conhecida para
equacionar a questão das
desavenças entre os
seres humanos é a lei de
talião, descrita no
chamado Código de
Hamurabi, embrionária
peça de direito oriunda
da Babilônia e datada do
ano 1780 a. C. Essa lei
preconiza o famoso “olho
por olho, dente por
dente” que Jesus veio
transformar no amor aos
inimigos. Ele nos propõe
a reconciliação enquanto
estamos em trânsito
junto àqueles a quem
ofendemos, evitando a
perpetuação do ódio e a
sua transferência de uma
existência para outra.
Conforme nos explica a
Doutrina Espírita, morta
a cobra não está morto o
veneno, ou seja, com a
desencarnação, o ódio
continua nos sentimentos
daquele a quem ferimos,
voltando-o contra nós em
algum momento de nossa
existência, no exercício
da vingança através dos
fenômenos obsessivos de
triste curso, geradores
de grandes sofrimentos e
difíceis soluções.
A transferência da
justiça para as mãos de
um código penal já foi
uma grande evolução
conseguida pela
Humanidade que trocou o
“dente por dente, olho
por olho”, por leis onde
o julgamento não fica
restrito na perigosa
faixa entre duas
pessoas: o agressor e o
agredido. O
aperfeiçoamento
gradativo desse código e
a sua aplicação
funcionarão como um
remédio salutar contra o
sentimento de vingança.
Na medida em que a
impunidade for sendo
eliminada e o culpado
justiçado com base nas
provas levantadas, um
sentimento de paz e
confiança se instalará
entre os homens, dando
condições de que as
orientações de Jesus se
instalem nos corações
feridos reciprocamente.
Enquanto isso não
ocorre, como ensina
Joanna de Ângelis, o
outro, o inimigo,
experimenta qualquer
desar (vergonha),
tormento ou provação, o
enfermo que se lhe opõe
experimenta uma alegria
íntima muito grande como
compensação da
inferioridade na qual
estagia. É exatamente
nesse sentimento de
alegria interior que a
desgraça do agressor
causa à sua vítima que
poderemos entender como
podemos amar ao inimigo
no atual estágio
evolutivo em que nos
encontramos. Amar ao
inimigo, na atualidade
de nossa evolução moral,
é não nos sentirmos
felizes quando esse
inimigo estiver
recolhendo da vida,
através da dor, aquilo
que livremente semeou.
Para a imensa maioria da
Humanidade atual, essa é
a maneira possível de
amar aqueles que nos
causaram algum mal. Amar
verdadeiramente, como
Jesus nos orientou,
ainda é impossível, pelo
menos para grande parte
da população terrestre.
Lembremos que o
teledrama que aborda a
vingança e que está
sendo exibido por um dos
canais de televisão
atinge o elevado índice
de oito lares em cada
dez pesquisados. O
porquê dessa audiência,
dessa afinidade com o
tema é exatamente o
prazer citado pela
experiência conduzida na
Universidade de Zurique,
através da liberação da
dopamina no córtex
cerebral das pessoas. E
isso considerando que
esses lares estão
assistindo apenas a uma
ficção. Imaginem se
estivessem envolvidos em
um drama real!
Enquanto não conseguimos
amar àqueles que nos
ofendem,
reconfortemo-nos com as
explicações de Jesus no
auge de sua agonia:
“Pai, perdoai-lhes,
porque eles não sabem o
que fazem”. E como,
realmente, não sabemos!