MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil) |
|
Sexo e Destino
André Luiz
(Parte
8)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Sexo e Destino,
de André Luiz,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1963 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Um Espírito irritado,
exasperado, pode
prejudicar fluidicamente
uma pessoa enferma,
mesmo contra sua
vontade?
Sim. Foi isso que André
Luiz disse ao seu colega
Neves. Era preciso que
ele se asserenasse,
porque estavam ali para
ajudar, proteger,
realizar o bem, mas sua
irritação lhe azedaria o
ânimo e então, de
sentimento azedado,
lançaria sobre a filha
enferma ingredientes
fluídicos de índole
negativa, arruinando-lhe
as forças. André disse,
ainda, que a exasperação
ou o desânimo, da parte
deles, marcariam o
término de suas
possibilidades de
cooperação.
(Sexo e Destino,
capítulo VIII, pp. 78 e
79.)
B. Usada por André Luiz,
que significa a
expressão “possessão
partilhada”?
Ele usou essa expressão
para definir a situação
de Cláudio, pai adotivo
de Marita, quando ele
pediu-lhe que ela lhe
abrisse a porta do
quarto. Cláudio entrou,
mas não vinha só, pois
um companheiro
desencarnado
enrodilhava-se ao seu
corpo. O verbo
enrodilhar-se
pareceu-lhe, em nossa
linguagem, o mais
adequado à definição
daquela ocorrência de
"possessão partilhada",
embora não exprimisse,
com exatidão, todo o
processo de enrolamento
fluídico em que se
imantavam Cláudio e a
entidade desencarnada. A
expressão "possessão
partilhada" ele a
utilizou porque ali um
aspirava ardentemente
aos objetivos desonestos
do outro,
completando-se,
euforicamente, na
divisão da
responsabilidade em
quotas iguais. Qual
acontecera no instante
em que bebiam juntos,
forneciam a impressão de
dois seres num corpo só.
(Obra citada, capítulo
VIII, pp. 80 a 82.)
C. Como era nessa
ocasião o ambiente no
lar de Marita?
Péssimo. Em seu lar já
não havia nenhuma
ligação afetiva mais
séria entre os pais
adotivos. O casamento
deles desmoronara havia
muito tempo. Após as
rixas e discussões
iniciais, a indiferença
e o cansaço um do outro
fizeram com que Cláudio
e Márcia, sua esposa,
trilhassem caminhos
diferentes e Marina,
filha do casal, seguiu
os exemplos da mãe. Em
casa, habitualmente
reuniam-se à mesa os
três, pais e filha, à
feição de três animais
inteligentes,
dissimulando o desprezo
recíproco, através da
convenção ou do chiste.
(Obra citada, capítulo
VIII, pp. 86 e 87.)
Texto para leitura
36. Neves se
surpreende com o caso de
Marita -
Reconhecendo que Marita
chorava, em prostração,
visivelmente distanciada
do exame que lhe fora
permitido desenvolver,
André concluiu a
pesquisa. Neves estava
perplexo com o rumo dos
acontecimentos, visto
que Gilberto era seu
neto. "Há dias – disse
ele – , tento confortar
minha pobre Beatriz, só
isso. Não fazia a menor
ideia das perturbações
que a rodeiam... Ah!
meu amigo, como pai,
estaria agora mais
consolado se a visse
agonizando numa casa de
loucos!..." Marita,
segundo o parecer de
André Luiz, fora
sincera. Expusera o que
sabia. Ela era apenas um
pedaço da verdade que os
dois procuravam. Para
descobrir a verdade
toda, era inevitável
consultar as demais
pessoas envolvidas na
trama. Neves olhou,
compadecido, para a
jovem em pranto e
salientou: "Veja esta
menina. Correta,
fiel... Submeteu-se,
confiante. Que culpa no
vaso de porcelana,
violentamente destampado
por um animal? E esse
animal é um garoto que
eu amo tanto!... Ela
poderia ser a esposa que
idealiza, mãe digna,
dona de casa para um
homem de bem... No
entanto, lá se vai
Gilberto, embeiçado por
uma pinoia. Marina e
Marita... Incrível hajam
crescido sob o mesmo
teto!" André rogou ao
companheiro asserenar-se.
Eles se achavam ali para
emendar, proteger,
realizar o melhor.
Certo, o bem suscetível
de ser plantado naquele
grupo redundaria em
socorro a Beatriz. Que
colocassem nela o
pensamento. A irritação
lhe avinagraria o ânimo
e ele, Neves, de
sentimento azedado,
lançaria sobre a filha
ingredientes fluídicos
de índole negativa,
arruinando-lhe as
forças. Paciência e
atividade fraterna
servir-lhes-iam de
apoio. Além do mais, não
se sabia até quando
perdurariam os
sofrimentos físicos de
Beatriz. Era
perfeitamente possível
fosse prolongado seu
prazo de permanência na
Crosta. (Cap. VIII, pp.
78 e 79)
37. Nosso
principal adversário
somos nós mesmos
- André Luiz lembrou ao
amigo que a exasperação
ou o desânimo, da parte
deles, marcariam o
término de suas
possibilidades de
cooperação. Os
supervisores que os
dirigiam, embora
compassivos e
prestimosos, os
removeriam da cabeceira
da doente, sem a menor
dificuldade, agindo
assim em proveito dela
mesma, impedindo os
prejuízos que lhe
adviriam de sua carga de
vibrações
desconcertantes. Era
preciso, pois, manter a
serenidade. Neves
recebeu a advertência
com paciência e rogou
compreensão. Tendo-se
retirado do convívio
familiar por longo
tempo, topava então, a
cada instante, com o
homem que fora:
comodista, agarrado às
raízes consanguíneas,
absorvido no bem-estar
dos que reputava como
sendo flores no tronco
do coração. Sabia-se em
prova árdua, mas, ao
jeito de qualquer homem
da Terra, encerrando
consigo méritos e
falhas, declarou-se
disposto a dominar-se,
pedindo a André o
auxiliasse de modo a
manter-se calado, na
presença dos
instrutores. A submissão
de Neves dava para
comover. André fê-lo
sossegar-se. Não era
preciso vexar-se daquela
maneira. Ele também
conhecia de sobra os
lances da batalha
interior, em que o
adversário somos sempre
nós mesmos, na arena das
qualidades inferiores
que é preciso sublimar.
Como Marita continuava a
chorar, André dispôs-se
a intervir. Foi quando
sucedeu algo inesperado.
Cláudio (o pai
adotivo da jovem)
bateu, de leve, à porta,
decerto incomodado pelo
som lastimoso daqueles
gemidos que a jovem
procurava, em vão,
reprimir. André e Neves
respiraram confortados.
Indubitavelmente, o
inquieto coração
paternal vinha ao
encontro da filha,
ansiando soerguer-lhe as
energias, e André mesmo,
através de estímulos
magnéticos, insistiu
para que ela atendesse.
Marita anuiu aos apelos
dos amigos invisíveis e
cambaleou, abrindo a
porta. Cláudio entrou,
mas não vinha só, pois
um dos dois companheiros
desencarnados, que lhe
alteravam a
personalidade,
enrodilhava-se-lhe ao
corpo. (Cap. VIII, pp.
80 a 82)
38. Um caso de
possessão partilhada
- André Luiz nos diz que
o verbo enrodilhar-se
pareceu-lhe, na
linguagem humana, o mais
adequado à definição
daquela ocorrência de
"possessão partilhada",
embora não exprimisse,
com exatidão, todo o
processo de enrolamento
fluídico em que se
imantavam Cláudio e a
Entidade. A expressão
"possessão partilhada"
ele a utilizou porque,
efetivamente, ali, um
aspirava ardentemente
aos objetivos desonestos
do outro,
completando-se,
euforicamente, na
divisão da
responsabilidade em
quotas iguais. Qual
acontecera no instante
em que bebiam juntos,
forneciam a impressão de
dois seres num corpo só.
Em determinados
momentos, o obsessor
afastava-se de Cláudio,
a distância de
centímetros, mas
continuava sempre a
enlaçá-lo, copiando
gestos de um felino.
Encarnado e desencarnado
achavam-se, entretanto,
irrestritamente
conjugados em vinculação
recíproca. Cláudio
tinha no semblante uma
expressão diferente.
Deixando-se
prazerosamente
senhorear, seu olhar
adquirira a turvação
característica dos
alucinados. Ele se
transfigurara. Estranho
sorriso franzia-lhe a
boca. Neves e André
estavam espantados.
Cláudio e o
vampirizador,
singularmente
brutalizados pelo desejo
infeliz, constituíam
juntos uma fera
astuciosa, calculando o
caminho mais fácil de
alcançar a presa. Um
clarividente encarnado
que fitasse o dono da
casa, naquela hora,
vê-lo-ia noutra máscara
fisionômica. A
incorporação
medianímica, espontânea
e consciente,
positivava-se em
plenitude selvagem. As
formas-pensamentos da
dupla davam conta de
suas intenções
libertinas, com
estruturas, cores,
ruídos e movimentos
correlatos, e era
possível também a André
escutar as vozes de
ambos, em diálogo
claramente perceptível.
As palavras escapavam do
crânio de Cláudio,
aparentemente
silencioso aos olhos de
Marita, qual se a cabeça
dele estivesse
transfigurada numa
caixa acústica de
aparelho radiofônico.
Magnetizador e
magnetizado denotavam
sensualidade do mesmo
nível. Recordando a
corrida à garrafa de
uísque, momentos antes,
André notou que a
diferença, ali, era que
Cláudio encontrava
recursos a fim de
parlamentar, dentro da
hipnose, que ele, aliás,
acarinhava. (Cap. VIII,
pp. 82 e 83)
39. O processo de
sedução pelo obsessor
- O obsessor discorria,
comovendo-o, no intuito
patente de arruinar-lhe
os restos do escrúpulo:
"Agora, agora sim!... O
amor, Cláudio, é isto...
Esperar, por vezes, anos
a fio, para dominar a
felicidade num simples
minuto. Existem
mulheres aos milhões;
entretanto, esta é a
única. A única que nos
poderá, enfim, aplacar a
sede". O vampirizador
continuou a falar numa
linguagem de nível muito
baixo, e depois
conclamou: "Vamos!
Marita é nossa,
nossa!... Somos homens
sequiosos,
sofredores..." As frases
que se seguiram
procuravam mostrar a
Cláudio a carência
afetiva em que este
vivia. "De que valiam –
disse-lhe o obsessor –
vencimentos fartos e
experiências de lupanar,
quando o amor verdadeiro
grita insatisfeito na
carne? Você vive no lar,
à moda de cão na
sarjeta. Escoiceado,
ferido... Marita é a
compensação." Cláudio
vacilou um momento e
respondeu-lhe: "Criei-a,
no entanto, como sendo
minha própria filha..."
O sedutor desencarnado
voltou à carga,
ironizando: "Filha? Mero
artifício social.
Apenas mulher. E quem
assegurará que ela
também não espera por
seu beijo com a sede da
corça, presa ao pé da
fonte?" Dividido
mentalmente em duas
personalidades
distintas, a de pai e a
de enamorado, Cláudio
argumentou,
desencorajando-se, pois
sabia que Marita
elegera Gilberto, o
rapaz a quem namorava.
Era impossível que o
amasse, a ele, Cláudio,
em segredo. Não alentava
dúvidas. Ciumento,
acompanhara-os,
discretamente, em alguns
passeios e notara-lhes
os gestos equívocos, a
ponto até de entender
que o estouvado namorado
deveria assumir com ela
compromisso. (Cap. VIII,
pp. 83 a 85)
40. Cláudio
desejava a filha adotiva
- Como era dado também à
vida noturna, Cláudio
passou a esbarrar com
Marina, sua filha, em
recantos de prazer, não
apenas na companhia de
Nemésio, seu chefe, mas
igualmente com
Gilberto, o filho. Os
desregramentos de Marina
haviam-se tornado para
ele em calamidades
inevitáveis. A
princípio,
atormentara-se. Ocorre
que em seu lar já não
havia nenhuma ligação
afetiva mais séria. Seu
casamento desmoronara
havia muito tempo. Após
as rixas e discussões
iniciais, a indiferença
e o cansaço um do outro
fizeram com que ele e
Márcia, sua esposa,
trilhassem caminhos
diferentes e Marina
seguiu os exemplos da
mãe. Em casa,
habitualmente reuniam-se
à mesa a esposa, Marina
e ele, à feição de três
animais inteligentes,
dissimulando o desprezo
recíproco, através da
convenção ou do chiste.
Marita, no conceito
dele, definia-se à
parte. Flor no ramo
espinhoso daqueles
antagonismos
flagelantes, ele a
encaminhou na direção do
serviço, fazendo com
que a jovem tomasse suas
refeições em Copacabana,
para que as picuinhas do
círculo doméstico, no
Flamengo, não lhe
torturassem o espírito.
Espiava-lhe os passos,
ouvia-lhe os chefes.
Amando-a com entranhado
carinho mesclado de
egoísmo tirânico,
feriam-lhe as
humilhações que a
esposa e a filha não
regateavam a ela, no
trato mais íntimo.
Cláudio queria-a para
ele, com a ternura de um
pombo e a brutalidade
de um lobo. Marita
acabou por utilizar a
liberdade mais ampla que
a situação lhe conferia,
aproximando-se ainda
mais de Gilberto.
Envolto nesses
pensamentos, que lhe
derivavam, rápidos, do
ligeiro autoexame, sob o
controle do vampirizador,
Cláudio recordou-se de
que houvera entendido,
dias antes, que Gilberto
não hesitava embair as
duas moças e, após muito
refletir, resolvera
silenciar. No íntimo,
desejava que Marita
fosse machucada pelas
circunstâncias, de modo
que, ao voltar-se para
ele, fatigada e
desiludida, lhe seria
fácil convertê-la na
amante a que aspirava.
(Cap. VIII, pp. 86 e 87)
(Continua no próximo
número.)