O Condor
levando ao céu a verde
estrela
Graças ao primeiro livro
psicografado e publicado
por Chico Xavier,
Parnaso de Além-Túmulo,
o grande médium
tornou-se alvo de
polêmica entre
pesquisadores da área de
Literatura e céticos,
embora contasse com a
admiração de muitos
espíritas. Com bem mais
do que uma centena de
poemas atribuídos a
diversos autores de
língua portuguesa, a
obra propôs alguns
difíceis desafios aos
amantes de Literatura
que ignoravam ou eram de
todo descrentes no
intercâmbio entre
encarnados e
desencarnados. Eis
algumas questões: Como
um só homem, sem
formação superior nem
tempo para dedicar-se ao
estudo da Literatura,
poderia escrever sozinho
tantos poemas, imitando
o estilo de mais de 40
autores? Como essa
imitação seria tão
convincente a ponto de
confundir especialistas,
de modo que estes não
soubessem distinguir um
poema autêntico de uma
imitação? Como a cultura
manifesta no conteúdo
dos poemas poderia
transcender os
conhecimentos do próprio
imitador? – isso para
citar as perguntas mais
simples de se formular.
E para que estas
colocações não fiquem
caracterizadas como
coisa escrita de
espírita entusiasmado
para espírita de fé
cega, basta lembrar que
esse tema figurou entre
as perguntas submetidas
ao próprio médium em
ocasião do programa
Pinga Fogo, que foi ao
ar em rede nacional, em
duas edições pela TV
Tupi, em 1971.
O
fato é que na obra estão
versos que vão de Abel
Gomes aos quartetos e
tercetos de um dos
maiores sonetistas
portugueses, Antero de
Quental. Sem considerar
inúmeros autores do
Romantismo brasileiro e
outros tantos poetas
que, se não foram tão
conhecidos, deveu-se
mais às circunstâncias
em que viveram do que à
falta de intimidade com
a linguagem poética. Só
Augusto dos Anjos, por
exemplo, possui ali o
suficiente para uma
pequena antologia de 31
poemas. E se o leitor
pode testemunhar nessa
coletânea os versos
simples, melódicos e
ritmados pela
religiosidade de uma
Auta de Souza, a poucas
páginas de distância,
poderá recordar-se do
verbo grandiloquente,
com apreço especial pela
história, do outrora
celebrado Poeta dos
Escravos, Castro Alves.
Certamente o espírita,
até este ponto do texto,
está sendo saciado com a
apreciação, ainda que
vaga, de tão importante
obra do Chico e dos
espíritos, no entanto
pode ser que o
esperantista se
pergunte: mais uma vez
Abel Gomes? E a
resposta, com todo
respeito ao querido
Abel, é não. Nesta seção
não será ele o ponto de
convergência entre
Espiritismo e Esperanto,
pois este importante
papel será deixado ao
baiano da chamada
geração condoreira.
Trata-se daquele que,
ainda na flor de sua
juventude, partiu da
paisagem terrena da
Pátria do Evangelho
antes de testemunhar a
abolição da escravidão e
o mundo novo, ainda em
vias de se concretizar,
profetizado em seus
próprios versos. Ele foi
o Condor da poesia
brasileira, cujo
vocabulário extenso e
trabalhado em ritmo
cadente orientava a
imaginação do espectador
de sua declamação num
voo sobre imensas
paisagens marítimas,
montanhas, desertos,
desde oásis do oriente
até os Andes americanos.
E então nova pergunta:
mas, se Castro Alves
morreu em 1871, o que o
Esperanto tem a ver com
isso?
Melhor seria perguntar a
ele, que do invisível,
pelas mãos de Chico, em
mais de uma ocasião,
escreveu sobre sua
futura encarnação e sua
relação com o idioma
internacional, a
doutrina dos Espíritos e
o Evangelho.
Quando eu voltar à
escola da aflição,
Trarei no olhar a luz
do Evangelho
E um novo mundo
surgirá do velho,
Por que vivi nas asas
da verdade.
Numa das mãos trago o
Esperanto – a União,
Na outra, o
Espiritismo e a
Caridade,
E o Evangelho a
cantar no coração.
Poema psicografado:
Esperanto - de Castro
Alves
O Esperanto –
mensageiro
De encantados tempos
novos
Erguerá nações e
povos
Do campo de lodo e
pó.
Da Harmonia
timoneiro,
Que os portos da paz
descerra,
Libertará toda a
Terra,
Na glória de um
mundo só!
Vemo-lo já, no
futuro,
Fulgente, impávido e
forte,
Vencendo a miséria e
a morte,
Luz fraterna em
sendas mil!
Chave de amor santo
e puro,
Abrirá caminhos
grandes,
Do altivo Himalaia
aos Andes,
Da Conchinchina ao
Brasil.
Nessa eminência
sublime
Do mundo
regenerado,
Não haverá Jovem
irado,
Cujos carros
fugirão;
Nem Babilônias do
crime
Bebendo em festins
sangrentos,
Nem purpúreos
paramentos
De senhores da
ilusão.
Seus luzidos
estandartes
Brilharão no mundo
inteiro,
Abolindo o
cativeiro
A que a maldade
conduz;
Convertendo os
Bonapartes
Em benfeitores
amados,
De canhões –
forjando arados,
De balas – penas de
luz!
Hífen de sol,
religando
Os Templos da
Humanidade,
De grande
fraternidade
Fazendo virtude e
lei;
Orgulho triste e
nefando,
Que torvas guerras
produzes,
Espadas, fuzis,
obuses,
Mentiras, trevas –
tremei!
Na Terra inda há
sombra inglória
Da noite do mundo
velho,
Embora seja o
Evangelho
O Amor que do Alto
reluz!
No limiar da
vitória
Das verdades do
Infinito,
Esperanto! Sê
bendito
Ao doce olhar de
Jesus!
Recebido pelo médium
Francisco Cândido
Xavier, na sessão
pública do Grupo
Espírita “Luiz Gonzaga”,
em 26-5-1947; in Castro
Alves e o Espiritismo,
Altamirando Carneiro,
São Paulo: FEESP, 1993.
Cap. 16.
Poema psicografado:
Quando eu voltar – de
Castro Alves
I
Quando eu voltar a ser
doce criança,
Enchendo a casa de
alvoroço e risos,
Colhendo rosas, cravos e
narcisos,
A palmilhar na Terra o
bom carreiro,
Hei de encontrar o Amor
e a Esperança,
Entrelaçando irmãos no
mundo inteiro.
II
Quando eu voltar ao orbe
velho e amigo,
Negro abismo dos erros e
das dores,
Palco de Lutas mil e mil
temores,
Onde tanto sofri... mas
amei tanto...
Hei de trazer, por Deus,
junto comigo,
O bálsamo que enxuga
todo o pranto,
Quando eu voltar ao orbe
velho e amigo.
III
Quando eu voltar a ter
matéria nova,
Moldável cera em santas
mãos plasmada,
Eu cresci já palmilhando
a estrada
Da Verdade e do Amor do
Cristianismo.
Hei de então, jovem,
são, nesta áurea prova,
Triunfante demonstrar
que o Espiritismo
É a doutrina do Cristo
que se renova.
IV
Quando eu voltar à terra
tenebrosa
Em cujas trevas, audaz,
firme mergulho,
Hei de ensinar que é
ignorância e orgulho
Egoísmo, ódio, ciúme e
crueldade.
Mostrarei que tem prova
dolorosa
Quem abusa da Lei da
Liberdade,
Quando eu voltar à Terra
tenebrosa.
V
Quando eu voltar à
escola de aflição,
Trarei no olhar a luz do
Evangelho
E um novo mundo surgirá
do velho,
Por que vivi nas asas da
verdade.
Numa das mãos trago o
Esperanto – a União,
Na outra o Espiritismo e
a Caridade
E o Evangelho a cantar
no coração.
(Castro Alves e o
Espiritismo, Altamirando
Carneiro, São Paulo:
FEESP, 1993. Cap. 16.)
Destacamos que nenhum
dos dois poemas consta
no livro Parnaso de
Além-Túmulo. No referido
livro, de Castro Alves
leem-se “Marchemos!” e
“A morte”.
André Luiz: prejuízo de
se enfatizar o mal
A cada semana, propomos
uma frase de André Luiz,
do livro Sinal Verde,
psicografado por Chico
Xavier, vertida ao
esperanto por Allan
Kardec Afonso Costa.
Nesta, apresentamos a
tradução da frase
proposta na semana
passada:
“La malgrandetaj
sinoferoj em familio
konstruas la bazon de la
feliĉo en la hejmo.”
“Os pequeninos
sacrifícios em família
formam a base da
felicidade no lar.”
Eis a mais nova:
“Ĉiam, kiam vi eĉ
nekonscie emfazas la
malbonon, vi já estas
detruanta la bonon.”
Até a próxima!