MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
|
Sexo e Destino
André Luiz
(Parte
9)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Sexo e Destino,
de André Luiz,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1963 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. É verdade que o
obsessor de Cláudio
demonstrava uma técnica
típica dos exploradores
consumados das paixões
humanas?
Sim. Ele procurava
seduzir Cláudio com
argumentos variados e
frases feitas,
demonstrando que tinha
experiência no assunto.
Não se tratava apenas de
um dipsomaníaco, ou um
vagabundo acidental. O
anseio incontido com que
impelia Cláudio para a
jovem Marita e a
expressão com que a
fitava, apaixonadamente,
pareciam chegar de muito
longe.
(Sexo e Destino,
capítulo VIII, pp. 87 a
89.)
B. As sugestões do
obsessor lograram o
resultado por ele
esperado?
Sim, embora Marita,
salva por um
acontecimento
inesperado, tenha
conseguido livrar-se do
assédio sexual inspirado
pelo companheiro
desencarnado de Cláudio.
Quando este, à
semelhança de um jovem
mal comportado,
enlaçou-lhe o busto,
André Luiz e Neves
saltaram na direção
dela, ofertando-lhe as
mãos, para que pudesse
arrancar-se dali.
Acreditando então
apoiar-se nos próprios
recursos, a moça
conseguiu levantar-se
num prodígio de
ligeireza, estacando à
frente de Cláudio, que a
fitava com a expressão
desconfiada de um animal
repentinamente ferido.
"Papai, não me faça mais
infeliz...", disse-lhe a
filha. "Poupe-me a
humilhação!...".
(Obra citada, capítulo
VIII, pp. 92 a 94.)
C. Que acontecimento
inesperado pôs fim ao
assédio sexual?
A jovem chorava e não
ousava erguer a fronte.
Neves, que a tudo
assistia, estava
revoltado. André,
temendo-lhe a
impulsividade, fê-lo
recordar as atitudes
ponderosas e cristãs do
irmão Félix,
informando-o,
discretamente, de que se
achava em oração, a
exorar o auxílio da
esfera superior, visto
que eles não dispunham
ali de maiores recursos
para impedir um assalto
passional de penosas
consequências. Neves
ironizou a atitude de
André, mas, de súbito, o
socorro apareceu.
Ouviu-se barulho de
ferrolho em ação e
alguém penetrou a casa,
ruidosamente. Cláudio,
em sobressalto,
desligou-se do obsessor,
que se lhe postou de
lado, um tanto
desenxabido. Marita,
recobrando energias,
voltou ao leito,
enquanto o chefe do lar
se recompunha à pressa,
libertando a porta que
havia prendido
anteriormente e abrindo
janela próxima. "Que é
que há?", indagou dona
Márcia, a esposa de
Cláudio, que voltara, de
imprevisto. Cláudio deu
uma desculpa qualquer,
alegando ter
surpreendido Marita a
gritar, inconsciente,
sonâmbula. Tudo estava,
porém, em ordem. A
jovem, mergulhada na
penumbra, cobriu o rosto
para ocultar as
lágrimas, enquanto dona
Márcia sorriu, sem
suspeitar dos fatos que
aconteceram naquela
noite em sua casa.
(Obra citada, capítulo
VIII, pp. 96 a 98.)
Texto para leitura
41. O sedutor
remata a sua obra
- Engodado pelo
vampirizador invisível,
Cláudio enfileirou as
reflexões apressadas que
lhe vinham à mente e,
assoprado agora por ele,
deixava-se iludir por
imaginosa expectativa,
formulando a si mesmo
outra espécie de
inquirições. Andaria ele
enganado? Marita
entregar-se-ia a
Gilberto, pensando nele,
Cláudio, de quem se
afastava tão-somente por
escrúpulos de
consciência? Ela, nas
últimas semanas,
fizera-se mais esquiva.
Por quê? Terá sido por
lhe recolher
telepaticamente as
impressões, ou porque
pretendia ocultar-lhe a
simpatia amorosa que lhe
impelia o coração a
desejá-lo? Cláudio mesmo
fornecia ao vampirizador
a argumentação que lhe
arruinava a
resistência. Até ali,
julgava ele, trancara
diante da jovem os
sentimentos que lhe
transbordavam do peito.
Não chegara, porém, aos
limites do enigma? O
hipnotizador, em cujo
semblante se podia ler a
desmesurada sede de
volúpia, sorriu
satisfeito e sussurrou
mentalmente: "Cláudio,
compreenda. Iniciativa,
em assunto de amor, não
é passo feminino. Velho
rifão: ‘laranja à
beira de estrada não tem
preço'. Disse um
filósofo: `prazer sem
conquista é bife sem
sal'. Adiante,
adiante!" Esquadrinhando
o imo do companheiro, à
caça de recursos com
que o próprio Cláudio
lhe pudesse fortificar a
posse magnética, o
obsessor cravou nele,
por segundos, o olhar
penetrante e começou a
martelar: "Cigarro!
Lembre-se do cigarro e
da boca! Marita é mulher
igual às outras...
Cigarro, cigarro na
vitrina... Cigarro,
cigarreira, piteira e
charuto não escolhem
comprador... A carne é
flor desabrochada na
terra do espírito, só
isso. O cultivador não
sabe o que seja a
formação essencial do
canteiro, tanto quanto
desconhece o que está no
fundo da planta.
Proclamava Salomão que
`tudo é vaidade';
acrescentamos que tudo é
ignorância. Entretanto,
na superfície das
situações e das coisas,
é possível enxergar
claramente. Flor que
ninguém colhe é perfume
que se perde. Hora de
amor desaproveitada vem
a ser pétala no estrume.
Rosa murcha, adorno para
o chão. Carne sem viço,
adubo para a erva.
Aproveite, aproveite..."
André percebeu que o
desencarnado demonstrava
técnicas de exploradores
consumados das paixões
humanas. Não se tratava
apenas de um
dipsomaníaco, ou um
vagabundo acidental. O
anseio incontido com que
impelia Cláudio para a
jovem e a expressão com
que a fitava,
apaixonadamente,
pareciam chegar de muito
longe. O excêntrico
dueto prosseguia... O
magnetizador
pressionava, o
magnetizado resistia...
Por fim, Cláudio avançou
dois passos, quase
vencido. A natureza
animal ampliara o
domínio. O sedutor
desencarnado rematava a
obra. (Cap. VIII, pp. 87
a 89)
42. Marita
pressente o perigo
- "Sim – deduzia
Cláudio, transtornado –
, ele era homem,
homem... Marita,
incontestavelmente mais
jovem, não passava de
mulher. Não lhe cabia,
portanto, diminuir-se.
Ela chorava, ele podia
acalentá-la, aquecer-lhe
o coração." Alucinado de
lascívia, envolveu-a em
longo olhar, inferindo
que, não fosse o temor
de vê-la fugir,
tomar-lhe-ia o colo
entre os braços, qual
guri destemeroso...
Cláudio sujeitava-se
então, totalmente, à
direção do vampirizador
que o comandava.
Colaram-se, fundiram-se,
enfim. Jungido ao
desencarnado infeliz,
adiantou-se até à moça
e, assumindo ares de
protetor, sussurrou,
adocicando a voz: "Pelo
que vejo, esse pilantra
do Gilberto vem
abusando..." Ato
contínuo, tomou-lhe a
destra, mal disfarçando
a lubricidade duplicada
que o possuía. Marita
registrou o impacto das
forças aviltadas a lhe
requisitarem adesão.
Escutara a observação
do pai adotivo, num
misto de estranheza e
revolta, mas,
controlando-se, passou a
responder, esforçando-se
por desculpar o rapaz e
atribuindo a si mesma o
desmantelo emotivo;
entretanto, à medida que
Cláudio dilatava a
liberdade das atitudes,
apagava-se-lhe a energia
para a conversação, até
que silenciou de vez.
Num átimo, realinhou na
mente as impressões
amargas dos últimos
tempos. Assinalara,
havia meses, a
reservada mudança do
trato paterno, mas se
opusera à suspeita. Ali,
no entanto, inexplicável
sensação advertia seu
espírito,
segredando-lhe
vigilância.
Pressentindo, em
espírito, a presença do
"outro", sem querer,
arregimentou todas as
suas forças na posição
de alarma, porquanto o
contacto de Cláudio
comunicava-lhe
insegurança. Percebendo
que o pai ensaiava meios
de enlaçá-la, ávido de
carinho, cobrou ânimo e
explicou-lhe
ingenuamente que amava a
Gilberto e lhe
hipotecava confiança, e
por isso o pai estivesse
tranquilo... (Cap. VIII,
pp. 90 e 91)
43. Cláudio
confessa por ela o seu
amor - Marita
entendeu que seria
oportuno desvelar ao pai
toda a sua alma,
anulando assim quaisquer
mal-entendidos, e
prosseguiu dizendo da
expectativa com que
aguardava o anel
esponsalício,
determinada a medir as
reações de Cláudio, a
fim de orientar, sem
tergiversações, a
própria conduta. O pai
mostrava, contudo, na
própria face, indignação
e ira, e sua explosão
não se fez demorar.
Irritado e cerrando os
punhos, exclamou:
"Percebo, percebo, mas
não precisa maçar-me...
Estimo, porém, que você
me conheça melhor o
devotamento". Avançando
na intimidade,
continuou, agindo por si
e pelo "outro": "Filha,
é necessário que você me
ouça, que me entenda...
Você não desconhece o
que sofro. Imagine a
tragédia de um homem que
morre, a pouco e pouco,
desolado, sozinho... de
um homem que dá tudo,
sem nada receber... Você
cresceu, vendo isso...
Infelicidade, solidão. É
impossível que não se
condoa. Esta casa é meu
deserto. Chego
esfalfado, diariamente,
sem achar mão amiga.
Márcia, embora
quarentona, vive de
jogatinas e festas...
Você está moça,
inexperiente, mas deve
saber. Desculpe-me o
desabafo, mas os
próprios amigos me
lastimam o drama..."
Cláudio alterara-se de
todo, comovido na
aparência, e a jovem
parecia sinceramente
compadecer-se com o que
ouvia. Imaginando ter
atingido o alvo, ele
acrescentou, exaltado:
"Só você, somente você
me prende ao lar
infeliz. Ainda agora, o
Banco me propôs
excelente comissão em
Mato Grosso; entretanto,
pensei em você e
desisti... Por você,
filha, tolero os
insultos de Márcia, as
ingratidões de Marina,
os dissabores da
profissão, os
aborrecimentos
cotidianos. Conseguirá
você compreender-me?" A
moça suspirou e disse
entender as dificuldades
a que ele se reportava,
e Cláudio, ganhando
energias novas para
chegar à meta, disse a
frase que objetivara
desde o início da
conversação: "Anseio
pelo instante em que
você me veja não
exclusivamente por
pai...", aditando: "Marita,
pareço um velho, mas
você me faz jovem... O
coração é seu, seu..."
(Cap. VIII, pp. 92 a
94)
44. "Um demônio
mora dentro de mim"
- Percebendo a intenção
inequívoca de Cláudio,
que arrojava o rosto
sobre o dela, Marita
gemeu, suplicante: "Não,
não!" O pai, copiando o
procedimento de um jovem
mal comportado,
enlaçava-lhe o busto,
mas André e Neves
saltaram na direção
dela, ofertando-lhe as
mãos, para que pudesse
arrancar-se dali.
Acreditando então
apoiar-se nos próprios
recursos, a moça
conseguiu levantar-se
num prodígio de
ligeireza, estacando à
frente de Cláudio, que a
fitava com a expressão
desconfiada de um animal
repentinamente ferido.
"Papai, não me faça mais
infeliz...", disse-lhe a
filha. "Poupe-me a
humilhação!..." Ao
impacto da recusa
imprevista, o dono da
casa pareceu desligar-se
do obsessor, mas este
trazia uma carga de
paixão vigorosa demais
para desistir facilmente
e retomou o próprio
domínio, a ponto de
antepor a máscara
fisionômica ao semblante
de Cláudio. Cerrava os
punhos, despedia cólera
letal e estabelecia,
assim, pavoroso
conflito na mente de
ambos. Num deles, o
desapontamento e o
desespero; no outro, a
malignidade e a
agressão. Incapaz de
compreender os
sentimentos
contraditórios que o
dominavam, o pai passou
a clamar, inconsiderado:
"Isto é a explosão de
muitos sofrimentos
acumulados. Fiz tudo
para esquecer e não
pude... Que fazer com
esta inclinação que me
arrasta? Sou palha no
vento, minha filha!
Desde que a vi menina,
carrego esta ideia
fixa... Se eu fosse
religioso, diria que um
demônio mora dentro de
mim. Um demônio que me
atira constantemente
sobre você". E explicou
que lera muitos livros
de Ciência para poder
entender o que ocorria,
mas o enigma continuava:
"É só você que eu vejo
em tudo! Odeio Márcia,
desprezo Marina... Tenho
acalentado a esperança
de uma viuvez que nunca
chega, a fim de
oferecer-me a você, sem
condições... Tenho
ciúmes, ciúmes que me
afogam a alma em
labaredas... Detesto
esse rapaz leviano,
inconsciente..." Nesse
ponto a voz de Cláudio
adquirira tom lacrimoso
e era evidente seu abalo
sentimental. O obsessor
duplicou então em
desprezo tudo o que ele
exprimia em emotividade,
provocando inesperada
reviravolta. No lugar do
pai enternecido, surgiu
o enamorado violento, a
esbravejar, dementado:
"Não, não posso
humilhar-me assim. Você
sabe que não sou nenhum
tonto. Há quinze dias,
acompanhei vocês dois a
Paquetá, sem que me
vissem... Segui-lhes o
passo descuidado e
feliz, como se eu fosse
um cão escoiceado pelo
destino... Ao cair da
noite, vi quando vocês
dois se enlaçaram,
trocando promessas e
falando bobagens, na
Ribeira... Arrastei-me
no matagal e vi tudo...
Desde então,
enlouqueci... Pelo
jeito, vocês andam
acanalhados, há muito
tempo... Você! você, que
eu supunha intangível,
entregue a um menino
doido!... Ingênua! Julga
que não tenho motivos
para expulsá-la! Você
imagina que me falta
coragem para chamar às
contas esse filho de
papai rico?” (Cap.
VIII, pp. 94 a 96)
45. De repente, o
socorro aparece
- Alterando o tratamento
paternal que lhe
dedicara anteriormente,
Cláudio rugiu,
brutalizado: "Marita,
fique sabendo que você
agora não é mais
criança! Você é apenas
mulher, não passa de
mulher, mulher..." A
jovem chorava e não
ousava erguer a fronte.
Neves, que a tudo
assistia, estava
revoltado. André,
temendo-lhe a
impulsividade, fê-lo
recordar as atitudes
ponderosas e cristãs do
irmão Félix,
informando-o,
discretamente, de que se
achava em oração, a
exorar o auxílio da
esfera superior, visto
que eles não dispunham
ali de maiores recursos
para impedir um assalto
passional de penosas
consequências. Neves
ironizou a atitude de
André, alegando que para
casos como aquele os
anjos nada podiam, só a
polícia... De súbito,
porém, o socorro
apareceu. Ouviu-se
barulho de ferrolho em
ação e alguém penetrou a
casa, ruidosamente.
Cláudio, em
sobressalto,
desligou-se do obsessor,
que se lhe postou de
lado, um tanto
desenxabido. Marita,
recobrando energias,
voltou ao leito,
enquanto o chefe do lar
se recompunha à pressa,
libertando a porta que
havia prendido
anteriormente e abrindo
janela próxima. "Que é
que há?", indagou dona
Márcia, a esposa de
Cláudio, que voltara, de
imprevisto. Cláudio deu
uma desculpa qualquer,
alegando ter
surpreendido Marita a
gritar, inconsciente,
sonâmbula... Sonâmbula
como sempre... Tudo
estava, porém, em ordem.
A jovem, mergulhada na
penumbra, cobriu o rosto
para ocultar as
lágrimas, enquanto dona
Márcia sorriu, sem
suspeitar, nem de leve,
dos fatos que
aconteceram naquela
noite em sua casa. (Cap.
VIII, pp. 96 a 98)
(Continua no próximo
número.)