JOSÉ PASSINI
passinijose@yahoo.com.br
Juiz de Fora, MG
(Brasil) |
|
Carta Fraterna
Cônscio da
responsabilidade
que cabe a todos
nós, espíritas,
no sentido da
manutenção da
fidelidade à
Doutrina que nos
ilumina os
caminhos, é que
tomamos a
liberdade de
trazer-lhe,
minha Irmã, meu
Irmão, algumas
considerações a
respeito do
cuidado que
devemos ter
quanto ao uso do
nome
“Espiritismo”.
No Espiritismo
não há
autoridades
religiosas que
devam ser
consultadas a
fim de darem seu
parecer
favorável ou
contrário a
qualquer
publicação, seja
livro, filme,
programa na
internet. Uma
das vigas
mestras da
estrutura do
Espiritismo é a
liberdade. Mas
essa liberdade
atribui, ao
mesmo tempo,
alta
responsabilidade
àqueles que
dirigem uma
instituição
espírita, seja
um centro, uma
editora, uma
livraria ou um
clube do livro,
pois que têm
responsabilidade
direta por
aquilo que é
passado ao
público, em nome
do Espiritismo.
Uma análise
criteriosa de
algo passado ao
público em nome
da Doutrina é,
não raro,
tachada de
intolerância, de
censura. Se a
obra em questão
é mediúnica, há
aqueles que
consideram falta
de caridade
praticada contra
o médium,
qualquer
observação
discordante.
O Espiritismo é
uma doutrina de
livre-exame, adotada
por livres-pensadores.
Seu embasamento
dá-se em Jesus e
em Kardec.
Noutras
religiões, há
conselhos
formados por
membros que
detêm poder no
campo
doutrinário, e
esses conselhos
deliberam sobre
pessoas que
devam ser
acatadas ou
banidas do
grupo, como
também deliberam
sobre práticas,
inovações e
publicações.
No Espiritismo
não há nada
disso.
Entretanto,
todos os
espíritas temos
responsabilidade
definida naquilo
que apresentamos
ou que apenas
prestigiamos em
nome da
Doutrina. Cada
espírita é, no
âmbito de suas
atividades, um
guardião dos
seus princípios
básicos,
cabendo-lhe –
para ter o
direito de
dizer-se
espírita – o
dever de, no
âmbito de suas
atividades,
resguardar-lhe a
coerência, a
nobreza, a
objetividade, a
clareza, a
simplicidade e a
fidelidade aos
princípios
ético-morais do
Evangelho de
Jesus e aos
princípios
doutrinários
estabelecidos
pelos Espíritos
Superiores,
codificados por
Kardec.
Assim sendo, um
espírita, ao
tornar público
algo que diga
respeito à
Doutrina, não
necessita obter
permissão de
nenhum órgão
censor ou
controlador.
Entretanto, deve
avaliar se
aquela mensagem
– seja um
simples folheto,
uma mensagem
recebida
mediunicamente
num centro, um
artigo ou um
livro – vai
contribuir para
o despertamento
ou para o
esclarecimento
de alguém. Deve
avaliar, com
segurança, se
acrescenta algum
conteúdo útil,
ou se está
apenas repetindo
lugares comuns,
levando seus
leitores ou
ouvintes a uma
perda de tempo.
A questão se
reveste de maior
gravidade quando
o leitor ou o
ouvinte não
conhece o
Espiritismo.
Algumas vezes,
certos livros ou
oradores causam
péssima
impressão, seja
pela ingenuidade
dos conceitos,
seja pelos
absurdos
apresentados.
Infelizmente,
esse é o quadro
com que nos
deparamos na
atualidade.
Nota-se uma
verdadeira
avalancha de
publicações
ostentando o
nome de
espíritas. Vão
desde as simples
mensagens
mediúnicas
obtidas em
centros
espíritas, até a
obras volumosas,
mediúnicas ou
não, cujos
autores lançam
ao público, sem
uma avaliação
cuidadosa quanto
aos efeitos que
sua iniciativa
possa produzir.
Há publicações
contendo
comunicações
simplórias
obtidas em
reuniões
mediúnicas, sem
conteúdo algum
e, às vezes, com
conteúdo
equivocado, até
contrário àquilo
que a Doutrina
Espírita ensina.
Outras vezes,
são livros com
revelações
mirabolantes, em
linguagem não
condizente com a
seriedade e a
nobreza sempre
observadas nas
expressões dos
Espíritos
comprometidos
com o Bem. São
obras que, de
permeio a
algumas páginas
boas, com bons
comentários a
respeito do
Evangelho,
trazem longas
descrições de
zonas
tenebrosas,
capazes de criar
imagens
negativas nas
mentes menos
avisadas,
revivendo em
muitas a
terrível imagem
do sofrimento
após a morte.
Há livros que
primam pela
apresentação de
revelações
atemorizadoras,
profecias de
ocorrências
catastróficas
que, embora com
datas previstas,
já se têm
revelado falsas,
por não se terem
efetivado.
Nota-se, no ar,
uma tendência
infrene
de se publicar
tudo o que
aparece, como se
o maior trabalho
que se faz no
Espiritismo
fosse a sua
propaganda,
feita de
qualquer modo.
Conscientizemo-nos
de que o
Espiritismo não
precisa de
promoções, como
se fosse
mercadoria a ser
apresentada ao
público. Embora
não pareça, há
diferença entre
propaganda e
divulgação. A
divulgação do
Espiritismo será
muito mais
eficaz se
promovida
através de
literaturas e de
palestras
equilibradas,
comedidas e,
principalmente,
da vivência
pessoal, pelos
espíritas, dos
postulados do
Evangelho.
Lembremo-nos de
Kardec que,
malgrado o pouco
tempo de que
dispunha, face
aos deveres
profissionais,
enfrentando os
imensos tabus
religiosos
reinantes,
enfrentando o
custo elevado de
material
impresso, sem
rádio, televisão
ou internet,
conseguiu
divulgar o
Espiritismo de
maneira
espantosa. A
Doutrina foi
sendo difundida,
sempre em ritmo
crescente, com
segurança,
firmeza e
seriedade. Por
que, agora,
pretender-se uma
propaganda
leviana,
sensacionalista,
oportunista? Por
que nos
encantarmos com
o volume de
edições de
livros, se não
lhes avaliamos o
conteúdo? Ou
mesmo com o
sensacionalismo
de alguns
expositores
desejosos de
inovar?
Será lícita a
falta de coragem
do responsável
pela organização
de palestras ou
seminários, numa
casa espírita,
em pedir
esclarecimentos
ao expositor
sobre pontos
julgados
duvidosos em sua
exposição? Se o
questionamento
for acatado com
boa vontade e
suficientemente
esclarecido,
isso mostra que
o expositor está
seguro do que
expôs e está
interessado em
servir a
Doutrina. Caso
contrário, ao
demonstrar-se
agastado, ficará
evidenciado que
o amor à sua
figura pessoal
está acima da
fidelidade aos
conceitos
doutrinários.
O que
responderemos
àqueles que, ao
ingressarem nos
estudos da
Doutrina, nos
perguntarem
sobre pontos
duvidosos
expostos num
livro ou numa
palestra? Essa é
uma difícil hora
de testemunho à
verdade, quando
devemos colocar
o nosso zelo
para com a
Doutrina acima
de falsas noções
de fraternidade,
lembrando-nos da
recomendação de
Jesus: “Seja,
porém, o vosso
falar: Sim, sim,
Não, não, porque
o que passa
disso é de
procedência
maligna”. (Mat,
5: 37)
Há aqueles que
argumentam,
dizendo que
temos liberdade
de ler tudo,
como base em
Paulo: "Examinai
tudo. Retende
o bem”. (I Tes,
5:21). Sim, é
verdade, não
existe nenhuma
orientação
espírita no
sentido de
proibir qualquer
leitura. Mas
devemos ter em
mente que
podemos
comprometer o
nome do
Espiritismo, não
com o que lemos,
mas com o que
damos a público
em seu nome. Por
isso, é lícito
nos perguntemos
se temos tido o
cuidado de
examinar o que
se publica em
nome do
Espiritismo. Ou
temos deixado
correr? Quem é o
responsável pela
fidelidade
doutrinária?
Urge, mais do
que nunca, uma
ação corajosa,
consciente, de
fidelidade não
só à Doutrina,
mas a nós
próprios, à
nossa
consciência,
pois "quem cala,
consente".