MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
|
Sexo e Destino
André Luiz
(Parte
12)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Sexo e Destino,
de André Luiz,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1963 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Depois do assédio que
sofreu de seu próprio
pai, que sentimento
Marita tinha ao
lembrar-se dele?
Sentimento de temor. Foi
por isso que, estando
sozinha em seu quarto,
logo que percebeu que
estava na hora de
Cláudio chegar a casa,
apagou todas as luzes,
para que, quando ele
chegasse, acreditasse
que ela se encontrava
fora.
(Sexo e Destino,
capítulo XI, pp. 121 a
123.)
B. A obsessão por
encontrar Gilberto
persistia mesmo quando
Marita dormia?
Sim. Embora desligada do
corpo, que dormia,
Marita expressava
completo alheamento e,
absorvida na paixão que
lhe empalmava todas as
forças, monologava,
ideando alto: "Gilberto!
Onde está Gilberto?" E
mendigava, aflita:
"Alguém que me ampare!
preciso encontrá-lo,
encontrá-lo!..." Foi
então que surgiu a irmã
Percília, simpática
senhora desencarnada,
que a levou a uma
instituição
espírita-cristã, que lhe
ofereceria aconchego. (Obra
citada, capítulo XI, pp.
123 a 125.)
C. Como definir o
desequilíbrio afetivo
demonstrado por Marita?
Segundo o benfeitor
Félix, a paixão juvenil
de Marita por Gilberto
se convertera em psicose
grave. A jovem
deixara-se arrastar pelo
desvario afetivo, a
ponto de cair no pior
tipo de possessão,
aquele em que a vítima
adere, gostosamente, ao
desequilíbrio em que se
consome. Em seu
benefício pouca coisa
era possível fazer,
senão esperar pela
resistência moral dela
própria.
(Obra citada, capítulo
XI, pp. 125 a 127.)
Texto para leitura
56. Uma criatura
sozinha no próprio lar
- Naquele mesmo dia, ao
cabo de uma tarde
chuvosa, Marita chegara
do trabalho inteiramente
molhada, como se
houvesse saído de uma
piscina. Tudo era frio e
sombra, em torno;
entretanto, mais
dolorida que a tarde
caliginosa, surgia-lhe
a alma atormentada,
através dos olhos
pisados de cansaço e
vigília. No apartamento
ninguém a esperava.
Sozinha, estirou-se no
leito, procurando
recapitular os
acontecimentos da
véspera, mas o estômago
reclamava alimento, pois
varara o dia em absoluto
jejum. Servindo-se de
um copo de mate frio, ao
ver o telefone sentiu
desejo de ligar para
Gilberto. Uma voz
imprecisa informou,
porém, que o rapaz não
estava. Ela esmoreceu
ainda mais... Tornando
ao quarto, descerrou a
janela. Queria
desafogar-se no ar
fresco. Debruçando-se no
parapeito, contemplou a
cidade, lá em baixo. Sob
a chuva, os automóveis
figuravam-se animais
fugitivos. Marita
refletia, refletia...
Mirando o casario
iluminado, deduziu que
milhares de pessoas aí
se aglomeravam,
suportando talvez
problemas piores ou
semelhantes aos dela.
Inquiria, então, a si
mesma o porquê de
encontrar-se tão
entranhadamente
agrilhoada a Gilberto,
quando centenas de
rapazes respiravam, não
longe, com excelentes
predicados para lhe
interessarem o coração.
Marita estava
desalentada,
insatisfeita. Aspirava a
entreter-se, fugir de si
mesma. Fez menção de
envergar um casaco e
sair à rua, para
distrair-se, apesar do
mau tempo. Entretanto,
não era apenas a chuva
copiosa que lhe
frustrava os impulsos.
Seu espírito almejava
deslocar-se, o corpo
não, devido à fadiga.
Tentou, assim,
engolfar-se na leitura,
mas lembrou-se de
Cláudio. O pai adotivo
raramente se atrasava e,
desde a véspera, não
conseguia recordá-lo sem
temor. Apagou então
todas as luzes, para
que, quando chegasse,
acreditasse que ela
estava fora. (Cap. XI,
pp. 121 a 123)
57. Marita pensa
apenas em Gilberto
- Trancada na sombra do
quarto, Marita atirou-se
à cama e passou a
meditar... Realinhavou
na memória todas as
esperanças e sonhos,
provas e inibições de
sua curta existência,
deitando lágrimas no
linho do travesseiro.
Daí a pouco, escutou os
passos do chefe da casa,
que chegara, percebendo
claramente quando
Cláudio veio, de leve,
espreitar-lhe o
aposento. Ele
experimentou a
maçaneta, mas não
insistiu. Ambas as
jovens tinham o hábito
de fechar seus quartos,
ao se ausentarem à
noite. Após beber um
pouco, Cláudio regressou
à rua, demonstrando-se
nervoso, pela maneira
violenta de cerrar a
porta. Marita estava,
assim, inteiramente só,
visto que até mesmo os
dois vampirizadores do
apartamento andavam
fora, ajustados a
Cláudio. As horas
passaram, lentas,
difíceis... Eram 23
horas quando André e
Neves se dispuseram ao
socorro magnético.
Oraram, exorando a
bênção do Cristo e o
concurso do irmão Félix,
a benefício da moça
exausta. Marita, a
princípio, reagiu
negativamente,
empenhando-se na
vigília, mas depois
cedeu. Cautelosos, os
amigos espirituais
operaram no sentido de
reduzir-lhe a capacidade
de movimentação,
evitando assim o
encontro com Gilberto,
qual sucedera na
véspera. Desligada do
corpo, Marita expressou
de fato completo
alheamento... Absorvida
na paixão que lhe
empalmava todas as
forças, monologava,
ideando alto:
"Gilberto! Onde está
Gilberto?" E mendigou,
aflita: "Alguém que me
ampare! preciso
encontrá-lo,
encontrá-lo!..." André e
Neves a ampararam e
dispunham-se a sair,
quando irmã Percília,
simpática senhora
desencarnada, dizendo-se
mensageira de Félix,
informou que este os
aguardava num posto
socorrista. Tratava-se
de uma respeitável
instituição
espírita-cristã, que
lhes ofereceria
aconchego. Abraçada a
Marita, Percília
conversava com a jovem,
encorajando-a,
esforçando-se por
descentralizar-lhe a
atenção, apontando
quadros e ocorrências do
trajeto, sem contudo
lograr resultado, porque
a moça tinha o
pensamento fixo em
Gilberto. (Cap. XI, pp.
123 a 125)
58. O pior tipo de
possessão -
Félix acolheu os amigos,
pessoalmente.
Informando ter recebido
o pedido de socorro,
deliberara vir, ele
próprio, examinar o que
sucedia. Marita o
contemplou extática,
indiferente. Amparada
por Félix, entrou no
edifício inquirindo se
havia chegado, por fim,
ao clube onde comumente
surpreendia Gilberto.
Encaminhada à sala
espaçosa onde receberia
o necessário socorro
magnético, quis saber
por que se imprimira
tanta mudança no salão
de baile. De raciocínio
obliterado, qual se
achava, lobrigava por
fora as criações mentais
que arquitetava por
dentro, sem ligeira
noção da realidade
exterior. Félix a ouvia
com a ternura de um pai.
Instalando-a em ampla
cadeira, fê-la descansar
na hipnose tranquila.
Marita calou-se, ilhada
nas memorizações em que
se comprazia, enquanto o
instrutor lhe
ministrava passes
balsâmicos. A operação
magnética foi longa,
minuciosa. Em seguida,
Félix rogou-lhe falar,
expondo o que mais
anelasse ali, ao que a
moça gaguejou acanhada,
suplicando a presença de
Gilberto. Dirigindo-se
a André e seus
companheiros, Félix
explicou, então, que,
infelizmente, a
intervenção efetuada em
favor dela não poderia
ultrapassar a
superfície, prevalecendo
somente para a
sustentação do repouso
físico, visto que a
paixão juvenil se
convertera em psicose
grave. Marita
deixara-se arrastar pelo
desvario afetivo, a
ponto de cair no pior
tipo de possessão,
aquele em que a vítima
adere, gostosamente, ao
desequilíbrio em que se
consome. Félix informou
ainda que lhe
consultara o organismo,
no sentido de se lhe
atalhar a alienação
mental começante, com o
socorro de alguma
enfermidade séria que,
ao arrojá-la no leito,
lhe modificaria a mente,
predispondo-a a
diferentes impressões.
O corpo da jovem, no
entanto, não se mostrava
habilitado a receber
esse gênero de amparo.
Sumamente desorientada e
enfraquecida, Marita
desencarnaria no
desajuste orgânico mais
pronunciado que viesse a
sofrer. Não restava,
pois, outra opção, senão
a de esperar pela
resistência moral dela
própria. De volta a
casa, reajustada ao
corpo denso, Marita
passou a repousar sem
agitação e pôde dormir
profundamente. Quando
Percília se despediu de
André e Neves, este
informou ao amigo que
se tratava da mesma
Entidade que o socorreu
no cabaré, quando, num
gesto impensado,
agredira o genro. (Cap.
XI, pp. 125 a 127)
59. O caso da
família de Cláudio
- Félix, Espírito
admirável por sua
abnegação e ciência, e
reverenciado por todos
os seareiros do bem,
onde passasse, ao se
referir aos
protagonistas daquele
drama familiar
apresentava os olhos
marejados de pranto.
Podia-se ver nele,
então, não somente a
piedade fraterna, mas
também o imenso amor
àquelas quatro almas
reunidas ali, naquele
aprazível recanto do
Rio. Parados, agora,
respirando as aragens
que encrespavam
docemente as águas da
Guanabara, André e Neves
se enterneciam ao
reconhecer nele o
paternal carinho, como
se fora um homem comum,
descansando ali, à
frente do mar. A atitude
do instrutor, ao
deter-se nas lutas
escabrosas do plano
físico, educava
cativando. Conquistava,
sem pedir, o interesse
dos amigos na prestação
de assistência
voluntária ao lar de
Cláudio, cuja
estabilidade
periclitava, na
conceituação dele mesmo.
Compadecia-se – dizia,
prestimoso – daquelas
quatro criaturas,
atiradas ao oceano da
experiência terrestre,
sem a bússola da fé.
Esforçara-se, a
princípio, por
abrir-lhes um caminho
espiritual, mas debalde.
Afundavam-se todos em
profunda névoa de
ilusão, hipnotizados
pelas gratificações
transitórias dos
sentidos carnais.
Relatou ter acompanhado
a reencarnação de todos
eles, deixando perceber,
nas reticências, as
lágrimas que
semelhantes realizações
lhe haviam custado.
Hipotecara dedicação,
amizade, confiança e
tempo, a fim de
entrosá-los em alguma
obra de benemerência,
de maneira a
cultivar-lhes a
espiritualidade latente;
no entanto, Cláudio e
Márcia, de novo no
estágio físico, sob o
esquecimento inevitável
e providencial do
pretérito, haviam
recapitulado certas
experiências infelizes.
No mundo espiritual,
antes de reencarnarem,
haviam prometido
empregar seu tempo na
sublimação íntima,
corrigindo os excessos
do passado, através do
suor no serviço ao
próximo. Chegados,
porém, à juventude das
forças corpóreas,
abraçaram paixões que
lhes frustravam todas as
possibilidades de
libertação próxima. Todo
o auxílio dos
protetores espirituais
tinha sido, até então,
infrutífero. Os quatro
resistiam a toda espécie
de sugestão reparadora;
repeliam, de pronto,
qualquer projeto
construtivo. (Cap. XII,
pp. 128 e 129)
60. Um homem
perdido e de poucos
amigos - Félix
explicou que nobres
amigos de outras eras,
aplicados a
estender-lhes apoios
preciosos, acabaram
desiludidos, largando-os
ao próprio arbítrio. Ao
elegerem o dinheiro e o
sexo desgovernado,
Cláudio e Márcia nada
mais estavam
conseguindo que
desajustar os
fundamentos da
tranquilidade
doméstica. Em razão
disso, Marina e Marita
não obtinham alicerces
para a felicidade real e
se complicavam em
perigos e tentações, de
que dificilmente se
desvencilhariam sem
dolorosas marcas na
alma. A rebeldia de
Cláudio fora tamanha que
não contava, além da
Providência Divina,
senão com raros amigos,
que não se julgavam com
direito a solicitar
socorros especiais para
ele e que, absorvidos
por numerosas
responsabilidades, só
podiam dispensar-lhe
auxílios esporádicos e
incertos. Diante do que
ouviram, André e Neves
prometeram decidida
adesão ao programa
assistencial que Félix
delineasse. (André
refere que possuía um
requerimento solicitando
às autoridades
competentes lhe fosse
concedido um estágio de
dois anos, em alguma das
organizações de Nosso
Lar, destinada aos
serviços de psicologia
sexual, com finalidades
reeducativas, e Félix
poderia endossar-lhe a
petição.) O mentor ficou
satisfeito com a
cooperação dos dois
amigos e aproveitou a
oportunidade para dizer
a Neves que alcançara
permissão para recolher
Beatriz em sua própria
residência, tão logo a
esposa de Nemésio
pudesse retirar-se da
esfera física, depois da
desencarnação. Ao ouvir
essa notícia, Neves
ficou tocado de energias
e esperanças novas.
Aguardaria a filha, sim,
confiante no futuro e
empregaria todos os
recursos, de modo a
ampará-la,
fortalecê-la. (Cap. XII,
pp. 130 e 131) (Continua no próximo
número.)