O leitor Fernando Melo, de João Pessoa-PB,
pergunta-nos: “Sabemos o que
é Umbral, na Doutrina
Espírita. Foi Allan Kardec
quem primeiro nominou-o?”
Não. O termo Umbral, com o sentido que as
narrativas mediúnicas lhe
dão, jamais foi, pelo que
sabemos, utilizado por
Kardec.
É interessante lembrar, porém, que vários
aspectos característicos da
chamada zona umbralina foram
destacados por Allan Kardec
em diversos textos que ele
inseriu na Revista
Espírita e em seu livro
O Céu e o Inferno.
Segundo as informações contidas no livro Nosso Lar,
de André Luiz, o chamado
Umbral nada mais é do que
uma região espiritual de
transição. Debatem-se na
zona umbralina Espíritos
desesperados, infelizes,
malfeitores e vagabundos de
várias categorias. Cada
Espírito ali permanece o
tempo que se faça necessário
ao esgotamento dos resíduos
mentais negativos, mas seus
habitantes separam-se dos
encarnados tão-somente por
leis vibratórias. Silêncio
implacável, cortado às vezes
por gargalhadas sinistras e
uma paisagem, quando não
totalmente escura, banhada
de luz alvacenta, como que
amortalhada em neblina
espessa, essa era a região
em que o próprio André Luiz
viveu por vários anos,
assediado por seres
monstruosos e vultos negros
que o acordavam irônicos e
lhe dirigiam acusações
impensáveis.
Dito isto, vejamos o que Kardec publicou em sua obra:
1. No Espaço existem Espíritos mergulhados em densa treva,
enquanto outros se encontram
em absoluto insulamento,
atormentados pela ignorância
da própria posição, como da
sorte que os aguarda. Os
mais culpados padecem
torturas muito mais
pungentes por não lhes
entreverem um termo. Alguns
são privados de ver os seres
queridos, e todos,
geralmente, passam com
intensidade relativa pelos
males, pelas dores e
privações que a outrem
ocasionaram. (O Céu e o
Inferno, 1ª. Parte, cap.
VII, tópico 25º.)
2. O Espírito de Claire, em mensagem mediúnica, refere-se ao
marido, que muito a
martirizara, e à posição em
que ele se encontrava no
mundo espiritual. Eis o
trecho: “Queres saber qual a
situação do pobre Félix?
Erra nas trevas entregue à
profunda nudez de sua alma.
Superficial e leviano,
aviltado pelo sensualismo,
nunca soube o que eram o
amor e a amizade. Nem mesmo
a paixão esclareceu suas
sombrias luzes. Seu estado
presente é comparável ao da
criança inapta para as
funções da vida e privada de
todo o amparo. Félix vaga
aterrorizado nesse mundo
estranho onde tudo fulgura
ao brilho desse Deus por ele
negado.” (O Céu e o
Inferno, no cap. IV da 2ª
Parte, cap. IV.)
3. Georges (Espírito) descreve o castigo infligido aos maus
Espíritos. Enquanto dão
vazão à sua raiva, eles são
quase felizes; no entanto,
passam os séculos e eles
sentem-se de súbito
invadidos pelas trevas,
advindo daí o remorso e o
arrependimento, seguidos de
gemidos e expiações.
(Revista Espírita de 1860,
pp. 331 e 332.)
4. Os Espíritos têm todas as percepções que tinham na Terra,
mas em mais alto grau,
porque suas faculdades não
são amortecidas pela
matéria. Para eles não
existe escuridão, salvo para
aqueles cuja punição é
ficarem temporariamente nas
trevas. (Revista Espírita
de 1864, pp. 106 a 112.)
5. Comentando uma comunicação espontânea obtida na Sociedade
Espírita de Paris, sendo
médium a Sra. Costel, diz
Kardec que, enquanto uns
Espíritos são mergulhados
nas trevas, outros são
imersos em ondas de luz, que
os ofuscam e penetram, como
setas agudas. (Revista
Espírita de 1864, p. 218.)
6. No dia 3 de fevereiro de 1865 ocorreu o falecimento da
Sra. Foulon, que, três dias
depois, se manifestou na
Sociedade Espírita de Paris.
Informando ter estado lúcida
desde o trespasse, a Sra.
Foulon não conheceu a
perturbação pós-morte. “Só
os que têm medo – explicou
ela – são envolvidos por
suas espessas trevas.”
(Revista Espírita de 1865,
pp. 73 a 75.)
7. Num dos grupos espíritas existentes em Marselha, a Sra.
T... recebeu
psicograficamente uma
comunicação de um operário
que dias antes havia
desencarnado no
desmoronamento de uma ponte.
O operário fora materialista
na Terra. Na mensagem, o
comunicante dizia estar em
trevas, mas havia conseguido
seguir um raio luminoso de
um Espírito (pelo menos foi
o que lhe disseram, embora
ele não acreditasse em
Espíritos). (Revista
Espírita de 1867, p. 242.)
Finalizando, é bom lembrar que Ernesto Bozzano, um dos mais
destacados pesquisadores do
chamado Espiritismo
Científico, confirma o que
Kardec e André Luiz nos
ensinam a respeito do
assunto, como podemos
comprovar à vista do
seguinte texto extraído da
obra A Crise da Morte:
Os Espíritos se encontram novamente, na vida espiritual, com
a forma humana. Todos se
acham num meio espiritual
radioso e maravilhoso (no
caso de mortos moralmente
normais) e num meio
tenebroso e opressivo (no
caso de mortos moralmente
depravados). Todos
reconhecem que o meio
espiritual é um novo mundo
objetivo, real, análogo ao
meio terrestre
espiritualizado. Eles
aprendem que isso se deve ao
fato de que, no mundo
espiritual, o pensamento
constitui uma força
criadora, por meio da qual o
Espírito existente no “plano
astral” pode reproduzir em
torno de si o meio de suas
recordações. Os Espíritos
dos mortos gravitam
fatalmente e automaticamente
para a esfera espiritual que
lhes convém, por virtude da
“lei de afinidade”. (A
Crise da Morte, pp. 164 a
166.)
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