ANGÉLICA
REIS
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
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A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 21)
Damos
sequência ao estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. Todos os vícios podem
ser suprimidos mediante
a sugestão?
|
Não, mas quase todos. Os
vícios carnais, como a
embriaguez, os vícios
associados à má formação
congênita do organismo e
os vícios que dependem
de uma ideia fixa, como
o ciúme, podem ser
suprimidos pela
sugestão, que se revela,
porém, incapaz com
relação aos vícios
mantidos
intencionalmente, porque
os indivíduos que os têm
raras vezes demonstram
interesse em se verem
livres deles.
(A Personalidade Humana.
Capítulo V – O
hipnotismo.)
B. O sono tem outra
função além da simples
regeneração dos tecidos
gastos e do
rejuvenescimento físico
e moral do organismo
cansado?
Segundo o entendimento
de Myers, sim. Sua
definição do sono é
muito mais ampla do que
a corrente, pois durante
o sono, afirma ele, o eu
subliminar realiza
outras funções além da
de simples recuperação
do organismo. Estas
outras funções
apresentam relações,
ainda desconhecidas por
nós, com o mundo
espiritual e a prova de
sua atividade nos é
proporcionada pela
aparição esporádica,
durante o sono, de
fenômenos supranormais.
(Obra citada. Capítulo V
– O hipnotismo.)
C. Qual é a causa, por
sinal única, do sono
hipnótico?
Graças às pesquisas da
escola de Nancy, cujos
resultados foram
imediatamente
averiguados e
confirmados de maneira
definitiva, a sugestão
pura e simples constitui
a única causa do sono
hipnótico. Desse modo
foram afastadas as
afirmações dos
mesmeristas e da escola
chamada fisiológica, as
quais, cada uma a seu
modo, atribuíam ao
hipnotismo uma causa
material.
(Obra citada. Capítulo V
– O hipnotismo.)
Texto
para leitura
490. O fato
anteriormente citado
demonstra que os centros
superiores subliminares
(para chamá-los assim)
não abdicam jamais da
realidade de seu papel;
que podem permanecer
passivos enquanto que os
centros médios obedecem
aos caprichos do
experimentador, mas que
estão dispostos a
assumir novamente o seu
poder de controle,
quando o experimento
ameace converter-se em
perigo para o indivíduo.
É o que observamos no
sonambulismo espontâneo,
onde os acidentes, a
menos que haja um
despertar brusco, são
tão raros, apesar das
extraordinárias façanhas
realizadas pelo sujeito.
491. Resta-nos
considerar a influência
da sugestão sobre o
caráter. Na cura da
morfinomania já
observamos com
frequência um voo moral
tão surpreendente, uma
elevação tão brusca da
queda extrema à vida
normal, como raras vezes
se produz em outras
ocasiões.
492. Sabe-se que, com
efeito, não existe um
único rasgo de caráter
que escapa à ação
nefasta do envenenamento
morfínico. A covardia, a
mentira, o egoísmo mais
desalmado são o que
caracterizam o
morfinômano, mesmo
quando o esgotamento
físico tornou o
indivíduo incapaz de
ativamente manifestar
sua violência e seus
apetites. Esse
desaparecimento completo
do respeito a si mesmo
não dá motivo algum à
ação moral que se
sentiria tentado a
realizar o sábio e o
evangelista. E, sem
dúvida, a sugestão
hipnótica produz aqui
modificações mágicas e
devolve ao pária
rechaçado pela sociedade
uma posição honrada
entre seus concidadãos.
493. De que gênero são
essas transformações? Os
êxitos obtidos são
devidos a que nesses
casos se trata de uma
degradação funcional não
orgânica? Sabemos, com
efeito, que é possível
curar um estado mórbido
dos tecidos, enquanto
que nada podemos fazer
contra uma deformidade
ou uma má conformação
congênita. O estado do
morfinômano não seria
mais do que uma espécie
de vício químico, um
envenenamento das
células que durante
algum tempo funcionaram
normalmente.
494. Conhecemos exemplos
que mostram que os
sujeitos hipnotizáveis e
nos quais é aplicada a
sugestão com uma
perseverança e uma
habilidade suficientes,
podem se elevar da mais
completa decadência e
apesar das nossas
qualificações de insano
moral ou de criminoso
nato a um estado em que
podem prestar serviços à
comunidade.
495. É evidente que não
podemos ultrapassar o
limite das capacidades
naturais. Da mesma forma
que não podemos
improvisar um gênio, não
podemos tornar um homem
comum num santo. Mas a
experiência nos ensina
que é possível fazer uma
seleção entre os
sentimentos e as
faculdades mais
inferiores e pobres e
trazer à luz os
sentimentos sadios e as
faculdades eficazes,
suficientes para
assegurar ao homem,
supostamente degenerado,
uma estabilidade moral e
uma colaboração útil do
ponto de vista da
espécie. Mas o fato de a
sugestão hipnótica se
ter mostrado eficaz
contra certos maus
hábitos indica que seja
capaz de curar todos os
casos de decadência
moral?
496. Todos os vícios e
faltas podem ser
classificados nas quatro
categorias seguintes:
a) vícios carnais que
dependem de tentações
específicas, como por
exemplo, a embriaguez;
estes vícios são
facilmente acessíveis à
sugestão.
b) vícios associados à
má formação congênita do
organismo; podem ser,
igualmente, suprimidos
mediante a sugestão.
c) vícios que dependem
de uma ideia fixa: o
ciúme é um exemplo
clássico, mas o ciúme é
sempre um sentimento
mórbido: “meu ódio a B
porque A prefere B em
vez de mim” é o
resultado irracional de
uma associação de ideias
obsessivas que
frequentemente a
sugestão destrói de modo
surpreendente.
d) vícios mantidos
intencionalmente, tendo
em vista vantagens
presumíveis que supõem
possam auferir aqueles
que os têm.
497. No que diz respeito
a esta última categoria
de vícios, não possuímos
prova experimental de
que sejam curáveis pela
sugestão e isto se
explica porque os
indivíduos que os têm
raras vezes demonstram
interesse em se verem
livres deles e, mesmo
quando interessados,
buscam o remédio numa
direção antes moral ou
religiosa do que médica.
498. Para expor somente
um exemplo, o estado
moral de um testemunho
falso diferencia-se
profundamente do de um
dipsômano. Este último
se dá conta de que não
existe equilíbrio entre
ele e seu meio, e a voz
do instinto de
conservação
contrapõe-se,
frequentemente, com a de
suas inclinações
mórbidas. Pelo
contrário, o falso
testemunho se encontra,
mediante artifícios
especiais, adaptado ao
seu meio provisório,
isto é, ao seu meio
terrestre. Portanto, não
podemos contar com o
instinto de conservação
para fazê-lo mudar de
caráter, mas podemos
presumir que em todo
homem existe alguma
consciência subliminar
de sua relação com outro
mundo.
499. Detenhamo-nos um
instante, com o fim de
dar-nos conta do ponto a
que chegamos. Começamos
por definir o hipnotismo
como o desenvolvimento
empírico do sono. O
elemento mais importante
desta última fase, e que
é, ao mesmo tempo, a
função mais evidente do
eu subliminar, consiste
na regeneração dos
tecidos gastos, no
rejuvenescimento físico
e moral do organismo
cansado. Mostramos de
que maneira esta função
se realiza durante a
hipnose, como
consequência da sugestão
ou da autossugestão.
500. Estamos convencidos
de que o hipnotismo
constitui uma verdadeira
evolução destas energias
reparadoras que dão ao
sono seu valor prático.
Deste ponto de vista que
é, por outro lado, o
único em que se coloca
uma pessoa para
considerar o sono, nossa
análise do hipnotismo é
completa e poderíamos
encerrar este capítulo
por aqui. Mas o fim a
que nos propusemos desde
o início não se teria
conseguido, porque nossa
definição do sono é
muito mais ampla do que
a corrente, pois estamos
convencidos de que
durante o sono o eu
subliminar realiza
outras funções além da
de simples recuperação
do organismo.
501. Estas outras
funções apresentam
relações, ainda
desconhecidas por nós,
com o mundo espiritual e
a prova de sua atividade
nos é proporcionada pela
aparição esporádica,
durante o sono, de
fenômenos supranormais.
Trata-se agora de saber
se esses fenômenos
supranormais se
manifestam, igualmente,
durante a hipnose. Pode
ser esta última
produzida por
comportamentos
supranormais? Pode ser o
resultado de uma
influência ou atividade
telepática? Em resumo,
pode ser atribuída a
influências
cientificamente
inexplicáveis e que se
estabelecem de um homem
a outro?
502. Sabemos, graças às
pesquisas da escola de
Nancy, cujos resultados
foram imediatamente
averiguados e
confirmados de maneira
definitiva, que a
sugestão pura e simples
constitui a única causa
do sono hipnótico. Desse
modo livramo-nos das
afirmações dos
mesmeristas e das da
escola chamada
fisiológica, as quais,
cada uma ao seu modo,
atribuíam ao hipnotismo
uma causa material. Mas,
ao considerar a sugestão
como a única causa
eficaz do sono
hipnótico, não vemos de
que maneira poderia
manifestar seus efeitos
a não ser mediante uma
operação subliminar que
se realiza sem que
saibamos como e temos
razões para supor que o
êxito ou o fracasso da
sugestão depende de uma
influência telepática
que tem seu ponto de
partida no espírito do
hipnotizador.
503. Sabemos, com
certeza, que a prática
do hipnotismo tal como a
realiza Bernheim parece
excluir toda ideia de
relação íntima entre a
vontade e o organismo do
hipnotizador, e os do
sujeito que cai,
imediatamente, sob o
sono hipnótico, mesmo
antes que o hipnotizador
tenha tido tempo de
pronunciar a palavra
“durma!”.
504. Este não é, porém,
o único modo de agir e
existem muitos casos em
que o êxito da sugestão
depende de mais alguma
coisa do que uma simples
ordem. E nos casos de
sugestão a distância
(como nos experimentos
do Dr. Gilber, do
Havre), não se trata de
verdadeira comunicação a
distância entre o
espírito do operador e o
do sujeito?
505. Na presença de
fatos deste gênero não
consideramos as
atividades dos antigos
hipnotizadores, como os
toques, os passes, etc.,
como simples artifícios
inúteis e as sensações
que os sujeitos
pretendiam experimentar,
como consequência desses
toques e passes, como
sensações sugeridas e
imaginárias; pelo
contrário, não nos
parece de fato
improvável que eflúvios
ainda desconhecidos da
ciência, mas que as
pessoas sensíveis podem
perceber, como percebem
os impulsos telepáticos,
emanem por irradiação
dos organismos vivos e
possam influir sobre
outros organismos, quer
por intermédio das mãos,
quer através do espaço.
Desse modo, a região
subliminar do sujeito
que vai ser hipnotizado
pode ser alcançada por
procedimentos muito mais
sutis do que a mera
sugestão verbal.
506. Resta-nos
considerar os elementos
supranormais que formam
parte da resposta
hipnótica. Esses
elementos são lembrados
mediante um impulso
subliminar direto, ou
dependem de faculdades
especiais inatas ao
indivíduo que queremos
hipnotizar? No momento,
é impossível qualquer
pronunciamento a esse
respeito. Sabemos,
somente, que são
raramente evocados como
resposta a uma sugestão
hipnótica rápida e, por
assim dizer,
superficial; raras vezes
aparecem na prática
hospitalar e exigem uma
educação e um
desenvolvimento que só
se obtém num indivíduo
entre cem.
507. A primeira fase
dessa resposta
constitui-se pela
relação subliminar que
se estabelece entre o
sujeito e seu
hipnotizador, e que se
manifesta no que se
chama de relação ou
comunhão de sensações.
As primeiras fases dessa
relação resultam,
provavelmente, de uma
simples autossugestão ou
de sugestões pelas quais
o operador concentra a
atenção do sujeito,
exclusivamente, sobre a
sua pessoa e encontramos
a prova de que pode
estabelecer um vínculo
mais estreito entre as
duas pessoas, no caso em
que o sujeito
hipnotizado toca ou
sente o que o
hipnotizador (que lhe é
desconhecido) toca ou
sente ao mesmo tempo.
508. A partir desse
momento, sua faculdade
de percepção supranormal
é suscetível de ganhar,
tanto em extensão como
em profundidade. O
sujeito pode ser capaz
de se comunicar com o
passado e com o futuro,
de participar de
acontecimentos que se
realizam longe dele, e
isto por meios que só se
poderiam classificar de
supranormais, porque
nenhum dos meios
normais, comuns,
reconhecidos pela
ciência, nos proporciona
as informações e os
conhecimentos que tem o
sujeito cujas faculdades
subliminares adquiriram
esse grau de tensão e
acuidade.
509. Aqui está, então, a
conclusão metafísica
deste capítulo. Quando
dizemos que um organismo
existe em certo meio,
entendemos por isso que
sua energia, ou uma
parte dela, entra como
elemento em certo
sistema de forças
cósmicas que representa
alguma modificação
especial da Energia
Primitiva. A vida de um
organismo consiste nas
mudanças de energia
entre ele e seu meio, na
absorção que opera em
proveito próprio de um
fragmento dessa força
preexistente e
ilimitada. Os seres
humanos vivem, antes de
tudo, num mundo material
do qual extraem a
subsistência necessária
ao exercício de suas
funções corporais.
510. Mas também
existimos num mundo
etéreo, isto é, estamos
constituídos de tal
forma que respondemos a
um sistema de leis que,
em última análise, são,
indubitavelmente,
contínuas em relação às
da matéria, mas que
sugerem um novo
conceito, mais geral e
profundo, do Cosmos.
Este novo aspecto das
coisas é, com efeito,
diferente do antigo que
fala, geralmente, do
éter como de um novo
meio. Desse meio, nossa
existência orgânica
depende, de maneira
absoluta, ainda que
pouco evidente, mais que
do meio material. O éter
se encontra na base de
nossa existência física.
Ao perceber o calor, a
luz, a eletricidade,
reconhecemos somente de
um modo visível, como na
percepção dos raios X a
reconhecemos de um modo
menos visível, a
influência permanente
que exercem sobre nós as
vibrações do éter, cujo
poder e variedade
superam em muito nosso
poder de reação.
511. Creio que mais além
do mundo etéreo e dando
ao cosmos um aspecto
mais geral e profundo,
encontra-se o mundo da
vida espiritual,
contínuo até um ponto
determinado ao mundo do
éter, mas absolutamente
independente do mundo
material e formando o
mundo metaetéreo.
Vejamos qual é o alcance
desta última hipótese,
do ponto de vista da
explicação dos fenômenos
do hipnotismo. Qual é,
com efeito, o fim último
de todos os
procedimentos hipnógenos?
É o de dar energia à
vida, de alcançar mais
rápido e completamente
resultados que a vida
abandonada a si mesma
não realiza senão
lentamente e de maneira
incompleta.
512. O que caracteriza a
vida é a faculdade de
adaptação, sua faculdade
de responder às
necessidades novas, de
soerguer o organismo
todas as vezes que está
ferido, essa vis
medicatrix Naturae que
constitui o mistério
mais profundo do
organismo vivo. O
hipnotismo nos mostra
essa vis medicatrix sob
um aspecto definido e
acessível ao controle.
Mostra-nos nesta
Natureza que no caso
particular é o eu
subliminar do
autossugestionado, uma
inteligência que, longe
de ser vaga e impessoal,
mostra, ao contrário,
certas semelhanças,
achando-se em
determinadas relações
diretas com a que
reconhecemos como a
nossa.
513. Em resumo, temos
aqui uma notável
representação da
inteligência e do poder
subliminar. Já se falou
bastante em nossa
inteligência subliminar
para mostrar que estas
ordens terapêuticas
complexas não poderiam
ser compreendidas de
outra maneira; mas de
onde vem a energia
necessária a uma
resposta eficaz?
(Continua no próximo
número.)