MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
|
Sexo e Destino
André Luiz
(Parte
15)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Sexo e Destino,
de André Luiz,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1963 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Cláudio conseguiu seu
intento de se relacionar
sexualmente com Marita?
Sim. Fazendo-se passar
por Gilberto, namorado
da jovem, o pai adotivo
atraiu-a de encontro ao
peito, e beijou-a,
convulso. A jovem
indefesa, hipnotizada
pelos próprios reflexos,
abandonou-se, vencida. A
energia elétrica na casa
de encontros havia sido
desligada de propósito,
a pedido de Cláudio, que
para isso subornou um
funcionário da casa,
revelando já nesse ato
quais eram seus
propósitos.
(Sexo e Destino,
capítulo XIII, pp. 153 e
154.)
B. Após o fato, Márcia
chegou de repente e fez
ao marido importante
revelação. Que é que ela
lhe contou?
Ela, profundamente
indignada com o que viu,
disse-lhe, em prantos,
que ele havia se
relacionado com a
própria filha. Eis suas
palavras: "Como é que
você não pensou? Tenho
comigo todos os papéis
de Aracélia, todos os
seus bilhetes... Ela
nunca esteve com outro
homem, a não ser você
mesmo!... Você nunca
soube da última carta,
em que ela me entregava
a menina, dizendo que
preferia morrer para que
eu fosse feliz!... A
memória dessa moça
pobre e leal é a única
coisa boa que eu tenho
no coração... O resto
você destruiu... Ah!
Cláudio, Cláudio!... a
que baixezas descemos
nós?!... Louco! Você
ultrajou sua própria
filha!..."
(Obra citada, capítulo
XIII, pp. 155 e 156.)
C. Mesmo com a mente em
desalinho, Marita
procurou Gilberto. Qual
foi o resultado desse
encontro?
O contato foi pelo
telefone e seu resultado
foi desastroso.
Sofreando a emoção de
modo a fantasiar a
alegria de Marina, sua
irmã, Marita discou para
a casa de Gilberto e
ocorreu então o diálogo
entre os dois jovens,
com Marita fazendo-se
passar por Marina. Na
conversa, ela disse ao
rapaz estar perturbada,
ciumenta, e o motivo era
Marita. Gilberto
disse-lhe nada ter com a
irmã e, na sequência,
acabou revelando o caso
do encontro que não
houve, informando ter
sido Cláudio quem lhe
pediu não comparecesse à
pensão. Marita ouviu o
bastante para
reconhecer-se
desdenhada, batida, mas
ainda não era tudo. Ao
reportar-se ao pedido de
Cláudio, Gilberto
referiu-se à viagem para
a Argentina, que o pai
prometera oferecer a
Marita, a título de
refazimento. Como a moça
não entendeu o que tal
viagem significava, ele
riu-se, acrescentando de
modo sarcástico:
"Sanatório, meu bem.
Sanatório ou hospício.
Para Marita, só
sanatório e, quanto mais
longe, melhor!...
Argentina para uma e
Petrópolis para dois..."
(Obra citada, capítulo
XIV, pp. 161 a 163.)
Texto para leitura
71. Cláudio
concretiza o seu desejo
- Cláudio estacou à
porta, enlaçado pelo
vampirizador,
justapostos um ao outro.
Com sentimentos e
propósitos iguais,
emocionados, prelibavam
a caça que não lhes
escaparia.
Enrodilhavam-se os dois
num charco mental de
lascívia, com tamanha
sofreguidão, que não
cabia ali, naquele
vulcão de apetites
sexuais, a menor frincha
pela qual se pudesse
arremessar alguma ideia
de elevação. Cláudio
tivera o cuidado de usar
o perfume de cravos
preferido de Gilberto e
indumentária semelhante
à do rapaz. Nenhuma
particularidade fora
esquecida. A dupla
avançou quarto adentro e
André, que podia
enxergar na obscuridade,
viu a pobre moça
levantar-se,
sussurrando frases de
arrebatadora paixão e de
intensa saudade,
abrindo, ansiosa, os
braços, sem guardar para
si o mínimo resquício de
vigilância. Marita
acreditava-se diante do
amado. Era ele, não
devia recear... Naquele
instante, em todas as
suas intenções e em
todos os seus nervos,
havia um único
pensamento e um só
apelo: entregar-se,
enquanto Cláudio e seu
comparsa, a fremirem de
emoção, guardavam
absoluto silêncio. O
pai adotivo atraiu-a de
encontro ao peito, e
beijou-a, convulso. A
jovem indefesa,
hipnotizada pelos
próprios reflexos,
abandonou-se, vencida.
Irmão Félix, tangido por
sentimentos que André
não podia avaliar,
deixou o recinto e o
amigo o seguiu. Fora do
quarto, o benfeitor,
transido, se deteve, de
olhos fitos no céu.
André, conturbado,
incapaz de articular uma
prece, calou-se,
reverente, perante o
agoniado coração
paterno, que vinha das
esferas superiores para
desmanchar-se ali, em
suplício indizível,
velando, através da
oração muda, que lhe
extravasava então em
grossas lágrimas! (André
faz, nesse passo, um
apelo comovente a todos
nós: Quando estivermos a
ponto de resvalar nos
despenhadeiros da
delinquência, pensemos
nos nossos mortos
queridos, pois eles, em
muitas ocasiões, nos
acompanham de perto e
nos indicam o caminho
correto, na noite das
tentações, à feição das
estrelas que removem as
trevas!...) (Cap. XIII,
pp. 153 e 154)
72. Desvendado o
segredo sobre o pai de
Marita - Diante
de Félix, em pranto
amargo, André passou a
recorrer ao Evangelho e
confortou-se ao lembrar
que Jesus, o Divino
Mestre, fora também o
amigo sensível e
carinhoso, ao chorar, um
dia, na Terra, ante
Lázaro morto! Passados
quase vinte minutos de
expectação, a luz voltou
e ouviu-se um grito
agoniado, em que o
espanto e a dor se
mesclavam com terrível
acento. Marita, com a
rapidez de uma corça
dilacerada, saltou a
janela, e disparou em
desalinho. Antes, porém,
que fosse possível
esboçar qualquer
socorro, alguém chegou,
apressadamente, e
abordou a porta do
solitário aposento,
abrindo-a com fúria. Era
dona Márcia. Cláudio
recompôs-se num átimo
e, fazendo um risinho
ridicularizador,
exclamou, mordaz: "Era
só o que faltava!...
Você também?! Aqui?..."
Márcia, que costumava
entreter-se no pôquer,
junto de amigas, não
longe dali, fora avisada
por Crescina quanto à
chegada do marido. A
dona da pensão temia
que ele entrasse em rixa
com os jovens. Essa, a
razão da presença de
Márcia no aposento.
Vendo, porém, que a
filha adotiva saíra em
disparada e que Cláudio
ali se encontrava, sem
Gilberto por perto,
Márcia entendeu, sem
dificuldade, tudo o que
se passara... "Canalha!
– bradou, indignada –
eu não acreditei nessa
menina infeliz! Eu que
poderia ter evitado!..."
E acrescentou, comovida:
"Como é que você não
pensou? Tenho comigo
todos os papéis de
Aracélia, todos os seus
bilhetes... Ela nunca
esteve com outro homem,
a não ser você mesmo!...
Você nunca soube da
última carta, em que ela
me entregava a menina,
dizendo que preferia
morrer para que eu fosse
feliz!... A memória
dessa moça pobre e leal
é a única coisa boa que
eu tenho no coração...
O resto você destruiu...
Ah! Cláudio, Cláudio!...
a que baixezas descemos
nós?!... Louco! Você
ultrajou sua própria
filha!..." Ao ouvir
isto, Cláudio apoiou-se,
cambaleante, na porta,
como que fulminado por
um raio, enquanto dona
Márcia prorrompia em
soluços. (Cap. XIII, pp.
155 e 156)
73. A
ideia do suicídio
martela a mente de
Marita
- Félix e André foram ao
encontro da jovem, que
estugava o passo,
amarfanhada, aturdida.
Da Lapa, onde ficava a
pensão, até à Cinelândia,
ela correra quase.
Traída nos mais íntimos
sentimentos de mulher, a
injúria experimentada
transcendia para ela
toda a noção de
sofrimento. A revolta
sacudia-lhe os membros.
Tremia, desesperada. Na
cabeça, uma única ideia:
o suicídio. Ansiava
atirar-se sob os carros
que passavam. Morrer...
desaparecer... meditava,
chorando. Era preciso,
entretanto, viver um
tanto mais. Por que
Gilberto se esquivara?
Que trama haveria entre
ele e o pai adotivo? Por
que desistira? Como
soubera Cláudio do
encontro? As
interrogações sem
resposta
convulsionavam-na toda.
Desvairava. Rangia os
dentes. A morte, a
morte!..., pedia
mentalmente, tentando
apertar os lábios que se
abriam se voz. Decidiu,
mesmo assim, consultar
Gilberto. Era
indispensável vê-lo, uma
vez só que fosse.
Imperioso conhecer a
verdade, morrer com a
verdade... Talvez o
rapaz lhe estendesse um
fio de luz, porque, se
ele dissesse: "vive,
vive para mim",
conseguiria esquecer o
insulto daquela noite,
continuando a viver. Do
contrário, tudo estaria
acabado. Com a mente num
turbilhão de ideias,
Marita repelia,
automaticamente,
qualquer demonstração de
ternura e consolo por
parte de Félix. Debalde,
o benfeitor, ao
enlaçá-la, lhe assoprava
conceitos de paciência e
cordura, inutilmente se
referia à bondade e ao
perdão. Aquele coração
juvenil, embora bondoso,
figurava-se, então, um
lago límpido que vulcão
oculto, de inesperado,
fazia referver. Não
havia nela nenhum lugar
exposto à receptividade,
nenhum ponto marcado ao
equilíbrio e ao
silêncio. (Cap. XIV, pp.
157 a 159)
74. Marita decide
procurar Gilberto
- No crânio tumultuado
da moça, surgiu a ideia
de telefonar para
Gilberto, que, com toda
a certeza, estaria em
casa, visto que Marina
estava fora da cidade e
dona Beatriz, sua mãe,
requeria cuidados cada
vez maiores. Ela temeu,
porém, que o rapaz, a
distância, lhe embaísse
a boa-fé. Não
descortinava, contudo,
saída melhor. Era
preciso conversar,
ouvi-lo. Ansiava saber a
verdade. Várias ideias
entrechocaram-se, então,
na sua cabeça
atribulada, até que
estranho pensamento
assomou-lhe, de súbito.
Disfarçar-se, fingir...
Para obter a verdade,
mentiria, entrando,
dessa maneira, no jogo
com aquilo que se lhe
apresentou à imaginação
como sendo a cartada
final. Sabendo que ela e
Marina tinham vozes
semelhantes e maneiras
afins, telefonaria a
Gilberto, como sendo
Marina, imitando-lhe,
quanto possível, o tom
de palestra e
repetindo-lhe as
palavras de uso mais
frequente. Simularia
estar voltando de
Teresópolis e o rapaz,
assim abordado,
confessaria, sem dúvida,
tudo o que sentisse com
respeito a ela própria.
O relógio marcava dez
minutos para as nove.
Marita dirigiu-se,
então, até à casa de
dona Cora, cliente da
loja em Copacabana, que
se lhe fizera amiga
íntima e em cujo
apartamento costumava
telefonar. Dona Cora a
atendeu, gentilmente.
Marita podia telefonar à
vontade, ninguém a
interromperia. (Cap.
XIV, pp. 159 e 160)
75. Gilberto
revela imenso desprezo
pela jovem - A
dona de casa afastou-se
para a cozinha, isolando
a sala, e Marita,
sofreando a emoção de
modo a fantasiar a
alegria da irmã, discou
para a casa dos Torres.
Gilberto atendeu e
verificou-se o diálogo
entre os dois jovens,
com Marita fazendo-se
passar por Marina. Na
conversa, ela disse
estar perturbada,
ciumenta. Duas amigas em
Teresópolis lhe encheram
a cabeça e o motivo era
Marita. Gilberto
disse-lhe nada ter com a
irmã e, na sequência,
acabou revelando o caso
do encontro que não
houve, informando ter
sido Cláudio quem lhe
pediu não comparecesse à
pensão. Marita ouviu o
bastante para
reconhecer-se
desdenhada, batida, mas
ainda não era tudo. Ao
reportar-se ao pedido de
Cláudio, Gilberto
referiu-se à viagem para
a Argentina, que o pai
prometera oferecer a
Marita, a título de
refazimento. Como a moça
não entendeu o que tal
viagem significava, ele
riu-se, acrescentando de
modo sarcástico:
"Sanatório, meu bem.
Sanatório ou hospício.
Para Marita, só
sanatório e, quanto mais
longe, melhor!...
Argentina para uma e
Petrópolis para dois..."
(Cap. XIV, pp. 161 a
163)
(Continua no próximo
número.)