ANGÉLICA
REIS
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
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A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 22)
Damos
sequência ao estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. De que modo a alma
mantém o corpo com vida?
|
Podemos dizer que a alma
mantém o corpo com vida
graças aos cuidados que
lhe dispensa; ademais,
ela vigia as operações
centrais mais
diretamente que as
superficiais, as
atividades que se
manifestam durante o
sono mais diretamente
que as que caracterizam
a vigília. Nos estados
profundos pode distrair
em parte sua atenção do
organismo para
encaminhá-la a outro
lugar, sendo capaz de,
instantaneamente, voltar
à sua atitude comum a
respeito do organismo. A
morte corporal se produz
quando a atenção da alma
se afasta completa e
irremediavelmente do
organismo que, por
causas físicas,
tornou-se incapaz de
incorporar-se à direção
do espírito.
(A Personalidade Humana. Capítulo V – O hipnotismo.)
B. A atenção e a vontade
podem produzir efeitos
práticos sobre o
organismo humano?
Opiniões externadas por
espiritualistas e
materialistas atribuem a
certas direções da
atenção e da vontade
determinados efeitos
práticos sobre o
organismo humano. “A
oração inspirada na fé
salva os enfermos”,
dizia São João. Segundo
Myers, haverá
autossugestão
terapêutica ou moral
sempre que, por meio de
um artifício qualquer, a
atenção subliminar
dirigida sobre uma
função corporal, ou
sobre um fim moral, haja
alcançado um grau de
intensidade suficiente
para poder tomar energia
do mundo metaetéreo.
(Obra citada. Capítulo V
– O hipnotismo.)
C. Os fenômenos da visão
e da audição dependem
dos olhos e dos ouvidos?
Não. Os fenômenos
mencionados não ocorrem
necessariamente por meio
dos olhos e dos ouvidos.
A visão de nossos
sonhos, por exemplo, é
uma visão não-ótica.
Nasce no cérebro sem ter
sido transmitida pela
retina impressionada. As
leis óticas não podem
ser aplicadas a esta
visão, senão dando aos
termos um sentido novo.
(Obra citada. Capítulo VI – Automatismo sensorial.)
Texto para leitura
514. A palavra energia
que utilizamos no tópico
anterior se presta, sem
dúvida, a uma objeção
imediata. Pode-se dizer,
em particular, que não
se trata de um
verdadeiro acúmulo de
energia, mas de uma
simples transformação
num novo modo de
atividade, de uma
energia produzida pela
simples nutrição
material. Assim, a
oração não empregaria
mais energia do que a
blasfêmia, uma teoria
filosófica mais do que o
capricho de um maníaco.
515. É evidente, com
efeito, que a rapidez do
metabolismo orgânico não
varia em proporção ao
valor dos resultados
obtidos. Com efeito, o
pensamento anárquico e
desordenado do maníaco
implica, provavelmente,
uma maior destruição de
tecidos que o pensamento
tranquilo do filósofo.
Mas essas simples
modificações químicas
estão longe de
constituir o que
chamamos energia. O que
desejo é uma integração
da personalidade, uma
concentração
intelectual, moral e
espiritual.
516. Essa concentração
só pode ser mantida
dificilmente; sinto que
necessito para isso,
mesmo nos seus graus
inferiores, de um
esforço especial que
chamamos atenção, e
tenho razões para crer
que existem graus
infinitamente superiores
que não podem ser
alcançados com qualquer
esforço da vontade.
517. Ninguém está em
condições de dizer-nos a
que categoria de forças
pertence a energia desse
esforço vital e,
enquanto essa energia
não fique reduzida às
forças mais conhecidas,
creio-me autorizado a
formular a hipótese que
a considera como energia
sui generis, a procurar
indícios de sua origem e
fazer uma ideia da sua
possível extensão.
518. Assim, para mim,
todo homem é
essencialmente espírito
encarregado do controle
de um organismo composto
de vidas inferiores e
mais estreitas. O
controle exercido pelo
espírito não é uniforme
em todos os organismos
nem em todas as fases da
vida orgânica.
519. No estado de
vigília, nada mais
controla do que o centro
das ideias e os
sentimentos
supraliminares, pouco
ocupando-se dos centros
menos profundos que
foram educados tendo em
vista um funcionamento
contínuo, suficiente
para responder às
necessidades comuns.
Mas, nos estados
subliminares, onde os
processos supraliminares
se encontram inibidos,
os centros orgânicos
inferiores estão
submetidos de forma mais
direta ao controle do
espírito.
520. À medida que nos
aproximamos das partes
mais profundas do ser
humano, cada vez mais
nos aproximamos das
fontes da vitalidade
humana. Chega-se assim a
uma região na qual a
obediência aos estímulos
espirituais é muito
maior do que a
manifestada pelas
camadas superficiais, do
que as necessidades
exteriores plasmaram e
fixaram tendo em vista
uma adaptação
determinada ao meio
terrestre.
521. A última lição da
sugestão hipnótica,
sobretudo no estado de
sonambulismo, consiste
em mostrar-nos que
podemos alcançar por
artifícios empíricos
estas camadas de maior
plasticidade –
plasticidade relacionada
às forças internas, não
externas – em que o
espírito exerce sobre o
organismo um controle
mais imediato atuando
sobre ele com maior
liberdade.
522. Este conceito
parece lançar alguma luz
sobre um fato
frequentemente
observado, mas que
espera ainda sua
explicação. O estado de
sonambulismo parece, com
efeito, implicar duas
faculdades completamente
diversas, a faculdade
autocurativa e a
faculdade telestésica,
isto é, um
restabelecimento
corporal mais completo e
uma atividade espiritual
mais independente.
Torna-se assim o
espírito mais capacitado
a atrair a energia
metaetérea para o
organismo, ou a
trabalhar
independentemente do
organismo.
523. Os casos de
“clarividência
migratória”
produziram-se, com
efeito, durante o estado
de sonambulismo
provocado com um fim de
cura. Sinto-me levado a
crer que o espírito
pode, nestes casos, ou
modificar mais
facilmente o corpo, ou
abandoná-lo em parte,
para em seguida voltar a
ele. Noutros termos,
pode, durante um certo
tempo, ou manifestar a
respeito do corpo uma
maior atenção, o que lhe
causa um certo
benefício, ou desviar
sua atenção do corpo sem
que este por isso sofra.
524. Empreguei a palavra
atenção porque, tendo em
vista a impossibilidade
de imaginar o modo pelo
qual um espírito pode
exercer controle sobre o
organismo, o termo mais
apropriado me pareceu
aquele pelo qual
designamos nossas
próprias tentativas de
concentrar nossa
personalidade. Podemos
dizer que a alma mantém
o corpo com vida graças
aos cuidados que lhe
dispensa, e que vigia as
operações centrais mais
diretamente que as
superficiais, as
atividades que se
manifestam durante o
sono mais diretamente
que as que caracterizam
a vigília.
525. Nos estados
profundos pode distrair
em parte sua atenção do
organismo para
encaminhá-la a outro
lugar, sendo capaz de,
instantaneamente, voltar
à sua atitude comum a
respeito do organismo. A
morte corporal se produz
quando a atenção da alma
se afasta completa e
irremediavelmente do
organismo que, por
causas físicas,
tornou-se incapaz de
incorporar-se à direção
do espírito.
526. A vida significa o
manter essa atenção e
este manter é resultado
da absorção pela alma da
energia que comporta o
mundo espiritual ou
metaetéreo. Porque se
nossos espíritos
individuais vivem graças
a essa energia
espiritual que forma a
base da energia química,
em virtude da qual se
realizam as mudanças
orgânicas, é verossímil
que devemos renovar a
energia espiritual de
uma forma tão contínua
como a energia química.
527. Para manter o nível
da energia química,
temos necessidade de
calor e de alimentação;
igualmente, para manter
o nível da energia
espiritual, temos que
viver no meio espiritual
e absorver de vez em
quando as emanações que
nos chegam da vida
espiritual.
528. Se isto é assim,
muitas das experiências
subjetivas dos poetas,
filósofos, místicos e
santos encerram
realmente uma verdade
mais profunda da que
geralmente se supõe. Se
é verdade o
pressentimento que têm
de uma vida que lhes
chega de fonte
desconhecida, se as
cintilações subliminares
que os iluminam e os
renovam vêm, na
realidade, de algum meio
situado mais além da
abóbada celeste, a mesma
influência deve, por
analogia, manifestar-se
em toda a gama dos
fenômenos psicofísicos,
não só no domínio das
emoções espirituais
superiores, mas sempre
que nos elevemos por
sobre a vida orgânica
rudimentar.
529. A vida nascente de
cada um de nós é,
talvez, um fragmento que
acaba de se separar da
energia cósmica e a vida
contínua é representada
por esse fragmento em
estado de variação
contínua. Nessa energia
circunstante (chame-se
como se lhe aprouver)
vivemos, caminhamos e
existimos; e é possível
que certas disposições
do espírito, certas
fases da personalidade,
sejam capazes de,
durante um certo tempo,
ligar-se a uma corrente
vivificadora mais
completa dessa energia.
530. Esta hipótese
reconciliaria todas as
opiniões, tanto as
espiritualistas como as
materialistas, que
atribuem a certas
direções da atenção e da
vontade determinados
efeitos práticos sobre o
organismo humano. “A
oração inspirada na fé
salva os enfermos”, diz
São João. “No hipnotismo
só existe a sugestão”,
diz Bernheim. Na minha
linguagem mais
grosseira, estas duas
proposições (fazendo
abstração do elemento
telepático que podem
encerrar as palavras de
São João) podem ser
expressas em termos
semelhantes: “Haverá
autossugestão
terapêutica ou moral,
sempre que, por meio de
um artifício qualquer, a
atenção subliminar
dirigida sobre uma
função corporal, ou
sobre um fim moral, haja
alcançado um grau de
intensidade suficiente
para poder tomar energia
do mundo metaetéreo”.
531. Não pretendo ter
esclarecido
completamente o mistério
desse fenômeno, que em
conjunto constitui a
sugestão. Como meus
predecessores, não estou
em condições de explicar
por que certos
organismos se tornam em
determinados momentos
tão superiores a si
mesmos e capazes de uma
revolta tão vigorosa, de
uma submissão a um
controle tão profundo.
Mas formulei um ponto de
vista que permite fazer
com que se entre nesse
mistério, num mistério
mais vasto, o do fim
universal, e creio ter
estabelecido uma relação
mais verdadeira do que a
que devemos à escola de
Nancy entre a sugestão
de um lado e a persuasão
externa e a vontade
interna de outro.
532. A escola de Nancy
fala da sugestão como se
fosse comparável à
persuasão supraliminar,
a um esforço
supraliminar. Tratei de
mostrar que sua eficácia
real depende de
processos subliminares;
nada mais é que um meio
empírico destinado a
facilitar a absorção de
energia espiritual e a
aquisição de
forças-guias, tomadas a
um meio situado mais
além da abóbada celeste.
533. Automatismo
sensorial. Os
fenômenos do automatismo
sensorial e motor, pelos
quais se manifesta
especialmente a
faculdade da telepatia e
da telestesia,
introduzem-nos num
domínio onde desaparecem
as limitações da vida
orgânica. Considerando,
por outro lado, que a
porção de nossa
personalidade que exerce
esta faculdade durante
nossa existência
continua exercendo-a
mesmo depois da morte
corporal, temos que
reconhecer uma relação
obscura mais
indiscutível entre o eu
subliminar e o eu que
sobrevive.
534. Definirei o
automatismo como o termo
mais amplo aplicável às
influências subliminares
que se manifestam na
vida comum. Algumas
dessas influências já
receberam nomes
especiais: histeria,
gênio, hipnotismo. Mas a
grande variedade de
manifestações
subliminares permanece
ainda por ser descrita.
Assim, não falamos ainda
das alucinações
verídicas, nem da
escrita automática, nem
das manifestações de
sonambulismo espontâneo.
535. Os produtos da
visão e da audição
internas, exteriorizados
de forma a revestir o
caráter de
quase-percepções, é o
que chamo automatismo
sensorial. As mensagens
enviadas por intermédio
dos movimentos das
pernas, das mãos ou da
língua, e atribuídos a
impulsos motrizes
internos, independentes
da vontade consciente, é
o que chamo automatismo
motor.
536. Examinados em
conjunto, todos esses
fenômenos dispersos
revelam, apesar dessa
diversidade de forma,
uma analogia essencial e
podem ser considerados
como mensagens que o eu
subliminar dirige ao eu
supraliminar, como
esforços conscientes ou
não, emanados das
camadas profundas de
nossa personalidade e
destinados a mostrar ao
pensamento comum da
vigília fragmentos de
conhecimento que o
pensamento da vigília
não pode alcançar.
537. Enquanto que a
psicologia comum vê na
vida supraliminar a
manifestação da
personalidade normal e
substancial, da qual a
vida subliminar
constituiria ou o
substrato
semiconsciente, uma
margem parcialmente
iluminada ou,
finalmente, uma
excrescência mórbida,
considero a vida
supraliminar como um
aspecto específico da
personalidade, como uma
fase especial cujo
estudo nos é fácil, já
que se encontra
simplificado pela
consciência clara que
temos do que nela
ocorre, mas que estaria
longe de ser considerada
como a fase central ou
predominante, caso nos
fosse possível abarcar
com uma vista d’olhos a
nossa existência em sua
totalidade.
538. Do mesmo modo que a
personalidade
supraliminar, toda
faculdade humana, todo
sentimento humano,
constituem aspectos
específicos de uma força
mais geral. De acordo
com esta hipótese, cada
um de nossos sentidos
especiais pode ser
concebido como tendente
a um desenvolvimento
mais completo que o
possibilitado pela
experiência terrestre. E
cada sentido especial é,
por sua vez, um sentido
interno e um sentido
externo, isto é,
implica, ao mesmo tempo,
um trajeto cerebral de
uma capacidade
desconhecida e uns
órgãos terminais cuja
capacidade presta-se
melhor à avaliação.
539. A relação entre
esta visão interna,
mental, com a percepção
psicológica não
sensorial de um lado, e
a visão ocular do outro,
constitui precisamente
um dos pontos cujo exame
mais profundo parece
necessário. Obrigamo-nos
a falar da percepção
visual mental em termos
emprestados à percepção
sensorial, caso não
quisermos tornar
impossível qualquer
discussão.
540. A experiência comum
pretende que só o órgão
terminal é capaz de
receber informações
novas e que o trajeto
central só serve para
combinar essas
informações novas com as
que já estão
armazenadas. Assim é,
por exemplo, o caso dos
conhecimentos adquiridos
pela vista ou pelo
ouvido, isto é,
conhecimentos que nos
trazem as ondas etéreas
ou aéreas, e que são
recebidos por um
aparelho terminal
especial. Mas todos os
fenômenos de visão e
audição não ocorrem
necessariamente por meio
dos olhos e dos ouvidos.
541. A visão de nossos
sonhos (só falamos da
visão para simplificar o
problema) é uma visão
não-ótica. Nasce no
cérebro sem ter sido
transmitida pela retina
impressionada. As leis
óticas não podem ser
aplicadas a esta visão,
senão dando aos termos
um sentido novo.
542. Esse fato é
geralmente considerado
como pouco importante,
porque a visão dos
sonhos é considerada, em
si mesma, como
desprovida de valor,
como uma simples
reprodução de
conhecimentos adquiridos
durante a vigília. É-nos
impossível concordar com
esta opinião. É-nos
impossível dizer, a
priori, por quais as
vias ou de que regiões
vem o conhecimento ao eu
subliminar. Isso deveria
ser um mero assunto de
observação e de
experiência.
543. O que devemos fazer
é generalizar o mais que
possamos o nosso
conceito de visão,
deixando de
identificá-lo com os
fenômenos definidos da
visão da retina ou ótica
e encontrar depois que
espécies de mensagens
nos chegam pelas
diversas formas de visão
que resultam nesse
conceito genérico. Mas,
antes de tudo, uma
análise rápida das
relações existentes
entre a visão central e
a visão periférica não
seria de todo inútil.
(Continua no próximo
número.)