As pesquisas sobre
reencarnação e
mediunidade
A pesquisa sobre a
reencarnação é, sem
dúvida alguma, um tema
altamente interessante e
relevante, tanto para o
Espiritismo como para a
evolução da
Espiritualidade da Terra
de uma forma geral.
De fato, os temas
reencarnação e
mediunidade, com
especial destaque para
as análises das
evidências dos
respectivos fenômenos,
causam grande interesse
e geram informações
muito consistentes para
a comprovação da
veracidade destes
princípios. É
interessante notar que
apesar de serem temas, a
priori, independentes,
ambos geram evidências
da imortalidade da alma,
ou seja, ambos
corroboram-se mutuamente
em relação ao princípio
da “existência,
independência em relação
ao corpo e imortalidade
da alma”.
Do ponto de vista da
metodologia de pesquisa,
é possível dizer que
tanto reencarnação como
mediunidade ainda são
assuntos cujos
procedimentos
investigativos não são
triviais. Neste
contexto, poderíamos até
supor que as pesquisas
envolvendo reencarnação
seriam, a priori, mais
complexas do que aquelas
abrangendo mediunidade.
Isto porque existe um
significativo número de
médiuns ostensivos
conhecidos no movimento
espírita e mesmo fora
dele, o que permite
avaliações diversas,
tais como obtenção de
eletroencefalogramas
atípicos durante o
transe mediúnico
(psicográfico ou
psicofônico), medições
de reações fisiológicas
adrenérgicas ou
colinérgicas, durante o
transe mediúnico,
avaliação da quantidade
de cristais presentes na
epífise (glândula
pineal) em médiuns
ostensivos, entre
outras, semelhantemente
aos estudos
desenvolvidos pelo
Doutor Sérgio Felipe de
Oliveira. Ademais, o
próprio conteúdo da
mensagem tem um caráter
decisivo a partir da
avaliação comparativa
que é desenvolvida
quando o Espírito
comunicante é entidade
conhecida, ou por
trabalhos espirituais
anteriores ou por seu
nome em anterior
encarnação. Em se
tratando de mediunidade
de efeitos físicos, os
investigadores procuram
se certificar de que não
há fraude de nenhuma
espécie e buscam o
máximo de informações
que caracterizam o
efeito objetivo obtido e
suas consequências
diretas e indiretas.
Por outro lado, em se
tratando de pesquisas
sobre reencarnação, a
comprovação da
veracidade do fato
parece ser ainda mais
complexa. Segundo o
professor Hernani
Guimarães Andrade, os
casos que sugerem
reencarnação são
divididos basicamente em
“casos resolvidos” e
“casos não resolvidos”.
Caso resolvido seria um
episódio com um grande
volume de dados,
normalmente obtidos via
lembrança espontânea do
indivíduo reencarnado,
tão concretos,
específicos,
particulares e, às
vezes, secretos, que
seria muito improvável
que o “acaso” estivesse
“atuando”, ou que fosse
uma fraude, na maioria
das vezes sem
justificativa cabível.
Chama-se “caso
resolvido” porque a
individualidade anterior
é totalmente
identificada, ou seja,
chega-se à conclusão que
o indivíduo A muito
provavelmente é a
reencarnação do
indivíduo B, que viveu
do ano X até o ano Y
(obviamente, não pode,
em hipótese alguma,
haver superposição com o
intervalo de vida do
novo indivíduo,
contando, inclusive, os
meses de gestação desde
a concepção, o que
eliminaria completamente
a respectiva hipótese)
etc.
Caso não resolvido é o
caso que sugere
reencarnação, mas que
não foi possível
concluir com um número
suficiente de evidências
qual o nome da “persona”
na reencarnação
anterior. Por exemplo,
uma criança brasileira
de dois anos começa a
falar a língua chinesa,
sem ter tido qualquer
contato prévio com
alguém que saiba falar
esse idioma. É um caso
interessante que
merece ser investigado,
ou seja, analisado com
todo o rigor por
especialistas da língua
chinesa e estudiosos da
reencarnação para que
sejam avaliados o número
de termos e\ou
expressões pronunciadas,
o significado delas e
quanto o conjunto das
evidências sugere uma
bagagem de encarnação
anterior. Mesmo não se
chegando ao nome da
personalidade da vida
anterior, tal fenômeno
(o “caso não resolvido”)
é muito interessante
para se estudar a
evolução do Espírito; os
mecanismos de
aprendizado e
“recordação”, sobretudo
da criança; a influência
do tempo de intervalo
entre encarnações e as
experiências que o
Espírito vivenciou no
mundo espiritual, tanto
no que se refere ao
binômio
esquecimento-lembrança
dos episódios das vidas
passadas como no que se
relaciona ao
amadurecimento
espiritual e
planejamento
reencarnatório do
Espírito. Apesar dessa
bagagem extraordinária
de dados e informações
extremamente
interessantes e válidas
para o estudo associado
às várias nuances
relacionadas ao tema
reencarnação, de uma
forma geral, o “caso não
resolvido” não chega à
identificação da
personalidade da vida
anterior (que seria o
“caso resolvido”), o
que, de fato, é algo
ainda mais raro.
Como seria de se
esperar, muitos críticos
do Espiritismo e do
princípio
reencarnacionista, de
uma forma geral, negam
veementemente as
evidências apresentadas,
recorrendo ao
“inconsciente”, à
coincidência, ao acaso e
à fraude para refutar
tais evidências.
Conhecedores dessa
realidade, Professor Ian
Stevenson, Doutor
Hernani Guimarães
Andrade e outros
pesquisadores focaram
seus últimos estudos
envolvendo reencarnação
predominantemente sobre
as chamadas “marcas de
nascença”, que muitas
vezes tinham correlação
com episódios e\ou
marcas dos corpos da
encarnação anterior. De
fato, em função da ação
de “modelo organizador
biológico (MOB)” do
perispírito, foram
“plasmados” no novo
corpo, principalmente
quando o intervalo entre
as reencarnações é
relativamente pequeno
(comumente de cinco a
oito anos).
Obviamente, mesmo com as
supracitadas evidências
físicas e o grande
volume de dados
reunidos, sobretudo
Hemendra Nath Banerjee e
Ian Stevenson, entre
outros, a ciência dita
“oficial” ainda
engatinha nos estudos
nessa área.
Dentro deste contexto,
não podemos esquecer-nos
de mencionar os casos de
psicólogos e
psicoterapeutas que,
utilizando de técnicas
de regressão de memória
para voltar a episódios
traumáticos de infância
e da vida intrauterina,
observaram com muita
surpresa a lembrança de
episódios, na maioria
das vezes traumáticos,
que faziam supor outra
vida no passado. Muitas
dessas lembranças
tornaram-se,
posteriormente, casos
resolvidos, através de
longos e árduos estudos.
Estes eventos deram
ensejo ao surgimento da
chamada Terapia das
Vidas Passadas (TVP),
por meio do trabalho
estupendo de um número
enorme de grandes
pesquisadores como, por
exemplo, Doutor Morris
Netherton.
Allan Kardec, o ilustre
codificador da Doutrina
Espírita, considera que
uma opinião pessoal não
pode ser considerada
como critério para a
identificação da
verdade, por mais nobre
que seja o indivíduo,
encarnado ou
desencarnado, que emita
essa opinião.
Obviamente, a opinião
pode estar correta, mas
sem testarmos com o
rigor necessário essa
opinião, estudando,
comprovando, procurando
evidências que
corroborem a respectiva
proposta, estaremos
correndo o risco de
cometer erros em nossas
avaliações, por estarmos
ignorando o método de
avaliação do conteúdo da
mensagem (conteúdo,
lógica, objetividade,
clareza na exposição,
forma escorreita,
coerência com a ciência,
caráter moral do
emissor) e o controle do
ensino através da sua
universalidade (afinal,
o que é verdade é
verdade sempre, em
qualquer lugar e em
qualquer contexto).
É claro que,
frequentemente, é
difícil, por uma série
de motivos e contextos,
aplicarmos, com rigor,
tais critérios em nossos
estudos. Contudo, nestes
casos, a opinião pessoal
deve ser registrada como
uma informação
relevante, a qual pode
ser considerada uma
“hipótese de trabalho”,
esperando novas
evidências para aumentar
a probabilidade de poder
passar pelo crivo da
avaliação
qualitativo-quantitativa
do conteúdo da mensagem.
Até lá, sua utilização
como tema para estudos
na casa espírita não
deveria ser considerada
prioritária.
Levando em consideração
tais critérios e
admitindo que todos nós,
sem exceção, podemos
estar doutrinariamente
equivocados em
determinado tópico,
poderemos estudar mais e
melhor todas as
“hipóteses de trabalho”.
Entretanto, tais estudos
devem ocorrer em
ambientes e contextos
adequados a tais
abordagens, uma vez que
não são pontos pacíficos
e prioritários para o
dia-a-dia da casa
espírita. De qualquer
maneira, é dever do
espírita sincero ter
muito respeito pelas
opiniões discordantes
dos confrades,
independentemente do
tema em questão.
Assim sendo, seria
interessante, sobretudo
em se tratando de
estudos envolvendo
identificação de
personalidades
reencarnadas, que
considerássemos as
diversas propostas
apresentadas pelos
diferentes confrades
como “hipóteses de
trabalho” (todas elas,
sem exceção). Desta
forma, respeitando as
diferentes opiniões,
deixaríamos em
“banho-maria”, em um
primeiro momento, as
novas propostas que
surgissem, até que o
volume de evidências
concretas, através de
estudos que respeitassem
os critérios propostos
por Allan Kardec, seja
tão elevado e
consistente que, lenta,
natural e gradualmente,
as propostas sejam mais
sustentáveis.
Para concluir, seria
válido refletir que
aquilo que em um
primeiro momento não
pode ser provado que
está certo, pode também
não ser comprovado que
esteja errado. Nessa
situação, a orientação
de Erasto em “O Livro
dos Médiuns” é
interessante: “É
preferível rejeitar dez
verdades a aceitar uma
única mentira”. A
“rejeição”, neste caso,
não representaria medida
irrevogável e\ou de
excesso de ortodoxia,
mas simplesmente um
cuidado doutrinário, uma
espécie de adiamento,
até o momento em que o
aumento do número e da
qualidade das evidências
faça com que o tema
necessite ser retomado
de forma mais efetiva.
Se este momento não
chegar, significa que
nós evitamos uma perda
de foco e de tempo em
temas menos
prioritários, pois as
dúvidas concernentes à
evidência do fato
permaneceriam; se o
momento chegar, passamos
a estudar mais
detidamente o tema em
questão com mais
subsídios para
discussões doutrinárias
menos especulativas e,
consequentemente, mais
producentes. Assim,
evitaríamos perder o
foco das prioridades
doutrinárias, sem inibir
o estudo, a iniciativa e
o trabalho em assuntos
de maior predileção de
cada confrade.