ANGÉLICA
REIS
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
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A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 24)
Damos
sequência ao estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. Como definir, no
hipnotismo, a
importância da sugestão?
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Segundo Myers, a
sugestão não implica uma
simples obediência do
indivíduo às ordens que
se lhe sugerem, porque
ela é unicamente eficaz
quando o indivíduo adota
a sugestão recebida, até
o ponto de transformá-la
em autossugestão. Não é,
pois, a ordem do
hipnotizador, trata-se
da faculdade do sujeito,
o que constitui o quid
(1)
da questão.
(A Personalidade Humana.
Capítulo VI –
Automatismo sensorial.)
B. As visões internas
submetem-se a alguma lei
conhecida?
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Parece que não. Depende
do simples acaso – diz
Myers – que um indivíduo
enxergue um esqueleto,
que outro veja uma cena
de sua infância, que um
terceiro enxergue uma
fila de letras, cujo
conjunto não tem sentido
algum, ou que um quarto
veja uma representação
do que um amigo distante
está fazendo naquele
momento.
(Obra citada. Capítulo
VI – Automatismo
sensorial.)
C. Teria a telepatia
alguma relação com os
fenômenos de visão e
audição internas
mencionados por Myers?
Sim; pelo menos é o que
sugere Myers. Para ele,
a telepatia deve
constituir a condição
essencial de todos esses
fenômenos. A experiência
atual confirmaria essa
opinião, em relação ao
papel da telepatia,
visto que, ao passar dos
fenômenos provocados aos
fenômenos espontâneos,
nota-se que estes
últimos proporcionam uma
prova a favor da
transmissão de emoções e
pensamentos, de um
Espírito a outro.
(Obra citada. Capítulo
VI – Automatismo
sensorial.)
Texto para leitura
568. Em nossa discussão
relativa ao hipnotismo
tratamos de demonstrar
que a sugestão não
implica uma simples
obediência do indivíduo
às ordens que se lhe
sugerem, antes, que é
unicamente eficaz quando
o indivíduo adota a
sugestão recebida, até o
ponto de transformá-la
em autossugestão, e de
exercer a faculdade
novamente desenvolvida
no sentido desejado pelo
hipnotizador. Não é,
pois, a ordem do
hipnotizador, trata-se
da faculdade do sujeito,
o que constitui o quid
(1)
da questão.
569. Passamos em revista
todas as faculdades
suscetíveis de uma
intensificação
hipnótica: a faculdade
profunda orgânica, a que
preside o sistema de
nutrição e à qual se
dedica a psicoterapia;
assistimos, igualmente,
ao aumento da
sensibilidade aos
estimulantes externos, à
hiperestesia hipnótica,
isto é, à intensificação
que provavelmente pode
ser levada a um grau
desconhecido, da vista,
do ouvido, do olfato e
do paladar. Citamos os
fenômenos da
heterestesia, isto é,
das percepções de um
gênero novo, as dos
campos magnéticos, e o
contato dos metais
específicos.
570. Não discutiremos a
questão de saber se se
trata, nesse caso, de
estimulações da
sensibilidade periférica
ou da receptividade
central, isto é, se os
órgãos terminais
transmitiam uma
informação vinda do
mundo exterior em termos
novos, ou se o cérebro
aplicava a uma
informação comum uma
nova qualidade mais
requintada de
interpretação.
571. Ocupamo-nos,
finalmente, do fenômeno
da exaltação dessa
faculdade central, que
não é unicamente
sensorial, mas antes
atinge mais ao sentido
intelectual e moral; mas
omitimos a referência à
“exaltação da
imaginação”, da
possibilidade que existe
de dar às imagens que
têm uma origem central
um pouco mais dessa
vivacidade que só podem
alcançar as imagens
advindas do mundo
exterior.
572. Nosso estudo das
alucinações leva-nos a
considerar as
possibilidades, os
estímulos desta última
categoria. Porque as
alucinações que nos
ocupam não são
exteriorizações toscas
de alguma comoção
interna, assim como as
sensações luminosas,
através das quais os
nervos óticos reagem a
um traumatismo da
cabeça. Na maioria dos
casos são produtos
elaborados e em cuja
elaboração a
inteligência deve ter
tomado parte, ainda que
de um modo obscuro para
nós. De acordo com isso,
as imagens de que
tratamos lembram as
inspirações do gênio,
cujos caracteres
apresentam: aparição de
um produto intelectual
complexo,
pré-constituído sob o
umbral da consciência e
projetado, uma vez que
já estava constituído,
na consciência comum.
573. No gênio, esta
corrente subliminar
perturba raramente,
apesar de sua aparição
brusca e inesperada, a
corrente de ideias
supraliminares à qual se
adapta melhor. Mas, nos
casos de alucinações
induzidas, a
incompatibilidade entre
essas duas correntes de
inteligência é mais
pronunciada, e a
corrente superficial
consciente está mais
oscilante, e com maior
frequência, pelas
intervenções
intermitentes da
corrente subliminar,
como na sugestão
alucinatória
pós-hipnótica.
574. Considerando as
alucinações, do ponto de
vista geral, chegamos a
compreender sua
independência de
qualquer degeneração ou
doença corpórea.
Frequentemente
acompanham, com efeito,
a doença; mas isso prova
somente que os trajetos
centrais, a exemplo de
todas as demais partes
do organismo, estão,
igualmente, sujeitos aos
estímulos mórbidos e às
excitações sadias.
Tomado por si só, o
simples fato da
exteriorização de uma
imagem que tenha uma
origem central é
unicamente o resultado
de um forte estímulo
interno e nada mais.
575. Não existe lei
fisiológica que nos
possa informar sobre o
grau de vivacidade que
deve ter uma imagem
central para ser
compatível com a saúde,
exceção dos casos em que
essas imagens tornam-se
impossíveis de
distinguir das
percepções externas, até
o ponto de perturbar a
maneira racional de
viver, como na loucura.
Nenhum dos casos de
alucinações verídicas
alcançou, que eu saiba,
esse ponto.
576. Falei das
alucinações que a
sugestão é suscetível de
produzir, quer durante o
sono hipnótico, quer
depois dele, ou em
pessoas acordadas. Esses
casos de quase-percepção
são agora familiares
para todos, ainda que
seu verdadeiro
significado não tenha
recebido a devida
atenção. Mas, esta forma
de experiência pode
variar e aperfeiçoar-se?
Podemos livrá-la de seus
elementos supérfluos e
pôr em relevo de forma
mais contundente a parte
realmente interessante?
577. Estudamos as
imagens alucinatórias,
nascidas como
consequência da sugestão
feita por A no espírito
do indivíduo hipnotizado
B. Mas a questão de
saber se a voz ou a
ordem de A intervém na
produção dessas imagens
não nos interessa.
Desejamos estudar o
espírito de B e
gostaríamos de deixar o
espírito de B livre de
qualquer sugestão verbal
comum, mesmo desejando
observar, no que for
possível, uma influência
telepática.
578. Agradar-nos-ia,
também, poder prescindir
do hipnotismo e de
mostrar e descrever a B
suas alucinações durante
a vigília. Pode B
alcançar essas imagens
subliminares mediante um
mero esforço da vontade?
Pode fazer algo além de
provocar só essas
imagens-lembrança,
mediante combinações
mais ou menos
fantásticas? Será que,
além dos casos raros e
verdadeiramente
assombrosos de
alucinações reais, é
possível encontrar algum
indício que permita
supor a existência de um
costume ou de uma
faculdade de receber ou
evocar as imagens da
reserva subliminar?
579. Esses indícios
existem realmente. No
capítulo sobre o gênio,
e no capítulo sobre o
sono, provamos a
existência de
determinadas categorias
dessas imagens, cada uma
das quais pronta a se
manifestar ao menor
estímulo, surgindo as
figuras do sonho,
durante um momentâneo
obscurecer da
consciência; as
inspirações
correspondentes ao
desejo concentrado ou a
emoção meramente
passageira do homem de
gênio; as pós-imagens
que se reproduzem em
condições desconhecidas,
muito depois de
desaparecida a excitação
original; as
imagens-lembrança que
surgem em nosso espírito
com uma vivacidade nem
sempre desejada e, por
fim, a exatidão das
ilusões hipnagógicas
feita para nos
surpreender, ao revelar
um estado de transição
da vigília ao sono.
580. Trata-se agora de
encontrar um meio
empírico singelo que
permita reunir todas
essas variedades de
visões subjacentes, de
lhes encontrar uma base
comum. Esse meio nos
proporciona,
primeiramente, a
cristaloscopia
(cristal-visão). Eis no
que consiste essa
experiência: faz-se com
que o indivíduo olhe
atentamente, mas sem
fatigá-lo, um espelho ou
um fundo claro e
transparente disposto de
maneira que reflita, o
menos possível, tanto o
rosto do observador como
os objetos que o
rodeiam. O melhor modo
de evitar os reflexos
consiste em usar uma
bola de cristal
envolvida por um pano
negro, colocada no fundo
de um caixote
entreaberto. Depois de
olhá-la duas ou três
vezes, durante dez
minutos, cada vez, é
preferível que o sujeito
permaneça sozinho no
quarto e que se encontre
num estado de
passividade mental:
começará, talvez, a
dar-se conta de que o
espelho ou a bola estão
opacos ou lhe parecerá
ver algum rosto ou
imagem na bola.
581. Um homem ou uma
mulher entre vinte
terão, talvez, ocasião
de realizar essa
experiência e desses
vinte visionários
somente um será capaz
talvez de desenvolver
essa faculdade de visão
interna até o ponto de
receber até informações
que seria impossível
obter pelos meios
comuns.
582. E, antes de tudo,
como é possível, em
geral, ver figuras no
cristal? Os experimentos
hipnóticos comuns nos
sugerem duas respostas,
cada qual só explicando
uma parte do fenômeno.
Sabemos, em primeiro
lugar, que o sono
hipnótico se produz, com
frequência, quando
olhamos fixamente um
pequeno objeto
brilhante. Isso pode
ser, ou não, um efeito
da sugestão, mas o fato
se produz, com
segurança, em certos
casos e o sujeito pode
ser facilmente
hipnotizado e colocado
num estado que facilita
as alucinações. Em
segundo lugar, pode-se
sugerir a um indivíduo
hipnotizado ver
(descrever) um retrato
sobre um papel em
branco; e continuará ele
vendo esse retrato,
mesmo depois que o papel
tenha sido misturado com
outros, mostrando assim
que discerne com
acuidade pouco comum os
sinais ou signos
indicadores que podem
existir aparentemente na
superfície de um papel
em branco.
583. A primeira
experiência mostra-nos
que a cristaloscopia
pode, às vezes, vir
acompanhada de um estado
de hipnotismo parcial,
que dá lugar, talvez, à
alucinação, e o segundo,
que os sinais parecem,
às vezes, provocar a
cristaloscopia, mas
também resulta dos
testemunhos dos mesmos
indivíduos que foram
submetidos a essa
experiência, e das
observações do Dr.
Hodgson e outros
(compreendidas as
minhas), que tiveram
oportunidade de assistir
às suas experiências,
que o fato de olhar uma
bola de cristal provoca,
raras vezes, um sintoma
hipnótico qualquer,
tanto entre indivíduos
nos quais teve êxito a
experiência, como entre
os indivíduos em que não
se obteve resultado. Por
outro lado, não existe
nenhuma prova a favor de
uma relação qualquer
entre a faculdade da
cristaloscopia e a
sensibilidade hipnótica.
584. Tudo o que se pode
dizer é que essa
faculdade está, com
frequência, associada à
sensibilidade telepática
e, embora esta última
possa ser frequentemente
exaltada pelo
hipnotismo, nada prova
que essas duas formas de
sensibilidade caminhem
sempre juntas.
585. Outro fato: a
conexão entre o cristal
e a visão é das mais
variáveis. Às vezes as
figuras parecem
claramente desenhadas no
cristal e limitadas por
ele; outras vezes
qualquer percepção do
cristal e do espelho
desaparece e o sujeito
se assemelha a um
clarividente,
introduzido num grupo de
figuras animadas com
vida. Ainda mais: os
sujeitos nos quais esta
faculdade é levada ao
mais alto grau podem
passar sem o espelho e
são capazes de ver
imagens na simples
obscuridade, o que os
aproxima dos casos de
ilusões hipnagógicas.
586. Parece, pois,
prudente, pelo momento,
não ver na
cristaloscopia mais do
que um simples meio
empírico de desenvolver
a visão interna, de
exteriorizar as imagens
associadas às mudanças
produzidas nos trajetos
sensoriais do cérebro e
provocadas por estímulos
vindos ou de dentro, ou
de espíritos diversos do
sujeito. As alucinações
assim provocadas parecem
absolutamente anódinas.(2)
Ao menos, não conheço
casos em que elas se
mostraram danosas em
qualquer forma.
587. Num certo sentido,
a cristaloscopia deveria
encontrar, logicamente,
seu lugar nesta parte de
nossa exposição. Com
efeito, ocupamo-nos do
controle da visão
interna, e a
cristaloscopia
constitui, juntamente
com a sugestão
hipnótica, um meio
empírico de estabelecer
esse controle.
588. Uma revisão geral
dos resultados obtidos
era necessária, do ponto
de vista da comparação
com os fenômenos da
visão interna
espontânea, com as
alucinações verídicas de
que vamos nos ocupar
agora. Mas, desde outro
ponto de vista, a
cristaloscopia chega
aqui de um modo
prematuro, porque poucos
dos fenômenos são de
natureza que não
apareçam ao leitor
fantásticos e
inacreditáveis.
589. Essas visões não
parecem estar submetidas
a lei alguma; depende do
simples acaso que um
indivíduo enxergue um
esqueleto, que outro
veja uma cena de sua
infância, que um
terceiro enxergue uma
fila de letras, cujo
conjunto não tem sentido
algum; que um quarto
veja uma representação
do que um amigo distante
está fazendo naquele
momento.
590. As visões
cristalinas, cujas
causas determinantes não
conhecemos, podem ser
consideradas como
claridades acidentais
que iluminam a visão
interna, como reflexos
sob uma curvatura
estranha, indeterminada,
que desfigura o universo
ao atravessar e iluminar
um meio incognoscível,
constituído por
substância anímica
específica. O
conhecimento normal e o
supranormal e os
produtos da imaginação
misturam-se e formam
irradiações complexas,
enfeixando lembranças,
sonhos, percepções
telepáticas,
telestésicas,
retrocognitivas,
precognitivas, etc.
Existem ainda indícios
de comunicações
espirituais e de uma
espécie de êxtase.
591. É-nos impossível
estudar todos esses
fenômenos de uma só vez.
Para voltar aos casos de
automatismo sensorial
espontâneo, vemo-nos
obrigados a separar
algum fenômeno
fundamental que contém o
princípio do qual
derivam os demais
fenômenos mais raros e
complexos. Isto é
relativamente fácil,
porque a teoria da
experiência real postula
o princípio de que se a
visão e a audição
internas, cuja
importância
demonstramos, possuem
realmente esta
importância e um valor
qualquer e se, na
realidade, representam
alguma coisa mais do que
os sonhos e as
meditações, devem obter
cognições e informações
de Espíritos ou objetos
distanciados e
recebê-las de outra
forma, diferente da
obtida por meio dos
órgãos dos sentidos
externos.
592. Devem existir
comunicações entre as
porções subliminares,
como existem entre as
porções supraliminares
de diferentes
indivíduos. Em resumo, a
telepatia deve
constituir a condição
essencial de todos esses
fenômenos. Vejamos como
a experiência atual
confirma esta opinião,
em relação ao papel da
telepatia; porque, ao
passar dos fenômenos
provocados aos fenômenos
espontâneos, veremos que
estes últimos
proporcionam, antes de
tudo, uma prova a favor
da transmissão de
emoções e pensamentos,
de um Espírito a outro.
(Continua no próximo
número.)
(1)
Quid: o ponto difícil; o
busílis; o xis da
questão.
(2)
Anódina: insignificante,
medíocre; que é pouco
importante; secundária.
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