Sexo e Destino
André Luiz
(Parte
18)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Sexo e Destino,
de André Luiz,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1963 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Márcia e Marina foram
ao hospital ver Marita?
Não. Nem uma, nem outra.
Ambas alegaram motivos
para não ir, e Cláudio
sentiu-se abandonado
naqueles momentos para
ele tão importantes.
Ninguém o apoiava,
ninguém entendia-lhe o
suplício moral. Mas,
quando eram cinco horas,
chegou ao hospital o Sr.
Salomão, o farmacêutico,
que se declarou amigo da
jovem e seu vizinho de
loja. Dizendo ter sido
uma das últimas pessoas
com quem ela conversara
antes do acidente, ele
narrou ao pai aflito,
pormenor a pormenor,
quanto sabia. Com
certeza, a jovem
ingerira os soporíferos
que lhe dera e,
identificando-lhes o
caráter inofensivo,
projetara-se sob um
automóvel em disparada.
(Sexo e Destino, 2ª
parte, capítulo II, pp.
189 a 191.)
B. Além do apoio moral
de sua presença, a ida
de Salomão ao hospital
acabou sendo
providencial. Por quê?
O motivo é que ele se
ofereceu para trazer ao
recinto um amigo
espírita, como ele o
era, fato que se deu no
mesmo dia, às oito da
noite, quando ele e o
senhor Agostinho ali
chegaram. Agostinho
interessou-se
delicadamente pela moça
e inteirou-se de todas
as minudências do
desastre. Em seguida,
orou, emocionado,
suplicando a bênção do
Cristo para a menina
atropelada e aplicou-lhe
passes de longo curso. O
atendimento infundiu
grande bem à moça,
melhorando-lhe a
condição geral. A
respiração desoprimiu-se
e Marita conseguiu
entrar, enfim, em sono
calmo.
(Obra citada, 2ª parte,
capítulo II, pp. 191 e
192.)
C. Que efeito produziu
em Cláudio a presença
ali do senhor Agostinho?
Um efeito muito grande.
A participação de
Agostinho entre os
espiritistas agitou-lhe
o espírito, visto que,
comerciante abastado e
instruído, ele
evidentemente não se
deixaria enrolar em
tapeações. Cláudio
conhecia-lhe a agudeza
de raciocínio, a
honestidade. Que
doutrina seria aquela,
capaz de induzir um
homem respeitável a
entrar em prece, num
quarto de hospital,
chorando de compaixão
por uma menina à beira
da sepultura? Que
princípios impeliam,
assim, um homem educado
e rico a esquecer-se, no
socorro aos infelizes,
imbuído daquele amor que
somente os pais
conhecem? Movido por
esses pensamentos e
influenciado por André
Luiz, Cláudio começou,
então, a ler o livro que
Agostinho lhe havia
ofertado: um exemplar
d´O Evangelho segundo o
Espiritismo.
(Obra citada, 2ª parte,
capítulo III, pp. 193 e
194.)
Texto para leitura
86. Moreira passa
a ajudar a enferma
- Félix, sereno,
acercou-se de Cláudio,
administrou-lhe energias
de refazimento e, após
levantá-lo, despediu-se,
avisando que voltaria e
enviaria cooperadores.
Cláudio também se
afastou, buscando o
especialista. Moreira,
que observara André
desde a chegada,
fitava-o agora com
simpatia. Em dado
momento, amaciando o tom
de voz, disse
reconhecê-lo e
queixou-se dos irmãos
desencarnados que se
avizinhavam da porta e
acenavam com asco,
apontando Marita com
desprezo. Alguns
traçavam gestos no ar,
sugerindo quadros
obscenos, outros faziam
figurações despudoradas,
e um deles chegou ao
desplante de indagar
quem era aquela mulher
que transpirava carniça.
André o consolou,
informando que tudo
aquilo passaria, pois
esperava companheiros
abastecidos com os
recursos necessários
para isolamento do
quarto. Em seguida,
afirmando ter
presenciado o acidente,
rogou a Moreira
permissão para cooperar.
Ficaria contente se ele
lhe aceitasse o concurso
ali, ao pé daquela
jovem, pois, havendo
colhido alguma
experiência em
hospitais, poderia ser
útil. Moreira comoveu-se
e aprovou a ideia. Sim,
disse ele, devotava-se à
Marita com ardente
afeição e contaria com
André. Conhecia meios de
auxiliá-lo,
defendê-lo-ia,
ser-lhe-ia companheiro
fiel. Depois, examinou o
processo pelo qual a
respiração da moça era
auxiliada e pediu
instruções. Desejava
substituí-lo. E se
colocou com tanta
diligência e humildade,
que, em breves minutos,
atendia à manutenção da
jovem, com segurança
superior à que André se
esforçava em cultivar.
Diante disso, André
concluiu que nem sempre
é o salva-vidas
tecnicamente construído
a peça que assegura a
sobrevivência do
náufrago, e sim o lenho
agressivo que teimamos
em desdenhar. (2a
parte, cap. II, pp. 185
e 186)
87. Márcia
recusa-se a ir ao
hospital -
Cláudio, enquanto
aguardava o médico,
telefonou para dona
Márcia. A esposa folgava
em saber que Marita
estava viva, mas
entendia que, se a
Medicina já entrara em
cena, era melhor
encerrarem o assunto.
Cláudio rogou-lhe,
contudo, que ela
comparecesse ao
hospital, para amenizar
a situação. Márcia
esquivou-se, alegando
compromissos inadiáveis.
E fez ironia, dizendo
que, se Marita estava
tão mal quanto ele
dizia, cabia a ele, na
condição de pai,
permanecer ao lado dela,
eximindo-a de
sacrifícios maiores do
que aqueles que já lhe
sobrecarregavam os
ombros. Na verdade, dona
Márcia ficou desapontada
com a notícia de que
Marita não estava morta,
o que impelia os
constrangimentos da
família à estaca zero.
Declarando-se, por fim,
cansada de bobagens e
arrufos entre jovens
namorados, dona Márcia
afirmou preferir
tricotar a fazer
adulação para uma filha
que não era sua e que
sempre timbrara em
loucura e faniquito.
Cláudio, desolado,
insistiu, pintando o
quadro em que se
contristava, mas a
mulher encerrou a
conversa, atirando-lhe
uma frase que lhe
despedaçou as
esperanças: "Bem,
Cláudio, tudo isso é
problema seu". Ele
discou então para a
residência dos Torres.
Como Marina ainda não
chegara de Teresópolis,
telefonou a seu chefe, a
quem, após sucinto
relatório dos
acontecimentos,
solicitou a concessão de
férias. O diretor
prometeu ajudar. Em
seguida, conversou com o
médico, que disse ser
cedo para um
pronunciamento mais
claro. Cláudio pediu
para a filha o melhor
tratamento. Não
importava quanto
custasse. Acomodada a
filha em novo quarto,
viu-se que aqueles dois
Espíritos, que antes se
avalentoavam por
bagatela,
manifestavam-se então
diferentes, submissos.
Cláudio trazia os olhos
marejados de pranto.
Partira-se-lhe a alma. A
certeza de que Marita
tentara o suicídio, por
culpa sua,
requeimava-lhe o
coração. (2a
parte, cap. II, pp. 187
e 188)
88. Salomão, o
boticário, vai ao
hospital - O
passado remoía a cabeça
de Cláudio... Delitos
que supunha para sempre
esquecidos
assomavam-lhe agora à
lembrança, exigindo
reparação. Lembrou-se de
Aracélia, a mãe de
Marita que ele próprio
aniquilara, a peso de
sarcasmo e ingratidão. A
imagem daquela moça
inexperiente da roça
crescia-lhe por dentro.
Lastimava-se, acusava,
perguntava pela filha,
pedindo-lhe contas!
Cláudio julgava-se às
portas da loucura. Não
fosse o desejo de
recuperar a filha
prostrada, usaria o
revólver contra si
mesmo, porquanto o
suicídio se lhe
afigurava como sendo a
válvula de livramento.
Se Marita morresse, não
desejaria sobreviver.
Enquanto as reflexões
de Cláudio lhe
obscureciam a mente,
Moreira colava-se aos
pulmões da triste
menina, num espetáculo
comovedor de paciência e
dedicação. O corpo
machucado não lhe
inspirava repugnância.
Enlaçava Marita com a
veneração de quem se
consagra a uma filha
padecente. Aquele
Espírito a amava
profundamente, porque é
preciso amar alguém, com
extremada ternura, para
sorver-lhe com alegria o
hálito fétido e
acariciar-lhe a pele
manchada de excrementos.
O dia avançou. À tarde,
a solidão fez com que
Cláudio telefonasse para
Marina. Eram três da
tarde. A filha disse-lhe
ter esperança de que a
ocorrência não passasse
de um susto, mas alegou
não ser possível
comparecer ao
hospital, porque dona
Beatriz piorara muito.
Cláudio regressou ao
quarto, esmagado pelo
desânimo. Ninguém o
apoiava, ninguém
entendia-lhe o suplício
moral. Às cinco horas,
no entanto, ele recebeu
a visita de Salomão, o
farmacêutico, que se
declarou amigo de Marita
e seu vizinho de loja.
Dizendo ter sido uma
das últimas pessoas com
quem ela conversara,
antes do acidente, ele
narrou ao pai aflito,
pormenor a pormenor,
quanto sabia. Com
certeza, a jovem
ingerira os soporíferos
que lhe dera e,
identificando-lhes o
caráter inofensivo,
projetara-se sob um
automóvel em disparada.
(2a parte, cap.
II, pp. 189 a 191)
89. Marita recebe
passes e melhora
- Cláudio ouviu-o,
chorando... Sem dúvida,
a filha não pudera
sobreviver ao insulto
que ele lhe fizera.
Considerando-se o mais
abjeto dos homens e
amargamente arrependido
de seus atos, abraçou
Salomão, num impulso de
louvável sinceridade,
salientando que ele, o
visitante gentil, era o
verdadeiro e talvez o
único amigo daquela
criança que procurara a
morte e que tudo fariam
para reaver. O
farmacêutico, apiedado,
arriscou um alvitre.
Confessando-se espírita,
assinalou que os passes,
sob a cobertura da
oração, beneficiariam a
menina prostrada. Se
Cláudio permitisse,
buscaria o senhor
Agostinho, a quem
poderiam recorrer.
Cláudio aceitou com
humildade. Não lhe seria
lícito recusar um
auxílio oferecido com
tanta espontaneidade.
Queria apenas rogar a
permissão do facultativo
em serviço. O médico,
homem experimentado em
angústias humanas,
asseverou que Cláudio
dispunha do direito de
prestar à filha a
assistência religiosa
que desejasse, e que,
dentro do quarto, ele
estava como em sua
própria casa.
Compadecido, prometeu
favorecer, ele próprio,
a vinda de Salomão com o
espírita que indicasse.
Foi assim que, às oito
da noite, Salomão e seu
amigo penetraram o
quarto de Marita.
Cláudio espantou-se,
porquanto o senhor
Agostinho, um
comerciante distinto,
era um dos clientes mais
respeitados em seu
banco. O novo amigo
interessou-se
delicadamente pela moça
e inteirou-se de todas
as minudências do
desastre. Em seguida,
orou, emocionado,
suplicando a bênção do
Cristo para a menina
atropelada e aplicou-lhe
passes de longo curso.
Moreira a tudo assistia,
sequioso de aprender. O
atendimento infundiu
grande bem à moça,
melhorando-lhe a
condição geral. A
respiração
desoprimiu-se. Marita
conseguiu entrar, enfim,
em sono calmo. Na saída,
Agostinho ofereceu a
Cláudio o livro que
trazia, um exemplar de
"O Evangelho segundo o
Espiritismo", prometendo
voltar na manhã
seguinte. (2a
parte, cap. II, pp. 191
e 192)
90. Cláudio é
induzido a ler o
Evangelho -
Cláudio, logo que os
dois amigos saíram,
ficou no seu aposento, a
pensar. A presença de
Agostinho entre os
espiritistas agitava-lhe
o espírito. Comerciante
abastado e instruído,
não se deixaria enrolar
em tapeações.
Conhecia-lhe a agudeza
de raciocínio, a
honestidade. Além disso,
possuiria ocupações
mais vantajosas em que
aplicar atenção e tempo.
Que doutrina seria
aquela, capaz de induzir
um homem respeitável a
entrar em prece, num
quarto de hospital,
chorando de compaixão
por uma menina à beira
da sepultura? Que
princípios impeliam,
assim, um homem educado
e rico a esquecer-se, no
socorro aos infelizes,
imbuído daquele amor que
somente os pais
conhecem? Fitou Marita
que dormia, calma, e
recordou os dois homens
abnegados que lhe haviam
trazido alívio, sem nada
perguntar. Ele, que
jamais se aproximara de
ensinamentos religiosos,
acolhia-se agora a
vasta série de porquês.
Abafado, agoniava-se com
a sede de algo. Aspirava
a sair, correr ao
encontro de Agostinho e
Salomão, a fim de
perguntar-lhes pela fé
em Deus. Anelava
inteirar-se de como
conseguiam entesourar
tanta crença.
Reconhecendo-se enfermo
da alma, náufrago que
afundava no redemoinho
do desespero, queria
agarrar-se a alguém, a
alguma coisa. Tinha fome
de companhia. Vendo-lhe
tais ideias, André
sugeriu-lhe a leitura. O
livro com que fora
brindado ser-lhe-ia
companheiro. Cláudio
assimilou a indução e
tomou a brochura.
Acusava-se, no entanto,
incapaz, inquieto, sem
serenidade para ler com
aplicação ao assunto.
André insistiu. Os dedos
de Cláudio tatearam,
então, o índice e,
através das legendas,
esbarrou no cap. XII com
o item intitulado
"Caridade para com os
criminosos". (2a
parte, cap. III, pp. 193
e 194)
(Continua no próximo
número.)