Sexo e Destino
André Luiz
(Parte
19)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Sexo e Destino,
de André Luiz,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1963 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Qual foi a reação de Cláudio ao ler O Evangelho segundo o
Espiritismo?
A reação foi extremamente positiva, porque os textos que Cláudio
leu fenderam-lhe, de
alto a baixo, a cidadela
do ateísmo que até então
cultivava. Com a
leitura, ele pôde
adquirir conhecimentos
rápidos acerca da
reencarnação e da
pluralidade dos mundos,
e meditar nas maravilhas
da caridade e nos
prodígios da fé, através
das chamas imortais do
Cristianismo que ali
renasciam para ele. Em
certo momento, quando
olhou o relógio, este
marcava duas da
madrugada. Cláudio
varara, sem perceber,
quatro horas mergulhado
no livro e sentia-se
outro.
(Sexo e Destino, 2ª
parte, capítulo III, pp.
195 e 196.)
B. Diante da mudança dos pensamentos de Cláudio, como se sentia
Moreira, o
ex-vampirizador do pai
de Marita?
O que ocorria com
Cláudio atingira Moreira
de forma diferente,
porque ele ainda nutria
o propósito de continuar
controlando o pai de
Marita. Identificando,
porém, o parceiro tocado
no coração pelos
sentimentos edificantes
que a leitura lhe
sugerira, revelava
grande desapontamento e
enfadava-se, melindrado
e triste.
(Obra citada, 2ª parte,
capítulo III, pp. 199 e
200.)
C. Por que Moreira decidiu, de repente, vingar-se de Marina?
Ele tomou essa decisão
ao saber do martírio que
Marina aplicara à irmã
adotiva, ao longo dos
anos. E, tal como André
Luiz previra, Moreira,
seguido por quatro
camaradas truculentos e
carrancudos, penetrou a
residência dos Torres,
onde Marina se
encontrava, e, sem a
menor comiseração por
dona Beatriz, em estado
gravíssimo e agonizante,
acercou-se de Marina e
gritou, encolerizado:
"Assassina!...
Assassina!...". (Obra citada, 2ª parte, capítulo III, pp. 203 e
204.)
Texto para leitura
91. Cláudio
descobre no livro um
mundo novo -
Cláudio, embora acatado
no hospital como pai
carinhoso, sabia
perfeitamente que não
passava de estuprador e
filicida, e carregava a
dor irremediável de
haver impelido a filha
à loucura e à morte. Que
condenações aquele livro
enfileiraria contra
ele? Aberto o volume,
ele viu, para surpresa
sua, que o Evangelho não
lhe amaldiçoava a
presença. Leu e releu,
chorando, aquelas
frases que ressumavam
brandura e entendimento.
Identificou-se à frente
de um apelo à
fraternidade e à
compaixão, que não
pintava os delinquentes
por seres infernais,
ausentes da órbita do
Amor Divino. A pequena
mensagem concitava à
tolerância e terminava
rogando preces, a
benefício dos que
sucumbem na voragem do
mal. As lágrimas
borbotaram-lhe mais
profusamente dos
olhos!... Aquelas
palavras chamavam-no à
razão e mostravam-lhe
que o mundo e a vida
deviam estar banhados de
profunda misericórdia.
Aquele primeiro contacto
com as verdades do
espírito fendia-lhe, de
alto a baixo, a cidadela
do ateísmo. Com a
sofreguidão do sedento
que atravessa longo
deserto, atirou-se,
então, aos textos, de
cujos caracteres vertiam
ideias esclarecedoras e
balsâmicas, como
torrentes de água pura.
Esquadrinhou vários
temas. Adquiriu
conhecimentos rápidos
acerca da reencarnação e
da pluralidade dos
mundos, meditou nas
maravilhas da caridade e
nos prodígios da fé,
através das chamas
imortais do Cristianismo
que ali renasciam para
ele... Quando olhou o
relógio, este marcava
duas da madrugada.
Varara, sem perceber,
quatro horas mergulhado
no livro e sentia-se
outro. A ideia da
reencarnação
relampejou-lhe na
cabeça. Por que amava
tanto aquela menina? Sem
dúvida, ele e ela
remanesciam de
experiências anteriores
e algo lhe dizia que ele
a trouxera, de novo,
para o mundo, através da
paternidade, a fim de
orientá-la com limpeza e
abnegação! (2a
parte, cap. III, pp. 195
e 196)
92. Cláudio pede
perdão à filha amada
- As realidades do
destino se alteavam do
pensamento de Cláudio,
belas e difusas, mas,
ainda assim, ele não se
desculpava, reconhecendo
haver agravado os
próprios débitos.
Entrevendo, então, as
realidades da vida
Além-Túmulo, apelou para
os amigos que vira
partir!... Que se
apiedassem dele e de
Marita! que suplicassem
a Deus trocar a sua
existência pela dela, de
modo a expiar, no mundo
espiritual, as próprias
faltas, renascendo
depois, mutilado, a fim
de ressarcir os débitos
contraídos. E, se lhe
cabia continuar no
mundo, transportando no
peito a angústia daquela
hora, que a deixassem
mesmo assim, abatida e
muda, em seus braços!
Teria forças para
carregá-la. Ser-lhe-ia
apoio e refúgio.
Aconchegá-la-ia, de
algum modo, ao coração.
Obteria uma cadeira de
rodas e conduzi-la-ia a
qualquer parte,
acolhendo, sem reclamar,
quaisquer obstáculos.
Que a Providência Divina
poupasse Marita ao
gládio da morte para que
não faltasse a ele o
ensejo do reajuste e da
reparação!... André o
abraçou, confortando-o e
inspirando-lhe
esperança. Confiasse.
Quem estaria na Terra
sem problemas? Era
preciso interpretar o
remorso por marca
vermelha, suscitando
parada. Conviria frear o
carro dos próprios
desejos e pensar,
pensar!... Depois da
escuridão, a alvorada
não tardaria. Urgia,
pois, levantar os
sentimentos para a
renovação que começava!
Moreira, que a tudo
assistia, endereçou a
André ansioso olhar.
Antes, porém, que ele se
abeirasse do pai de
Marita, André apelou
para Cláudio,
inclinando-o a iniciar,
ali mesmo, a obra
reparadora. O bancário
não vacilou. Ajoelhou-se
à cabeceira da filha,
acariciou-a com uma
espécie de ternura que
jamais experimentara e,
deixando que as lágrimas
lhe orvalhassem o rosto,
suplicou, em surdina:
"Perdão, minha filha!...
Perdão para seu pai!..."
Marita não respondeu,
mas o afago paternal
instilou-lhe energia
diferente e André
registrou, espantado, o
gemido que ela desferiu,
denotando sinais de
retorno a si mesma. (2a
parte, cap. III, pp. 196
a 198)
93. Moreira sente
Cláudio escapar-lhe
- Outros gemidos
repetiram-se
imprecisos, dolorosos. O
pai escutava-os, ralado
de angústia, e,
entendendo que eles
exprimiam padecimentos
físicos inenarráveis,
agoniou-se em choro
convulsivo. Moreira, o
ex-vampirizador,
abraçou-o, no intuito de
reconfortá-lo, e André
pôde notar que os dois
amigos jaziam agora
perto e longe um do
outro. Juntos por fora,
distantes por dentro.
Os acontecimentos
atingiram Moreira de
forma diferente. Embora
tivesse enorme afeição
por Marita, nutria o
propósito de continuar
controlando Cláudio.
Identificando, porém, o
parceiro tocado no
coração pelos
sentimentos edificantes
que a leitura lhe
sugerira, revelava
grande desapontamento e,
por isso, crivou André
de perguntas. Este
procurou sossegá-lo,
mas, no íntimo, sabia
que, tendo Cláudio dado
um passo adiante,
Moreira deveria
elevar-se no mesmo
diapasão, se quisesse
desfrutar-lhe a
convivência. A mente do
bancário emergira
daquelas horas de
estudo, como uma
paisagem varrida por
terremoto. Nenhuma
analogia havia com o que
era antes. Por isso, o
outro enfadava-se,
melindrado, triste.
Nesse ponto, dois
auxiliares enviados por
Félix chegaram ao
recinto. Simpáticos e
espontâneos, ao serem
apresentados a Moreira,
reconheceram, de pronto,
a posição espiritual do
ex-vampirizador, mas,
mesmo assim, rodearam-no
de otimismo e bondade,
qualificando-o na
categoria de colega
estimável. Como o dia
estava prestes a nascer,
André acercou-se de
Cláudio no intuito de
fazê-lo dormir. Com
iniludível desgosto,
Moreira viu o cuidado
com que André
administrou-lhe passes
balsâmicos, aos quais o
paciente aquiesceu sem
qualquer contradita.
Moreira lançava ondas de
azedia e amargura no
sorriso amarelo, porque
tudo para ele surgia
deslocado, revirado...
Entre o amigo que lhe
fugia ao comando e a
jovem, cujo corpo físico
se decidia a preservar,
sentia-se atônito.
Compreendeu, no entanto,
que não lhe seria
lícito
incompatibilizar-se com
os novos amigos, em face
da assistência que
Cláudio e Marita estavam
recebendo. (2a
parte, cap. III, pp. 199
e 200)
94. Marita
desperta com ódio da
irmã - Marita,
em vista do atendimento
espiritual, reassumiu o
leme dos centros
cerebrais que ainda se
lhe mantinham à
disposição. Recuperou a
sensibilidade olfativa;
percebia, raciocinava e
ouvia com relativa
segurança, mas estava
hemiplégica, destituída
da visão e da fala, de
modo irreversível. A
princípio, pensou estar
acordando no sepulcro,
como vira em filmes e
livros de terror. De
alma opressa, supunha-se
num transe desses,
estendida ali no leito
que tomava por ataúde.
Queria gritar, pedir
socorro, mas não
conseguiu. Sabia que
pensava com a própria
cabeça, reconhecia-se
consciente, sentia,
memorizava. Recordava os
acontecimentos que a
impeliram à morte.
Arrependia-se. "Se a
vida continuava, para
que provocar o fim do
corpo?", considerava,
desditosa. Após
rememorar tudo o que
sucedera, desde o
encontro com o pai, na
Lapa, até à queda em
Copacabana, pareceu-lhe
possuir um corpo de
pedra, incapaz de
expressar-se, e isso a
irritou. A jovem fremia
de impaciência, de
espanto e de dor. Mágoa
e revolta, petitórios e
indagações
esmaeciam-se-lhe,
imanifestos, no âmago do
ser. E por mais que se
empenhasse a chorar,
desoprimindo-se, as
lágrimas não caíam.
Parecia que os olhos e a
língua permaneciam
desligados do corpo.
Estaria morta? Escutou
então os passos da
enfermeira e registrou a
respiração sibilante do
pai, sem poder, no
entanto,
identificar-lhes a
presença. Após duas
horas de angústia
recôndita, que Moreira
assinalava com acuidade
e precisão, Marita se
aquietou mentalmente, e
André viu que sua mente
se fixava,
lamentavelmente, em
Marina. Moreira
encontrou, então, pasto
robusto a nova
desorientação.
Percebendo-se demitido
da complacência de
Cláudio, procurava na
filha outros motivos em
que se lhe facultasse
permanecer atrelado à
demência. André não
poderia pressionar
Marita, no sentido de
sustar-lhe as
lamentações, porque
qualquer esforço
adicional poderia
precipitar-lhe a
desencarnação. A jovem
reconstituiu, assim, na
imaginação as aperturas
de sua existência e
acusava a irmã por todos
os infortúnios. Marina
figurava-se na tela de
sua memória como sendo a
inimiga imperdoável,
pois lhe furtara as
carícias maternas,
roubara-lhe as afeições,
subtraíra-lhe o eleito
dos sonhos juvenis... (2a
parte, cap. III, pp. 201
e 202)
95. Moreira
promete vingar-se de
Marina - De nada
valeram as ponderações
que André lhe endereçou.
A influência de Moreira,
que lhe estimulava as
recriminações, surgia
naturalmente muito mais
vigorosa para ela, que
buscava encontrar
simpatia e adesão.
Desconhecendo os poderes
do pensamento, ela não
sabia que, fora da
indulgência e da
brandura, invocava
desagravo e, assim
procedendo, não somente
enredava a família em
duras provações, mas
igualmente punha a
perder o valioso
trabalho de recuperação
daquele amigo
necessitado de afeição e
de luz. Moreira, ao
absorver-lhe as
confidências mudas,
retomava, a pouco e
pouco, a brutalidade que
anteriormente lhe
marcava a expressão.
Esvaeciam-se-lhe as
melhoras de espírito e,
a pretexto de auxiliar a
protegida, reavivava os
instintos de vingador.
Inútil seria qualquer
tentame para
reconduzi-lo à
serenidade. Embebendo-se
nos queixumes daquela
que classificava como
sendo para ele a mulher
querida, restaurava em
si mesmo a selvageria da
fera sequiosa de sangue.
André pediu-lhe calma e
tolerância, mas ele,
clamando que não, disse
que ninguém o faria
renunciar à guerra pela
tranquilidade daquela
que amava. Alegou,
então, desconhecer até
aquele momento o
martírio que Marina
aplicara à irmã, a vida
inteira, e insistia no
desforço... Ao vê-lo
abandonar o serviço que
voluntariamente se
impusera, incapaz de
refletir nas
consequências da própria
deserção, André
compreendeu que o
ex-obsessor fora
assaltado por crise de
loucura, mas não lhe
cabia julgá-lo.
Competia-lhe
simplesmente trabalhar,
socorrer. Deixando,
assim, Marita aos
cuidados dos amigos
Telmo e Arnulfo, André
dirigiu-se à residência
dos Torres, único lugar
para onde Moreira, com
certeza, rumaria. Na
casa silente,
cochichava-se a medo.
Havia lágrimas no
semblante dos servidores
humildes, porque dona
Beatriz, em coma,
esperava a morte. Neves
e outros companheiros
desencarnados rodeavam o
leito da enferma. E,
minutos depois, ocorreu
o que André temia:
Moreira, seguido por
quatro camaradas
truculentos e
carrancudos, penetrou o
recinto e, sem a menor
comiseração pela
agonizante, acercou-se
de Marina, gritando,
encolerizado:
"Assassina!...
Assassina!..." (2a
parte, cap. III, pp. 203
e 204)
(Continua no próximo
número.)