Philippe Pinel:
Benfeitor
da
Humanidade
Semântica é a
parte da
gramática que
estuda o
significado (que
em muitos casos
modifica-se com
o tempo) das
palavras.
Na cidade do Rio
de Janeiro
existe o
Instituto
Philippe Pinel,
para tratamento
de doentes
mentais.
No Brasil, a
palavra pinel
tornou-se
sinônimo de
adoidado,
amalucado. E
certamente foi o
carioca – com
sua irreverência
– que lhe
atribuiu esse
sentido. Este
fato revela
quanto a
ignorância
distorce os
assuntos, pelo
infeliz
significado
atribuído ao
nome do
cientista
francês.
Veremos, abaixo,
que nada mais
equivocado e
injusto para com
o generoso
médico que,
afinal,
humanizou o
tratamento do
doente mental,
oferecendo a ele
tratamento
digno, amoroso.
A rigor, ‘ficar
pinel’ deveria
significar
‘tornar-se
amoroso,
fraterno,
humano, pleno de
compaixão’.
Essa distorção
lembra o
personagem do
livro “Alice
Através do
Espelho” – de
Lewis Carroll –,
Humpty Dumpty
que diz a ela,
num tom bastante
desdenhoso:
“– Quando eu uso
uma palavra, ela
significa
exatamente o que
quero que
signifique: nem
mais nem menos.”
Contestado por
Alice, ele
retruca que as
palavras possuem
o sentido que
lhes atribui o
chefe, que é,
afinal, quem
manda!
*
Philippe Pinel (Saint
André,
20/04/1745 –
Paris,
25/10/1826) foi
um médico
francês que
publicou em 1801
o ‘Tratado
médico-filosófico
sobre a
alienação ou a
mania’, no qual
descreveu uma
nova
especialidade
médica, que
viria a se
chamar
Psiquiatria
(1847).
Considerou
doentes os que
sofriam de
perturbações
mentais e que,
ao invés de
maltratados,
mereciam
tratamento
adequado. “Foi o
primeiro médico
a tentar
descrever e
classificar
algumas
perturbações
mentais.” Até
então não havia
como se falar em
obsessões, em
perseguições
espirituais.
Eis excertos de
estudo realizado
na Universidade
Estadual de
Campinas, em
2000, extraído
do site: http://www.comciencia.br/reportagens/manicom/manicom8.htm
História dos
manicômios
Asile, madhouse,
asylum, hospizio,
são alguns dos
nomes que
denominam as
instituições
cujo fim é
abrigar,
recolher ou dar
algum tipo de
assistência aos
"loucos".
(...)
No século XVII
os hospícios
proliferam e
abrigam
juntamente os
doentes mentais
com
marginalizados
de outras
espécies. O
tratamento que
essas pessoas
recebiam nas
instituições
costumava ser
desumano, sendo
considerado pior
do que o
recebido nas
prisões.
Diversos
depoimentos –
como o de
Esquirol, um
importante
estudioso destas
instituições no
século XIX –
retratam este
quadro:
"Eles são mais
mal tratados que
os criminosos;
eu os vi nus, ou
vestidos de
trapos,
estirados no
chão, defendidos
da umidade do
pavimento apenas
por um pouco de
palha. Eu os vi
privados de ar
para respirar,
de água para
matar a sede, e
das coisas
indispensáveis à
vida. Eu os vi
entregues às
mãos de
verdadeiros
carcereiros,
abandonados à
vigilância
brutal destes.
Eu os vi em
ambientes
estreitos,
sujos, com falta
de ar, de luz,
acorrentados em
lugares nos
quais se
hesitaria até em
guardar bestas
ferozes, que os
governos, por
luxo e com
grandes
despesas, mantêm
nas capitais." (Esquirol,
1818, apud
Ugolotti, 1949.)
Influenciado
pelos ideais do
iluminismo e da
Revolução
Francesa,
Philippe Pinel
(1745-1826),
diretor dos
hospitais de
Bicêtre e da
Salpêtrière, foi
um dos primeiros
a libertar os
pacientes dos
manicômios das
correntes,
propiciando-lhes
uma liberdade de
movimentos por
si só
terapêutica.
(...)
Mesmo após as
reformas
instituídas no
século XIX por
Pinel, um dos
primeiros a
aplicar uma
"medicina
manicomial", o
tratamento dado
ao interno do
manicômio ainda
era mais uma
prática de
tortura do que a
de uma prática
médico-científica.
(...)
Eram correntes
as práticas de
sangria, de
isolamento em
quartos escuros,
de banhos de
água fria, além
dos aparelhos
que faziam com
que o paciente
rodopiasse em
macas ou
cadeiras durante
horas para que
perdesse a
consciência.(...)]
(Redação: Fábio
Sanchez; Marta
Kanashiro;
Rafael
Evangelista e
Renato Nunes.)
Outro texto nos
informa: Na
primavera de
1793, apenas
quatro anos após
a Revolução
Francesa, (...)
um jovem doutor
em Medicina
corria pelos
pátios da
Universidade de
Paris, em
direção ao
Hospital La
Bicêtre (...).
Ali se
encontravam
internados (...)
esquizofrênicos
e psicopatas, e
a esquizofrenia
tida como
possessão
diabólica desde
a Idade Média,
era, portanto,
uma doença
irreversível,
incurável. (...)
Chamou o guarda,
e lhe disse:
– Eu aqui venho
para libertar os
pacientes; a
partir de hoje
os psicopatas
terão direito à
sua liberdade,
pois não podem
ficar
encarcerados
pelo crime de
serem doentes,
graças ao atraso
da Medicina.
O guarda, então,
lhe responde:
– Doutor, talvez
o senhor não
saiba que aqui
se encontram os
loucos mais
agressivos de
França e da
Europa, e eu não
posso abrir as
celas, porque se
eu abrir essas
celas, eles vão
me matar e
depois matarão o
doutor. (...)
O jovem médico
pede ao guarda
que lhe dê o
molho de chaves
e passa, ele
mesmo, a efetuar
a tarefa de
abrir aquelas
celas. Abre o
cadeado central
e retira a
pesada corrente
que se estendia
por todas as
portas e passa a
abrir uma a uma
daquelas celas.
(...)
Era a escória
humana; alguns
estavam presos
há mais de vinte
anos; eram
homens e
mulheres de
olhares
perdidos, sem
noção do que
acontecia. Eram
degradados sem
qualquer
identidade. Mas,
de repente, um
homem de
cabeleira
enorme, abrindo
seus braços e
pernas, começou
a escalar as
paredes daquele
corredor em
direção à
claraboia, como
se pretendesse
fugir por ali, o
que seria
impossível,
tendo em vista
que esta era
fechada por
grossas barras
de ferro.
O médico
assistiu àquela
cena, até que o
homem
pendurou-se nas
barras e gritou:
– Meu Deus! Meu
Deus! Eu já
havia me
esquecido da
beleza de um
raio de sol.
Soltou-se das
barras,
despencando no
chão, e (...)
rastejou até o
jovem doutor,
abraçou-lhe as
pernas e lhe
disse: Muito
obrigado doutor!
Muito obrigado.
O médico
ergueu-o pelas
axilas e o
abraçou
ternamente.
(...) há menos
de um mês, ele
havia (...)
proposto (...) a
libertação
daqueles
psicopatas e os
colegas lhe
haviam
perguntado:
– O que você
pretende fazer
com eles? E ele
lhes havia
respondido:
– Curá-los.
– E se você não
conseguir?
– Então vou
amá-los,
restituindo-lhes
o direito a
serem criaturas
humanas; desejo
oferecer-lhes a
dignidade
humana.”
(Extraído de
Seara Espírita
Joanna de
Ângelis –
Jul/2008, n. 2 –
Edição 17, do
artigo
‘Desalento’, de
Augusto Cantusio
Neto.)
No livro
Grilhões
Partidos
(Cap. 20, p.
181), Manoel P.
de Miranda
refere-se ao Dr.
Pinel e exalta
sua conduta
amorosa junto
aos enfermos.
‘Pinel’, pois,
deveria
significar
‘amoroso,
fraterno,
humano, pleno de
compaixão’.