ANGÉLICA
REIS
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
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A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 26)
Damos
sequência ao estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. Com base na telepatia
podemos afirmar que há
em nós um elemento
psíquico que opera
independentemente do
organismo?
Sim. Os fatos
telepáticos nos levam a
essa conclusão, ou seja,
temos um elemento
psíquico que faz parte
da personalidade, mas
que opera
independentemente do
organismo e, na
sobrevivência após a
morte corporal,
achamo-nos na presença
de um elemento da
personalidade que age
após a destruição do
organismo.
(A Personalidade Humana.
Capítulo VI –
Automatismo sensorial.)
B. A esse elemento
psíquico podemos chamar
de Espírito?
Sim. Pelo menos é essa a
conclusão de Myers, que
utiliza a palavra
Espírito para expressar
essa fração desconhecida
da personalidade humana,
que não é a fração
supraliminar e cuja
atividade surpreendemos
antes ou depois da morte
num mundo metaetéreo.
(Obra citada. Capítulo
VI – Automatismo
sensorial.)
C. Existe alguma relação
entre a morte e a
aparição dos moribundos?
Segundo Myers, existe,
sim, uma relação causal
entre a morte e a
aparição. Aliás, foi
essa a conclusão citada
textualmente no
“Relatório da Comissão
das Alucinações” (Proceedings
of the S. P. R., vol.
X), a saber: “Entre a
morte e a aparição dos
moribundos existe uma
relação que dificilmente
se explica por mero
acaso”.
(Obra citada. Capítulo
VI – Automatismo
sensorial.)
Texto para leitura
615. Qualquer que seja
o ponto de vista em que
se coloca este ou aquele
pesquisador de nossa
época, afirmo que o
único meio racional de
se conseguir uma
convicção consiste em
decompor primeiro a
corrente emaranhada de
fatos em diversos grupos
definidos e, em seguida,
observar a frequência
com que esses grupos de
fatos se reproduzem,
atribuindo-lhes uma
importância cada vez
maior, dependendo do
grau de evidência com
que apareçam.
616. Essa forma de
proceder exclui,
evidentemente, qualquer
opinião a priori e reduz
nosso conceito a uma
simples classificação a
que os fatos já
conhecidos devem ser
submetidos, de forma que
possam ser compreendidos
em seu todo. Minha
“psicologia paleolítica”
não tem outra ambição.
Atenho-me, simplesmente,
a encontrar uma fórmula
que abarque todos os
fatos observados. “Quais
as razões que tenho para
acreditar que isto não é
correto?” Essa é a
pergunta que sempre deve
ser feita, quando se
chegou a um
convencimento, por meios
diversos do que a
especulação científica,
da profunda ignorância
com que encaramos o
Universo, como ele
realmente é.
617. Reconheço, em todo
o caso, que minha
própria ignorância é
imensa, que minhas
noções, no que concerne
ao que é provável e ao
que é improvável no
Universo, não me parecem
suficientes para separar
os fatos que acredito
devidamente provados e
que não estão em
contradição com outros
fatos e generalizações
estabelecidos. Por mais
amplo que seja o domínio
dos fatos estabelecidos
cientificamente, não
representam, de acordo
com a confissão dos
cientistas mais
autorizados, mais do que
uma rápida vista d’olhos
no domínio desconhecido
e infinito das leis.
618. Desse modo, me vi
levado a abandonar minha
primeira forma de ver e,
em lugar de tomar como
ponto de partida o
conceito de um impulso
telepático que
simplesmente se
transmite de um espírito
a outro, a colocar na
base de todos esses
fenômenos o conceito da
dissociabilidade do eu,
admitindo que diferentes
frações do eu são
suscetíveis de operar
independentemente umas
das outras, até o ponto
de que uma não tome
consciência dos atos da
outra.
619. No fundo esses dois
conceitos em grande
parte se equilibram. Nos
lugares onde se encontra
uma transmissão
experimental de
pensamentos e mesmo das
variedades mais comuns
de aparições
coincidentes, a segunda
fórmula aparece como uma
variação inútil e não
provada da primeira.
Mas, desde que nos
encontramos em presença
de categorias difíceis,
casos de reciprocidade,
de clarividência, casos
coletivos e, antes de
tudo, manifestações de
mortos, encontramos que
o conceito de um impulso
telepático, uma vez
transmitido, fica
abandonado a si mesmo,
no que concerne ao
efeito que deve
produzir; esse conceito,
dizemos, necessita, para
tornar-se evidente, ser
analisado, examinado,
manipulado de diversas
formas.
620. Por outro lado,
exatamente nestas
difíceis regiões, é onde
se observam as analogias
com outras formas de
desintegração da
personalidade e onde os
atos de aparição e
automatismo nos lembram
os atos através dos
quais se manifestam os
segmentos da
personalidade
dissociados da
personalidade primitiva,
mas que operam através
de um organismo que é o
mesmo em ambos os casos.
621. A inovação que
pretendemos introduzir
consiste em supor que os
segmentos da
personalidade são
capazes de agir de uma
forma independente, na
aparência, da do
organismo. Uma
semelhante suposição não
poderia ter aparecido em
nosso espírito sem a
prova da telepatia e só
pode ser mantida,
dificilmente, sem a
prova da sobrevivência,
após a morte corporal.
622. Porque na telepatia
temos um elemento
psíquico que faz parte
da personalidade, mas
que opera
independentemente do
organismo, e na
sobrevivência após a
morte corporal
achamo-nos na presença
de um elemento da
personalidade, digamos,
de seu último elemento,
que age após a
destruição do organismo.
Portanto, nada há de
temerário em reconhecer
que um elemento da
personalidade pode
operar independentemente
do organismo, enquanto
este último ainda viva.
623. Trata-se, em último
lugar, de uma
dissociação da
personalidade que
manifesta sua atividade
num meio metaetéreo;
esta será, respeitando a
terminologia empregada
neste livro, a fórmula
que com mais clareza
resume todos os casos de
aparições verídicas,
conhecidas até agora.
Assim, a bem da clareza
de minha exposição,
vejo-me obrigado a usar
de palavras mais simples
e curtas, por discutível
e vago que seja seu
sentido. Por isso
sirvo-me da palavra
Espírito para expressar
essa fração desconhecida
da personalidade humana,
que não é a fração
supraliminar e cuja
atividade surpreendemos
antes ou depois da morte
num mundo metaetéreo.
Não encontro outro termo
para expressar este
conceito, mas a palavra
espírito não implica
qualquer outra coisa,
para mim. Da mesma
forma, o sentido dos
termos invasor e
invadido, por estranhos
e bárbaros que possam
parecer, dependerá de
conceitos cuja evidência
nos aparecerá cada vez
mais patente.
624. Os fatos que
atualmente possuímos
apresentam, do ponto de
vista do conteúdo e da
qualidade, uma gama que
nos deixa perplexos.
Para a maioria deles,
nada mais faço que
recomendar aos leitores
a obra de Gurney. Aqui,
contentar-me-ei somente
em discutir alguns
pontos.
625. Recordarei, em
primeiro lugar, que
todos os casos verídicos
de coincidência aparecem
sob a forma de um grupo
isolado de um fundo de
alucinações, que não têm
qualquer pretensão de
coincidência nem de
veracidade. Se as
alucinações
exclusivamente
subjetivas dos sentidos
não afetam mais do que
os cérebros doentes e
desequilibrados, na
afirmação corrente,
mesmo em círculos
científicos, no início
de nossas investigações,
nossa tarefa seria muito
menos árdua.
626. O estado salutar e
normal da maioria dos
indivíduos que se
submeteram às
experiências era
indubitável e seria para
nós de uma enorme
simplificação poder
dizer, por exemplo, no
caso do escolar que viu
o fantasma de seu irmão,
enquanto jogava cricket:
“Esse escolar está em
perfeito estado de
saúde; essa aparição é a
única que teve, logo
veio-lhe,
necessariamente, de
fora”. Assim pensa, com
efeito, a maioria das
pessoas, quando uma
aparição, única na sua
vida, se apresenta a
elas num momento em que
se sentem sadias de
corpo como de espírito.
627. Durante o curso de
sua pesquisa, Edmund
Gurney teve ocasião de
se convencer de que as
alucinações isoladas,
únicas na vida,
parciais, sem vinculação
aparente com uma
circunstância qualquer,
observavam-se nas
pessoas sadias e normais
com uma frequência que
ninguém poderia supor. E
como as alucinações
ocasionais nas pessoas
normais são tão
frequentes, parece
difícil reconhecer que
todas sejam verídicas. E
a existência de todas
essas alucinações,
talvez puramente
subjetivas, complicam
muito nossas
investigações no que diz
respeito às alucinações
verídicas.
628. Resulta disso que a
existência pura e
simples das alucinações,
de qualquer gênero, com
frequência muito rara,
interpostas na vida
comum, não lhes confere
valor algum objetivo e é
fora delas, na
coincidência, por
exemplo, existente entre
essa alucinação e esse
acontecimento que se
realiza à distância,
onde devemos buscar os
elementos de evidência.
629. A sensação do
sujeito capaz de
perceber não nos
proporciona critério
algum que nos permita
afirmar se, em
determinado caso, uma
alucinação foi provocada
ou não por algo
desconhecido, que existe
à margem do sujeito. As
alucinações hipnóticas,
por exemplo, que não
correspondem a nenhum
fato externo além da
ordem sugerida e
percebida do modo usual,
constituem, talvez, o
grupo mais diferenciado
e constante das
alucinações normais.
630. Repito, não
possuímos nenhum
testemunho subjetivo que
permita distinguir as
alucinações falsas das
verdadeiras, o que não
quer dizer que devamos
renunciar a encontrar
esse testemunho. Alguns
indivíduos,
particularmente
sensíveis e sujeitos às
alucinações dos dois
gêneros, creem ter
aprendido a distinguir,
por si mesmos, as duas
classes e mesmo a
distinguir entre as
alucinações verdadeiras,
as que são devidas à
ação das pessoas vivas,
e as provocadas pelos
Espíritos desencarnados;
e é de esperar
sensibilidade e a
apreciá-la com maior
seriedade, a faculdade
discriminadora do
próprio sujeito se
converterá num fator
cada vez mais importante
na constatação da
evidência dos fenômenos
de que trata.
631. Todavia, só podemos
contar com a evidência
que emana da
coincidência externa,
com este simples fato,
para expressar essa
coincidência na sua
forma mais singela, que
eu veja o fantasma de
meu amigo Smith, no
momento em que Smith
morre distante de mim e
sem que eu seja
prevenido de seu estado.
Uma coincidência desse
tipo geral, quando é
produzida, não é difícil
de constatar e a
constatamos e
verificamos, com efeito,
em centenas de casos.
632. A conclusão que me
parece mais lógica é a
de uma relação causal
entre a morte e a
aparição. Para refutar
essa conclusão temos que
discutir a exatidão do
testemunho do sujeito,
ou mostrar que a
coincidência em questão
é um simples efeito do
acaso. Cada uma dessas
questões foi objeto de
uma discussão tão
completa como frequente.
Encontra-se exposta no
“Relatório da Comissão
das Alucinações” (Proceedings
of the S. P. R., vol.
X).
633. Não posso deixar de
citar textualmente a
conclusão da Comissão:
“Entre a morte e a
aparição dos moribundos
existe uma relação que
dificilmente se explica
por mero acaso”. Ao
formular essa conclusão,
escolheram, com
preferência, aparições
no momento da morte,
porque como a morte é um
acontecimento único na
existência humana, as
coincidências entre a
morte e as aparições
proporcionam um elemento
deveras favorável, do
ponto de vista das
investigações
estatísticas. Mas as
coincidências entre as
aparições e outras
crises que não a morte,
ainda que inacessíveis à
própria estimativa,
rigorosamente
aritmética, são
igualmente convincentes.
Esse grande agrupamento
de casos espontâneos é o
que vamos agora
considerar.
634. A classificação
lógica desses casos não
é coisa fácil, porque
cada narração pode ser
considerada sob diversos
pontos de vista:
inicialmente temos que
considerar a natureza do
acontecimento externo,
morte ou crise, ao qual
corresponde a aparição,
em seguida a própria
forma da aparição,
conforme se apresente
durante o sono, no
estado de
semissonolência ou
durante a vigília;
temos, igualmente, que
levar em conta o sentido
especial que se encontra
afetado, quer seja a
vista ou o ouvido, e
finalmente o efeito
produzido, quer se trate
de uma percepção
coletiva comum a
diversas pessoas de uma
vez, quer se ache uma
pessoa na presença de
uma percepção eletiva
particular a determinada
pessoa.
635. Uma destas
divisões, a distinção
entre os casos auditivos
e os casos visuais, que
foi suficientemente
considerada na primeira
coleção do Phantasms of
the Living, pode ser
deixada de lado. Os
dados estatísticos das
alucinações visuais,
auditivas, bissensoriais
ou trissensoriais foram
determinados com
suficiência, no que
permitiam os documentos
de que se dispunha; e,
uma vez que supomos não
se tratar de visão
ocular nem de audição
auricular, a questão de
saber que sentido
interno se encontra mais
facilmente estimulado em
cada sujeito determinado
perde sua importância.
Essa distinção pode
muito bem, com algumas
outras, ser discutida no
que diz respeito a cada
caso individual; mas
devemos colocar na base
de nossa classificação
geral um caráter mais
fundamental.
636. Não obstante, uma
das vantagens do
conceito de invasão ou
de incursão psíquica, à
qual já fizemos alusão,
consiste, com precisão,
em que esse conceito é
suficientemente
fundamental, para servir
de base à classificação
geral de todos os casos
narrados, talvez, de
todos os casos de
aparições. E, ainda que
existam certos casos
para os quais o termo
metafórico de invasão
possa parecer
demasiadamente forte,
enquanto que a antiga
metáfora de influência
telepática seria
suficiente, esses casos,
ainda que, de certa
maneira, sejam
incompletos, entram com
semelhante naturalidade
nas mesmas divisões.
637. Seja A o “agente”
ou o Espírito
supostamente invasor ou
incursivo, num
determinado caso, e P o
sujeito invadido, um
Espírito que desempenha
papel mais passivo, que
recebe e, às vezes,
enxerga a visita de A.
Naturalmente, A é, com
frequência, senão
sempre, por sua vez, um
sujeito capaz de
perceber, que adquire os
conhecimentos ao mesmo
tempo em que os
comunica, com a
restrição de que seu eu
subliminar, que realiza
esta incursão, nem
sempre dá notícia dos
resultados ao eu
supraliminar que é o
único acessível à
observação externa.
638. Temos necessidade
de um esquema que
compreenda, de acordo
com o conceito da
invasão ou incursão,
todas as ações
telepáticas observáveis,
desde as correntes de
pouca intensidade que
imaginamos passando
incessantemente de um
homem a outro, até um
ponto, reservado para os
capítulos seguintes, em
que uma das partes da
ação recíproca
telepática deixou,
definitivamente, o
invólucro carnal. O
primeiro termo da série
será, forçosamente, um
pouco ambíguo; mas o
último nos conduzirá ao
limiar do mundo
espiritual.
(Continua no próximo
número.)