Sexo e Destino
André Luiz
(Parte
21)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Sexo e Destino,
de André Luiz,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1963 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Que ocorreu ao
Espírito de Beatriz em
seguida à morte do seu
corpo?
Nos momentos que se
seguiram à morte
corpórea, Beatriz
(Espírito), ainda
inconsciente, se asilava
nos braços de irmãs
afetuosas, sob o olhar
comovido de Neves e de
outros familiares em
carinhoso desvelo. Ela
seria conduzida depois a
uma organização
socorrista do plano
espiritual, no próprio
Rio de Janeiro, até que
restaurasse as forças,
de modo a seguir viagem.
(Sexo e Destino, 2ª
parte, capítulo V, pp.
217 e 218.)
B. A morte de Beatriz
produziu alguma mudança
no ambiente de sua casa?
Sim. O ambiente caseiro
modificou-se por
completo, visto que o
afastamento dos amigos
espirituais que
acompanhavam Beatriz
deixara a vivenda qual
praça desarmada de
quaisquer recursos que
lhe garantissem a ordem.
Transcorrido algum
tempo, vagabundos
desencarnados nela
tiveram acesso livre e o
nível dos pensamentos
descambou para a
conversação libertina.
Nem mesmo a dignidade
que a morte infundia ao
recinto foi acatada.
Relatos jocosos
irromperam,
suplementados pela
chacota dos próprios
anedotistas. E a bebida,
inspirada pelos
beberrões desencarnados,
foi servida com fartura.
(Obra citada, 2ª parte,
capítulo V, pp. 219 e
220.)
C. Nemésio Torres
confessou à Márcia o
desejo de casar-se com
Marina?
Sim. Logo que Beatriz
faleceu, ele visitou a
mãe de Marina e
confessou-lhe que amava
sua filha e aspirava ao
matrimônio. Enlutara-se,
é certo, mas em breves
semanas o tributo social
desapareceria. E, ante
os olhos assombrados de
Márcia, relacionou parte
da fortuna que
amontoara, enumerando
seis dos melhores
apartamentos que possuía
e os negócios da
imobiliária, cujos
lucros eram
compensadores.
(Obra citada, 2ª parte,
capítulo V, pp. 223 a
225.)
Texto para leitura
101. Beatriz
desencarna - No
entardecer do dia
imediato, podia-se ver a
crescente renovação
íntima de Cláudio, que
adquirira com Agostinho
mais amplos recursos de
cultura espírita.
Moreira também se
modificara, ao
identificar o resultado
de seu esforço junto à
enferma. Ele mesmo
compreendia que a moça
se lhe afinava, com mais
segurança, ao apoio
fluídico, e
regozijava-se com isso.
A Providência Divina
abençoava o trabalhador
bisonho, propiciando-lhe
a ventura de contemplar
os grelos promissores
das primeiras sementes
do bem que ele
plantava. Moreira
sentia-se útil e, por
isso, encontrava motivos
para conversar com
André e Félix,
permutando impressões e
solicitando
esclarecimentos, a fim
de auxiliar melhor.
Cláudio, a seu turno,
não se circunscrevia à
própria transformação.
Desdobrava-se por
dispensar à filha todo o
carinho e toda a
assistência de que era
capaz. O genitor não
regateava cuidados, nem
desencorajava qualquer
providência tendente a
socorrê-la, custasse o
que custasse. À noite, o
irmão Félix retornou ao
hospital e, após
felicitar Moreira pela
tarefa que realizava,
comunicou-lhes a
desencarnação de dona
Beatriz. Como a situação
de Marita era estável e
os serviços se
processavam normalmente,
o benfeitor convocou
André a dirigir-se à
casa dos Torres. No
trajeto, disse-lhe estar
preocupado com Marina:
era indispensável
protegê-la contra a
obsessão começante.
Moreira se afastara, mas
permaneciam no pátio da
casa os vampirizadores
que ele contratara, e
eles trariam,
inevitavelmente, outros
para tumultuar a vida da
moça, comprometida pelo
remorso. As palavras e a
inflexão de voz de Félix
acentuavam-lhe a
grandeza d'alma,
porquanto ele não via em
Marina a jovem
corrompida, que André e
Neves não hesitariam em
enquadrar nas linhas da
prostituição, nem lhe
conferia certificado de
aviltamento nas ideias
recônditas. Félix
reportava-se à jovem
como quem menciona terra
nobre que a desídia do
cultivador entrega à
serpente. Marina, na
conceituação dele, era
uma filha de Deus,
credora de veneração e
ternura, e confiava
nela. (2a parte,
cap. V, pp. 215 a 217)
102. No velório de
Beatriz -
Reduzida assembleia
comparecera ao velório
de Beatriz, e Nemésio e
Gilberto não
entremostravam grande
pesar nas fisionomias
cansadas e impassíveis.
A moléstia prolongada
estragara-lhes a
resistência para a
representação de peças
sociais, mesmo singelas,
e por isso referiam-se à
falecida, como alguém
que há muito deveria ter
partido. Enquanto isso,
Beatriz (Espírito),
ainda inconsciente, se
asilava nos braços de
irmãs afetuosas, sob o
olhar comovido de Neves
e de outros familiares
em carinhoso desvelo.
Félix assumiu o comando
do atendimento. Beatriz
seria conduzida a uma
organização socorrista
do plano espiritual, no
próprio Rio, até que
restaurasse as forças,
de modo a seguir viagem.
Marina, porém, chorava,
tocada de dor sincera e
inexprimível, parecendo,
naquela assembleia, a
única pessoa ligada por
laços de amor à piedosa
dama que ora deixava o
plano físico. Ao fitar
o corpo hirto de
Beatriz, caiu de
joelhos, em lágrimas
copiosas, como se
quisesse traçar uma
longa confissão. O
desafogo lhe fez bem,
mas, fatigada de insônia
e desgastada pela ação
dos obsessores que lhe
exauriam as forças, a
jovem sentia medo.
Contemplando o cadáver,
refletia, através das
lágrimas, nos segredos
da morte e nos problemas
da vida. Se a alma
sobrevivia ao corpo –
pensava, inquieta –,
decerto que dona Beatriz
a veria agora sem o
mínimo subterfúgio,
certificando-se de que
ela fora, ali, não a
enfermeira espontânea,
mas a mulher que lhe
dominava o esposo e o
filho. Atemorizada,
rogava-lhe, assim,
entendimento, perdão.
Que diria aquela boca
silenciosa, se pudesse
falar, depois de
auscultar a verdade?! (2a
parte, cap. V, pp. 217 e
218)
103. Marina sente
remorsos -
Nemésio e Gilberto,
comovidos com o choro de
Marina, fitavam-na
enternecidos, exprimindo
reconhecimento nos
olhos, cada qual
desejando nela a
companheira ideal para
casamento próximo, sem a
menor suspeita quanto às
convicções um do outro.
A falta de Beatriz no
ambiente caseiro
produziu, logo, viva
mudança na casa, visto
que o afastamento dos
amigos espirituais que a
acompanhavam deixara a
vivenda qual praça
desarmada de quaisquer
recursos que lhe
garantissem a ordem.
Transcorrido algum
tempo, vagabundos
desencarnados nela
tiveram acesso livre e o
nível dos pensamentos
descambou para a
conversação libertina.
Nem mesmo a dignidade
que a morte infundia ao
recinto foi acatada.
Relatos jocosos
irromperam,
suplementados pela
chacota dos próprios
anedotistas. A bebida,
inspirada pelos
beberrões
desencarnados, foi
servida com fartura.
Prevendo a leviandade,
irmão Félix recomendou
se aplicasse à falecida
recursos anestesiantes,
para que se lhe
mantivesse o isolamento
do licencioso festim. Os
derradeiros afeiçoados
de Beatriz, no plano
espiritual, se
retiraram, discretos, e
até André e Félix
deixaram a residência,
alta madrugada, depois
do socorro à Marina,
relegando os despojos da
nobre senhora às
grossas nuvens de
emanações alcoólicas que
instalavam, em toda a
habitação, atmosfera
dificilmente respirável.
No dia seguinte, Marina,
apesar de acabados os
funerais, permaneceu em
casa dos Torres, pois o
próprio Nemésio pediu à
dona Márcia concordasse
em que Marina
continuasse orientando
as servidoras que lhe
atendiam a casa. Mais
algumas semanas – disse
ele – e tudo se
aclararia
satisfatoriamente.
Marina, contudo,
explorada nas próprias
energias pelos agentes
perturbadores
contratados por Moreira,
definhava no leito.
Trancada no quarto,
remoía a deslealdade que
cultivara,
incessantemente, diante
de Beatriz e se culpava
pelo desastre que
arruinara Marita, a quem
não tinha coragem de
visitar ou rever. A
jovem chorava, ouvia
vozes, declarava-se
perseguida por vultos
estranhos. Fugia, assim,
de todos, enfadada,
nervosa, e, se recebia
Nemésio ou Gilberto,
caía em crise de pranto
que nem os conselhos e
os medicamentos
conseguiam remover. (2a
parte, cap. V, pp. 219 e
220)
104. Nemésio
visita a mãe de Marina
- Passados cinco dias de
apreensões, Nemésio
telefonou para dona
Márcia, rogando-lhe
permissão para um
entendimento pessoal, no
Flamengo, na manhã
seguinte. Marina andava
abatida; tencionava,
pois, levá-la a
Petrópolis, onde a
mudança de ares e o
clima serrano lhe fariam
bem. Era preciso,
contudo, ouvir a
família, fazer planos.
Dona Márcia, aguardando
Gilberto para genro e
ignorando a intimidade
entre a filha e Nemésio,
não podia compreender
toda a extensão da
preocupação que o senhor
Torres revelava por
Marina. A entrevista
realizou-se no horário
combinado. Nemésio, ao
ver dona Márcia, uma
criatura bem-apessoada
num modelo de algodão
transparente e suave,
não sabia se a genitora
era uma segunda edição
da filha ou se a filha
era segunda edição dela.
Comodamente sentados, a
palestra começou pela
troca de sentimentos
recíprocos. Pêsames pela
morte de Beatriz, pesar
pelo acidente ocorrido
com Marita. Encantado
com a personalidade de
Márcia, Nemésio tocou no
assunto principal da
palestra. "A senhora
descanse – falou-lhe,
eufórico –, Marina
seguirá em minha
companhia, tudo em
ordem. Creia que a
mudança de ares é a
terapêutica adequada. A
pobrezinha merece
repouso, excedeu-se em
trabalho..." Dona
Márcia disse não ter
quaisquer objeções, mas
estranhava tal viagem
assim, à pressa...
"Enquanto sua esposa
estava de cama –
observou –, a
permanência de minha
filha em sua casa era
justa, mas agora... Sei
que Marina não se
encontra no convívio de
estranhos, o senhor para
nós não é somente o
diretor da firma em que
ela trabalha, o senhor
para ela é também um
amigo, um protetor, um
pai..." (2a
parte, cap. V, pp. 220 a
222)
105. Nemésio
confessa seu amor pela
jovem - Ao ouvir
esta última frase,
Nemésio não resistiu, e
disse à dona Márcia que
Marina era para ele
muito mais do que um
amigo, um protetor, um
pai. Dona Márcia
estremeceu. Que queria
o senhor Torres dizer
com semelhante
afirmação? E,
instintivamente,
lembrou-se das suspeitas
de Cláudio a respeito da
filha. Teriam os
passeios e divertimentos
de Nemésio com Marina –
que ela julgara fossem
apenas motivos de
consolação para um velho
sofrido – o aspecto
inconfessável que o
marido lhes conferia?
Dona Márcia, num átimo,
empregou então toda a
sua curiosidade feminil
no rico negociante,
fisgando-o de alto a
baixo, e descobriu no
viúvo atrativos
marcantes, suscetíveis
de impressionar
favoravelmente qualquer
moça desprevenida. O
velho Torres ganharia de
Gilberto em qualquer
torneio de sedução. Dona
Márcia quis então falar,
mas engasgou-se, tremeu,
desconcertou-se, ao
passo que Nemésio
sorriu, atribuindo-lhe a
emoção ao contentamento
da mãe que se garante,
quanto ao futuro da
filha, aduzindo: "A
senhora não tem razões
para afligir-se. Marina
é credora de minha
melhor consideração.
Esteja convicta de que,
nestes dois meses de
trato diário, ela vem
desfrutando a maior
liberdade em minha casa.
É hoje dona de nossa
absoluta intimidade.
Estou certo de que a
senhora é dama de nossa
época, sem clausura e
sem preconceitos. Não se
agastará, desse modo, ao
saber que Marina em meu
lar faz o que quer,
gasta o que quer, dorme
onde quer, sem que
ninguém a incomode..."
Márcia, que não
abarcara ainda todo o
sentido das palavras de
Torres, esboçou um
sorriso brejeiro e
falou-lhe, afável: "Bem,
eu não tenho uma filha
namorando, no tempo dos
mártires; no entanto,
gostaria que o senhor
fosse mais explícito..."
Nemésio confessou-lhe,
então, o próprio
romance. Amava-lhe a
filha, aspirava ao
matrimônio. Enlutara-se,
é certo, mas em breves
semanas o tributo social
desapareceria. E, ante
os olhos assombrados de
Márcia, relacionou parte
da fortuna que
amontoara, enumerando
seis dos melhores
apartamentos que possuía
e os negócios da
imobiliária, cujos
lucros eram
compensadores. (2a
parte, cap. V, pp. 223 a
225) (Continua no próximo
número.)