MILTON SIMON
PIRES
cardiopires@gmail.com
Porto Alegre, RS
(Brasil) |
|
EspiritUTIsmo
Meus caros
leitores e
leitoras da
Revista O
Consolador, não
procurem o
título do texto
em nenhum
dicionário. Ele
não existe! É um
neologismo, uma
palavra que
inventei para
descrever as
consequências de
se tornar um
espírita, ou de
invocar
Espíritos,
quando estamos,
nós mesmos ou
algum de nossos
familiares,
internados em
uma Unidade de
Terapia
Intensiva (UTI).
Começo narrando
a vocês um
episódio
lamentável da
minha vida
profissional.
Há muitos anos
estava de
plantão (em uma
UTI) quando
durante o
chamado “horário
de visita” –
aquele momento
em que passamos
aos familiares
informações
sobre o estado
de saúde de seus
parentes – uma
senhora, muito
humildemente,
perguntou-me se
invocar bons
Espíritos para
ajudar no
tratamento não
seria de valor
terapêutico. Na
época eu não era
espírita. Nem
sequer posso
dizer a vocês
que tivesse uma
verdadeira fé em
Deus. Faço esta
ressalva para
explicar o
porquê da falta
de caridade da
minha resposta.
Argumentei – sem
piedade alguma –
que se “os
espíritos
atendessem pelo
SUS poderiam
participar do
tratamento sem
problema.”
Confesso a todos
o remorso que me
aflige até hoje.
É falta extrema
de caridade (e
até de ética
profissional) um
médico responder
assim. Tivesse
eu lido as obras
de Kardec e
entendido com
clareza a
mensagem de
Jesus, jamais
diria tamanha
barbaridade e é
uma vergonha
saber que
existem médicos
brasileiros
agindo assim até
hoje!
Contei isto para
vocês para fazer
uma introdução.
O verdadeiro
objetivo do
texto é abordar
outro tema.
Quero aqui
escrever sobre
pessoas, ricas
ou pobres,
humildes ou não,
com sinceridade
ou apenas por
interesse
próprio, que num
momento de
desespero passam
a se interessar
pela Doutrina
Espírita.
Para começar,
diria eu, como
médico espírita,
que
provavelmente
não existe
nenhum outro
lugar no Brasil
em que a
presença de
Espíritos
desencarnados
seja tão grande
quanto nas
UTI's. Seja para
ajudar ou
atrapalhar, sei
que ninguém
desencarna desta
vida sem a
presença deles
ao lado – neste
sentido não me
parece
necessário fazer
invocações de
rotina para
ajudar pessoas
em estado grave.
Em segundo
lugar, gostaria
de afirmar a
minha crença de
que Espíritos
iluminados e
capazes de
ajudar nesta
situação não são
médicos no
sentido
tradicional, e
sei que a
Associação
Médico-Espírita
do Brasil (AME)
trata do assunto
com extrema
seriedade,
podendo escrever
sobre ele com
muito mais
conhecimento de
causa. Não é
possível chamar
Espíritos quando
queremos para
atuar no caso
como mais um
especialista e
conforme a nossa
vontade.
Em terceiro
lugar, é muito
constrangedor
para mim, como
espírita,
perceber num
momento de
desespero certas
pessoas que
levaram uma vida
totalmente
dominada pela
matéria apelarem
rapidamente para
a religião como
última saída.
Nessas horas eu
sempre me sinto
mal e procuro
entender que
todos, mesmo
elas, merecem
uma segunda
chance. Acredito
no seu direito
de mudar de
ideia e na
sinceridade do
seu
arrependimento.
Apenas me sinto
muito triste ao
ver a
necessidade de
tanto sofrimento
para que abram
seus corações e
entendam as
mensagens
deixadas por
Kardec. Gostaria
que elas não
tivessem que
viver no mesmo
tipo de remorso
que eu sinto até
hoje com relação
à época em que
era tão
ignorante. Quero
também deixar
muito claro,
para todos os
médicos
espíritas que
estiverem lendo
este texto, que
acredito
fervorosamente
no poder do
passe, da oração
e da fé
verdadeira como
instrumentos de
cura e salvação.
Acho ainda que a
medicina
espírita vai se
tornar cada vez
importante no
Brasil. Apenas
discordo de
situações em que
o Espiritismo é
utilizado pelos
parentes das
pessoas doentes
como uma mera
manifestação de
conveniência e
sem noção da
gravidade
daquilo que
querem fazer.
Este tipo de
coisa vulgariza
a doutrina,
invade uma área
séria como é a
medicina
espírita e, com
certeza, não
resulta em
benefício algum
para o
doente.
O caminho para
evitar o que
descrevi acima
vai ser sempre o
do recolhimento,
do estudo e da
oração.
Vislumbro ainda
a chegada de um
tempo em que
especialistas em
medicina
espírita vão ser
chamados para
atender
pacientes de UTI
como algo, aí
sim, rotineiro e
feito com
extrema
seriedade.
Espero que os
verdadeiros
médiuns
brasileiros que
não sejam
médicos não
fiquem magoados
e não entendam
esta hipótese
como futura
“reserva de
mercado”.
Acho que talvez
seja esta a
solução para que
o Brasil
torne-se a
pátria, não
dessa mistura de
terapia
intensiva com
religião, mas do
verdadeiro
Espiritismo
cristão.
Para terminar
peço àqueles que
eventualmente
ficaram tristes
ou ofendidos com
o texto que não
sintam raiva de
mim. Orem, não
só pelos meus
pacientes, mas
também por mim
mesmo. Preciso
da ajuda de
vocês. Muito
obrigado!
Dedicado a todas
as pessoas,
sejam elas
espíritas,
católicos ou
protestantes,
médiuns ou não,
doentes ou
médicos, que
oram para os
que estão,
neste momento
dentro de uma
Unidade de
Terapia
Intensiva e
próximos de
deixar esta
vida.
O autor é médico
em Porto Alegre,
RS.