ANGÉLICA
REIS
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
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A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 29)
Damos
sequência ao estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. Os fenômenos de
telestesia podem ocorrer
independentemente da
telepatia?
|
Sim. Eles podem ocorrer
de forma independente e
essa independência foi
comprovada,
incidentemente, durante
o desenrolar de
experimentos
exclusivamente
telepáticos.
(A Personalidade Humana.
Capítulo VI –
Automatismo sensorial.)
B. Que conclusão Myers
menciona com respeito
aos fenômenos de
autoprojeção?
Segundo Myers, a
autoprojeção é o único
ato definido que o homem
parece capaz de realizar
tanto antes como depois
da morte corporal.
(Obra citada. Capítulo
VI – Automatismo
sensorial.)
C. Qual é a razão pela
qual muitas pessoas têm
dificuldade em admitir
os fatos comprobatórios
da sobrevivência humana?
As pessoas que
apresentam tal
dificuldade dizem que só
se deixarão convencer no
dia em que tiverem
provas de que existe uma
relação de continuidade
entre os fenômenos em
questão e os já
reconhecidos e provados.
Por enquanto se recusam
a imaginar qualquer
relação de continuidade
entre a hipótese da
existência do mundo
espiritual e a evidência
que aparece nas nossas
experiências
relacionadas com o mundo
material. Myers diz, com
efeito, que os
argumentos levantados
até agora em favor da
existência do mundo
espiritual desconheceram
e descuidaram
demasiadamente dessa
necessidade. De fato, se
privado do apoio do
sistema geral da
ciência, o ato de fé
parece retroceder e
apagar-se na medida em
que o sistema avança e
cresce.
(Obra citada. Capítulo
VII – Os fantasmas dos
mortos.)
Texto para leitura
690. Toda matéria pode
existir sob a forma de
ideia num espírito
cósmico, com o qual
qualquer Espírito
individual pode
encontrar-se
relacionado, da mesma
forma que com outros
Espíritos individuais. A
diferença reside,
talvez, antes no fato de
que só em consequência
de uma chamada vinda de
um Espírito similar, o
do agente entra em ação;
enquanto que as
incursões entre os
objetos inanimados
estão, com frequência,
privadas de qualquer
impulso. Esta suposição,
sendo certa, explicaria
o fato dessas incursões
se realizarem, amiúde,
sob a influência da
sugestão hipnótica.
691. Se nos referirmos
agora aos casos de
clarividência à
distância, encontraremos
neles uma espécie de
fusão de todas as
manifestações das
faculdades supranormais:
telepatia, telestesia,
retrocognição,
precognição,
coexistentes numa
síntese incompreensível
para nós. Só
artificialmente podemos
classificar esses casos
de acordo com o
predomínio deste ou
daquele fenômeno.
692. Dessa forma
obtemos,
experimentalmente, casos
onde parece
manifestar-se uma
faculdade independente
de visitar qualquer
lugar, cuja posição
tenha sido, talvez,
descrita anteriormente,
seguindo sinais já
conhecidos. A
clarividente (emprego o
gênero feminino, ainda
que em certos casos os
homens manifestem a
mesma faculdade) errará,
com frequência, seu
caminho e descreverá
amiúde casas e cenas que
se encontram próximas às
que desejava visitar.
Mas, quando tenha
percebido, literalmente,
a pista e encontrado o
lugar que o homem que
procura atravessou,
seguirá a pista com a
maior facilidade,
reconhecendo,
aparentemente, tanto os
acontecimentos passados
como as circunstâncias
atuais de sua vida.
693. Nesses casos
experimentais
prolongados dispomos de
tempo suficiente para
permitir à clarividente
atravessar certos
locais, como quartos
vazios, fábricas, etc.,
onde não a atraiu
qualquer vínculo
aparente com pessoas
vivas; desse modo, a
possibilidade da
existência da telestesia,
independentemente da
telepatia, pôde ser
comprovada,
incidentemente, durante
o desenrolar dos
experimentos
exclusivamente
telepáticos.
694. Essas viagens
clarividentes
prolongadas parecem,
antes, sonhos, que
alucinações da vigília.
Citaremos o caso de um
médico que pretendeu
guardar o anonimato,
para que não o acusassem
de “defender opiniões
contrárias ao dogma
científico geral”.
Atendia a mulher de um
pastor, doente; durante
o atendimento
sobrevieram delírios que
não pareciam ter relação
alguma com a enfermidade
principal. A paciente
vivia numa casa que não
possuía campainha
externa e cuja porta
permanecia fechada a
partir da meia-noite.
Certa noite, mais ou
menos às nove horas, o
médico voltara da casa
de sua doente mais
perplexo do que nunca;
deitou-se cedo. Mas,
mais ou menos à uma hora
da madrugada,
levantou-se dizendo para
sua mulher que ia
visitar sua cliente. Ao
ouvi-la dizer-lhe que
encontraria a porta
fechada e que por isso
não poderia entrar,
respondeu que via o
proprietário da casa
conversando na rua com
outro homem. A mulher
não se espantou com a
resposta, mormente
quando o marido lhe
disse estar totalmente
desperto. Portanto, saiu
e encontrou, de fato,
diante da casa o
proprietário, que lhe
abriu a porta. Ao entrar
no quarto da doente,
encontrou-a prestes a
engolir um copo cheio de
licor alcoólico. Teve,
dessa forma, a
explicação dos delírios,
que eram unicamente de
natureza etílica. Falou
sobre isso com o marido
da doente, que o negou
com energia e pediu ao
médico que não voltasse.
Três semanas mais tarde,
o médico inteirou-se de
que sua doente estava
num asilo de alcoólatras
(Phantasms of the
Living, I, Pág. 267).
695. É difícil afirmar
se foi a enferma que se
dispôs à embriaguez ou
se foi o proprietário
que desempenhou, em
certo sentido, o papel
de agente, no caso. De
uma forma ou de outra, o
desejo tenaz do médico
de encontrar uma ocasião
para esclarecer o caso
de sua doente levou a
uma colaboração do eu
subliminar e do eu
supraliminar, semelhante
a uma inspiração genial;
mas, enquanto o gênio
age nos limites
sensoriais comuns, o eu
subliminar do médico
desenvolveu suas forças
supranormais num grau
extremo.
696. Existem outros
casos em que uma cena
apenas percebida, como a
luz de um relâmpago,
apresenta um interesse
especial para o sujeito
invadido, ainda que
nenhum dos personagens
da cena tenha o desejo
de torná-la visível. Em
outros casos ainda, os
sujeitos veem um
acontecimento real, que
se realiza à distância,
aparecer subitamente
como nas imagens
cristaloscópicas, na
parede, ou mesmo no ar,
às vezes num círculo de
luz, sem fundo aparente.
697. Pode-se ver por
meio da clarividência um
incidente muito tempo
após ter-se produzido?
Possuímos observações
desse gênero: por
exemplo, a da Sra. Agnes
Paquet, que teve, certo
dia, a visão de seu
irmão, marinheiro, que
se afogou
acidentalmente; visão
clara até o ponto de
poder descrever todos os
detalhes da roupa e as
circunstâncias mais
insignificantes em que
se produziu o acidente.
Uma posterior
verificação demonstrou a
exatidão de sua
narrativa e que a visão
lhe apareceu horas após
o acidente (Proceedings
of the S. P. R., VII,
pág. 32-35).
698. Em outro caso,
trata-se de uma mulher
que teve, certo dia, a
visão de seu médico, que
há um ano não via e ao
qual deixara gozando
plena saúde, estendido,
morto numa cama, num
quarto vazio, sem móveis
e cortinas. Mais tarde
inteirou-se de que
morrera naquele dia em
que tivera a visão,
horas antes desta, num
pequeno hospital de
província, num país
estrangeiro, aonde fora
por seu clima tépido (Phantasms
of the Living, I, pág.
265).
699. Chegamos agora a um
grupo de casos onde B
invade A e este último
percebe completamente
essa invasão, enquanto B
não mantém qualquer
recordação supraliminar.
Já discutimos alguns
casos do que chamamos
psicorragia, onde a
invasão é feita à margem
da vontade ou intenção
do invasor. Nos casos
que vamos narrar
trata-se provavelmente
de uma projeção real da
vontade ou do desejo do
invasor, que possui como
efeito a projeção de seu
fantasma, reconhecível
para algum amigo
distante, sem que o
próprio agente se lembre
depois do fato. Estes
são casos intermediários
entre os casos
psicorrágicos já
descritos e os
experimentais de que
falaremos a seguir.
700. Nesta categoria
citarei a observação da
Sra. Elgee, que teve,
certo dia, no quarto que
ocupava num hotel do
Cairo, a visão de um de
seus melhores amigos,
que sabia, naquele
instante, encontrar-se
na Inglaterra. O que dá
maior interesse a esta
narração é o fato de que
uma moça que ela devia
acompanhar à Índia, e
que estava no mesmo
quarto, teve igualmente,
no mesmo momento,
idêntica visão, com
igual clareza, e ainda
que não tivesse visto,
vez alguma, o sujeito em
questão, deu à Sra.
Elgee uma descrição tão
exata que esta não pôde
duvidar da veracidade da
visão.
701. Soube-se mais tarde
que seu amigo tivera
naquela época enormes
preocupações e que, nas
vésperas de tomar uma
importante decisão,
lamentara não poder
consultá-la; e, no mesmo
momento em que vira o
fantasma, o amigo em sua
casa pensava nela (Phantasms
of the Living, II, pág.
239).
702. Os casos que vêm a
seguir, numa ordem
crescente de intensidade
aparente, são os casos
em que um e outro
sujeitos conservam a
lembrança do ocorrido,
de forma que a
experiência é recíproca.
Estes casos merecem ser
estudados
particularmente, porque
ao perceber as
circunstâncias em que
são produzidos esses
casos recíprocos,
podemos reproduzi-los
experimentalmente.
703. Outro grupo,
bastante importante,
ainda que pouco
numeroso, é o da
realização prematura de
uniões póstumas, por
assim dizer. Veremos, no
capítulo seguinte, que a
promessa que os amigos
fazem de aparecer um ao
outro após a morte está
longe de ser assunto
simples, inútil e
sentimentaloide. Essas
aparições póstumas
podem, é certo, ser
impossíveis na maioria
dos casos, mas existem
razões sérias para
acreditar que a tensão
prévia da vontade nessa
direção torne possível a
realização do desejado
encontro. Se, de fato,
isso acontece, trata-se
de uma espécie de
experimento que todos
podem realizar. E, com
efeito, experiências
foram feitas desse
gênero, com total êxito.
704. Citaremos,
unicamente, o caso de M.
A. S. H., que conseguiu,
com enorme esforço de
vontade, tornar-se
visível a pessoas de
suas relações, em dia
determinado previamente
e isto sem prevenir as
pessoas. A primeira vez,
sua aparição foi vista,
simultaneamente, por
duas pessoas, duas irmãs
que se encontravam no
mesmo quarto. “Ao
realizar esse esforço de
vontade, disse M. A. S.
H., experimentava uma
espécie de influência
misteriosa que
impregnava todo o meu
corpo e uma impressão
muito clara de que punha
em movimento uma força
desconhecida para mim,
até aquele momento, mas
que atualmente posso
manifestar à vontade, em
momentos precisos.”
(Phantasms of the
Living, I, págs.
104-109.)
705. Nessas
autoprojeções temos
diante de nós a
manifestação, não me
atrevo a dizer a mais
útil, mas a mais
extraordinária da
vontade humana. Qual das
nossas faculdades
conhecidas supera a
capacidade de mostrar-se
à distância? Existe uma
ação mais centralizada
que surja, de forma mais
manifesta, da parte mais
profunda e unitária do
ser humano? Começa aqui
a justificação do
conceito que esboçamos
no início deste
capítulo, isto é, que o
eu subliminar, longe de
formar um simples
encadeamento de
redemoinhos e
torvelinhos, isolados de
qualquer maneira na
corrente principal da
existência humana,
constitui, pelo
contrário, a corrente
principal e mais
possante que podemos,
sem dúvida, identificar
com o homem.
706. Outras
manifestações têm seus
limites precisos; quais
são esses limites? O
Espírito mostrou-se
dissociado, em parte, do
organismo; até onde
chega essa dissociação?
Manifesta certa
independência,
inteligência,
permanência. Que grau de
independência, de
inteligência e de
permanência pode
alcançar? De todos os
fenômenos vitais, este é
o mais significativo; a
autoprojeção é o único
ato definido que o homem
parece capaz de realizar
tanto antes como depois
da morte corporal.
707. Capítulo VII - Os
fantasmas dos mortos.
Chegamos aqui,
insensivelmente, a um
ponto de importância
fundamental. Um problema
profundo e central que
abordamos apenas de uma
maneira irregular e
intermitente nos
capítulos anteriores e
que agora vamos
enfrentar diretamente.
Das ações e percepções
de Espíritos encarnados
ainda, que se comunicam
uns com os outros,
passaremos ao estudo das
ações dos Espíritos
liberados de seu
invólucro carnal e às
formas de percepção, com
a ajuda das quais os
homens ainda vivos
respondem a essas
influências insólitas e
misteriosas.
708. Essa transição é
realizada sem solução de
continuidade. O eu
subliminar que já
estudamos através das
diferentes fases de
sensibilidade crescente,
que vimos adquirir uma
independência cada vez
maior dos laços
orgânicos, será agora
estudado do ponto de
vista de sua
sensibilidade, a
respeito de influências
ainda mais afastadas,
como se fosse dotado de
uma existência
independente, mesmo
depois da destruição do
organismo.
709. Nosso tema
apresenta, naturalmente,
três divisões
principais:
A - Em primeiro lugar,
discutiremos brevemente
o valor dos argumentos
teóricos em favor da
sobrevivência depois da
morte e suas relações
com os argumentos
apresentados nos
capítulos precedentes.
B - Em segundo lugar, e
isto constitui o ponto
capital deste capítulo,
precisamos fazer uma
classificação racional
dos argumentos em favor
da sobrevivência, no que
se refere especialmente
ao automatismo
sensorial, vozes ou
aparições; e os fatos do
automatismo motor,
escrita automática e
possessão ficam para uma
discussão posterior;
C - Em terceiro lugar,
finalmente, examinaremos
o significado do
conjunto dos fatos em
questão e sua
importância do ponto de
vista do futuro
científico e moral da
humanidade.
710. Primeiramente, no
que concerne à evidência
em relação à
sobrevivência humana,
esbarramos, na maioria
dos casos, mesmo
tratando com pessoas
inteligentes, com uma
prevenção absoluta, com
a resolução decidida de
não acreditar nos fatos
desse gênero. Essas
pessoas dizem que só se
deixarão convencer no
dia em que tenham provas
de que existe uma
relação de continuidade
entre os fenômenos em
questão e os já
reconhecidos e provados,
e por enquanto se
recusam a imaginar
qualquer relação de
continuidade entre a
hipótese da existência
do mundo espiritual e a
evidência que aparece
nas nossas experiências
relacionadas com o mundo
material.
711. Reconheço essa
necessidade de
continuidade e reconheço
também que os argumentos
levantados até agora em
favor da existência do
mundo espiritual
desconheceram e
descuidaram
demasiadamente dessa
necessidade. O espírito
popular desejou sempre
qualquer coisa de
extraordinário que fosse
além das leis naturais;
sempre professou o
Credo quia absurdum
ou o Credo quia non
probatum. Disso
resultou fatalmente uma
grande insegurança na
convicção assim
adquirida. Se privado do
apoio do sistema geral
da ciência, o ato de fé
parece retroceder e
apagar-se na medida em
que o sistema avança e
cresce.(Continua no próximo
número.)