Sexo e Destino
André Luiz
(Parte
23)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Sexo e Destino,
de André Luiz,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1963 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Marita sentiu-se mais
leve quando o sentimento
de perdão lhe veio à
mente?
Sim. A jovem sentiu-se
mais leve e quase feliz!
Quis, então,
movimentar-se e gritar
ao pai que ela o
considerava um homem de
bem, mas a garganta lhe
parecia de pedra e
incapaz de pronunciar
qualquer som. Seu
esforço foi, contudo,
tão grande, que bagas de
pranto lhe rolaram dos
olhos semimortos e desde
esse minuto solene de
pacificação começou a
distinguir, vagamente,
vozes e formas do plano
espiritual, entre
alegre e amedrontada,
como se estivesse
acordando num clarão
traspassado de bruma.
(Sexo e Destino, 2ª
parte, capítulo VII, pp.
237 a 239.)
B. Em sua confissão
perante a filha, Cláudio
revelou-lhe toda a
verdade?
Sim. Ele confessou
diante dela todas as
faltas de que se
acusava, a começar pelo
drama de Aracélia.
Disse, então, ignorar
fosse ela filha dele, o
que só viera a saber,
através de Márcia,
depois da noite horrível
em casa de Crescina.
Contou, em seguida, ter
lido e aprendido muito
sobre reencarnação e
declarou-se persuadido
de que ambos se achavam
ligados, através de
múltiplas existências.
(Obra citada, 2ª parte,
capítulo VII, pp. 242 e
243.)
C. Nos momentos finais
de sua existência,
Marita viu os Espíritos
que a cercavam?
Quando orou e rogou,
mentalmente: "Perdão,
Senhor!... Perdão para
meu pai, perdão para
mim!... Perdão para
todos os que erraram!...
Perdão para todos os que
caíram!...", as
percepções dela se
aguçaram e foi então que
ela viu Moreira e os
demais Espíritos ali
presentes, inclusive o
instrutor Félix.
(Obra citada, 2ª parte,
capítulo VII, pp. 243 a
245.)
Texto para leitura
111. Marita decide
perdoar o pai -
Duas semanas após o
acidente em Copacabana,
Marita amanheceu
preparada para a
desencarnação. Moreira
inspirava piedade.
Aqueles dias abençoados
de ensinamento e dor lhe
haviam alterado a vida
íntima, e ele chorava,
consternado, ao perceber
que o fim da menina
estava próximo. Marita,
apesar de imóvel,
sentia-se agora lúcida,
profundamente lúcida.
Seus olhos estavam quase
apagados, mas o apoio
magnético incessante lhe
descerrava a luz da
visão espiritual. Nos
últimos dias atingira
avançada renovação.
Assinalava com absoluta
clareza as palestras
frequentes que Cláudio
mantinha com médicos e
enfermeiros, gravava as
preces e os comentários
de Agostinho e Salomão,
na hora do passe. No
início, ao experimentar
que as mãos paternas lhe
asseavam o corpo,
desesperava, clamando de
si para consigo não se
conformar com tanta
humilhação...
Entretanto, à força de
perceber-lhe a ternura
reverente,
expungindo-lhe as
excreções que se lhe
agarravam à epiderme
ferida, acabou plantando
no coração um sentimento
novo. Enterneceu-se,
transfigurou-se. Ouvia-o
falar em Deus e, às
vezes, identificava-lhe
os dedos a lhe roçarem a
fronte, ao mesmo tempo
que entremeava afagos e
orações. Num desses
momentos, Félix
aproximou-se e disse:
"Filha, perdoa,
perdoa!..." Ela
registrou, emocionada,
a voz desconhecida e
recordou a mãe que a
deixara no berço. Sim –
concluía –, somente o
amor materno voltaria do
túmulo para
inclinar-lhe o coração
incendiado à fonte da
indulgência. Era preciso
perdoar. Que outra coisa
lhe competia fazer
diante da morte?
Compadeceu-se, então,
diante do pai
irrefletido e resolveu
perdoar-lhe as
humilhações e ofensas...
(2a parte, cap.
VII, pp. 236 e 237)
112. Marita
agoniza -
Pensando em Cláudio, que
nunca desfrutara refúgio
no próprio lar, Marita
teve por ele pensamentos
de compreensão.
Provavelmente havia
recebido, na pensão de
Crescina, o assalto de
um louco e não a injúria
de um homem! Relembrou
então os gestos de
brandura e de amor, nos
brincos da infância. O
pai lhe fora o único
amigo. Se chorava em
pequenina, recolhia-se a
seu colo, buscando o
regaço de mãe que não
tivera. Recordou assim
os passeios no
zoológico, os sorvetes,
os afagos... Não, não! –
bradava-lhe a
consciência – o pai não
era perverso, era bom...
Como recusar-lhe
compaixão se dona
Márcia o abandonava, se
Marina lhe evitava a
presença? Recordou, em
seguida, a mãe adotiva,
imaginou-se à frente da
irmã e aspirou, em
espírito, à
reconciliação com ambas.
Estavam perdoadas por
todas as incompreensões
e, no íntimo, pedia-lhes
perdão por todos os
dissabores que,
involuntariamente, lhes
tivesse causado! No
desfile das
recordações, Gilberto
não faltou, e a figura
do rapaz surgiu-lhe na
cabeça, envolvida das
doces vibrações do sonho
que lhe constituíra a
luz da vida. Não
conseguiria odiar a quem
amava tanto! Ele teria
encontrado, com
certeza, razões para
afastar-se dela. Ao
enunciar esses
pensamentos, Marita
sentiu-se mais leve,
quase feliz! Quis
movimentar-se e gritar
ao pai que ela o
considerava um homem de
bem, mas a garganta lhe
parecia de pedra e
incapaz de pronunciar
qualquer som. Seu
esforço foi, contudo,
tão grande, que bagas de
pranto lhe rolaram dos
olhos semimortos e desde
esse minuto solene de
pacificação começou a
distinguir, vagamente,
vozes e formas do plano
espiritual, entre
alegre e amedrontada,
como se estivesse
acordando num clarão
traspassado de bruma.
Cláudio chamou o médico.
As lágrimas não seriam
indício de melhora? O
médico, porém, meneou a
cabeça e pediu tempo
para melhor observação.
Mais tarde, ao clarear o
dia, comunicou a Cláudio
que a jovem não viveria
muitas horas e que para
a Ciência tudo estava
terminado. (2a
parte, cap. VII, pp. 237
a 239)
113. Cláudio
despede-se da filha
- Cláudio baixou os
olhos e avisou
Agostinho e Salomão, que
foram ao hospital à
noite. O pai de Marita
rogou-lhes uma prece e
pela primeira vez pediu
um passe em favor de si
mesmo. O boticário e o
negociante
consolaram-no. Não seria
justo reter a jovem
padecente num corpo qual
aquele, deprimido e
irrecuperável; mas, ao
se despedirem,
achavam-se ambos
engasgados de emoção.
Cláudio, mais desolado
do que nunca, às nove
horas solicitou licença
para trancar-se. Queria
estar só com a filha,
dizer-lhe adeus. Isolado
à frente dela, ele
demorou-se a meditar...
Recompondo o pretérito
na memória, ao fixar a
jovem agonizante, pelo
amor purificado que
passara a lhe dedicar,
via na existência junto
dela o futuro que se
fazia distante.
Enternecia a todos ver
aquele homem vergado ao
peso do suplício moral.
Os gritos inarticulados
do peito jugulado de
angústia, a apelar para
Deus, no silêncio do
quarto, assemelhavam-se
a cânticos de dor que as
lágrimas sufocavam.
Félix, Neves, Percília e
outros amigos
espirituais estavam no
quarto. Moreira se
agitava em pranto. Félix
o levantou num gesto de
brandura e lhe disse que
a tarefa terminara. Não
se deveria vitalizar por
mais tempo aqueles
pulmões que a morte
começava a enregelar. O
triste amigo obedeceu,
em choro convulso. Em
seguida, Félix, impondo
as mãos na cabeça de
Marita, transmitiu-lhe
subitâneo calor. A
jovem senhoreou
inopinada agilidade
mental. Supunha reviver,
renascer e escutava os
ruídos em derredor com
extrema acuidade
auditiva. Abeirando-se
de Cláudio, Félix
sugeriu-lhe conversar,
despedir-se. Revestido
de estranha coragem,
Cláudio ergueu-se,
avançou dois passos e
ajoelhou-se ao pé da
agonizante, pousando a
cabeça rente ao corpo
imóvel. O pranto
abalava-lhe os membros e
Marita percebia-lhe o
arfar do tórax. Amparado
por Félix, Cláudio falou
com voz trêmula: "Filha
do meu coração, se você
me escuta, atenda a seu
pai, por piedade!...
Perdoe-me!... Não sei se
você sabe que estou
transformado... Conheci
Jesus, minha filha, e
sei hoje que Deus é
misericórdia, que
ninguém morre,
ninguém... Sei que a
justiça está em nós
mesmos, que sofremos
pelos males que
praticamos, mas Deus não
nos recusa o
resgate!... Compreendo
o mal que fiz a você,
sou um criminoso, mais
nada... Pense, minha
filha, no remorso que
carregarei pelo resto da
vida!... Você sabe que
vou agora caminhar sem
ninguém, aguentando a
solidão que mereço...
Onde você estiver,
compadeça-se de seu
pai!... Confie em Jesus
e nos bons Espíritos!...
Eles sabem que você não
se suicidou, sabem que
sou um assassino... Ah!
minha filha, pense nesta
palavra assim tão
triste!... Assassino!
Auxilie-me a lavar esta
mancha da consciência!
Rogue por mim aos
enviados do Cristo, para
que eu tenha a força de
fazer o que devo
fazer!..." (Cap. VII,
pp. 240 a 242)
114. Cláudio diz
ser seu pai -
Cláudio fez ligeira
pausa ao ver que o rosto
da filha se cobria de
lágrimas e, ansiando
reconhecê-la devolvida à
própria consciência para
lhe assinalar a
renovação, guardou a
certeza de que ela o
escutava, bendizendo-lhe
os votos de melhoria.
Aflito e expectante, na
convicção de que estava
sendo ouvido e
entendido, continuou:
"Apesar de tudo, minha
filha, não fique triste
com minha súplica!...
Sou um réu, mas tenho
esperança! Veja a
revelação de Jesus que
eu achei!..." E, com as
mãos trementes, colocou
o Evangelho na sua
destra inerme. Marita
registrou a presença do
livro e respondeu com um
pranto mais vivo, mais
copioso. Encorajado por
aquela manifestação de
inteligência, Cláudio
ergueu a voz e rogou-lhe
escutasse o que tinha a
dizer, após o que,
abrindo-se inteiramente
à filha, confessou
diante dela todas as
faltas de que se
acusava, a começar pelo
drama de Aracélia.
Asseverou, então,
ignorar fosse ela filha
dele, o que só viera a
saber, através de
Márcia, depois da noite
horrível em casa de
Crescina. Contou, em
seguida, ter lido e
aprendido muito sobre
reencarnação e
declarou-se persuadido
de que ambos se achavam
ligados, através de
múltiplas existências.
Finda a longa
exposição, que Marita
assinalou,
compungidamente, frase
por frase, Cláudio
retirou o livro e
rematou, em choro
convulsivo: "Tenho orado
e tenho recebido a
misericórdia de Deus
para mim, malfeitor...
Mas se a Bondade
Infinita me pode
favorecer ainda com nova
esmola, abençoe-me,
filha querida, dê-me um
sinal de benevolência,
antes de partir... Se
você está ouvindo o réu
que sou, acompanhe-me
neste desejo... Ore
também!... Rogue a Deus
forças... Mova um dedo,
um dedo só para que eu
saiba que você perdoou a
seu pai!... Não me deixe
na incerteza, agora que
vou recomeçar o destino,
entregue às
consequências de minhas
próprias faltas!..." (2a
parte, cap. VII, pp. 242
e 243)
115. Marita atende
o pai e levanta a destra
- Registrando os
soluços paternos, que
lhe revolviam a alma, a
jovem associou-se-lhe
aos votos e desejou,
ansiosamente,
satisfazer-lhe o pedido.
"Perdão!... Perdão!..."
A palavra ressoava-lhe
no espírito, à maneira
de cântico que descesse
do céu, ecoando nas
paredes em torno!...
Marita concentrou todas
as energias num
pensamento de confiança
e de gratidão a Deus, e
rogou, mentalmente:
"Perdão, Senhor!...
Perdão para meu pai,
perdão para mim!...
Perdão para todos os que
erraram!... Perdão para
todos os que caíram!..."
Suas percepções se
aguçaram; sentiu-se como
que banhada de alegria
inefável... Contemplou
Cláudio, fitou Moreira
e, alongando a atenção
em derredor do leito,
viu os demais Espíritos
ali presentes. Félix, em
silêncio, endereçou-lhe
eflúvios magnéticos a
determinada área
cerebral e Cláudio viu,
atônito, a destra inerme
levantar-se. Ouviu-se,
então, no recinto, a voz
de Félix, que se
ergueu, arrebatando a
todos numa prece:
"Senhor Jesus, nós te
agradecemos a
felicidade que nos
concedeste na lição do
sofrimento, nestes dias
de trabalho e de
expectação!... Obrigado,
Senhor, pelas horas de
aflição que nos
clarearam a alma, pelos
minutos de dor que nos
despertaram as
consciências! Obrigado
por estas duas semanas
de lágrimas que
realizaram por nós o que
não nos foi possível
fazer em meio século de
esperança!..." A oração
de Félix se estendeu por
mais alguns minutos,
rogando bênçãos para
Marita que se despedia e
seu pai que ficava, mas
não só para eles, como
também para todos os que
resvalaram nos enganos
do sexo desorientado, na
insânia ou no
infortúnio, em nome do
amor que jamais
conheceram. Suplicando
amparo e compreensão
para as irmãs entregues
à prostituição, Félix
lembrou-se também das
vítimas do aborto e de
todos aqueles que
suportam na Terra
desajustes e inibições
em consequência dos
desvarios do passado.
(Cap. VII, pp. 243 a
245)
(Continua no próximo
número.)