Confidência mais íntima
Maria Dolores
Senhor!...
Quantos te deram
A vida de uma vez!...
Bendito o santo que se
fez
Na virtude integral!...
Louvado seja o apóstolo
da fé
Que viveu e sofreu,
padecendo de pé,
dando-te o coração para
vencer o mal!...
Glorificados sejam para
sempre
Os mártires e heróis
Que te seguiram sem
vacilações
Para o Reino do Amor
onde te pões,
À maneira de sol
refulgindo entre os
sóis!...
Ampara-me, porém,
Compassivo Senhor do
Eterno Bem,
A mim - pobre de mim -
que só te posso dar
Meus frágeis sentimentos
como são,
Consagrando-te a vida,
gota a gota,
Dentro de minha própria
imperfeição!...
Quando me chamas para a
caridade
Ante os encargos de que
me encarrego,
Perdoa se te entrego
Apenas um vintém
No socorro de alguém.
Quando me sabes de mãos
ricas...
Tão logo me assinalas e
edificas.
Pedindo-me concurso em
favor de um doente,
Desculpa se te dou
tão-somente um minuto
De todo o largo tempo
que desfruto,
A fim de repousar
indefinidamente.
Quando me buscas para
ser
A intervenção do amor,
Segundo o meu dever,
Onde o ódio campeia
E a discórdia domina,
Perdoa se te oferto
simplesmente,
Em frase pequenina,
Breve conceito
superficial,
Que fale de harmonia e
conserve tal qual
O problema que aflige a
vida alheia
Fugindo de espalhar a
paz a que me elevas
Deixando em fogo e
pranto as vítimas das
trevas...
Quando me indicas à
piedade
Por aqueles que a
crítica condena,
Perdoa se te trago,
De sentimento
indefinido,
Curto gesto de pena,
Qual se colaborasse,
Na indecisão de minha
própria face,
Para que o bem seja
esquecido...
Releva-me, Senhor,
A doação escassa
Nos imensos recursos que
me deste
Do Tesouro Celeste!...
Do teu rio gigante de
ternura
Recebo, dia a dia,
Carinho, bênção, graça,
Providência e alegria
Em manifestações da luz
que nunca falha;
Mas de tudo o que dou,
cedo apenas migalha...
Leve nota de amor,
incrustada de ciúme,
Um pingo de paciência em
caudais de azedume,
Uma palavra de esperança
Entre laudas de queixa
desatada,
Leve nota de paz
Em tom distante e
indiferente,
Eis o que dou somente...
Tantos me amparam tanto
e auxilio a tão
poucos!...
Senhor!...
Abre-me o coração,
Dá força nova aos meus
ouvidos moucos,
Prende-me os braços ao
serviço,
Cura-me o pensamento
ocioso e enfermiço!...
E, por agora,
Se te dou minha vida,
gota a gota,
Nas sombras do egoísmo
em que me vejo,
Entre rosas de sonho e
espinhos de desejo,
Lavrando contra mim
Exigências fatais
Que somarão mais tarde
prova e dor,
Perdoa-me, Senhor,
Se nada posso fazer
mais...
Do cap. 8 do livro
Diálogo dos Vivos,
obra de autoria de Chico
Xavier, J. Herculano
Pires e diversos
Espíritos.
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