ANGÉLICA
REIS
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
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A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 31)
Damos
sequência ao estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. Nas aparições reais
verifica-se sempre a
transmissão de mensagem
verbal?
Não. Segundo Myers, é
muito difícil encontrar
uma aparição que
implique uma mensagem
verbal; o mais frequente
é que sejam automáticas
na aparência e
desprovidas de objetivo.
(A Personalidade Humana, capítulo VII –
Os fantasmas dos
mortos.)
B. Esta obra menciona
algum caso de
manifestações póstumas
em que sua origem
transcendental haja sido
provada?
Sim. Dentre as
manifestações póstumas
observadas, diz Myers
que existe um grupo
delas constituído por
mensagens orais que, ao
menos em certos casos,
proporcionam prova de
sua origem póstuma.
(Obra citada. Capítulo
VII – Os fantasmas dos
mortos.)
C. Quais são as
condições que permitem
estabelecer que uma
aparição de uma pessoa
morta é algo além de uma
simples alucinação?
Myers relaciona, para
tal objetivo, as três
condições abaixo
citadas:
1) diversas pessoas
podem, independentes
umas das outras, ser
impressionadas pelo
mesmo fenômeno;
2) o fantasma pode
proporcionar
informações, mais tarde,
confirmadas como
verdadeiras, sobre algo
que a pessoa que recebe
não possuía
anteriormente qualquer
ideia;
3) o sujeito que recebe
pode fornecer uma
descrição exata e
precisa de uma pessoa
que nunca viu, cujo
aspecto lhe é totalmente
desconhecido.
(Obra citada. Capítulo VII – Os fantasmas dos mortos.)
Texto para leitura
738. Podemos dizer, de
uma maneira geral, que a
experiência e a
observação nos
permitiram separar cinco
categorias de fenômenos:
1) a sugestão hipnótica;
2) as experiências
telepáticas;
3) a telepatia
espontânea durante a
vida;
4) os fantasmas que
sobrevêm no momento da
morte;
5) as aparições após a
morte.
739. Achamos, além
disso, que em cada uma
destas fases se observam
as mesmas formas de
comunicação; de modo que
esta semelhança
constante de formas
permite supor que o
mecanismo que preside as
manifestações é o mesmo
em cada uma destas
fases. Adotando uma
divisão sumária, podemos
atribuir a cada fase
três formas de
manifestação:
a) alucinações dos
sentidos;
b) impulsos emocionais e
motores;
c) mensagens mentais
determinadas.
740. Iniciemos por um
grupo de experiências em
que está ausente a
telepatia, mas que
mostram em sua forma
mais simples o mecanismo
da transmissão
automática de mensagens,
de uma camada para outra
da personalidade. Falo
das sugestões
pós-hipnóticas. Nestas o
agente é representado
por um homem vivo, que
age pelos meios comuns,
pela palavra direta. O
traço característico é
dado pelo estado da
pessoa que recebe,
hipnotizada nesse
momento, e que,
portanto, sofre uma
forma de desintegração
da personalidade, de
afloramento momentâneo
de uma parte do seu eu
que no estado normal
está profundamente
oculto. Essa
personalidade hipnótica,
que atinge por momentos
a superfície, recebe a
sugestão verbal do
agente, do que o eu
desperto do sujeito que
recebe não possui a
menor ideia. Mais tarde,
quando o eu desperto
readquiriu sua posição
superficial, o eu
hipnótico realiza, no
momento aprazado, a
sugestão, um ato cuja
origem é desconhecida da
camada superficial da
consciência, mas que
constitui, na realidade,
uma mensagem enviada à
camada superficial pela
camada que está, de
fato, submersa ou
subconsciente, que
recebeu, de início, a
sugestão.
741. Essa mensagem pode
revestir uma das três
formas principais, acima
mencionadas: a de uma
imagem alucinatória do
hipnotizador ou de outra
pessoal qualquer; de um
impulso para realizar
determinado ato; a de
certa frase para que a
escreva automaticamente
o eu desperto, que
apreende dessa forma a
ordem que recebera o eu
hipnótico durante a
ausência da consciência
desperta.
742. Em nossas
experiências relativas à
transmissão do
pensamento o agente
continua sendo um homem
vivo, mas que já não age
pelos meios comuns, como
a palavra falada ou os
gestos visíveis. Atua
sobre o eu subconsciente
do sujeito que recebe,
com auxílio de um
impulso telepático que
projeta
intencionalmente, e que
o próprio sujeito pode
estar desejoso de
receber, mas cujo modus
operandi continua
afastado do eu desperto
de cada um deles.
743. As mensagens desta
categoria podem, por sua
vez, ser divididas em
três grupos, idênticas
às anteriores: figuras
alucinatórias que
representam sempre, ou
quase, a imagem do
agente que ele faz
visível ao sujeito que
recebe; impulsos de
agir, comunicados
telepaticamente, como no
caso do hipnotizador que
quer que o sujeito venha
buscá-lo, a determinada
hora, sem que o avise
previamente; a escrita
pós-hipnótica de
palavras e de figuras
definidas, como
consequência de uma
transmissão telepática
de palavras, figuras,
etc., por parte do
agente, utilizando-se de
meios de comunicação que
não os comuns, ao
sujeito que recebe, quer
hipnotizado, quer
desperto.
744. Nas aparições
espontâneas que advêm
durante a vida,
encontramos os mesmos
três grandes grupos de
mensagens, com a
diferença de que as
aparições reais, raras
em nossas experiências
telepáticas, se
transformam, neste
ponto, no grupo mais
importante.
745. Não tenho
necessidade de recordar
os casos citados nos
capítulos IV e VI, onde
um agente que sofre uma
crise súbita parece, de
algum modo, realizar uma
aparição visível a um
sujeito distante.
Assemelham-se, também, a
estes casos, não menos
importantes, de dupla
aparição, nos quais o
agente é visto diversas
vezes sob a forma de
fantasma, por pessoas
diversas, em momentos
desprovidos de crise.
746. Temos ainda, entre
as impressões
telepáticas produzidas
(espontânea, não
experimentalmente) pelos
agentes vivos, casos que
não há necessidade de
recapitular aqui, em que
existe uma profunda
sensação de angústia ou
um impulso a voltar para
casa, semelhante ao
impulso experimentado
pelo sujeito que se
aproxima do hipnotizador
distante, no momento em
que este o deseja.
747. Encontramos também
os três mesmos grupos de
mensagens nos casos de
aparições que se
produzem no momento da
morte. Nossos leitores
já conhecem os casos
visuais, em que a
aparição de um homem
moribundo é vista por
uma ou mais pessoas, e
os casos emocionais e
motores, onde a
impressão, ainda que
muito poderosa, já não
possui a característica
sensória. E foram
publicados inúmeros
casos onde a mensagem
consistia em palavras
definidas que nem sempre
eram exteriorizadas sob
a forma de uma
alucinação auditiva,
senão que, às vezes,
eram pronunciadas ou
escritas
automaticamente, como no
caso relatado pelo Dr.
Liébault, no qual uma
jovem escreve uma
mensagem, anunciando a
morte de seu amigo, no
momento em que este
morria numa cidade
distante. (Phantasms of
the Living, I, pág.
293.)
748. Considero que os
casos post mortem podem
ser classificados da
mesma forma e que os
três grupos principais
se observarão na mesma
proporção. Os mais
notáveis são os das
aparições reais, que
constituirão o tema
básico das páginas
seguintes. É muito
difícil encontrar uma
aparição que implique
uma mensagem verbal; o
mais frequente é que
sejam automáticas na
aparência e desprovidas
de objetivo. Veremos
também um grupo de casos
post mortem emocionais e
motores, talvez mais
numerosos do que parece
indicar nossa coletânea,
porque, tendo em vista o
caráter vago e
indeterminado da
impressão, seu
testemunho a favor de
uma comunicação com uma
pessoa morta só
raramente é utilizado.
749. Afirmo também que
ao lado desses grupos de
manifestações póstumas
existe um terceiro,
constituído por
mensagens orais que, ao
menos em certos casos,
proporcionam prova de
sua origem póstuma.
Deixo, para a comodidade
do leitor, esses casos
motores para o capítulo
seguinte, de modo que a
prova que temos da
sobrevivência será, por
enquanto, muito
incompleta. Em todo caso
temos perante nós uma
tarefa bem definida:
devemos, neste capítulo,
recordar e analisar as
experiências sensoriais
dos vivos que parecem
poder ser atribuídas à
ação de alguma
individualidade humana
que persiste após a
morte.
750. Trataremos de
verificar, pois a coisa
não parece ser evidente
à primeira vista, as
condições que
caracterizam um fantasma
visual ou auditivo, para
poder ser considerado
como um indício da
influência exercida por
um Espírito
desencarnado. O melhor
que nos resta é citar as
palavras proferidas na
Sociedade de
Investigações Psíquicas,
por Gurney, em 1888,
quando se discutiu essa
questão. Estas palavras
conservam hoje em dia
todo o seu valor, embora
os anos que se passaram
tenham multiplicado
consideravelmente os
testemunhos e
acrescentado outras
provas em favor das
comunicações póstumas
que agora vamos
enfrentar.
751. Disse Gurney:
“Os que acompanharam as
informações e discussões
publicadas no
Compte-Rendu e no Diário
desta sociedade sabem,
sem que haja necessidade
de insistir nesse fato,
como são escassas as
provas que apareceram,
inclusive às pessoas
instruídas, em apoio da
aparição real de amigos
mortos, que justificam
esta crença. A razão
pode ser formulada em
poucas palavras. Na
maioria dos casos, em
que a pessoa pretendia
ter visto ou ter-se
comunicado com amigos e
parentes mortos, nada
existe que permita
diferenciar o fenômeno
que se apresentou aos
sentidos, de uma mera
alucinação subjetiva.
Apesar da simplicidade
desta proposição, a
verdade que encerra
continuou fora de
suspeita durante
séculos. Só em época
relativamente recente as
alucinações sensoriais
começaram a ser
compreendidas e
constatou-se que os
objetos mais ilusórios
podem conseguir, às
vezes, um extremo grau
de clareza. Mas esses
conceitos não tiveram,
ainda, tempo de penetrar
no espírito do povo. A
resposta comum, do
sentido comum, médio, a
qualquer relato de
aparição, é que a
testemunha mente ou
exagera, grosseiramente,
está louca ou bêbada ou
num estado de excitação
emocional, naquele
instante, ou também é
vítima de uma ilusão, de
uma falsa interpretação
de um som ou de uma
visão de caráter
meramente objetivo. Mas
um estudo aprofundado da
questão não deve tardar,
mostrando que na maioria
dos casos há que
eliminar todas essas
hipóteses, que a
testemunha goza de ótima
saúde, sem apresentar
qualquer desvio
emocional e que o que vê
e ouve pode ter uma
origem exclusivamente
subjetiva; ser uma
projeção do próprio
cérebro. E,
naturalmente, pode
esperar que, entre os
objetos que desta
maneira se apresentam,
um certo número tome a
forma de um vulto ou voz
humana, que o sujeito
reconhece como a de uma
pessoa morta; porque a
recordação desses vultos
e vozes faz parte de sua
bagagem mental, e as
imagens latentes estão
prontas para fornecer a
matéria das alucinações
da vigília, do mesmo
modo que fornece aos
sonhos”.
752. É evidente, além
disso, que nos casos
conhecidos de aparições
de mortos falta o
elemento que permite
distinguir certas
aparições de pessoas
vivas, das alucinações
meramente subjetivas.
Esse elemento consiste
na coincidência entre a
aparição e algum estado
crítico ou excepcional
da pessoa que
aparentemente aparece;
mas, no que concerne às
pessoas mortas, não
possuímos qualquer
conhecimento de seu
estado, nem, em
consequência, a ocasião
de observar uma
coincidência desse
gênero.
753. Restam três, e só
três, condições que
permitem estabelecer uma
presunção a favor do
fato de que uma aparição
ou qualquer outra
manifestação imediata de
uma pessoa morta é algo
além do que uma simples
alucinação subjetiva:
1) diversas pessoas
podem, independentes
umas das outras, ser
impressionadas pelo
mesmo fenômeno;
2) o fantasma pode
proporcionar
informações, mais tarde,
confirmadas como
verdadeiras, sobre algo
que a pessoa que recebe
não possuía
anteriormente qualquer
ideia;
3) o sujeito que recebe
pode fornecer uma
descrição exata e
precisa de uma pessoa
que nunca viu, cujo
aspecto lhe é totalmente
desconhecido.
754. Mas, para que estas
três condições, mesmo
realizadas, sejam
suficientes para
permitir que se atribua
a uma aparição uma causa
que fica à margem do
Espírito do sujeito que
recebe, os fatos desse
gênero possuem uma
característica muito
geral, e que proporciona
uma nova prova a favor
da exteriorização da
causa. É o número
excepcionalmente grande
de casos que surgem
pouco depois da morte da
pessoa representada.
755. Essa relação de
tempo se repete com
bastante frequência, é
de uma natureza a tornar
provável a origem
objetiva do fenômeno, de
uma maneira análoga à
que nos encaminha à
conclusão de que tal
aparição de uma pessoa
viva possua alguma
origem objetiva
(telepática). Pois que,
conforme a teoria das
probabilidades, uma
alucinação que
representa uma pessoa
conhecida não se
apresentara como um
acontecimento especial,
como a morte dessa
pessoa, uma relação de
tempo determinada em
proporção igual à das
alucinações similares
que se produzem; se a
proporção é, de fato,
deveras elevada, estamos
autorizados a reconhecer
a ação de um fator
distinto do acaso, isto
é, de uma causa objetiva
externa.
756. A questão da
relação de tempo
adquire, assim, um
significado particular.
O espírito popular se
apressa a dar uma
explicação de um fato
notável, antes mesmo que
o fato se torne estável.
Assim, diz-se que a
pessoa morta vem
consolar o coração dos
familiares desesperados,
enquanto que sua dor
ainda está viva, ou que
seu “espírito” está
“ligado à terra” e só
aos poucos pode-se
libertar. Ou então é-nos
apresentada uma teoria
como a de Assier,
segundo a qual restaria
após a morte da
consciência e da
individualidade uma base
para manifestação física
que só aos poucos
desaparece.
757. Não discutirei
qualquer dessas
hipóteses. No momento
vamos tratar das
aparições póstumas e a
única questão que nos
interessa é a de saber
se esses fatos podem ser
relacionados a uma causa
externa. De sua relação
com esta questão
capital, da pesquisa
relativa à frequência
com que esses fenômenos
se produzem, logo após a
morte, deriva toda a sua
importância.
758. Reunindo um grande
número de testemunhos
originais, relativos às
alucinações sensoriais,
espantou-me, pela
primeira vez, a enorme
proporção de casos em
que o fantasma
representava um amigo ou
parente, recém-falecido.
759. De 231 alucinações
que representavam seres
humanos reconhecidos,
28, ou seja, uma oitava
parte, surgiram várias
semanas após a morte da
pessoa representada.
Portanto, possuímos duas
razões para dar pouco
valor a este fato. Em
primeiro lugar, um
fantasma que representa
uma pessoa
recém-falecida é mais
suscetível de despertar
o interesse e de ser
notado e aquilatado, o
que contribui para
elevar a proporção dos
casos desse gênero numa
coletânea como a nossa.
Em segundo lugar, o fato
da morte era do
conhecimento da pessoa
que percebe, em todos os
casos relatados.
760. Parece, pois,
natural concluir que o
estado emocional dessa
pessoa basta para
perceber a alucinação; e
essa explicação será
adotada pela maioria dos
pesquisadores,
psicólogos e médicos.
(Continua no próximo
número.)